SE UMA PESSOA NUM LUGAR

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Senta-se ou deita-se confortavelmente. Pega o conto e põe-se a lê-lo. Está bastante curioso. Esse tipo de assunto muito lhe interessa. 

Antes, no entanto, para brevemente pra ouvir o ambiente, apreender sua atmosfera, sentir-se presente. É preciso. A leitura provavelmente lhe trará muitos questionamentos e precisa ter um ponto de referência, algo a que se apegar, um parâmetro de comparação. 

É um pouco assustador — pensa — porque se algo aqui fizer realmente sentido, outras coisas talvez deixem de fazê-lo. Mas quer muito ler assim mesmo. 

Entretanto, quando dá por si, já está lendo. Sempre estivera. Mesmo quando parara pra ouvir o ambiente, já estava lendo. 

Quanto tempo fazia desde que começara? Não poderia haver tanto tempo, estava há poucas frases do início. Que estranho. Poderia ter estado tão imerso que nem se dera conta disso?


Percebe agora que, nem bem começara a leitura e, ante mesmo do que esperava, já estava se questionando. 

Curioso: parece-lhe que, quando se lê, o pensamento do leitor se confunde, durante aqueles breves momentos, com o pensamento do narrador. 

De quem é a voz que soa em nossas cabeças quando lemos, afinal? Que processo intrigante é esse que acontece? 

Quando pensa sobre isso, lhe ocorre: como ter certeza de que estamos realmente no controle de nossas mentes enquanto lemos? 

Lembra-se de uma frase que lera (ou será que ouvira? Ou será que criara?) uma vez: nós nos tornamos aquilo que observamos. 

Eu, hein? Não era bem isso que esperava quando começou a ler o conto.


Será que se parasse de ler...

Se, de repente, deixasse o conto... O que aconteceria? Experimenta faze-lo?

Volta.

Bom, as palavras ainda estão aqui, do mesmo jeito. Nada mudou. Ou será que mudou? Relê um trecho anterior só pra se assegurar.

Quando se lê, o pensamento do leitor se confunde, durante aqueles breves momentos, com o pensamento do narrador. De quem é a voz que soa em nossas cabeças quando lemos, afinal?

Sim. Está tudo como antes. 


Se voltar mais, inclusive, consegue ver exatamente tudo pelo que passou desde que começou a leitura. Está tudo registrado. Lembra-se de já ter lido tudo isso. 

Mas... Antes que o lesse, já estava tudo lá, certo? Pois assim são os contos. Estava tudo lá, escrito, exatamente o que lhe acontecera, antes mesmo que acontecesse. Mesmo agora, vê: está lendo. Está lendo a palavra lendo! Então, não só o assado, mas também seu presente está sendo descrito à medida que lê! 

Poderia, então, seu futuro estar também contido neste conto? Ora, certamente! Em algum canto dessas páginas, encerrado em meio a essas letras, está o seu futuro. Basta que prossiga diligentemente com a leitura. Eventualmente chegará lá. 

Mas, espera... Se assim o é, então é possível ver este futuro antes que ele se concretize! Tudo que se precisa fazer é saltar até a última página, ler as últimas frases, pra poder se preparar pra o que está por vir! Parece uma boa ideia.


...E a'...

...

... Or, vjea! Auq est' naevonmte...

SE UMA PESSOA NUM LUGARWhere stories live. Discover now