Capítulo 14

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— Ruby? Amor? Fala comigo!

— Aaron? — respondi como pergunta.

— Abra seus olhos. — senti leves tapinhas no rosto e me vi forçada a abrir as pálpebras — Merda!Merda!

— Calma. — toquei seu rosto, ainda revirando os olhos e buscando foco para distingui-lo das demais sombras da noite — Eu estou bem.

Toquei a testa e me dei conta de que ali havia um corte. Ele era pequeno, mas parecia já ter sangrado bastante. Instintivamente, busquei minha barriga e me desesperei com a ideia de ter acontecido algo de mal ao meu bebê.

— Aaron? — comecei entre os soluços que queriam vir — O bebê?

Sem ter certeza do que falar, o vampiro me olhou e pousou o ouvido sobre meu ventre, buscando o som de seu filho vivo.

— Calma. — ele respondeu, aliviado — Parece que está tudo bem. Acha que consegue ficar de pé?

Menos atordoada e nervosa, respirei fundo e acenei positivo com cabeça. Aaron passou os braços pelo meu corpo, já querendo pegar-me no colo, mas eu concluí que, apesar do estado final do carro, fora mais o susto. O antes veículo de luxo agora parecia uma lata velha amassada e torcida. Se fôssemos humanos, eu não tinha dúvidas que ainda estaríamos presos às ferragens ou com parte de nossos corpos espalhados por todo asfalto. Levei às mãos a cabeça ciente de que fora culpa da minha imprudência estarmos em tal situação.

— Aaron? — chamei, sentindo a cabeça latejar. Graças aos céus não havia nenhum outro ferimento grave em meu corpo, não fosse o corte na cabeça e alguns arranhões.

— Ruby! — ele me chamou, completamente em alerta, seu corpo com leves escoriações que já se fechavam sob a pouca luz da marginal — Fique atrás de mim.

Sentindo sua voz passar da tensão à ira, segui para trás de seu corpo e, sem saber o que fazer, busquei o aparelho celular na bolsa.

— Não foi um acidente. — ele concluiu e me olhou — Alguma coisa atingiu o carro. — Aaron estreitou os olhos e parou, como se tentasse captar os vestígios do que nos tinha atingido — Há um vampiro. — estremeci, pois eu pouco podia fazer numa batalha, pelo menos naquela situação — Posso sentir o seu cheiro. O rastro vem daquele lado. — e apontou com o queixo para um terreno baldio encostado à marginal.

Sem nada dizer, Aaron atravessou as pistas louco de raiva, esquecendo-se até mesmo que eu não conseguiria acompanhá-lo como uma vampira. Corri o mais rápido que pude, seguindo-o, parando de frente a um muro de cerca de dois metros que agora eu teria que me esforçar pra pular.

— Ok. — tomei impulso, dando alguns passos curtos atrás e, com muito esforço, consegui transpor a barreira. Meus sentidos tolos não me deixavam identificar que, diante de mim, além de Aaron, um pequeno vulto agachado nos contemplava. Ele estava longe de qualquer foco de luz, mas eu podia ouvir distante o sibilar de sua fome e sede, a garganta implorando pela bebida santa.

— Cuidado, Ruby! — Aaron alertou, já transformado e pronto para uma batalha.

— Foi isso o que nos acertou? — perguntei, me aproximando lentamente dele, como se estivesse diante de um animal irracional e eu tentasse não intimidá-lo.

— Sim. Uma jovem vampira.

A criatura pôs-se de pé e eu tive a real noção de seu tamanho. Menor do que parecia, forcei meus olhos e minha mente a crerem que tínhamos ali não uma adulta, mas sim uma criança, pouco mais velha que Cecília.

— Aaron? — perplexa demais, não consegui entender quem seria o responsável por minar uma vida tão jovem de modo tão cruel — Isso não é possível...

SacrifícioWhere stories live. Discover now