ROMANCE

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  Estávamos apaixonados, como se nada mais importasse, nem nossa carreira, ou família e muito menos o mundo lá fora. Fazíamos arte na cama, nos beijávamos a cada 5 segundos e dizíamos "eu te amo" a qualquer momento. Um romance que causava estranheza a quem passava na rua e via. Pessoas não gostam de casais felizes se beijando de língua na rua, muito menos eu gostava, mas é como eu havia dito: nós não nos importávamos com mais nada a não ser o nosso amor naqueles instantes.

  Ele havia me pedido em casamento, no dia do meu aniversário, com todos os meus amigos e familiares presentes; bem ali, na sala de estar; ele se agachou e estendeu uma caixinha preta de veludo bem em minha frente. Eu jurava que estava esperando talvez um pingente, ou no máximo um colar, mas um anel? Nunca pensei tão longe, nunca pensei que Tomas iria querer se comprometer para o resto de sua vida e ficar somente ao meu lado. Eu fiquei perplexa e sem chão, apenas olhando para aquele anel reluzente, com quatro diamantes em sua volta, maiores que grãos de arroz. Tomas era empresário, mas nunca pensei na parte beneficente, pois eu o amava, não o que ele continha em sua poupança, mas quando vi aqueles diamantes no anel que brilhavam mais que a luz do sol, acho que comecei a me apaixonar um pouco pelo estado financeiro de Tomas. Então, enquanto todos exclamavam em minha volta para eu aceitar, percebi a minha boca, quase que em um ato involuntário, soltar um rápido e preciso "sim! ".

  Era tudo um sonho se tornando realidade. Sonhos que eu pensava que nunca se realizariam, quando eu tinha meus 13 ou 14 anos de idade, por ser gordinha e uma aparência nada convencional, os garotos me ignoravam; eles preferiam as garotas de pele clara, cabelos lisos e brilhantes, mãos macias, rostos angelicais e vozes suaves. Tudo o que eu não era, pois eu não continha todos aqueles requisitos exigidos, criados a partir de vídeos pornôs que eles viviam assistindo na internet. E foi na faculdade, que eu comecei a me achar bonita, valorizar a cor da minha pele, meus cabelos crespos, e minhas mãos um pouco ásperas. Comecei a ter autoestima, a me olhar nua em frente ao espelho e não chorar, a dizer para mim mesma que eu era linda, e tudo isso cooperou para a minha autoconfiança, isso me completou, não foi a vontade de agradar o senso estético dos meninos que fez isso por mim, mas sim eu mesma, o meu amor próprio. E ali estava eu, casada com um homem lindo, rico e gentil. Eu adoraria, se eu pudesse esfregar tudo que eu havia conquistado na face daquelas meninas de pele clara, cabelos lisos e brilhantes, mãos macias, rostos angelicais e vozes suaves. Eu riria muito ao ver as expressões que elas fariam. Mas aquilo era passado e eu precisava focar no presente e na família que eu estava construindo.

  Eram jantares em restaurantes finos todos os finais de semana, e o clima de romance não tinha fim nas primeiras semanas de casados. O sexo era ótimo, ele sabia exatamente como me satisfazer na cama, e cada vez que transávamos, parecia como se fosse a primeira vez. O prazer nunca diminuía. Então houve a primeira briga, não lembro muito bem o porquê, mas acho que fui eu a culpada por irritá-lo. Ele andava pela cozinha enquanto esbravejava e gritava comigo, diversas palavras, xingamentos e até ameaças. Lembro que eu não conseguia prestar atenção no que ele estava dizendo ao certo, pois havíamos acabado de sair de um boteco e eu estava um pouco bêbada demais para enfrentar aquele tipo de situação.

  - Ok, Ok. Não irei repetir o que fiz! – Eu disse enquanto me dirigia até o quarto fazendo gestos para que ele se acalmasse – Preciso dormir agora.

  Ele me puxou pelo braço, com suas mãos repletas de calos, seus dedos firmes e grossos pressionavam minha pele até chegar ao osso, e então ele me pôs contra a parede, e eu senti o gesso frio na parte de trás do pescoço. Vi os olhos dele, que estavam quase da cor do sangue, então percebi naquele mesmo instante que ele estava mais bêbado do que eu.

ROMANCE - CONTOWhere stories live. Discover now