Capítulo 3

103K 6.7K 1.5K
                                    

Sempre fui uma pessoa organizada. Minhas tarefas são listadas em ordem prioritária, minha mesa é milimetricamente arrumada e muitos dizem até que sofro de alguma doença, mas só acho que as soluções dos problemas são mais visíveis quando se tem ordem. A matemática demonstra isso, se você não segue a ordem dos símbolos, seu cálculo estará errado.

E eu não gosto de errar. Então, comecei a listar minhas pendências em busca de uma solução.

1º Encontrar uma maneira de ganhar o caso celebridade e rir na cara do Beto.

2º Dar um jeito na confusão do namorado inexistente sem deixar a minha querida priminha feliz com isso.

3º Sobreviver a mais uma reunião com a família e bolar novas respostas para as perguntas clichês dos meus tios.

4º Levar o carro para a revisão.

5º Comprar papel higiênico (na verdade acho que esse deveria ser o primeiro item).

Mesmo com a lista feita, eu não tinha ideia de como encontrar a solução para as três primeiras tarefas e isso raramente acontecia — ênfase no raramente — mas, quando acontecia, só existia uma pessoa a quem eu recorria, e ela estava na minha discagem direta do celular.

— Me diz que você achou um velho bilionário e que ele quer me adotar, porque estou pensando em mudar de profissão! — a voz do outro lado da linha era puro desânimo.

A Bia era assim, sempre após uma sessão com um paciente, ela ficava num estado de melancolia e acidez irônica que afugentava qualquer ser vivo há quilômetros de distância. Ela dizia serem ossos do ofício, pois ser psicóloga requer sentir além de você para entender o outro e muitas vezes você se depara com sentimentos negativos. Mas, eu estava desesperada e já havia sido vacinada contra o humor volátil dela.

— Estou em apuros, Bianca! Me ajude!

— Você está bem? Aconteceu alguma coisa? — sua voz soou preocupada.

— Minha mãe está na cidade e eu meio que sem querer disse que tinha um namorado...

— Todo esse desespero só por isso?! Lili eu quase tive um enfarto aqui!

— Não é só isso, Bia, a cobra da Gabriela estava com ela! Então, eu não posso só dizer a verdade. — eu disse num tom de resignação. — Eu estou perdida, não sei o que fazer.

— Gabriela é aquela sua prima Lili? A que foi sacana com você a vida toda? — ela parecia estar coletando informações em sua memória.

— Essa cretina mesmo! E a reunião dos Caceffo está chegando, se ela descobrir que eu menti vai ser humilhante!

— Então, nesse caso, amiga, você tem que arranjar um namorado. — a Bia usou um tom despreocupado, como se a tarefa fosse mais fácil do que respirar.

— Bianca, era para você me ajudar a sair dessa! — eu podia sentir minhas mãos suando frio. — Eu preciso de uma desculpa para ter um namoro com o Homem Invisível!

— Você sabe que quanto mais você fugir vai ser pior, ? — eu ouvi um suspiro do outro lado do telefone. — Já sei, vamos àquele barzinho que adoro! Eu te empresto um vestido decente e garanto que você consegue um pretendente hoje mesmo!

— Minha flor, minha mãe chega hoje e um cara aleatório não vai querer conhecer minha família! Você, que é minha melhor amiga, foge toda vez que tem uma reunião dessas! — eu apontei esse fato muito óbvio para a Bia.

— Não força me chamando de flor, seja sincera e xinga a minha mãe. — ela disse num tom azedo, mas completamente sincero. — Mas, já sei! Eu posso ligar para o meu primo e pedir um favor!

Trato Feito #1 (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora