A menina

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Lembro-me como se fosse hoje. Uma manhã de verão, o sol no ponto mais alto do céu queimava minha pele. Mamãe sentada lendo um livro observava-me brincar com minhas bonecas no meio do jardim.

Tudo estava tão tranquilo. Como uma criança feliz e inocente voltei a mesa para um breve lanche.

"Beba um pouco de água, minha pequena. Está muito quente hoje!"

Fiquei a bebericar um copo gelado e comecei a observar a bela mulher a minha frente. Minha mãe era linda. Uma mulher que quando entrava na sala todos paravam para observar. Alta, de longos cabelos castanhos que pendiam até a cintura, ela vivia a penteá-los todas as manhãs, logo após acordar.

Na grande colina que cercava a nossa casa, pude ver no horizonte cavalos vindo em nossa direção.

"Mamãe, quem está vindo?"

Ela olhou adiante. Seu rosto antes sereno adquiriu um semblante sombrio, seus olhos claros escureceram em um segundo.

"Não sei, minha pequena. Não sei."

Ela pegou o seu livro e minha boneca preferida.

"Vamos entrar. Rápido!"

Nós subimos até um dos aposentos de nosso castelo. Quando chegamos no quarto mais alto vi pela janela homens de armadura brilhante descendo de seus cavalos.

"Mamãe, quem são esses homens?"

Ela olhou pela janela, quando seus olhos recaíram sobre mim vi um terror se apossar da mulher que era minha maior força.

"Minha pequena, preciso que você me escute com atenção e faça tudo o que pedir. Entendeu?"

Balancei a cabeça em concordância. Estava ficando com medo.

"Esconda-se neste armário e não saia. Não importa o que aconteça. Não importa quem apareça. Isso é extremamente importante, tudo bem?"

"Sim. Ficar escondida. Não sair."

Ela me colocou no armário e me entregou um colar.

"Quero que fique com isso. Não importa o que aconteça, saiba que te amo. Você é a minha menina."

"Também te amo, mamãe." Respondi em lágrimas.

No momento em que ela fechou o armário um homem, um belo e jovem homem entrou no quarto.

"Helena, que bom que te encontrei aqui."

Ele olhou para direção do armário, ficou a pensar por um minuto, mas voltou as atenções para minha mãe.

"O que você quer?"

Ela perguntou.

"Vim aqui para uma missão."

"Que missão?"

"Você sabe muito bem."

Ela o olhou apavorada, fez um movimento que não consegui ver pela fresta do armário. O Homem saiu do meu campo de visão, barulhos dominaram o quarto, objetos estavam sendo arremessados, algo em algum lugar caiu e quebrou. Não conseguia ver, mas sabia que os dois estavam lutando. Percebi naquele momento que minha mãe lutava pela sua vida.

Depois de alguns minutos que pareceram horas os dois voltaram para o meu campo de visão. Minha mãe estava com o rosto sangrando e o cabelo bagunçado. O homem possuía um corte em sua testa. Ele a puxou pelo cabelo pegou uma adaga e perfurou-a no abdômen. Minha mãe caiu no chão. Olhando em minha direção vi o medo seguido de desespero para no final ver a vida esvaindo-se de seu corpo. Contive um grito, tentei ao máximo não fazer barulho. Sofri em silêncio a morte, ou melhor, o assassinato de minha mãe. O sangue inundava o chão e aos poucos chegava em meu esconderijo. Ele adentrou as frestas da porta e sujou meu vestido azul.

Um outro homem entrou no quarto.

"Ela está morta?"

Ele perguntou.

"Sim."

"Há mais alguém aqui?"

O jovem olhou novamente em direção ao armário. É agora, pensei. Minha vez chegou.

"Não. Só ela. A menina não está aqui."

"Então vamos."

O homem olhou pela última vez em direção a onde eu estava. Fazendo um sinal de silêncio para mim ele deixou o quarto.

Foi nesse dia. Que lembro como se fosse hoje. Foi no meu aniversário de doze anos que vi minha mãe ser assassinada.

The QueenWhere stories live. Discover now