Comunicando meus novos propósitos a Tobias, verifiquei a satisfação que lhe transpareceu do olhar.
Fique tranqüilo – disse, bondoso –, você possui a quantida- de necessária de horas de trabalho para justificar o pedido. Temos, por nossa vez, grande número de colegas na Comunicação. Não será difícil localizá-lo com instrutores amigos. Conhece o nosso estimado Aniceto?
Não tenho esse prazer.
É antigo companheiro de serviço – continuou informando, amável – e esteve conosco na Regeneração, algum tempo. Em seguida, devotou-se a tarefas sacrificiais no Ministério do Auxílio e, hoje, é instrutor competente na Comunicação, onde vem pres- tando concurso respeitável. Conversarei, a respeito, com o Minis- tro Genésio. Não tenha dúvidas. Seu desejo, André, é muito nobre aos nossos olhos.
O prestimoso companheiro deixou-me num mar de contenta- mento indefinível.
Comecei a compreender o valor do trabalho. A amizade de Narcisa e Tobias era tesouro de inapreciável grandeza, que o espírito de serviço me havia descortinado ao coração.
Novo setor de luta desdobrar-se-ia à minhalma. Não deveria perder a oportunidade. "Nosso Lar" estava cheio de entidades ansiosas por aquisições dessa natureza. Não seria justo entregar- me, de boa vontade, ao novo aprendizado? Além disso, certo da minha volta à carne, em futuro talvez não distante, a providência constituiria realização de profundo interesse ao meu aproveita- mento geral.
Misteriosa alegria dominava-me todo, sublimada esperança iluminava-me os sentimentos. Aquele desejo ardente de colaborar em benefício dos outros, que Narcisa me acendera no íntimo, parecia encher, agora, a taça vazia do meu coração.
Trabalharia, sim. Conheceria a satisfação dos cooperadores anônimos da felicidade alheia. Procuraria a prodigiosa luz da fraternidade, através do serviço às criaturas.
À noite, fui procurado por Tobias, sempre generoso, trazen- do-me a confortadora aquiescência do Ministro Genésio.
Com sorrisos afetuosos, convidou-me a acompanhá-lo. Con- duzir-me-ia à presença de Aniceto, para conversarmos relativa- mente ao assunto.
Emocionadíssimo, segui para a residência da nova persona- gem que se ligaria fundamente à minha vida espiritual.
Aniceto, ao contrário de Tobias, não se consorciara em "Nos- so Lar". Vivia ao lado de cinco amigos que lhe foram discípulos na Terra, em edifício confortável, encravado entre árvores frondo- sas e tranqüilas, que pareciam postas ali para protegerem extenso e maravilhoso roseiral.
Recebeu-nos com extrema gentileza, o que me causou exce- lente impressão. Aparentava ele a calma refletida do homem que chegou à idade madura, sem fantasias da mocidade inexperiente. Embora lhe transparecesse muita energia no rosto, revelava o otimismo sadio do coração cheio de ideais sacrossantos. Muito sereno, recebeu todas as alegações do meu benfeitor, dirigindo- me, de quando em vez, olhares amistosos e indagadores.
Tobias falou longamente, comentando minha posição de ex- médico no plano terráqueo, agora em reajustamento de valores no plano espiritual.
Depois de examinar-me com atenção, o orientador aduziu:
Não há o que embargar, meu prezado Tobias. No entanto, é preciso reconhecer que a solução depende do candidato. Sabe você que estamos aqui na Instituição do Homem Novo.
André está pronto e disposto – adiantou o amigo, carinho- samente.
Aniceto fixou em mim o olhar penetrante e advertiu:
Nosso serviço é variado e rigoroso. O departamento de tra- balho, afeto à nossa responsabilidade, aceita somente os coopera- dores interessados na descoberta da felicidade de servir. Com- prometemo-nos, mutuamente, a calar toda espécie de reclamação. Ninguém exige expressão nominal nas obras úteis realizadas e todos respondem por qualquer erro cometido. Achamo-nos, aqui, num curso de extinção das velhas vaidades pessoais, trazidas do mundo carnal. Dentro do mecanismo hierárquico de nossas obri- gações, interessamo-nos tão somente pelo bem divino. Conside- ramos que toda possibilidade construtiva vem de nosso Pai e esta convicção nos auxilia a esquecer as exigências descabidas de nossa personalidade inferior.
Identificando-me a surpresa, Aniceto esboçou um gesto signi- ficativo e continuou:
Nos trabalhos de emergência, destinados à preparação de colaboradores ativos, tenho um quadro suplementar de auxiliares, constante de cinqüenta lugares para aprendizes. No momento, disponho de três vagas. Há intensa atividade de instrução, neces- sária a servidores que cooperarão em socorros urgentes, na Terra. Orientadores há que se fazem acompanhar, nos serviços da crosta, por todo o pessoal em aprendizado, mas eu adoto processo dife- rente. Costumo dividir a classe em grupos especializados, de acordo com a profissão familiar aos estudantes, para melhor apro- veitamento no preparo e na prática. Tenho, presentemente, um sacerdote católico-romano, um médico, seis engenheiros, quatro professores, quatro enfermeiras, dois pintores, onze irmãs especializadas em trabalhos domésticos e dezoito operários diversos. Em "Nosso Lar", a ação que nos compete é desdobrada de maneira coletiva; mas, nos dias de aplicação na crosta terrestre, não me faço seguido de todos. Naturalmente, não se negará ao engenhei- ro, ou ao operário, o ensejo de aquisição de conhecimentos outros, que transcendem a paisagem de realizações que lhes cabem; mas, tais manifestações devem constar do quadro de esforços espontâ- neos, no tempo vasto que cada qual aufere para descanso e entre- tenimento. Considerando, pois, o serviço atual, temos interesse em aproveitar as horas no limite máximo, não só em beneficio dos que necessitam de nosso concurso fraternal, como também a favor de nós mesmos, no que toca à eficiência.
Ponderei, admirado, o curioso processo, enquanto o orienta- dor fazia longa pausa.
Após mergulhar toda a atenção em mim, como se desejasse perceber o efeito de suas palavras, Aniceto continuou:
Este método não visa apenas a criar obrigações para os ou- tros. Aqui, como na Terra, quem alcança a melhor porção, nas aulas e demonstrações, não é propriamente o discípulo e sim o instrutor, que enriquece observações e intensifica experiências. Quando o Ministro Espiridião me chamou a exercer o cargo, aceitei-o sob a condição de não perder tempo na melhoria e edu- cação de mim mesmo. Desse modo, não preciso alongar-me nou- tras considerações. Creio haver dito o bastante. Se está, portanto, disposto, não posso recusar-me a aceitá-lo.
Compreendo seus nobres programas – respondi, comovido
–, será honra para mim a possibilidade de acompanhá-lo e receber suas determinações de serviço.
Aniceto esboçou a expressão fisionômica de quem atinge a solução desejada, e concluiu:
Pois bem; poderá começar amanhã.
E, dirigindo-se a Tobias, acrescentou:
Encaminhe o nosso amigo, amanhã cedo, ao Centro de Mensageiros. Lá estaremos em estudo ativo e providenciarei para que André seja bonificado pelas tabelas da Comunicação.
Agradecemos, satisfeitos, e, logo em seguida a Tobias, des- pedi-me, alimentando novas esperanças.
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OS MENSAGEIROS
SpiritualMENSAGEIROS 2º livro da coleção "A Vida no Mundo Espiritual" Ditado pelo Espírito: André Luiz Psicografado por: Francisco Cândido Xavier Primeira edição lançada em 1944 Editora FEB - Federação Espírita Brasileira www.febnet.org.br Versão digitalizad...