Capítulo 1 - Esbarro

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O vento forte e gélido esvoaça meus cabelos pretos e desfiados. Os poros de meu corpo logo se arrepiam, olho para o céu e ele está completamente escuro. A lua não contempla a terra com sua luz e as estrelas parecem ter sumido.

Fungo, passando a mão esquerda por cima de meu nariz para estancar o escorrimento causado pela mudança repentina do tempo. Um grão de terra cai em meu olho direito, esfrego-o para o grão sair. Tropeço num paralelepípedo, distraída. Puxo meu pé direito, mas a parte de trás da bota fica agarrada no vão entre um paralelepípedo e outro. Xingo mentalmente e seguro a panturrilha para tirar o pé dali. Após umas quatros tentativas consigo tirá-lo. Meu calcanhar fica dolorido. Por conta disso começo a mancar. Tiro do bolso traseiro da calça o maço de cigarro e o abro. Só resta um. Pego o cigarro e o acendo com o isqueiro que está dentro do maço. Coloco o maço de volta no bolso para não o jogar no chão. Dou uma forte tragada, puxo a fumaça para a garganta e a solto segundos depois. O vento rebelde continua e as árvores ao redor parecem inquietas. Puxo a alça de minha bata preta que cai pelo o meu braço direito deixando meu ombro desprotegido. Minha calça caqui não é uma das mais quentes. Os únicos que estão salvos do vento são meus pés. A praça pela qual eu passo está mal iluminada. A única fonte de luz que há por aqui ali está a aproximadamente cinquenta metros à frente, e ainda assim é fraca.

Justin P.O.V

Após fugir daquela multidão sufocadora, procuro por horas um lugar que eu consiga ficar em paz. Encontro uma praça abandonada, um lugar meio repugnante, mas não há ninguém por aqui. Aqui há paz e fedor. De qualquer forma, não importa, só aqui eu conseguirei respirar sem que alguém me interrompa para pedir um autógrafo. Cruzo minhas pernas, me abaixando e apoio a mão esquerda no chão para me sentar. Sento sobre uma grama fria e úmida. Gotículas caem das folhas de uma árvore que acima de minha cabeça. Me afasto um pouco dela. As gotas caem lentamente e me irritam. Olho para o céu e percebo que está chuviscando. Aperto uma tecla de meu celular, fazendo a tela acender e o conecto a internet. Faço login no Twitter.

Em paz

Escrevo e envio o tweet. Decido olhar minhas mentions. Fãs e mais fãs mandam replys pedindo para que eu as siga. Outras mandam frases dizendo que me amam. Será que elas não cansam disso? Tudo bem que eu sou o ídolo delas, mas não entendo porque um follow meu é tão importante. E as frases de amor? São de certa forma entediantes. Tanto clichê me deixa enojado, mas são minhas fãs. Se não fosse por elas eu não seria quem sou, mas isso cansa, e como cansa.

Lindsay P.O.V

Estou chegando ao final da praça e me aproximando do ponto de ônibus. Meu cigarro diz adeus. Dou a última tragada com força e o apago no metal da lixeira que é próprio para isso. Abro a boca soltando a fumaça devagar. Olho para meu lado direito. Um garoto mexe em seu celular, distraído. O olho com mais atenção. Pelo o que posso perceber com a baixa iluminação, seus cabelos são dourados e seus fios lisos caem sobre a testa. Me aproximo dele, talvez ele tenha um cigarro para me dar. Cruzo os braços a frente dos seios para me aquecer do frio.

– Ei – chamo ele.

Imediatamente ele interrompe o que estava digitando no celular.

Ele ergue a cabeça e cerra os olhos, me analisando. Franze a testa, aparentando antipatia.

– Desculpa, não tenho esmolas – responde grosseiro.

Abro a boca na forma de um 'o', chocada com o seu comentário. Aperto meus braços a frente de meus seios ainda mais e, dessa vez, não é por conta do frio e sim por raiva.

– Eu não preciso das suas esmolas. Ao contrário, quem precisa de esmolas aqui é você, mas esmolas de educação, grosso.

Sinto minha voz elevada por conta da raiva.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 18, 2016 ⏰

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