Capítulo 04

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Apesar de o primeiro encontro com Can Bolat não ter sido incrível, o resto dos dias seguiu conforme o planejado. Para a sorte de Stephanie, ninguém além de Isaac havia sequer desconfiado sobre sua falta de domínio sobre a língua turca. Na verdade, ela estava se saindo tão bem no inglês que até recebeu elogios do resto da equipe e, claro, nos raros momentos em que era preciso falar turco, Isaac a ajudou.

O roteiro de eventos de Can terminaria na manhã seguinte com uma última aparição em um programa de variedades que passava todas as manhãs no canal aberto. Por um lado, Stephanie estava feliz ao pensar que poderia descansar depois dos dias agitados seguindo Can, porém, suas chances de conquista-lo estavam cada vez mais escassas.

Abatida com a ideia que que nunca mais teria Can tão perto, Stephanie se debruçou sobre uma grade de proteção e tentou se animar por estar ali. Can e sua equipe foram convidados para um evento exclusivo no alto do morro do pão de açúcar, no Rio de Janeiro. A noite fora ótima, com artistas nacionais apresentando o melhor da música popular brasileira, enquanto chefs renovados serviam os pratos típicos com refinamento. Para compor a aura mágica, o cenário da cidade maravilhosa vista de cima dava o toque final. Outros morros e relevos da terra se misturavam ao céu escuro, fazendo as luzes dos prédios e ruas brilharem como pontos de brilhantes ao longe. Era tudo encantador, a não ser pelo vento forte que parecia atravessar os ossos de Stephanie como uma lâmina.

Ela estava tremendo porque acabou escolhendo a roupa errada de novo, mas sentia-se confiante. E também, sabia que não haveria outro momento além do jantar reservado em um cenário de filmes para usar o lindo vestido de seda vermelho que havia comprado tanto tempo atrás.

Apertando o corpo ainda mais contra a grade, Stephanie tentava ignorar o frio quando notou que havia alguém atrás de si. Ao se virar, Can estava sorrindo, tão próximo que Stephanie podia sentir a respiração contra seu rosto. Ele parecia aquecido dentro do casaco de lã que vestia e Stephanie tentou não pensar sobre isso enquanto o encarava de volta.

— Nós não tivemos muitas oportunidades para conversar, — ele disse de forma enigmática.

Stephanie podia estar em dúvidas sobre as intenções dele, mas ao menos Can estava falando em inglês.

— Eu torci para ter uma chance de falar com você, mas minha visita está quase acabando e essa foi a única ocasião em que te vi sem ninguém por perto. — Ele lançou um sorriso sedutor, deixando Stephanie sem reação. — Eu gostaria muito de poder te conhecer melhor... O que você acha de continuar essa conversa no meu hotel?

Ela pode ter sonhado com esse momento por toda a vida, porém, jamais estaria preparada para a enxurrada de emoções que sentiu. Sua primeira reação foi concordar, mas talvez sua avidez pudesse passar uma imagem inadequada. Ela não podia se fazer de difícil e recusar, entretanto, não queria que Can entendesse de forma errada se concordasse. As regras de encontros com celebridades eram bem complicadas. Stephanie não fazia ideia de como reagir, então acabou lançando um sorriso, tremendo mais pelo frio do que por antecipação.

Can olhou brevemente para seus braços exposto e levou as mãos até a lapela do casaco. Stephanie preparou-se para agradecer por ele emprestar a peça de roupa, mas ao invés de retirá-la, Can apertou-se contra o tecido e se afastou.

Suspirando, Stephanie avistou Isaac vindo em sua direção no caminho que Can seguia. Ao se cruzarem, Isaac meneou a cabeça e foi ignorado. Aquele era um comportamento estranho para um homem tão charmoso quanto Can, mas talvez ele estivesse mais cansado do que deixava transparecer e isso estava afetando seu humor.

— Trouxe uma oferta de paz, — Isaac estendeu a mão e Stephanie reparou que ele segurava uma garrafa de cerveja bem gelada.

— Eu não deveria beber no trabalho, — disse com água na boca.

Rindo, Isaac se recostou ao seu lado e empurrou novamente a garrafa.

— Todo mundo está bebendo e o evento está acabando.

— E você?

— Eu sou o motorista da vez, — deu de ombros e Stephanie aceitou a bebida.

Assim que ficou com as mãos livres, Isaac retirou a camisa de flanela que vestia e colocou sobre os ombros de Stephanie, aquecendo-a mais com o gesto do que com a roupa. Imediatamente, o perfume amadeirado a envolveu e ela respirou fundo, guardando o cheiro agradável na memória.

— Eu andei pensando... — ele pigarreou, parecendo inseguro. — Tem um restaurante turco perto da minha casa que eu sei que você vai gostar. A gente podia ir até lá quando esse evento acabar.

Stephanie também tinha certeza de que iria adorar o lugar, assim como estava estranhamente feliz pelo convite. No entanto, seu estômago embrulhou ao se dar conta de que ela teria que recusar a companhia de Isaac.

— O Can me chamou para ir para o hotel dele.

— Ah. Você deve estar feliz. — Ele engoliu em seco e se afastou alguns passos. — Espero que dê tudo certo.

Sem saber o que responder, Stephanie o encarou em silêncio. Ela já estava apreensiva com o encontro com Can sem precisar ver a raiva estampada no rosto de Isaac.

— Deixa pra lá, — suspirando, ele foi embora.

Stephanie se apertou contra a blusa, sentindo como se o próprio Isaac a estivesse abraçando. Por mais que odiasse admitir, ela nunca antes havia se sentido incerta por uma escolha.



Palavras: 908           

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Um pequeno detalheWhere stories live. Discover now