El Primer Escape

7 3 0
                                    


A folhagem era densa e o caminho, sinuoso. Ouvia os gritos pelas tendas quando passava, e o rastro de medo que era deixado para trás denunciava o caminho dos homens de Cortés. Castello cavalgava o mais rápido que as pernas de seu cavalo aguentavam, até ouvir que os gritos permaneciam sem os trotes. Fê-lo parar e, quando viu sinalizar o último soldado, sacou sua arma e mirou-lhe a cabeça. De mãos trêmulas e olhos embaçantes, pressionou o gatilho. Quando a bala esquentou sua saída, nada viu a não ser um rápido movimento tomando-a de sua mão: havia perdido o tiro. O som alto ecoou na mata e os homens viraram-se. Antes que Días pudesse reagir, viu uma sombra familiar adentrar a vegetação densa e um grito estridente.

— Armaram-nos! Quem sois tu, traidor? — berraram ao longe, aproximando-se cada vez mais. Desesperado, Fugo atirou-se do cavalo, deixando para trás o enorme livro que carregava, onde dedicava-se a escrever sobre La Conquista. Rumou à mata e, sem olhar para trás, sentia que os homens saberiam identificá-lo. — Vejam, é o cavalo negro de Días.

— O tiro não fora dele, é homem de confiança de Cortés. Mas perdemos o nativo.

— Que importa o índio! — um homem retrucou. — Como te garantes que não fora Castello? Ninguém mais tem armas senão os espanhóis. Traição!

— E se mataram-no? Ele jamais deixaria para trás o livro que o capitão lhe pediu...

— Não vejo sangue. Fugira?

— Não sei. Que dizemos ao Guido?

— Diremos que está morto — uma voz nova entrou na conversa. Os homens viraram-se imediatamente e, reconhecendo o sotaque, notaram ser Malinche. Estava séria. — O outro, sumiu na mata antes que o pegassem.

— S-se disseste, então-

— Voltem logo e avisem-no. Ou quem morrerá de fato serão vocês — Trish disse, cobrindo novamente os ombros com a capa de veludo dada por Guido. Seus olhos rosados faziam a fúria reluzir, e, assim, levou de volta os homens. Para trás, ficou apenas a esperança da vida que escorria pelas folhas úmidas de chuvisco.

Do outro lado, para onde Guido levava seus homens, o tempo fechava. A umidade do ar denunciava uma chuva arrasadora, mas o espanhol recusava-se a voltar. Trish estava ao seu lado, quieta, mas jurava ouvir os murmúrios enfurecidos por causa do fugitivo. Insolentes, murmurava rangendo os dentes. Via nele a vontade de tomar o caminho para Cholula, ter em mãos o nativo que tornava folhas em ouro. Se fosse necessário, faria daquele território infértil tanto ouro teria em mãos. Mas seu orgulho de querer derrubar Tenochtitlan era maior.

Enquanto a marcha seguia manchando as terras astecas, Castello, desesperado, tentava ver-se fora daquela mata tão densa. Estava andando há horas, seguindo um murmúrio tristonho pelo verde-vivo que o cercava. Em certa hora, quando ouviu o tropeço da chuva cair lentamente sobre si, deixou o peso da água levá-lo ao chão.

Sentou-se na terra úmida, torcendo para que as suas folhas não se molhassem como seus cabelos. Assim que baixou os olhos, sentiu uma sombra em si apesar de já não mais haver sol. Estava silenciosa, ou murmurava como a chuva. Tinha pés claros, pareciam donos de uma pintura muito bem detalhada. As roupas longas cobriam-lhe quase por inteiro, mas Días estava cansado demais para erguer os olhos. Os cílios pesavam e as gotas caíam por ali com delicadeza quando viu a face pálida aproximar-se de si. Nas mãos, tinha a arma que antes furtara, mas Castello sequer notara o que havia de errado ali.

Seu olhar embaçado pouco fazia perceber, mas a arma brilhava em um dourado vibrante; parecia ouro. Quando finalmente deu-se conta, arregalou os olhos, surpreso, e tentou erguer a cabeça. Estava tonto, cairia muito provavelmente, mas deveria olhar nos olhos daquele que transformava as coisas em tesouros. Fazendo-o, viu o par de olhos azuis curiosos, cobertos pelo couro sujo de terra vermelha, encharcado de chuva. Fugo respirava devagar, apesar de toda a sua agitação interna; não queria que aquela pessoa fugisse de si novamente. Tocou a arma com sutileza, vendo o quão rapidamente as mãos alheias desvencilharam-se dela. Eram dedos delicados, provavelmente donos de uma belíssima moça. Quando entreabriu os lábios, ouviu um shh longo, seguido de um aceno para apenas permanecer assim. Imóvel, Fugo tentava reparar no que tanto chamava-lhe atenção naquela figura.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jun 29, 2020 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

O Tesouro de TenochtitlánWhere stories live. Discover now