1 | jerônimo

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Achei estranho quando Manuela Renata me chamou mais cedo naquela dia. Ela havia ligado e pedido para que eu fosse até sua casa, pois precisavam muito ter uma conversa. Nunca sabia nem o que esperar vindo dela. Mas lá estava eu, subindo as escadas do prédio rumo à minha musa de infância.

Toquei a campainha e não tive de esperar muito por uma resposta. A loira surgiu na porta um tanto que apressada.

— Que bom que cê ligou! — disse sincero.

Meus olhos percorreram seu corpo rapidamente, observando a menina mulher que estava bem diante de mim. Demorei alguns segundos para notar que não estávamos sozinhos.

— Oi, Kika!

— Oi, Rogê! — me cumprimentou um tanto que confusa.

A morena parecia tão surpresa quanto eu ao receber a ligação de Manu. Ela também não me esperava ali.

— Tá tudo bem, Manu? — não pude deixar de questionar.

— Tá sim. Vem! — fez sinal com a mão para que eu entrasse. Beijei seu rosto e caminhei até o meio da sala — Eu... Eu só queria conversar um pouco... — explicou simplesmente — Kika, depois a gente...

Kika pareceu entender as caras e bocas que Manuela estava fazendo e tratou de se apressar.

— Claro, já tô indo. Amanhã a gente se fala!

A ex patotinha acompanhou a amiga até a porta, se despedindo. Ao voltar, inspirou de forma profunda. Parecia estar buscando coragem para o que viria a seguir.

— O que tá acontecendo, Manu? — tentei mais uma vez, buscando respostas.

— Eu... eu queria te ver! — sorriu largamente, dando uma risada nervosa — Saber como você está, como foi seu dia.

Claro que eu sabia que não era só aquilo. Ela queria dizer mais. Ainda não sabia o quê, mas resolvi entrar no jogo que ela estava fazendo.

— Meu dia foi ótimo, Manu. Nada de muito novo, a não ser sua ligação, confesso que você me pegou de surpresa — afirmo notando mais um sorriso nervoso brotar no seu rosto — E seu dia, como foi? — tentei puxar assunto, sentando numa poltrona.

Ela ficou ainda mais nervosa com a pergunta. Suas pernas cederam, fazendo com que ela sentasse no sofá.

— É que... bem... eu vi o João hoje e...

— Então era isso? Cê queria me dizer que encontrou o João?

Interrompi ela na mesma hora. Não estava com saco para ouvir pela milésima vez que ela ama muito o babaca do meu irmão e não consegue esquecê-lo. Por mais que eu gostasse dela e de estar com ela, não era nada fácil ir desviando dos bloqueios que ela inconscientemente criava entre nós, e ainda sim, seguir fiel no papel de bom amigo.

Vendo minha expressão murchar ela se apressa em dizer.

— Deixa eu te explicar. — fez uma breve pausa, buscando as melhores palavras para começar —Ainda dói muito pra mim encontrar o seu irmão. Mas eu já sofri demais! E eu não quero mais viver nada dessa história, entendeu? — levantou do sofá com determinação — Eu quero tirar o João da minha cabeça!

Tá aí algo que eu realmente não esperava, resolvi tentar entender um pouco mais sobre o meu papel nisso tudo.

— E onde é que eu entro nisso?

Me levantei e dei pequenos passos em direção a loira, dando total atenção ao que ela falava.

— Você é um cara muito legal e você tá me ajudando tanto! — ela pareceu relaxar um pouco.

As mãos dela, um pouco frias, buscaram as minhas.

— Só isso?

— Bom... se eu disser que não te acho um gato... eu vou tá mentindo, né? Porque eu acho! — Manu deu uma risada engraçada que me fez acompanhá-la — Então... eu, eu quero me desvencilhar de vez disso tudo e eu não quero nem tentar entender mais o que aconteceu. Eu quero mesmo tirar o João da minha cabeça, mas eu não quero que você sinta que eu tô te usando pra isso.

— Isso aí quem decide sou eu, né? Manu, eu tenho certeza, eu não tenho dúvida nenhuma que eu vou fazer você esquecer esse cara, Entendeu? — minhas mãos acariciaram seu braço e seguiram até alcançar sua nuca, onde minhas mãos descansaram — Cê gosta de mim, Manuela. Cê gosta de mim, né, Manu? - ela assentiu nervosa como se quisesse desesperadamente acreditar que sim e que finalmente iria seguir com sua vida e se livrar de uma vez por todas de João Guerreiro.

Estava tudo tão bom que eu nem sequer acreditava que aquilo estava mesmo acontecendo. Manuela Renata, minha eterna musa de infância, estava bem ali na minha frente me dando a chance que eu sempre sonhei em ter. A chance de provar que eu também poderia fazê-la feliz.

Buscando uma certeza ainda maior de que tudo aquilo era mesmo real, meus lábios nem hesitaram ao buscar os dela e embarcar em um beijo profundo.

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⏰ Last updated: Apr 20, 2019 ⏰

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olhos verdes | jerozitaWhere stories live. Discover now