Salto Agulha

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A terceira vítima

O corpo nu jazia sobre uma poça de sangue no quarto luxuoso de um motel à beira da estrada. Investigadores da polícia civil e peritos encheram o local, como abutres ao redor da presa. Todo o protocolo que cerca a cena de um crime foi cessado, quando uma jovem mulher adentrou o quarto balançando a cabeça, movendo os cabelos presos num rabo de cavalo. Os olhares masculinos cravaram-se nas curvas generosas de seus quadris dentro de um jeans justo.

Ela retira os óculos escuros e se aproxima da cama.

—Mais um! Hora da morte? —perguntou para o perito que estava ao lado do cadáver.

—Aproximadamente há quatro horas.

—Já falou com as testemunhas?

—Falei com o atendente da recepção. Ele disse que não viu a acompanhante dele... Mas que a vítima pagou pela noite toda. Chegaram por volta das 22 horas.

—Identificação?

—Não vai acreditar... Rodolfo Marusconi, 42 anos, juiz...

—Mais uma vítima da Vampira! —disse fazendo alusão ao ferimento no pescoço do homem.

A inspetora Maraísa da Polícia Federal estava diante do terceiro homem morto com o mesmo modus operandi que outros dois juízes. Uma perfuração fatal no pescoço na altura da jugular. O ferimento de bordas arredondadas era idêntico aos demais, feito com um objeto pontiagudo, provável mente um espeto ou caneta. O golpe era certeiro e profundo, e em uma das vítimas transfixou o pescoço, demonstrando a violência do crime. A  inspetora estava encarregada desse caso e tinha certeza de que tratava-se de uma assassina em série, que seduzia as vítimas, e depois de ter relações sexuais com elas, as assassinava perfurando sua jugular. Todas tinham em comum a faixa etária e a profissão: eram juízes.

—Checou em qual caso ele estava envolvido ultimamente? —perguntou ao investigador que havia chegado à cena do crime antes dela

—Como os outros dois, estava envolvido no caso de violência sexual de uma adolescente que foi feita refém de bandidos no Morro da Cigarra.

—A adolescente está viva?

—Não. Foi encontrada morta...

Maraísa andou pelo quarto, sem se importar com o fato dele estar cheio de policiais, depois de dar vários passos parou e disse:

—Preparem a estaca de madeira rapazes, temos uma Vampira para caçar!


Ariane

O cansaço fez com que Oliver reduzisse a velocidade de sua picape. Estava dirigindo há horas, e temia que fosse vencido pelo sono e causasse um acidente, apesar da estrada estar quase deserta.

Toda vez que vinha até a capital visitar o irmão mais novo, tinha mais convicção de que o campo era seu lugar. Aquela agitação urbana o punha louco! E as pessoas então?Mal-educadas sempre apressadas... E aquelas mulheres vulgares e oferecidas! Sem dúvida a fazenda era seu lar, para onde ele sempre queria voltar. Herdou-a do pai há quinze anos, e dedicou-se a administrá-la, esquecendo-se de sua vida pessoal. Tinha 43 anos e ainda era solteiro!  Sentia falta de companhia feminina, mas era introspectivo e sem jeito para com as mulheres. Já seu irmão Victor era o oposto: um garanhão fogoso que não deixava escapar uma única mulher, independentemente da raça, classe social e faixa etária. Era dedicado à profissão, mas isso não o impedia de se divertir com o sexo oposto.

As pessoas de sua cidade diziam que Oliver precisava se casar para deixar a fazenda nas mãos de um herdeiro, pois o irmão não fora talhado para a vida no campo, e se desfaria dela num piscar de olhos.

Salto AgulhaWhere stories live. Discover now