[ 19 ] ABIGAIL

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[ uma semana antes ]

Sinto uma coisa no meu bolso a tremer, vou discretamente com a mão até ele tirando de lá o telemóvel. Desvio o olhar para o pequeno ecrã vendo "Mãe".

Não querendo interromper a aula de biologia, apesar de apenas estarmos a copiar a correção do teste, algo que acho um pouco desnecessário, tirei um 18.3. Sim, podia ter sido melhor, mas a minha preocupação quando chego a casa não é estudar, é ver se o Cameron mandou mensagem. Posso estar a exagerar, visto que o conheço há pouco mais de um mês, mas ele tem sido a minha companhia, algo que eu sentia muita falta. Enfim, desligo a chamada e coloco o aparelho de volta onde estava.

[...]

Tocou e todos arrumamos as nossas coisas e saimos da sala. Fui até um sitio escondido e sem barulho e pego no telemóvel para ligar a minha mãe.

“Estou?... Abigail?...”– notei no tom que ela esteve a chorar.

“Mãe? Estiveste a chorar?!”– pergunto rapidamente.

“Vem para casa.. P..Por favor..”– disse entre soluços.

“Ok.. ok. Estou aí daqui a nada.”– Falei apressada, desligando a chamada.

Agora fiquei preocupada, será que aconteceu algo?

Dirijo-me rapidamente para a saída da escola, ignorando as perguntas das senhoras contínuas.

Caminho em passos largos até à paragem do autocarro e assim que me sento no pequeno banco o meu telemóvel vibra. Faço acender o ecrã vendo o icon do Messenger aparecer na barra de estado. Desbloqueio o mesmo e vejo a mensagem sem a abrir.

Derek Halfman [1]

Bom dia baby

Mais tarde respondo-lhe. Desligo a internet e guardo o telemóvel. Vejo um autocarro vir em direção a paragem onde me encontrava e faço-lhe sinal.

[..]

Saí na paragem perto de casa e comecei a andar até ela. Vi o carro da minha tia à porta. O que se terá passado?

Pego nas chaves e abro a porta de casa. Assim que a fecho a minha mãe aparece no fundo das escadas.

“Tu estás bem..!”–

“Sim... Estou.. Mãe, o que aconteceu?”– ela começa a correr até mim e abraça-me.

“O t..teu pai apareceu a..aqui em casa..”– passei a mão nos cabelos dela, ouvindo atentamente. “Ele começou a g..gritar comigo..”– falava com soluços. “Nós t..temos de sair daqui..”– ela larga-me e olha-me nos olhos, à espera que dissesse algo.

“O que ele te disse?”– puxei-a para o sofá para me falar com mais calma.

“Coisas horriveis..”– pausou para fungar o nariz. “E ele m..udou-se para cá.. Tenho m..medo que ele nos faça algo.. Temos de s..air daqui..”– acenei-lhe que sim, ela tinha razão, ele podia fazer-nos mal.

Nunca passei tempo com ele, até porque ele nunca esteve presente, não vivemos na mesma casa desde que nasci. Pelo que a minha mãe me contou, há uns anos atrás, antes de ele ter estado com a minha mãe, tinha uma namorada, e traiu-a com a minha mãe, algo que ela nunca gostou, ele contou-lhe que a "Hellen", pelo que diz a minha mãe é o nome da senhora, não lhe dava o que ele queria, não era carinhosa, e não queria saber dele. Enfim, tudo isto uma novela mexicana. Quando o meu pai soube que a minha mãe estava grávida, tudo mudou. Chegou a ameaça-la, para que fizesse um aborto, mas a minha mãe não queria, já tinha 21 anos, não era propriamente uma menina que não sabia cuidar de um bebé, e ela também nunca foi a favor do aborto, portanto ela tentou ao máximo para resistir às ameaças e chantagens do meu pai. A minha mãe desconfia que uma das razões para o meu pai ter começado a andar com ela é porque "Hellen" ficou grávida, mas o mais engraçado e o que não bate certo na história, é que depois de ter abandonado a minha mãe, voltou para ela.

“Sim, tens razão.. Mas, agora? E para onde?”– pergunto-lhe. “Não falta muito para a escola acabar, faltam 9 dias, mas..”–

“Filha.. penso que seja o melhor para nós, sairmos daqui, n..não digo que seja durante muito t..tempo, mas o mais rápido possível..”–à medida que ela falava eu abanava com a cabeça positivamente. Eu não achava que devêssemos ir já, mas eu não quero que a minha mãe esteja preocupada com o meu pai poder vir bater-nos à porta a qualquer momento. “Eu liguei à Lellay, lembrei-me que ela veio aqui tratar de umas coisas.. ela concordou com a minha decisão de nos mudarmos e sugeriu que fossemos para onde ela está a viver, ela tem espaço na casa dela, uns quartos livres. Deixa-nos ficar lá até eu arranjar um trabalho e talvez uma casa..”– eu já lhe tinha limpado as lágrimas mal nos sentamos e ela já estava a respirar melhor sem fungar.

“E onde é que ela está a viver?”– Eu esqueço-me sempre onde a minha tia Lellay mora.. confundo sempre com o irmão da minha mãe, Georgio. Mas ambos moram nos Estados Unidos... e isso é bastante longe.

“Na Califórnia..”– dou um longo suspiro e um leve sorriso. “Eu não me importo de esperar que as tuas aulas acabem, mas queria que começássemos a preparar as coisas.. pode ser?”– a minha mãe dá-me uma leve palmada na perna como se me estivesse a encorajar e a seguir levanta-se, oferecendo-me uma das suas mãos para me ajudar a levantar.

“Muito bem, agora que já está tudo falado vamos comer! É quase meio dia e meio, toca a andar, eu pago.”– a minha tia faz-se ouvir pela primeira vez desde que cá cheguei e, como sempre, tinha que falar de comida. Eu e a minha mãe rimos e saímos de casa com a minha tia.

hello + cameron dallasWhere stories live. Discover now