Conto de Natal

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 ~Umi~

Um, dois, três, quatro... quinze degraus.  É o que desço todas as manhãs, do segundo ao primeiro andar da minha casa, sempre num ritmo alucinado. Afinal, existem coisas que nunca mudam. E meu hábito de acordar atrasada é uma delas. Enquanto descia, dei uma rápida ajeitada no cachecol que envolvia o meu pescoço. Afinal, sabia o frio que me esperava do lado de fora.

Ao chegar ao hall, comecei a calçar minhas botas de neve e gritei:

– Mamãe, estou saindo!

Então escutei, em meio aos gritos matinais do meu irmãozinho que está aprendendo a falar e aos latidos do meu cachorrinho, a voz da minha mãe, vinda da cozinha:

– Querida, não vai tomar seu café da manhã?

Como eu disse, alguns hábitos nunca mudam!

– Não posso, mamãe! Estou atrasada! Ittekimasu[1]!

E saí, apressada. O chão escorregadio coberto de branco não permitia que eu corresse, mas andava o mais rápido que conseguia. Não poderia chegar ainda mais atrasada do que já estava!

Mas dessa vez eu não ia para a escola. Estava nas férias de inverno, mas o dia era para lá de especial. 24 de dezembro. Além de véspera de natal, fazia exatamente um ano que Aki e eu começamos oficialmente a namorar.

Ah, é verdade! Preciso contar como tudo aconteceu! Bem, ele voltou para o Japão, me salvou da doida da Utada, me deu aquele beijo de cinema e me levou até a minha casa. Mas eu estava com muita dor por causa da pancada, então, por sugestão da minha mãe, ele só me deixou lá e foi embora, para que eu pudesse descansar. Foi só no dia seguinte que voltou lá em casa e teve uma tensa conversa com o meu pai, com direito a um mega formal e fofo pedido oficial de namoro, respondido por uma igualmente formal e fofa ameaça do meu pai. Não lembro exatamente as palavras, mas foi algo tipo “Faça ela chorar mais uma vez, e eu te farei chorar pelo resto da sua vida”.

Que foi? Eu achei fofo da parte do meu pai, poxa! Assustador, mas fofo!

Então, a data já era triplamente especial. Era nosso primeiro aniversário de namoro, era véspera de natal, e... era inauguração da ChokoCake, a mais nova loja de gostosuras aqui do bairro! E o que tinha de tão importante nessa loja? O fato de ficar na antiga loja de conveniências dos pais da Kaori-chan, e ser uma sociedade do Shimada-sensei e da Hirano Mari-que-não-é-sensei (que, aliás, agora são noivos e formam o casal mais lindo que já conheci!) e do Aki!

Sim, meu namorado agora é um importante empresário! Bem, é só uma loja pequena, nada comparado às grandes empresas que o pai dele tem, mas para ele é uma grande conquista. E estamos todos muito felizes! Até a Kaori-chan... por mais que ela finja que não está nem aí, a gente sabe que ela está feliz também.

Queria ter chegado à loja antes da abertura oficial, mas não consegui. Cheguei quinze minutos atrasada, esbaforida, quando o local já estava lotado. De trás do balcão, o Aki me viu e acenou, lançando aquele lindo sorriso que só ele tinha. Mas não dava para eu me aproximar, porque, como eu disse, o local estava felizmente lotado! A divulgação tinha sido intensa, e os descontos especiais de lançamento ajudaram a chamar o público. Dentre os clientes que lanchavam no local, identifiquei dois rostos conhecidos. Minhas amigas Natsu e Kaori dividiam uma mesa num cantinho da loja. Fui até lá, sentando em uma cadeira vaga ao lado da Suu-chan.

– Bom dia, meninas! – cumprimentei, feliz.

Natsu respondeu. Kaori continuou distraída, brincando com um joguinho no celular. Estava tão empolgada que comecei a contar sobre os planos do dia:

Tenshi - Conto de NatalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora