Capítulo 02

1.1K 122 94
                                    

WAGNER BARUC

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

WAGNER BARUC

A escuridão nem sempre é no ambiente. Pode ser dentro de você e aí, você se apega nessa possibilidade para não se culpar por ser alguém sombrio por dentro.

Não te culpo, pô. Eu sou assim.

Há anos nessa cadeia, anos me privando de sentimentos enraizados no meu peito por erro mal intencionado dos outros. Eu tinha acabado de completar vinte anos quando fui detido e também, tinha acabado de tomar o comando do Vidigal em um conflito entre as alianças que estavam sendo rompidas com aquele lado, por culpa da má gestão do dono.

Quando tu é novo, sua única preocupação é a ambição em conseguir o que quer, não importa os obstáculos. Você quando novo, é ambicioso. A ganância em ter a vida mais cara e luxuosa da favela, em ter mulher no teu pé, dinheiro na conta. Cordões no pescoço.

Eu sabia dos riscos. Todos os envolvidos no crime e que vão e dão a cara a tapa, sabem dos riscos. Mas não tira das vantagens o que eu citei acima.

Com todos os luxos, sua ambição meio listada; vem a inveja. Traição dos que tu mais confiava. Ter confiança em alguém vai muito além do que se pode imaginar, não adianta, em algum instante tu fecha os olhos para aquela pessoa e torna-se vulnerável.

Luan. Chamávamos de Alvinegro — ele torcia pro Botafogo — cresci com aquele moleque, eu e o Ortega junto a ele, colocamos fogo no Rio de Janeiro e nossa união era forte, confiei nele sem imaginar o quão ardiloso e sombrio seria nosso destino. Implacável.

Se hoje eu estou há dezenove anos na cadeia e ele em uma vala — desde que eu entrei aqui — é por erro de integridade dele. Eu levo muito a sério a palavra de uma pessoa na qual eu confio, eu jogo as cartas na mesa e espero lealdade em troca. Desde aquele dia, eu, Wagner, não confio nem na minha própria sombra. É inevitável quando se quebra sua confiança mais de uma vez.

Com o tempo tu amadurece e vê com clareza o que é o crime. O que é vida bandida.

Me desconecto das memórias que ficam impregnada em meu subconsciente e, fecho os olhos puxando o ar dos pulmões, a respiração profunda sobressai entre meus lábios. Um. Dois. Três. Bato a cabeça na parede de forma fraca repetidas vezes, quieto.

Um. Dois. Três.

Mais três. Eu tô ficando neurótico. Tem três horas desde que mais uma alma que eu pus fim foi encontrar o inferno.

Liguei pro Escobar — meu segurança de confiança — e ele não atendeu. Três horas que estou esperando o retorno da ligação do Ortega.

Charles: Se não atendeu ele não pode agora, caralho. Irmão, fica em paz. - a voz baixa se instala no silencioso ambiente que estamos. - Tu é muito maluco da cabeça.

A resposta que temos é o barulho estagnado do toque personalizado para as ligações do Ortega se fazendo presente. Fixo meus olhos no celular antigo sobreposto ao meio do meu corpo e do Charles.

Gestão InteligenteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora