III. O Armazém

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A fome me atinge novamente. 

Mas não de órgãos humanos ou algo semelhante. A predadora não costuma ser tão gulosa. Geralmente ela se alimenta novamente depois de algumas semanas, quando a situação está quase insuportável. 

Quem precisa de comida de verdade sou eu. E onde estou não posso consegui-la tão facilmente. 

Dois dias se passam depois da luta na fábrica e me sinto acuada. Helicópteros da Guarda passaram pela região ainda procurando meu "corpo" pelo rio próximo. Porém por causa da chuva torrencial que começou a cair, tudo se tornou bastante calmo. 

Provavelmente eles assumiram que estou morta. 

De novo. 

Mais uma vez eu engano o sistema da Nova Ordem. Ao pensar nisso, um sorrisinho travesso aparece em meu rosto. Ele não dura muito, pois ouço meu estômago implorar por alimento saudável. Esse é o sinal determinante para que eu desista de me esconder. 

O único lugar que tem a comida que procuro é aqui no centro. O imenso armazém é um grande atrativo para minha fome. Sei que poderia roubar comida de alguma casa, mas isso causaria brigas e uma atenção que prefiro evitar.  

"Você não pode sair assim" A predadora resmunga em minha mente. 

Vasculho meu próprio corpo, tentando descobrir sobre o que a predadora se refere. 

A lembrança aparece em minha mente rapidamente. Os ataques de dois dias atrás. Os olhos amarelados de Zack. Aquele cheiro... 

Olho para minhas mãos. Elas ainda estão cobertas de sangue, assim como todo meu corpo. 

Se eu quiser realmente ir para o centro, terei que pensar em uma maneira de tirar isso de mim. 

O barulho do lado de fora da fábrica me desperta e logo encontro uma solução para este inconveniente. 

A água da chuva. 

Esperançosa, vou para a parte traseira da fábrica. Enquanto caminho, uma pergunta martela em minha cabeça. 

"Por que você não o comeu?" 

"Como?" 

"A presa. Por que você não o matou?" 

"Você queria que eu o tivesse matado Lizzy?" A predadora ironiza, usando meu apelido dos tempos da Pentagon. 

"Claro que não, mas..." 

"Então eu não o fiz e isso é o que importa" Corta ela por fim, deixando-me perdida em meus próprios pensamentos e medos. 

Sinto a chuva molhar todo o meu corpo e me rendo a ela, tentando de alguma forma me purificar de cada morte que causei. Não que eu sentisse mais aquela culpa que se apossou de mim na primeira vez que a predadora se alimentou, mas mesmo assim sinto-me suja, mesmo nas raras vezes que minha pele está limpa. 

Porque indiretamente, sou uma assassina.  

Ou abrigo uma. 

Passo as mãos pelos meus braços e aos poucos a sujeira sai do meu corpo, indo embora com a água da chuva. Esfrego mais algumas vezes só por garantia e pulo para fora dali, mesmo sabendo que ainda existem vestígios de sangue em minha roupa. 

Ando cautelosamente, firmando meus pés no chão repleto de lama quando escuto alguns gritinhos num lugar próximo. Escondo-me entre as ruínas da fábrica, mas chego perto o bastante para ver três garotas correndo por causa da chuva torrencial. 

- Vamos logo ou perderemos nosso ônibus!- Gritou uma delas com as mãos na cabeça. 

Outra menor, mas também apressada parece desesperada. 

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 09, 2013 ⏰

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