Capítulo 03

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Quase dois meses depois foi meu primeiro dia na Universidade. No interior onde eu morava, havia apenas uma escola do tamanho de um ovo. Nela, havia uma sala para cada série, e mesmo assim nenhuma sala estava cheia. Por isso, quando entrei na UFMG e vi a quantidade de pessoas, de carros, motos e salas, fiquei desesperada. A Diana tinha prometido ir comigo para me levar em um tour pelo campus e me explicar tudo, mas acabou perdendo a hora e decidiu não ir ao primeiro dia de aula. Ela me pediu que também não fosse, mas a verdade é que eu estava ansiosa para conhecer a faculdade e tudo o que seria minha nova vida dali em diante.

Perdida no meio de tanta gente, tentei parar alguém para perguntar, mas as pessoas passavam rápido e ninguém me dava atenção. Peguei o papel com meu horário e resolvi procurar. Com sorte, antes do final do dia eu acharia ao menos meu campus. Pus-me a andar pela enorme rua enquanto ia lendo os nomes dos campus, foi aí que um carro parou ao meu lado.

— Perdida, princesa?

Erick me olhava com seu sorriso debochado e o cabelo loiro espetado. Assenti e ele me mandou entrar no carro. Perguntou qual curso eu faria e quando eu disse, seguiu com o carro para o campus certo. Esperei que ele perguntasse pela Diana, mas ele não o fez. Também não parecia mais triste, ou perdido como havia parecido naquele dia em que pegara Diana na cama com três caras. Ele desceu do carro e quando fui fazer o mesmo, ele correu e abriu a porta do carro para mim.

— Olha, um cavalheiro — brinquei.

— Não se acostume. Estava apenas esperando um comentário engraçadinho seu.

Então ele pegou o papel da minha mão.

— Vamos ver sua primeira aula.

Ele olhou o papel e pegou minha mão, me arrastando até uma sala.

— Está entregue, novata.

— Jura? Achei que fosse fazer um tour comigo, me mostrar os banheiros, a cantina e pelo menos onde fica minha segunda aula.

Ele sorriu.

— Não mesmo. Mas quando sua aula acabar eu estarei aqui para te levar até a segunda.

— Não seria mais fácil me mostrar de uma vez onde é a segunda aula?

— Com certeza. Mas aí eu não veria você, novata.

Então saiu andando.

Sentei-me o mais longe possível do professor e fiquei ali, no meu cantinho, só reparando o quanto as pessoas falavam e sorriam. Onde eu morava as aulas eram monótonas, todo mundo ficava quieto e concentrado, porque cada professor conhecia o pai de cada aluno, muitos eram até nossos vizinhos que conhecíamos desde crianças, não dava para desrespeitá-los. Aquilo ali era diferente. Era aula de verdade, como eu lia nos livros e via em filmes.

Quando minha aula acabou, saí junto com a multidão e alguém puxou meu braço.

— Vamos novata, segunda aula.

Erick me arrastou até a sala ao lado da que eu estava. Quando olhei para ele, seu sorriso debochado estava ali.

— Isso é sério? Você não podia ter me dito que a segunda aula era na sala ao lado?

— Podia. Estou dizendo agora.

Fiz uma careta, agradeci e entrei, mas ele me puxou para trás novamente.

— Não estarei aqui quando acabar sua segunda aula, novata. Portanto, tente fazer amizades.

Fiz uma careta que o fez rir, me soltei dele e entrei.

Ótimo, eu tinha alguns minutos antes do final da aula para descobrir com alguém ali onde seria minha próxima aula. Peguei o papel e me virei para a pessoa ao meu lado, era um homem. Tinha cabelos cacheados que caiam sobre seus olhos e uma boca tão carnuda que foi impossível não reparar. E ele me pegou vidrada em sua boca. Senti-me corar e levantei o papel.

— Pode me ajudar?

Ele deu um sorriso amigável e pegou o papel da minha mão.

— Eu te levo, novata.

Isso estava ficando chato. Primeiro, eu tenho um nome, por que todos me chamavam de novata? Segundo, por que simplesmente não dizer onde era a sala? Será que achavam que eu não tinha capacidade de achar sozinha?

Quando a aula acabou, ele me deu o braço e foi me guiando. Avistei de longe Erick rodeado por meninas, ele piscou para mim e eu fui para a terceira aula. O cara que me ajudou chamava Giovani, e a terceira aula dele coincidentemente era na mesma sala. Nos sentamos juntos e conversamos a aula inteira. Ele era até divertido e ficou caçoando do meu sotaque carregado do interior.

O dia passou mais rápido do que eu imaginava e quando estava saindo para ir embora, fui puxada por Erick, que me encostou contra a parede e parou na minha frente.

— Então, como foi seu primeiro dia?

— Bom.

Ele assentiu. Depois me olhou diretamente nos olhos e disse:

— Sabe, quando eu disse para você fazer amizades, não estava falando de homens. Você deveria ser uma boa garota do interior e fazer amizade com uma garota.

— É mesmo? E o que te faz pensar que no interior não tem homens?

— Eu não pensei isso. Pensei que garotas do interior fossem mais comportadas e menos sociáveis com o sexo masculino.

Fiquei confusa.

— E por que pensaria uma coisa dessas?

— Bom, quando a Diana chegou aqui ela era tão bicho do mato... — ele se calou e procurei por um sinal de tristeza em seu rosto, mas não houve. — Quer carona?

— Não, obrigada.

— O ponto de ônibus é ali. Mas provavelmente você vai ficar perdida.

— Eu me viro.

Ele sorriu e virou-se para sair. Mas parou e deu meia volta.

— Julia, eu queria te pedir desculpas, pelo outro dia. Eu não devia ter tentado beijar você.

Pisquei os olhos confusa pela mudança de assunto repentina. Senti-me corar, por que ele tinha que lembrar daquilo? Mas consegui agir com naturalidade e dei de ombros.

— Não foi nada, sem problemas.

Ele me avaliou por um tempo.

— E se eu tivesse realmente beijado você?

— Você estava bêbado, eu não te crucificaria por isso.

Um sorriso surgiu no rosto dele e eu deveria ter corrido naquele momento.

— Isso quer dizer que eu tenho crédito.

Então ele se aproximou de mim e encostou os lábios nos meus. Foi apenas um segundo. Rapidamente, afastou-se e saiu rindo. Eu soube ali que deveria ficar longe dele, ele era louco e muito perigoso.

Proibido - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora