3. O Acordo

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Kornkamon Teach

- Mãe, você perdeu a votação! - Entre em casa chamando pela minha mãe.

Ela geralmente fazia parte do dia a dia da tripulação, participava de algumas missões e quando não estava no mar, estava na Terra resolvendo algumas burocracias ou coisas parecidas para fazer as missões caminharem.

Porém, após a morte drástica do meu pai, ela disse que não tinha condições psicológicas para voltar ao navio tão cedo, de modo que ela acabou por não participar da cerimônia.

- Oi filha! - Ela aparece no corredor da casa. - Você dormiu fora de novo... - Ela comentou com uma expressão não muito satisfeita.

A verdade é que ela não gostava muito da minha vida de farra. Achava que eu não deveria frequentar o Bordel. Ela tinha se acostumado com minha vida mais familiar, mais pacata de quando eu ainda namorava e desde então ela estava tendo um pouco de dificuldade de aceitar esse meu outro lado de quem passa a noite fora, frequentava o Bordel e dormia com garotas de programa. Até porque o meu próprio pai não gostava desse tipo de lazer. Ouvi muitas histórias de que pouco ele saía à noite para esse tipo de lugar quando ainda estava solteiro, e depois que ele se casou ele não se tornou aqueles homens que procuram sexo fora de casa.

Eu nunca ouvi nenhuma história de traição dele ou algo do tipo, pelo contrário, ele sempre fora um cara muito na dele. De forma que minha mãe não estava nem um pouco familiarizada com isso e apesar de já termos tido algumas conversas e ela ter me pedido para não frequentar o Bordel, chegamos à conclusão de que eu já era crescida o suficiente para fazer minhas próprias escolhas e mesmo que não fosse do seu gosto, eu iria continuar aproveitando da maneira que eu achasse melhor.

- Sim, saí com Lauren ontem.

- Sempre a Lauren. Ela não se emenda também, sempre te levando para esse tipo de lugar. Não faz nem dez dias que seu pai morreu, Mon.

Aquele comentário me irritou um pouco. Eu tinha minha maneira de lidar com o luto e ela com a dela. Eu nunca gostei de ficar remoendo as coisas, prefiria tocar minha vida. Essa maneira parecia funcionar bem comigo e eu iria me agarrar a qualquer coisa que fizesse a dor de sua perda amenizar.

- Não acho justo você cobrar esse tipo de coisa para mim. Foi nos meus braços que ele morreu, eu vi com meus próprios olhos o punhal cravado em seu corpo. Como você pode sugerir que eu não estou sofrendo?

- Você tem razão... Me perdoe. - Ela se aproxima de mim e me dá um longo abraço. Sinto suas lágrimas no meu ombro e isso me quebra, trazendo novamente a dor de sua falta para meu peito. Não só a dor de perder um pai, mas o tamanho do sofrimento da minha mãe também me fazia sentir muito. 

- Está tudo bem, mãe. Estamos eu e você agora. - Ela então para de me abraçar e me olha nos olhos. Nossos rostos ambos úmidos de lágrimas que caíram.

Então eu enxugo seu rosto e sorrio com pesar, mas também com um sentimento novo. Algo como orgulho de mim mesma e felicidade de saber que meu pai ficaria feliz por mim, por eu ser a capitã do navio pelo qual eu daria minha vida.

- Eu sou a nova capitã do Concorde. - Falo calma e vejo sua expressão mudando para traços de orgulho e emoção. Eu sabia que ela estava muito orgulhosa, mas aquela situação também trazia tristeza por lembrar da morte do meu pai.

Era um sentimento amargo e doce na boca e eu sentia o mesmo que ela.

- Estou muito feliz por você, minha filha. - Ela me abraça forte novamente, me dando um beijo na testa.

- Eu também estou feliz, mãe. Eu quero conduzir as coisas da melhor forma possível. Quero que ele sinta orgulho de onde ele estiver.

- Ele sempre foi muito orgulhoso de você, Mon. Tenho certeza de que você continuará dando orgulho a nós. Eu também estou muito feliz por ter você como filha.

Velas Negras • MonSamWhere stories live. Discover now