Piquenique

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Naquela tarde cinzenta, eu distante, contemplava-o
Numa áurea mesclada de cores naturais e dourado
Envolto numa moldura verde seus contornos delineados
Daquilo que eu chamava de ti outrora: suas palavras!

Folheia um livro, olha a hora, remexe-se impaciente
Enquanto me aproximo e toco-lhe o ombro levemente
Olha-me com doçura... . e meu ímpeto era lhe abraçar
Mas cumprimento-o discretamente! Quão louca iria soar?

Serenidade, tranquilo aconchego
Aninharía-me contente nesse apego!
"deixe-me ver seu livro?"
Retiro-me de meus devaneios...
Folheio, mas não o vejo
Só sua presença existia
Pulsando me envolvia
Na fusão de energias
Alegres ao se encontrarem...

"Qual a história do livro?"
Novamente me esquivo
Seus lábios se movem, mas não entendo
Sinto apenas o som da sua voz
O tom, o timbre, o elo...
Puxando-me mais para perto
E o que mais falei? Não lembro!
Talvez das cores, das flores, das folhas secas
Da chuva, dum gato vadio e do vento
Dum gato amado, de um livro...


Quero-o comigo!
Dizia minha'lma
Quero-o comigo!
E não lhe dei ouvido...
Quão insano soaria?
Assim, num primeiro encontro...


Uma imersão ao desconhecido
E neste lago profundo que concebe nossos eus, mergulharia comigo?
Por nossas belezas, traumas, desejos...
Valerá a pena a tona trazê-los??
Meu coração acelera!
Acalma...
Respiro
Acalma...
A alma... dar-lhe-emos o mérito de se reconhecerem!
Dar-lhe-emos a chance de se conectarem!
Quão famintas estariam? E do que alimentá-las?


(...)

A noite sento-me no mesmo local de tantas indagações d'outrora
Um céu cinzento... reflito...
Um gato preto anuncia sua presença, mia e surgi por de trás de um arbusto
E corre a caçar sua presa...

Gato preto
Paisagem noturna
Vento nos cabelos...
E você me vem a mente antes que eu percebo
Como um deja vu intergaláctico
De que já nos conhecemos!...
O que não sabemos?

Cantoemas: paisagens de si mesmoWhere stories live. Discover now