Samurai do Infinitivo

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A palavra Ronin atravessada por uma katana azul. Este era o adesivo em destaque sobre a lataria vermelha.

Ao redor dele haviam stickers brilhantes; assinaturas de outros pilotos; mais adesivos colecionados ao longo de uma trajetória de sucesso. Foram mais de trinta e oito planetas. Corridas sem fim pelas galáxias mais hostis.

Klaxon, recostado sobre o assento da nave, deixava os olhos descansarem ao sabor da calmaria do deserto. O sol ardente tinha os raios límpidos refletidos sobre a lataria. O calor do metal levantava ondas de distorção que emanavam por toda a superfície da Dickinson- A aeronave mais rápida de todo o universo.

Pequeninos seres arroxeados de pele enrrugada, todos engenheiros, ajustavam os últimos preparativos ao redor da enorme máquina. Circuitos eram configurados; Propulsores calibrados; Cabos saídos dos computadores utilizados pelos pequeninos se conectavam a parte baixa da aeronave. Todos trabalhando debaixo de uma tenda comprida, que protegia-os do sol.

Haviam outras daquele tipo espalhadas pela distância. Estas possuíam aspecto mais elaborado e eram ocupadas em sua grande maioria por Iorla Tahans. Seres nativos do planeta vizinho cuja principal característica era o inchado papo abaixo do pescoço, que lhes entregava um aspecto glutão.

-Aposto 15.000 Lylics que a nave explodirá na largada! -Disse um que sacudia os braços para o alto.

-20.000! Eu aposto 20.000 que a nave explodirá na largada!

-Não! Se for explodir, vai ser no final! -Disse outro cujo papo era tão inchado que se assemelhava a um sapo prestes a coaxar. Os que estavam ao redor riram do mau humor do mais velho- Eu não vim até aqui para assistir essa porcaria explodir no início! Se acontecer, é sinal de que a nave foi mal pilotada. Klaxon fracassado!

-Klaxon fracassado! Klaxon fracassado! -Gritaram os que estavam por perto.

Suas barracas ostentavam bebidas e comidas. Lufadas brancas de fumaça emanavam dos cachimbos compridos dos Iorla Tahans.

O céu límpido agora contava com a presença de outras naves. Elas planavam em velocidade lenta, rodeando de longe a Dickinson e seus engenheiros. Jornalistas e repórteres dos mais diversos planetas faziam a cobertura. Câmeras apontadas para o grande piloto.

-Estamos todos imersos na mais absoluta e profunda apreensão. É possível sentir a eletricidade no ar... Sim! Estamos ao vivo aqui no HX-64687 do setor 21, planeta artificial criado especialmente para o dia de hoje! Sem montanhas; Sem relevo; Um deserto plano de ponta a ponta. Lugar onde a primeira criatura... -A primeira possível criatura!- Vai romper a velocidade da luz através de uma nave aero-espacial! E será ele. Klaxon Yungae! Um verdadeiro maestro da velocidade. Pentacampeão da Rota Celeste, que está aqui hoje para disputar o maior feito de sua carreira! Quebrar a velocidade da luz! E qualquer falha técnica pode tirar a vida de Klaxon... Para sempre! Sim! A equipe confirmou! Klaxon optou por não realizar nenhum tipo de transfusão de consciência ou procedimentos de clonagem. Seu desejo é que esta seja a última corrida de sua vida. Olhem! Aproximando a câmera podemos observar o rosto de Klaxon. Ali está a expressão de um verdadeiro campeão! A expressão de um verdadeiro...

Ronin. R... O... N... I... N... "O que será que significa?" Pensou o piloto no silêncio de seu Cockpit. Conseguiu o adesivo em um Gran Prix realizado na órbita da antiga Terra. Hoje um planeta extinto.

Deslizando o olhar sobre o painel colorido, se lembrou de uma lenda distante da tribo Satchida do planeta Ten-T'chu-Zorta, famosa por montar em animais capazes de galopar na velocidade do som.

Os nativos diziam que o deslocamento das coisas no espaço possuía uma natureza divina. E a velocidade era um capricho de Deus, um elemento universal que representava a o elo entre todas as formas.

Samurai do infinitivoWhere stories live. Discover now