Dandara

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Lucy estava assustada, perdida, duas de suas irmãs estavam desmaiadas, uma estava tendo toda sua vida sugada por uma deusa. Rosa tirou Lucy desse transe, a melhor amiga de sua mãe puxou da cintura uma adaga, Rosa então apunhalou um dos cães de Goiá obrigando-o a transformar-se em névoa novamente, quando o segundo veio para cima de Lucy, Rosa pulou em sua frente, cravando sua adaga em um dos olhos do cão, elas ainda estavam uns cem metros de distância de todos.

— Nós precisamos correr menina, ela tem pouco tempo e depois eu não vou poder mais ajudar — disse Rosa chorando e correndo.
Rosa e Lucy estavam correndo como nunca antes o fizera, quando finalmente chegaram perto de todos, Esmeralda soltou o corpo de Cassandra no chão, a menina não se mexia, nem respirava, nem vivia mais, Lucy caiu de joelhos no chão chorando, Rosa saiu correndo até o corpo de Cassandra, Rosa chorava tanto que Lucy não era capaz de reconhecê-la, ela pegou Cassandra no colo e soltou um grito, o grito de Rosa era tão alto que a visão de Lucy ficou turva, Rosa continuava gritando, fazendo com que os sentidos de Lucy ficassem distorcidos e por fim caindo no chão, olhando para o céu, zonza, com seus sentidos todos bagunçados, com sua vida bagunçada, ela olhou para as nuvens e lembrou da mãe, ela sempre brincava de ver formas nas nuvens com Lucy. A garota não sabia, mas lembrar disso causava uma dor tão grande e forte dentro de si que ela só conseguia chorar, não fora capaz de proteger nenhuma de suas irmãs, o que restava para Lucy além de chorar.

Quando seus sentidos foram voltando, ela se levantou, ficou surpresa ao olhar a sua volta e não ver ninguém, olhou para trás e estava sozinha, tudo parecia estar meio estranho, ela viu um riacho límpido e cristalino, ela pisava em uma areia tão fofa e aconchegante, que tinha vontade de deitar nela, ela olhou novamente para o riacho e viu Paz de pé ao lado do riacho e Caos sentado, molhando apenas os pés na água cristalina. Lucy caminhou calmamente até eles, estranhamente, ela não sentia mais medo de nenhum deles, até entendia, de uma certa forma, tudo que eles faziam e tinham que fazer.

— Eu morri? — Perguntou Lucy.

— Não menina — respondeu Paz sentando-se ao lado do irmão.

— Mas você pode renascer... se quiser, é claro — disse Caos brincando com os pés na água.

— Do que estão falando? — Perguntou Lucy.

— Olivia, pensava tanto em vocês, que seria incapaz de deixá-las. Isso vai ser difícil pra ela, — disse Caos — sente-se com a gente.

Lucy sentou-se ao lado de Paz.

— Coloque os pés na água, isso é muito gostoso — sugeriu Caos.

Assim Lucy o fez, sentiu a água fria, mas mesmo fria, ela era aconchegante e muito gostosa de se sentir o toque.

— Cassandra possuí muitos dons, mas assassinou uma parte de si para se provar algo aos outros, isso foi algo muito grave, necessário para ela, mas não é algo aceitável para nós — disse Paz.

— Marina tem uma ambição louvável, mas não possuí nenhum aspecto em particular, ela queria muito isso, você deu esperanças a ela — disse Caos.

— Não foi minha intenção — justificou Lucy.

— É claro que não. Não seria capaz de controlar algo que é tão natural em você — disse Paz.

— Um aspecto particular... — disse Lucy.

— Sua irmã está morta, as duas outras não estão bem, fomos nós que fizemos isso, nós ordenamos que Esmeralda matasse Cassandra, consequentemente, Rosa morreu. O que você sente? — Perguntou Paz.

— Vocês querem que eu sinta ódio de vocês, esse é o meu teste, foi o mesmo teste em que Eloá foi corrompida, não é? — Perguntou Lucy.

— Sim... — respondeu Caos com um ar de tristeza na voz

— Aqui estamos nós novamente — disse Paz.

— No véu, que apenas nós podemos trazê-la — disse Caos.

— A escolha é sua, não a julgaremos — disse Paz.

— Você tem que deixar seu sentimento mais forte falar mais alto — disse Caos.

— Você quer nos matar, quer acabar com todos nós — disse Paz sem nenhuma expressão.

— Mas você também quer voltar para elas — disse Caos com lágrimas nos olhos.

— Decida-se — disse Paz calmamente.

— Eu quero que todos vocês morram, pelo que fizeram com as minhas irmãs. Vocês já sabem a resposta que está dentro de mim — disse Lucy calmamente.

Era como se Lucy apenas tivesse piscado, lá estava ela de novo, deitada vendo as nuvens. Ela levantou lentamente, sentiu suas vestes pegarem fogo, aos poucos sentiu sair de dentro de si algo que foi tomando forma, a névoa envolta dela tomou forma, agora ela vestia uma saia longa feita de ouro, seus seios eram cobertos por pedras marrons e brilhantes, ela percebeu que atrás dela uma luz brilha forte, quando virou o rosto para vê-la, lá estava seu símbolo. Duas asas abertas com um relógio no meio e uma coroa em cima de tudo, a luz era forte, brilhava como brilha o sol. Ela se sentia forte, poderosa, olhou para todos, viu Olivia e Marina acordadas e olhando com surpresa e orgulho para ela, viu Cassandra envolta por muitas flores dama-da-noite, ela não sabia muito bem o que faz ou como fazer, mas andou lentamente na direção de Cassandra. Paz e Caos surgiram do seu lado e eles acompanharam a nova deusa.

— Nunca se sobressaiu porque isso não era necessário — disse Paz.

— Nunca houveram atos heroicos porque esse não é o seu aspecto — disse Caos.

— Sempre à sombra de todas, apenas dando-lhes esperança — disse Paz.

— Sinta o seu aspecto natural — disse Caos.

— Sinta a vida — disse Paz

Lucy chegou ao lado do corpo de Cassandra, viu todos a sua volta observando cada coisa que ela fazia, todos de pé a sua volta, ela ajoelhou-se ao lado de Cassandra.

— Reverenciem a deusa da esperança, — disseram Paz e Caos juntos e calmos — Dandara!

No mesmo instante todos que estavam a sua volta ajoelharam, os deuses baixaram a cabeça em sinal de respeito. Dandara ainda estava confusa e não tinha certeza se o que estava fazendo era o certo.

Dandara colocou sua mão direita sobre o peito do corpo de Cassandra e disse.

— Acorde... acorde profetiza.

Todos a olharam, até que Cassandra abriu osolhos e respirou profundamente.

Filhas da PerdiçãoWhere stories live. Discover now