Cinco: Humilhação

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Por um instante foi como se o chão tivesse sumido dos meus pés. Tudo ficou num absoluto silêncio e eu sequer consegui reagir ao choro desesperado de Maria Isabel em meu colo.

"Não, não pode ser real" pensei aflita enquanto observava aquelas duas mulheres no fim do corredor aproximando-se a cada tilintar do salto no piso de madeira.

O encontro seria inevitável e nem se eu quisesse conseguiria fugir dali sem ser notada.

Imediatamente, minha mente trouxe a luz a última conversa entre eu e Raquel Ferraz antes da minha fuga de Santa Fé. — Bem, Sarah, você não tem outras chances. O que irão dizer quando souberem que a filha do pastor está grávida sem ser casada? Estou te dando uma oportunidade de sair ilesa e ainda ter um pouco dinheiro. Não era esse o seu desejo? Dinheiro fácil na conta?

Abalada por ouvir de minha sogra que eu deveria matar a pequena vida se formando dentro de mim, eu respondi: — E-eu não sei...

Estou tentando te ajudar, querida — Raquel disse de maneira cínica enquanto balançava o envelope pardo cheio de dinheiro em uma de suas mãos.

Engolindo em seco eu ousei perguntar: — O que o Victor acha de tudo isso? Ele ainda não veio falar comigo.

Raquel ergueu as sobrancelhas, me olhou de um jeito altivo e informou: — Vic mesmo me pediu para estar aqui em nome dele. O pobrezinho ficou abalado, por isso eu vim resolver essa situação desagradável por ele.

A raiva tomou conta de mim de um jeito que minhas mãos começaram a tremer, assim como todo o meu corpo. Victor nem mesmo foi homem de me encarar e aquilo quebrou meu coração e as ilusões nutridas por mim acerca do caráter dele. — Abalado? E quanto a mim? Estou completamente sozinha e perdida!

Não precisa ser assim, Sarah. Resolva tudo como uma mulher forte e não como uma garotinha chorona — ordenou a senhora.

Engoli em seco e perguntei: — É isso o que Victor quer?

Raquel forçou uma risada e afirmou: — Mas é claro. Um filho seria um empecilho na vida de um jovem médico promissor como meu menino.

Dito aquilo tomei minha decisão. Sem pensar, eu tomei o dinheiro das mãos da mulher e declarei: — Eu aceito.

Marque a consulta o mais breve possível. Quanto mais os fetos crescem mais difícil é tirá-los — declarou com toda sua frieza médica e saiu andando como se o mundo estivesse abaixo dela e aquele foi nosso último encontro até o dia em questão.

De tão absorta naquelas lembranças eu só consegui perceber a aproximação das mulheres quando estas já estavam prestes a entrar no escritório de Tatiana. Tanto Raquel quanto Suellen não pareciam ter mudado nada. Ambas continuavam impecáveis no quesito aparência e ostentavam elegância em suas vestimentas da alta moda.

Por um mísero segundo eu realmente acreditei que o meu óbvio espanto e os berros de Mabel não seriam percebidos, mas mãe e filha olharam em minha direção. Suellen pareceu um pouco surpresa, mas Raquel não moveu um músculo de sua face entupida com cosméticos.

Os olhos da cobra-mãe caíram sobre minha filha e eu, sentindo todas as vísceras contraindo ao mesmo tempo, imediatamente segurei a bebê mais firmemente nos braços atendendo aos meus instintos.

Para o meu alivio nada demais aconteceu, mas eu só pude respirar novamente ao vê-las sumirem porta a dentro.

Eu queria ir embora o mais rápido possível, mas o formulário ao qual eu segurava, me lembrou do compromisso outrora firmado com Tatiana.

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