Prólogo

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O silêncio de uma morte

Numa deslocada área britânica, nos meados do século XIX, percebe-se uma peculiaridade totalmente inesperada. O silêncio. A grã Bretanha toda estava em guerra, junto a todos os seus países vizinhos. Com isso, caos e baderna era o que mais havia por toda a Europa. Entretanto, essa pequena área – ou melhor dizendo: esse pequeno vilarejo – estava em um silêncio absoluto e ensurdecedor. Toda a sanidade mental de um homem poderia se esvair, só de ficar neste local por algumas horas.

O silêncio poderia ser considerado como uma execução: limpa, rápida e sutil. Percebia-se três partes desse silêncio, assim, como se fosse três facadas. A primeira parte – a facada por trás, na região lombar, para desencarreirar a vítima – era a mais fácil de se perceber, já que o vilarejo todo estava quieto e ninguém ousava pestanejar ou nem mesmo chorar. Todos os moradores lá estavam em luto e o motivo era óbvio, a guerra das guerras havia começado para nunca terminar, todos sabiam que era mais fácil a humanidade se extinguir do que esta guerra se finalizar.

A segunda parte – a facada mais sutil das três, aquela que corta a garganta da vítima ao se virar para ver o que acontecera, assim como aquela que a vítima só percebe após alguns segundos – era a mais linda. Ninguém ousava nem ao menos tentar reparar nela, pois poderia ser uma ofensa. Porém, todo o ambiente estava morto. Pessoas morreram ali, pois algo acontecera na última noite, e não havia uma única dica do que acontecera. Na falta de qualquer noção de fatos, os subconscientes de cada cidadão da pequena vila entraram em sinergia, ao demonstrar um respeito por aqueles que se foram vergonhosamente, sem motivo algum. Todos queriam vingança, porém ninguém poderia ousar desrespeitar os defuntos que foram miseravelmente assassinados, como moscas.

Já a terceira parte – o golpe mais mortal, porém o que ninguém sente, a facada no coração – era a mais difícil de se notar. Era o silêncio de um homem, um homem que vestia uma máscara todos os dias, apenas esperando sua morte. Era o silêncio do homem, que outrora houvera a vida mais agitada de todas, mas que agora apenas esperava esperançosamente pelo ponto final. O silêncio do homem que aparentava ser vinte anos mais velho que sua real idade, com olhos mortos, na espera do mundo pegar fogo. Este, é o homem que nos contará como que ele – com muito sangue em suas mãos – liderou o mundo para o que ele é hoje, e com muito arrependimento, espera sua morte.

Até que o inesperado aconteceu: o silêncio fora quebrado, a vila toda pode ouvir as três batidas na porta de uma velha taverna. Exatas três batidas, como diziam: A terceira vez é a que conta.

As Três FacadasWhere stories live. Discover now