CAPÍTULO 2 parte 2

232 64 52
                                    

Uma névoa densa atrapalha a minha visão para enxergar cinco passos distantes de mim, fora isso, as copas das árvores também dificultam a luz do sol penetrar o ambiente. Sem dúvida nenhuma, uma batalha no meio de uma floresta é algo que odeio, mas a emoção de sentir a carne humana sendo fatiada pela minha espada é algo que me faz esquecer esse detalhe.

Melhor do que isso é poder fatiar esses humanos que se acham melhores, apenas por serem um pouco diferente do que os considerados normais. Já faz tanto tempo que luto contra eles, mas o prazer ainda é o mesmo da primeira vez.

Mas... espera... sou uma garota, não posso estar em uma batalha. Onde estou agora? Neste momento, uma luz purpura brilha não muito distante de mim, um raio dessa mesma cor vem em minha direção me atingindo com força, jogando-me contra uma árvore.

Subitamente, não estou mais no chão, agora flutuo próxima a copa das árvores, pouco acima da batalha. Vejo um guerreiro vestido como um legionário romano caído perto de uma árvore. Também consigo ver outros guerreiros como ele, alguns lutando com outros soldados que não consigo reconhecer suas armaduras reluzentes como o brilho de uma estrela. Inclusive, há outras pessoas, mas estão usando roupas estranhas, parecem mantos com capuzes no estilo medieval.

Vejo alguns raios na cor purpura saírem das mãos de uma dessas estranhas figuras com mantos, atingindo o guerreiro que está caído. Esse novo golpe faz o elmo do soldado voar pelos ares, o guerreiro fica preso na árvore sob algum poder. Subitamente, seus olhos mudam do verde azulado para o vermelho sangue em fração de segundos. Seu rosto, de alguma forma, me parece familiar, é como se já tivesse visto milhares de vezes em meus sonhos. Quem é ele?

— Sara?! – ouço minha mãe me chamar longe, no mesmo instante que a imagem na minha frente se desfaz em uma névoa – Sara, acorde! – minha velha parece brava.

Abro os olhos e constato que, com certeza, ela está muito brava.

— Oi, Maria. – murmuro esfregando uma das mãos no rosto.

— Primeiro, já te pedi para não me chamar assim. Segundo, você sabe que não gosto de gatos!

— Gatos? – tiro a mão do rosto e olho para ela.

— Sim! Gatos! – ela aponta para minha barriga. Nossa! Tinha me esquecido dele. – Não quero esse gato aqui!

— Mas... mãe! Por favor, deixa eu ficar com ele. A gente nunca teve nenhum animal de estimação.

— Não! Amanhã, você vai levá-lo onde encontrou e deixá-lo lá! – ela se virá e vai para a cozinha.

— Tá bom. – me levanto, entro no meu quarto e bato a porta com força, deixando o felino deitado no sofá.

Droga! Não consigo entender. Por que ela não gosta de gatos? Eles são adoráveis, muito fofos quando brincam. Encaro a cidade pela janela, só agora percebo que já é quase noite.

Creio que estava sonhando com uma batalha antes de a minha velha me acordar. Engraçado, mas a única coisa que me lembro é o rosto do guerreiro e, se não me falha a memória, sua face tem aparecido em vários sonhos. Quem é ele?

Dou de ombro ainda olhando para a cidade, pego um livro que comprei a pouco tempo, mas que ainda não tinha começado a ler. Ele é de fantasia, não gosto muito desse gênero. Gosto mesmo é de terror, mas a sinopse e o nome me deixaram intrigada. Talvez, esse Ciclos Eternos – Submundo de Caroline Factum me surpreenda, e tudo por causa da palavra "Submundo".

Começo a ler, antes de terminar o primeiro capítulo ouço vozes na cozinha. Será que minha mãe não foi trabalhar ainda. Vou ver o que é! Encontro minha velha sozinha na cozinha:

— Não vai trabalhar hoje? – pergunto ao me aproximar dela, reparo que o gato está ao seu lado.

— Não. Hoje eu não vou. – murmura com os olhos arregalados, parece assustada ao me ver – Quer o jantar agora?

— Com quem estava conversando? – questiono olhando para o felino.

— Conversando?! – ela se vira, vai até à geladeira e pega uma panela – Não estava falando com ninguém. Bom, na verdade, estava sim! Estava implorando para o seu gato sair de perto de mim.

— Meu gato? – indago franzindo o cenho.

— Sim, seu gato. Não disse que queria ficar com ele? Mas prometa que vai cuidar dele e deixá-lo longe do meu quarto.

— Oba! – pego o felino no colo, corro em direção ao meu quarto.

— Ei! Você não vai jantar?!

— Estou sem fome! – respondo antes de fechar a porta – Que legal! Finalmente, as coisas estão melhorando!

Ouço o toque de mensagem do celular, coloco o felino na cama, me sento olhando para o aparelho. É o Júlio no Whatys. 

Dunyas eno Unyaah - O Rapto e A ViagemWhere stories live. Discover now