Capítulo 46 (Dia 9)

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Fronteira | 15 ºC
Contagem regressiva: 10 dias

Olho para a saída e constato o que eu já temia: ela está muito longe. Nós estamos encurralados aqui, jamais conseguiríamos fugir.

Raiva e decepção tomam conta de mim ao mesmo tempo em que me recuso a aceitar que depois do que passamos, tudo vai acabar assim.

Não é justo.

Olho rapidamente à volta e vejo Mere andando na direção das meninas. Lily e Alana continuam dormindo e não consigo não sentir medo por elas. São apenas crianças.

O ruído da fechadura destravando me faz sentir um frio na barriga e meus batimentos cardíacos aceleram a um ritmo totalmente desconfortável. Tenho a sensação de que todos na sala conseguem escutá-lo por cima do silêncio que se instalou.

Vitor e Armon se aproximam ainda mais da porta. Matt se coloca na frente de Mere e das crianças com a arma em punho também.

O rangido me faz respirar fundo e me preparar para o pior.

Meus olhos demoram um pouco a se habituar à luz quando a porta se abre quase que em câmera lenta. Devagar a imagem começa a se torna mais nítida.

— Por favor, não atirem — a mulher levanta os braços em sinal rendição ao ver as armas apontadas para ela e seu rosto ganha uma expressão assustada. — Nós estamos do mesmo lado — apressa-se a dizer enquanto vejo os seus olhos pararem em mim quase como se estivesse me procurando. — Emily — diz o meu nome o que já não me surpreende. Meu cabelo ruivo sempre denuncia quem sou. A mulher sorri e avança confiante, o que faz Vitor e Armon darem um passo para trás parecendo não saber o que fazer. Ela anda devagar na minha direção, sem se importar com as armas apontadas para ela. — Que honra ter você aqui — diz pegando as minhas mãos e sorrindo de forma gentil.

Olho por cima dos ombros dela e vejo que quase todos se viraram para nós. Menos Vitor que continua com a arma apontada para a porta.

Mas mesmo que os rapazes não tenham baixado as armas, não consigo me sentir ameaçada por ela. Olho para seus cabelos negros na altura dos ombros e seus grandes olhos castanhos que contrastam com sua pele branca e, por alguma razão, ela me passa segurança.

— Quem é você? — Quando ouve a voz do Nathan, ela sorri ainda mais e, soltando as minhas mãos, vira-se para ele. Claro que ela o reconheceu, a voz do Nathan é inconfundível. Lembro-me do dia em que nos encontramos pela primeira vez no terraço, mesmo que nunca tenhamos nos falado antes, eu sabia de quem aquela voz rouca era.

— Príncipe Nathaniel — cumprimenta-o. Como ela é da minha altura, levanta a cabeça para olhá-lo nos olhos. Eu aproveito para analisá-la e vejo que não tem como ter alguma arma escondida, e isso o Nathan já deve ter percebido. Ele abaixa a arma, mas não a guarda. — Obrigada — agradece pelo gesto e dá mais um passo em direção a ele. — Eu sempre soube que esse dia chegaria, que a Resistência iria lutar por nós, e esperava poder receber os Resistentes aqui. Mas nunca imaginei que você estaria com eles, Vossa Alteza.

— Nathaniel — diz ainda sério. — Eu não sou mais o Príncipe.

— Claro, desculpe-me, Vossa Majestade — diz constrangida. — Você é o Rei agora.

As palavras dela me trazem um misto de sentimentos e nenhum de nós ficou indiferente. Vejo o peso delas recair sobre o Nathan.

— Neste momento, eu sou um Resistente — diz sem qualquer mudança na expressão de seu rosto, mas eu sei que ela acabou de dizer o afetou. Os olhos dele se estreitaram mas ele rapidamente se recompôs. — Como você se chama? — pergunta enquanto a mulher continua a olhar para ele com admiração.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Where stories live. Discover now