Capítulo 1

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Toda história tem um início

DEZ ANOS ANTES

Geovana Cristina Santoro Ayumi

Ouço a campainha tocar e, então passos, logo em seguida ressoa a voz da minha mãe no cômodo vizinho.

Risos. Imagino que a pessoa, antes em frente à porta, já esteja dentro de casa e que seja Lorenzo.

Ele é o único com quem minha mãe ri assim.

Não sei como conseguiu conquista-la em tão pouco tempo. Ela já o adora e isso não aconteceu em nenhum dos meus relacionamentos anteriores.

Pego minha mochila preta de pano, que guarda minha troca de roupas, e sigo até a origem dos sons, tentando passar despercebida pelo olhar da vovó Ana, que aparenta acompanhar, como Monalisa, cada passo meu.

Dona Ana sempre teve um olhar intimidador, e pode até ser impressão minha, mas esse olhar continua a ser tão penetrante quanto era em vida, ainda que em um retrato.

Do jeito que eu imaginava, dona Ingrid está sentada em um dos velhos sofás amarelos, com uma xícara de chá nas mãos, enquanto Lorenzo está em outro, segurando uma xícara de café – a xícara que minha mãe comprou especialmente para ele no nosso quinto mês de namoro.

Continuo a observar a cena do canto da sala e ouço a gargalhada gostosa do meu namorado. Não demora muito para que ele note minha presença ali.

É engraçado como temos essa sintonia única e incapaz de ser expressa por meio de palavras. Um sempre sente a presença do outro.

– Oi amor. – Lorenzo troca olhares com minha mãe, como se pedisse licença para se levantar e caminha na minha direção, selando nossos lábios em um beijo rápido. – Você está linda.

– Oi. Também não está nada mal. – Sinto um sorriso se formar em meus lábios. – Podemos ir? – Lorenzo assente, pega minha bolsa e a coloca em seu ombro. – Tchau mamãe.

– Tchau querida. Não se atrasem para o jantar. – Dou um abraço em minha mãe, entrecruzo meu braço ao de Lorenzo e me deixo ser conduzida por ele até o seu carro, que segue estacionado em frente à casa da minha família.

Assim que me sento, inalo a fragrância que usa. Minha preferida: Armani Code.

– Para onde vamos?

– Verá assim que chegarmos lá. – Ele liga o carro e dá partida. – Quer ouvir uma música? – Concordo e o som é ligado em uma rádio qualquer.

Seguimos ao longo de todo o trajeto em silêncio: ele, pelo que me parece, concentrado para não errar o caminho e eu tentando descobrir para onde aquele percurso me levaria.

Vinhedo é uma cidade pacata no extremo Sul do país. Existem poucas ruas, que possuem como destino comum, o centro. Lorenzo escolheu a rua mais antiga da cidade, cujas pedras assentadas durante o período colonial já estavam com alguns sinais de neve, graças ao rigoroso inverno que enfrentávamos pela primeira vez em oito anos.

Será que vai pedir minha mão hoje?

Nosso aniversário de um ano está próximo e embora seja pouco tempo, sinto como se o conhecesse há uma vida inteira. E pela forma como ele me trata, imagino que se sinta da mesma forma.

Além disso, Lorenzo sabe como adoro essa parte da cidade... não seria coincidência, seria?

Existem casas de muitas cores diferentes, além de algumas pequenas vendinhas e uma igrejinha ao final da rua. Dentre todas as casas, uma é minha preferida, talvez pela cor viva em amarelo e azul, talvez pela pequena quantidade de adornos. Há singela mistura entre o estilo alemão e o estilo trazido por outros povos europeus, o que faz com que o local assuma um ar mais antigo. Sinto gratidão por esse momento e por tê-lo em minha vida.

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