Cinderela - A Princesa dos Pássaros

A vila, a princesa e a carta.

Após dezesseis anos de governo, o novo Rei abdicou em favor de seu filho, que se tornou o Príncipe regente. Ele mandava em todo o reino com a ajuda de sua mãe que apesar de ser casada com um homem terrível, era uma pessoa bom coração.

Infelizmente o Príncipe regente preferia seguir o exemplo do pai, e se tornou um homem arrogante e autoritário.

Numa certa distância da capital, existia uma pequena vila, lá morava uma senhora de idade avançada e sua única filha, uma menina de cabelos castanhos como os frutos da aveleira e de olhos verdes como as suas folhas.

Essa senhora era a antiga Rainha que após a sua fuga veio morar nessa vila e a sua filha era a princesa, que cresceu forte, ajudando a mãe em tudo que era necessário.

Mesmo quando o inverno chegava e era necessário colocar lenha na lareira para sobreviver ao frio, ela estava lá.

Mesmo quando a mãe se cansava e era necessário tirar todo o pó da casa, ela estava lá.

De tanto trabalhar no meio do pó ou nas cinzas, seus cabelos e seu rosto claro estavam sempre sujos e cinzentos. Seu nome era Ellen, mas por causa de seu trabalho, recebeu o apelido de Cinderela.

Cinderela não só cresceu forte e bela, mas também muito curiosa e por causa dessa personalidade adquiriu inteligência, já que vivia se perguntando sobre tudo e todos.

Quando a mãe insistia em cuidar dela como uma princesa e a educava como uma dama, ela perguntava:

— Mamãe, por que tu me tratas como uma dama e me chamas de princesa se nós somos apenas plebeias que trabalham para colocar comida na mesa?

E a mãe, sempre cautelosa, respondia:

— Cinderela, Cinderela como vós sois bela, mas a sua curiosidade ainda supera!

E quando ela passava tardes sobre a sombra da aveleira que estava plantada nos fundos da casa e os passarinhos vinham cantar para ela, ela perguntava:

— Mamãe por que os pássaros voam no céu e pousam nos galhos das árvores e nós sempre ficamos presos ao chão?

E a Mãe, paciente, respondia:

— Cinderela, Cinderela como vós sois bela, mas a sua curiosidade ainda supera!

E assim, Cinderela crescia forte e cheia de sabedoria, mas sua mãe sentia os pesares da idade e uma grave doença a acometeu nas vésperas do 16° aniversário de sua filha.

Já nos seus últimos momentos, no seu leito ela chamou a princesa.

— Cinderela! Cinderela!

A menina correu até o encontro da mãe e ajoelhou-se ao seu lado.

— Minha filha, chega a minha hora, não te preocupes, pois te ensinei tudo que precisavas para viver, seu pai tinha razão quando disse que você era uma menina especial.

— Mas mãe, você nunca fala sobre meu pai...

— Você vai ter a resposta para todas as suas perguntas minha filha, sobre seu pai, sobre tudo.

Dizendo isso ela apontou para uma pequena mesa de madeira na cabeceira da cama.

Cinderela foi até a mesinha e pegou uma carta que ali estava.

— Essa carta foi escrita pelo seu pai,nela esta escrito tudo o que você precisa fazer a partir de agora.

Cinderela olhava atentamente para a carta mas ainda não tinha coragem de abri-la.

— Agora Cinderela, permaneça boa e honesta de coração, use sua inteligência ao seu favor e sempre confie nos seus poderes, o bom Deus que está nos céus te ajudará por isso. Já não me importa muito com quem você se casará mas espero que você encontre alguém em quem possa confiar assim como eu encontrei seu pai e também, acredito que você será uma excelente rainha.

A mãe respirou fundo e acariciou os cabelos da filha, puxou seu rosto para perto e beijou-a carinhosamente na testa.

E depois, sussurrou em seu ouvido:

— Adeus, minha princesa... Retorne o que é nosso...

Sua cabeça descansou sobre a cama e seus olhos se fecharam.

Cinderela olhou para o corpo da mãe e para a carta em suas mãos, se lembrou de todos os momentos que passaram juntas. Um misto de desespero e tristeza inundou o seu coração, ela abriu a porta da casa e se refugiou nos fundos sobre a sombra da aveleira.