Só queria amar!

Nasci

Eu não entendo porque os humanos estão fazendo tudo isso comigo se eu os amo. Não vim do laboratório como estão dizendo. Tenho papai e mamãe, nasci do amor deles. Sou o filho mais bonito, é o que me falam sempre, uma bolinha muito fofa com bracinhos. Com alguma dificuldade eles conseguiram viver, e encontrar sua casinha em um humano. Sou tão agradecido por isso, pois foi lá que criaram a mim e meus irmãos, que nos alimentaram e crescemos fortes e saudáveis, também graças ao humano que tomava bastante Toddynho. Tenho uma família muito amorosa, todo dia chega irmãozinho novo, e mais do que isso, tenho parentes. Cada um vive na casinha que pode, como meu titio que vive nos cachorrinhos, outra que vive nos gatinhos, e até um parente mais afastado que está nos galinhos. Não podemos visita-los por motivos de não conseguirmos sobreviver em suas casinhas, são totalmente diferentes do que estamos acostumado. Me deixa um pouco triste. Mas não diminui em nada nosso amor por eles, não importa a distância ou grau de parentesco, todos nós viemos dos mesmos vovôs e vovós.
Sou o primeiro filhote desse casal tão maravilhoso. Tive uma infância tão feliz, cheio de atenção dos meus papais, que liam historinhas, me ensinavam muitas brincadeiras, e assistia desenhos na televisão quando meu humano estava vendo. Fui sempre cercado de cuidados e aprendi a cuidar de cada um dos meus irmãozinhos, pois não há somente nós vivendo na casinha que fica no nosso humano. Então, ao sairmos de nossa casa para explorar, brincar ou procurar outras casas para morar - o que acontece mais quando estamos bem grandinhos e encontramos nosso amor - podemos acabar encontrando soldadinhos malvados, que nos fazem dormir para sempre. Tenho pesadelo até hoje por ter visto esses soldadinhos invadirem a casa de meu amiguinho da frente, retirar ele, seus pais e seus irmãos com muita violência... depois desse dia nunca mais os vi. Acho que dormiram também. Fiquei dias triste, não dormi bem. Porque tanto ódio?! Ouvi dos meus pais que aqueles soldadinhos fazem parte do nosso humano, então será que ele mandou fazer aquilo? Mas nós nunca o fizemos mal, somos tão gratos por morarmos nele. Não acredito que tenha partido do nosso humano esta ideia tão ruim, e sim de algum humano malvado que mora com ele, desses que bate quando ele brinca um pouco mais, corre por sua casinha, e se sente tão feliz por isso. Ele sempre nos envia alimento pela sua corrente sanguínea, nos provem esse abrigo quente. O que aprendi com meu papai e mamãe é que isso também é amor, essa forma de cuidado e carinho que nosso humano tem conosco.
Um belo dia eu saí pra brincar. Conforme eu crescia papai e mamãe me deixavam ir um pouco mais longe. Por cuidar dos meus irmãozinhos confiavam na minha responsabilidade. Sabiam que eu estaria sempre atento e voltaria correndo para casa, pois não queria que acontece com ninguém que eu amo o que aconteceu com meu amiguinho da frente. Foi muito bom, teve queimado, pique bandeira, amarelinha, e por final pique esconde. Eu, meus irmãos, alguns amiguinhos de outras casas próximas a nossa... só faltou meu amiguinho da casa da frente, senti saudades. O problema começou quando, de surpresa, quem achou meu irmãozinho mais novo foi um soldadinho malvado. Corri até meu irmão, segurei sua mãozinha, e como havia aprendido com meus papais e passado a meus irmãos, juntinhos, de mãozinhas dadas, formamos uma proteção que nos protegerá de qualquer mal. Estávamos pouco a pouco nos unindo a nossos irmãozinhos, ninguém ia separar nossa família pois nos amávamos muito e queríamos tanto chegar em casa sãos e salvos para abraçar nossos papais. Mas o soldadinho tinha chamado outros, e mais outros. Não era para eu ter feito aquilo, mas em uma atitude desesperada resolvi me sacrificar pelos que tanto amo, soltei a mão do nosso caçulinha, falei para todos correrem pra casa, ninguém soltar a mãozinha de ninguém. Chamei os guardas tentando tirar a atenção deles dos meus irmãozinhos para fugirem. E corri para uma casinha que já tinha me escondido outras vezes, quando ia pegar água para tomarmos banho. Nossa casa era pequena, mas aconchegante, e por ter sermos uma família grande faltava água. Então algumas vezes saí em busca, correndo um pouco de risco, mas sempre tomando cuidado, eu parecia o ninja do desenho que nosso humano assiste sempre, que corre muito rápido e fica fugindo da menininha que está sempre atrás dele. Algum dos soldadinhos me viu, tentaram cercar a casa, só lembrei do ninja e corri o mais rápido que pude. Parei ao ouvir meus irmãozinhos, que tinham me desobedecido e corrido atrás de mim, que gritavam por terem sido pegos pelos soldadinhos malvados. Eles iam colocar alguns dos meus irmãozinhos para dormir, para sempre. Fiquei muito triste, lembrei do meu amiguinho da casa da frente... quis chorar, senti meus olhinhos embaçarem. Mas não pude fazer nada. Um vento tão forte veio nos empurrando e moveu todo mundo.