Capítulo III

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O dia estava bonito. Borboletas voavam pela minha janela enquanto o sol entrava em meu quarto. O vestido de noiva que me envolvia era bordado com flores e possuía o tecido mais fino e raro importado de Allis.

Meu cabelo estava solto, como eu sempre quis que estivesse, com os cachos ruivos soltos pelos ombros e a maquiagem estava leve, com pouco pó de arroz. Tudo parecia perfeito, mesmo não sendo.

Entrei na carruagem com minha mãe e minhas irmãs, observando o cocheiro sorrir como se aquele fosse o dia mais importante da minha vida. Suspirei, pensando que deveria ser.

O caminho até a igreja pareceu mais curto do que realmente era. A única exigência de Harry era que a cerimônia fosse realizada por um reverendo, na Catedral de Beaumont. Devia ter sido isso que atraíra a afeição de minha mãe. Ele devia ser religioso.

— Eu ainda posso fingir uma dor de barriga. Quando o cocheiro parar, você desce e foge. — Violetta sussurrou em meu ouvido enquanto nossa mãe olhava pela janela. Sorri pela primeira vez no dia.

— Eu estou bem, Vi. Não quero fugir. — sussurrei de volta.

Minha mãe tinha razão. Eu realmente não era como ela. Jamais teria a coragem de sair pelo mundo sem saber me virar.

— Mamãe te ama, Bella. — Cecília segurou minha mão, entrando na conversa com uma voz quase inaudível. Seu vestido rosa e branco estava lindo, digno de uma verdadeira rainha. — Ela não faria isso se não soubesse que você vai ficar bem.

— Eu sei. — engoli uma saliva.

— O que é que vocês três tanto cochicham? — mamãe disse, olhando para nós.

Seu cabelo ruivo preso carregava uma linda coroa de ouro e rubis, que se destacava no volumoso vestido azul, de babados branco e dourado.

Nós quatro rimos, percebendo o quanto ainda parecia vazio a nossa risada sem estar misturada com a de papai.

A carruagem parou. Mamãe abriu ainda mais a cortina da janela, revelando que havíamos chegado. Todo o povo de Beaumont parecia estar em volta da Catedral, gritando "Viva a princesa" em alegria e clima de festa.
O cocheiro abriu a porta e eu desci, engolindo em seco.

Os diamantes da minha diadema brilhavam tanto quanto a aurora. Andei até a porta da igreja, encontrando meu cunhado me esperando com um sorriso solícito no rosto.

Segurei nos braços de Apolo e as portas do salão do palácio foram abertas, revelando a decoração mais bela de todos os meus sonhos. As flores brancas, o tapete dourado, o som de violino... novamente, tudo estava perfeito, sem estar.

Quem eu queria enganar? Eu estava apavorada! Teria a minha primeira noite dali a poucas horas com um homem que só vi uma vez desde que éramos crianças. Como eu estava prestes a me casar com alguém que eu nem conhecia?

O meu chão ruía conforme eu chegava mais perto do altar, com os pés trêmulos. Apolo me lançou um olhar piedoso e colocou a mão por cima de meu braço, como uma espécie de consolo. Até meu cunhado parecia tentar pedir desculpas por eu ser obrigada a passar por aquela situação.

Toda a minha raiva cessou quando o olhei. Ele não tinha culpa. Não tinha culpa por ter se apaixonado por Cecília e por não ter nascido em uma nobreza estabelecida.

Olhei para Violetta e Christian, como padrinhos ao lado do reverendo, de mãos dadas. Vi usava um belo vestido lilás com pedras de cristais, mas o brilho dos seus olhos quando olhava para o marido superava qualquer pedraria.

Também tentei culpar os dois, mas não consegui. Não quando os olhos de minha irmã brilhavam como nunca haviam brilhado na vida ao lado de alguém. Era aquilo que eu queria viver. Um amor que refletisse externamente à minha alma.

Insensato AmorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora