Piloto

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- É bom te ver de novo. - Foi a primeira frase que Tyler pronunciou desde que saiu do avião.  Era ótimo tê-lo de volta.

-É bom te ver também, Ty- respondi, abraçando-o o mais forte que podia. Nos soltamos algum tempo depois, e ele foi se encontrar com a família dele, que o esperava com um bolo enorme e um grito de surpresa em sua casa, que por acaso, era bem em frente á minha. 

-Você sabia disso?- ele perguntou depois que tudo havia acabado. Estávamos começando a limpar a sala de estar da Senhora Baker. Foi só então que parei para analisar Tyler melhor, sem toda aquela gente por perto. 

Seu cabelo estava bem maior do que na última vez que o tinha visto. Quero dizer, pessoalmente, porque virtualmente nos falávamos quase todos os dias. Seus olhos ainda eram sonhadores. Os castanhos claros mais bonitos que já vi. Sua forma de falar também havia mudado ligeiramente, talvez pelo sotaque que a Inglaterra o proporcionou durante o ano em que esteve lá. No começo eu odiava a ideia dessa viagem, mas agora, vendo como ele voltou feliz e realizado, todo o ressentimento sumiu. Era muito bom ter um amigo com que eu pudesse contar nos momentos difíceis, e rir nos momentos felizes. Tyler era esse amigo, e durante esse ano, convivi com muitas pessoas diferentes, e sim, elas se tornaram extremamente especiais pra mim. Mas sempre tem aquele alguém. Aquele que chega primeiro e toma logo dois terços do seu coração. Alguém em quem voocê confia seus maiores segredos, se sente segura para ser você mesma. Não é questão de ser mais confiável, ou conhecer há mais tempo. É mais uma questão de olhar pra alguém e pensar: Essa pessoa é bacana. E ir. tentar conhecê-la, criar laços. 

-Sabia. - respondi, depois de um tempo. - Mas tive que te buscar no aeroporto pra fazer uma hora. Seu pai chegaria do trabalho exatamente na mesma hora que você ia sair do avião. Daí dei a ideia de vir te ver enquanto eles se ajeitavam por lá.

- Você é muito cínica, Giulia. - Ele disse, jogando o último copo de plástico dentro do saco de lixo.

- Eu sei. Um dia te ensino como se faz. - concordei, e sorri. 

Já eram quase duas da manhã, e meus pais haviam deixado eu dormir na casa dos Baker pra poder matar a saudade do Tyler. me sentei no sofá por alguns minutos. Estava de calça jeans e blusão de frio, o que modestamente, era a coisa mais confortável que usava no dia-a-dia. Ty voltou do andar de cima, com dois colchonetes pendurados pelo braço, e eu dei um sorriso doce, porque me fez lembrar de todas as vezes que ''acampamos'' um na casa do outro. Envolvia doces, chocolate quente, jogos de adivinhação e várias outras coisas que não fazíamos há muito tempo. É como meu pai sempre diz: A gente cresce e vai criando preguiça de fazer aquelas coisas que nos deixam absurdamente felizes, simplesmente porque não parecem mais tão interessantes. E eu concordava com ele. 

Ajudei Ty com os cobertores e travesseiros. Descemos e nos deitamos. Era uma noite úmida e quente, mas de certo modo o tempo estava bom.

-E então, o que fez enquanto a pessoa que dava alegria aos seus dias esteve fora? 

- Eu me livrei do cabelo longo, investi no meu inglês, li vários livros, escrevi um diário. Nada que envolvesse morrer de saudade sua. Até parece. O menino que fez curso grátis pra aprender o básico do malabarismo. -  falei sarcasticamente.

-Ah, qual é, Giu. Isso é uma disfunção do meu corpo. Assim como os seus pés gigantescos totalmente desproporcionais ao seu corpo de 1,5 m. 

Dei uma almofadada na cabeça dele sem pensar duas vezes, o que não adiantou muita coisa, porque ele começou a rir feito um louco.

-Qual é? O que foi, Mister Baker e seu pé mais perfeito que o cabelo do Brad Pitty no grammy?

-Nada. Juro, não é nada- ele respondeu, recuperando o fôlego. - É só que... É bom ter você de novo.

-Ah, Tyler. Não seja fofo. Suas bochechas ficam vermelhas e fica parecendo que foi expulso de um circo de magia negra. - disse, o abraçando e rindo. - É bom ter você de volta também. Esses meses foram meio difíceis sem você por perto. Mas é claro que foi mais difícil pra você. Sem sua família e sem sua melhor amiga maravilhosa que te mandava e-mails enormes o dia todo. Conta como foi. Como são as pessoas de lá? Educadas? fez novos amigos? Conheceu uma garota legal? É verdade o que falam sobre só ter pessoas lindas?

- Sim! As meninas de lá são muito, muito lindas! E os meninos, ah, são normais. - disse, com menosprezo.

- HaHa. - ri sarcástica.- Aposto que parecem mais milagres do que meninos comuns. Tá, mas como foi a experiência em si?

- Foi ótima- ele começou com tranquilidade. - Minha host family era ótima, eu me diverti, fiz novos amigos, conversei com pessoas de vários países diferentes. Fiz alguns testes também, mas nada demais. Só pra avaliar meu inglês britânico.

- Ah, sim. Valeu a pena ter ficado longe de mim? - perguntei, caindo na gargalhada. - Não responda se a resposta for me magoar. - falei, e sorri. Era bom tê-lo ali. Mas melhor ainda era saber que tinha se divertido. Ele merecia realmente ser feliz.

Nos acomodamos melhor em nossos respectivos colchonetes. Eles ficavam um do lado do outro, e os travesseiros eram altíssimos, e parecia que tinha sofrido um acidente e estava de repouso no hospital quando encostei minha cabeça nele. Tyler também percebeu isso. Rimos juntos. Acho que caímos no sono na mesma hora também.









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⏰ Last updated: Jan 01, 2016 ⏰

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Quando Tudo MudaWhere stories live. Discover now