Scars that never go away.

A mudança.

E quando o dia finalmente chegou, eu percebi. To saindo de casa, vou morar sozinha e estudar a coisa que eu mais amo, na cidade mais maravilhosa de todas. Minha cidade natal, Berkeley, é colada em San Francisco, algumas horinhas de Los Angeles, que é pra onde vou estudar cinema e artes cênicas. 

Meus pais tão um pouco tristes com a minha mudança, mas nunca me senti tão livre. O caminho todinho serviu pra minha mãe ficar falando e praticamente brigando comigo sobre ser responsável e ser adulta. 

- Julie, nunca JAMAIS coloque água sanitária em roupas que não são brancas, ta entendendo?

-Mãe, eu já sei me virar, isso é o mínimo que eu deveria saber sobre lavar roupas não acha?

-É só pra ter certeza...

Depois de mais algumas horas e alguns minutos perdidos em Hollywood, achamos meu apartamento na Sunset Boulevard. Era uma residência estudantil gigante, cheia de estudantes de cinema e afins. Graças ao bom Deus eu teria meu quarto sozinha. Não era muito grande, mas bom o suficiente pra mim. Eu e meus pais passeamos mais um pouco pela cidade, fomos no mercado fazer compras e tudo certo. Eles voltaram pra Berkeley e eu finalmente ia começar minha vida adulta. 

O prédio funcionava assim:

Cada andar era de um gênero, tipo, 2º andar era só os homens, e o 3º andar só as mulheres. Eu fiquei no 6º. O 5º andar, além de ser dos homens, tinha a cozinha, e descendo algumas escadas no mesmo andar (o prédio é gigante), tinha a lavanderia, academia, e 3 máquinas maravilhosas de snacks, que eu amo.

Já deu pra perceber que não queriam ninguém se misturando nos quartos, e isso foi o que a moça que me guiou por lá reforçou bastante. Além de que, ninguém pode levar gente de fora pra lá, nem no pátio. Todo mundo tem o seu crachá, e vc tem que passar ele toda vez que sair e entrar no prédio, são bem rígidos. 

Já era umas 20 horas, por aí, eu tinha terminado de arrumar meu quarto e tava morrendo de fome e sono. Sentei na cama pra apreciar a vista maravilhosa que tava na janela, Los Angeles tem muito por-do-sol maravilhoso, esse era só o primeiro. 

Fui tomar banho. Um problema de lá era o banheiro compartilhado. Um pouco nojento talvez mas... é o que a gente tem. Me arrumei e fui pra cozinha. Ela era meio que dividida em 2 cozinhas, uma só com uma mesa gigante e os fornos, microondas e fogões, e a outra que era só passar por um corredor pra chegar, tinha as mesmas coisas + uma mesa de ping-pong, um sofá maravilhoso com uma TV bem grande na frente. 

Essa parte mais chique tava cheia de gente, então decidi comer em paz na cozinha vazia. Fiquei meia hora procurando talher e prato pra comer, e cadê? Quase me matei, mas tive que perguntar pra galera.

-Oi, com licença, vocês podem me dizer onde tem talher e pratos aqui?

-Não tem nada aqui, você tem que trazer o seu - Um menino disse meio debochado, como se eu já não estivesse vermelha o bastante, virei um pimentão.

- Ah, não sabia disso, mas obrigada. - dei as costas e fui me batendo até as minhas coisas na outra parte.

- Ei - um outro cara me parou no corredor - se você quiser pode usar as minhas coisas, me mudei essa semana e também não sabia dessa regra.

Agora sim eu queria me jogador do 5º andar de tanta vergonha. 

- Hmm, não precisa não, mas muito obrigada! - essa hora minha barriga roncou de fome. Ótimo.

- Tem certeza? Como você vai comer sem prato e talher?

- Na verdade se você puder emprestar eu ia ficar muito agradecida.

Ele foi buscar as coisas e fui arrumando as minhas coisas. Ele trouxe e se sentou comigo.

- Muito obrigada mesmo, amanhã vou no mercado comprar. Alguma outra coisa que eu deveria saber pra já me preparar prascompras?

- Haha, acho que é só isso mesmo. Prazer, Shawn.

- Prazer, Julie. 

Comemos em silêncio e super rápido, acho que pra não continuar naquele clima estranho. 

-Eu vou descendo, muito obrigada por emprestar o prato e a faca, de verdade.

- De nada, qualquer coisa só chamar, to no 5º andar mesmo, corredor 3, quarto 7.

-Boa noite Shawn, a gente se vê - dei um sorriso e sai.

Preciso dizer que achei ele muito lindo, e não achei no instagram.  Eu tava tão morta que me virei na cama e dormi.