Prólogo

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Enquanto cada pequeno e inquieto floco de neve pousava sobre meus ombros, eu os observava pelo reflexo no vidro. Podia sentir o frio me subir a espinha de tempos em tempos, mais intenso e determinado a cada vez, mas nunca me arrepiava. Não me deixava percebê-lo. Naquele momento, todas as minhas forças estavam concentradas em não me dar por vencida, não permitir que o frio me provasse humana. Eu me manteria firme. Seria imune. Aquilo não me afetaria. Não enquanto eu pudesse evitar.

Senti a pele do meu rosto ameaçar tremer, o que só me fez morder mais forte e apertar minhas unhas contra as palmas das minhas mãos. O reflexo de meus olhos praticamente implorava para que me rendesse, mas nem me deixaria considerar a possibilidade. Ser derrotada pelo frio não era uma opção. Pensar em qualquer outra coisa não era uma opção.

Eu seria corajosa.

Determinada.

Impecável.

Segundo os jornais, talvez fosse rígida demais, mas minha reputação não estava errada, nem foi construída por mim. Pelo menos, não intencionalmente. Eles viam o que queriam ver, eles não me conheciam. Mas, de vez em quando, se me permitisse admitir, algumas de suas palavras sobre mim eram difíceis de ignorar. Certas expectativas eram impossíveis de impedir.

Particularmente as minhas.

O próprio som dos meus sapatos ecoando pelo castelo costumava me lembrar de minha mãe. A cada rápida olhada em pequenos espelhos e objetos brilhantes na decoração, eu tinha a impressão de tê-la visto logo ali.

O que ela faria no meu lugar?

Talvez o que mais pesava sobre meus ombros fosse a luta constante para tentar fazer as pessoas à minha volta me olharem do jeito que já a tinham olhado. A diferença entre desprezo e respeito sempre foi gritante, ainda que tivesse que a ouvir por entre sorrisos educados e silenciosos.

Já tinha passado tempo demais tentando sentir em minhas mãos o poder que tanto diziam que eu teria, o poder que sempre pareceu tão natural quando era de minha mãe. Era como andar em direção ao fogo, vê-lo se afastar, vê-lo entortar conforme meus desejos e acabar me queimando. Sempre que sentia estar próxima de conseguir domá-lo, de finalmente poder respirar o alívio que vinha com a certeza absoluta de ter nascido para aquilo, eu o perdia. A satisfação de chegar mais perto a cada vez era tão intensa quanto a decepção ao me queimar. Minha confiança parecia se quebrar em pedaços ainda maiores de insegurança a cada passo errado que eu dava. E eu já podia errar, não podia me dar o luxo de fraquejar agora.

O que minha mãe faria se estivesse aqui? Como ela resolveria tudo?

O que ela decidiria no meu lugar?

                O que ela decidiria no meu lugar?

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