A escolha da minha vida

Capítulo 1 - Kourtney Cortland

Algumas semanas depois

—— Parabéns, é uma menina. —— Alice, minha amiga de infância e médica ginecologista, disse durante o ultrassom.

—— Caralho, eu não acredito. —— Aspen disse antes de beijar o topo da minha cabeça. As lágrimas de felicidade desceram pela minha pele, meu coração parecia explodir de tanto amor pela minha garotinha.

—— Esperança, mi hija esperanza. —— Disse entre lágrimas.

—— Esse é o nome perfeito, minha linda. Ela é nossa esperança, nossa luz, nossa vida. —— Aspen selou meus lábios carinhosamente antes de se afastar para visualizar a imagem do nosso bebê na televisão.

—— Quero que continue de repouso por conta da sua placenta, que ainda está muito baixa. —— Alice disse. —— Se hidrate, alimente-se nas horas certas e nas quantias certas. Peço que retorne em dois dias para um novo ultrassom para checarmos a placenta e o bebê.

—— Vou te esperar lá fora, linda. —— Aspen disse quando seu celular tocou e concordei com a cabeça.

—— Pode deixar, muito obrigada amiga. —— Ela me entregou o papel para limpar minha barriga e sentei na maca com seu apoio, a circunferência da barriga já está atrapalhando.

—— Eu que agradeço, fico muito feliz e apoiá-la a realizar o sonho da sua vida. E ainda mais feliz em saber que Lizzie terá uma amiguinha. —— Ela me abraçou carinhosamente.

—— Eu vou voltar a chorar desse jeito! —— Exclamei entre risos. —— Tudo parece ser um sonho, tenho até medo de pensar demais, medo de acordar e sentir aquele vazio dentro de mim.

—— Ei Kor, não faça isso consigo mesma. Esperança é real, ela está aqui, sinta ela dentro de você e aproveite que a gestação vai fazer falta. —— Alice acariciou minha barriga. —— Vou deixar você se trocar, precisa da ajuda de uma enfermeira?

—— Ohh não, com certeza não. Obrigada Alice. —— Acenei para ela antes que saísse da sala. Tirei o avental e coloquei meu vestido novamente, calcei meus sapatos e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, deixando alguns fios curtos soltos.

Ao sair do quarto, meu segurança e minha enfermeira estavam à minha espera, sorri para ambos antes de caminhar em direção a saída da clínica.

Encontrei meu marido no estacionamento, estávamos a alguns metros de distância mas, era claro que ele estava alterado, o que me preocupou.

—— Ele vai morrer hoje! Pode anotar, ele vai morrer e eu vou fazer questão de empalhar a cabeça daquele filho ds puta. —— Aspen gritou no estacionamento antes de desligar o celular.

—— Querido, o que houve? —— Encostei em seu ombro, acariciando o mesmo.

—— Nada com que deva se preocupar. Devon! —— Ele beijou minha mão e chamou o motorista que logo se prontificou na frente dele. —— Leve-as em segurança para casa, quando chegar, dê ordens aos seguranças para fecharem o quarteirão e não baixarem a guarda até eu voltar.

—— Sim senhor, vamos Sra. Cortland? —— Franzi a testa, sem entender o que estava acontecendo.

—— Aspen, o que está acontecendo aqui? —— Questionei. —— Nunca escondeu nada de mim, nem quando começamos nesse ramo.

—— Minha linda, eu não posso mais colocar você em perigo... Você está carregando nosso bem mais precioso, não posso te encher de preocupações porque eu nunca me perdoaria... Nunca... Se algo acontecesse a vocês por minha culpa. —— Ele encostou a testa na minha e seus olhos estavam cheios de medo, como nunca havia visto antes. Em vinte e seis anos de casamento, Aspen nunca apresentou qualquer expressão de medo por mais loucas que fossem as circunstâncias. Mas, tudo era diferente agora, por mais que quisesse protegê-lo de quem quer que estivesse plantando tanto medo em meu marido, havia algo dentro de mim que valia muito mais. —— Eu amo vocês e volto logo. —— Ele selou meus lábios carinhosamente antes de entrar em seu carro. Devon me escoltou até o outro carro e adentramos rapidamente partindo rumo a minha casa.

—— A Dra. Alice pediu para entregar a você. —— Kelly, a enfermeira, estendeu o envelope médio branco com o logo da clínica do Dr. Taylor. —— É as fotos do seu bebê.

—— Ah sim, obrigada Kelly. —— Respondi e apoiei o envelope em meu colo.

Acariciei minha barriga enquanto observava as ruas pela janela e imaginando-me com Esperança em meu colo, suspirei aliviada com o coração repleto de amor e felicidade.

Seremos muito felizes, minha menina!

Um carro preto apareceu ao fim do cruzamento que estávamos, se aproximava rapidamente e meu coração disparou.

—— Devon, Devon... Acelera. —— Gritei no carro mas, era tarde.... A dor do impacto da porta em meu braço foi a última coisa que senti.

[...]

—— Kourtney, fala comigo... Acorde. —— A voz de Aspen preencheu minha cabeça, abro os olhos rapidamente lembrando-me do acidente. Estava deitada em uma maca, sendo carregada às pressas por um grupo de pessoas e Aspen estava no meio, tocando meu rosto, ele estava com lágrimas nos olhos e seu olhar era repleto de puro terror.

Meus olhos estavam pesados, respirar estava pesado e a máscara de oxigênio parecia piorar a situação. Minha respiração estava ofegante, eu tentava verbalizar algo mas, nada saía pelos meus lábios.

O que aconteceu com o Devon e a Kelly? Por que estou tão cansada?
Minha bebê.... Como está a minha bebê?
Aspen... Como está nossa filha?

Aspen havia sumido e estava somente com os médicos em uma sala de cirurgia, eles estavam correndo e mal conseguia acompanhar o que estavam falando. Fui atingida por um sono intenso, que mal consegui evitar e o medo me cercava, não sabia o que poderia acontecer. Eu só quero saber como está a minha filha...

Aspen.
Era ele.
Somente ele era capaz de confortar-me com apenas o toque de seus dedos em minha pele.
Preciso falar com ele, ele saberá trazer-me paz.

Abri os olhos lentamente tentando adaptar-me com a claridade do quarto, minha boca está seca e há um forte incômodo na garganta. Aspen estava entrelaçado as minhas pernas e sua mão esquerda acariciava uma das minhas coxas por cima do lençol azul que cobria meu corpo.

—— Mi amor? —— A voz saiu rouca e muito baixa mas, foi capaz de despertá-lo. Seus olhos encontraram os meus, avermelhados, perdidos e lágrimas se formaram sem que disséssemos uma única palavra.

—— Linda... Você acordou, finalmente. —— Ele se levantou e se aproximou de mim, depositando um beijo longo em minha testa. Suas lágrimas caíram molhando minha mão e toquei seu braço.

—— Me diga... Nossa bebê, como ela está? —— Perguntei e o que eu mais temia estava passando diante dos meus olhos, Aspen havia debulhado em lágrimas somente de ouvir minha pergunta e eu soube... Naquele momento, eu soube que Esperança não estava mais comigo, não estava mais ali dentro de mim.

—— Não, não, não! —— Gritei pelo quarto, levando minhas mãos até minha cabeça. —— Não vou suportar, não! —— Meu peito parecia estar queimando, assim como cada centímetro do meu corpo, o vazio em minha barriga parecia engolir todos os meus órgãos.

—— Linda... Acalme-se, por favor. —— A voz trêmula de Aspen ecoou pelo quarto.

—— Cadê ela? Eu quero ver... Eu quero pegar a minha filha pela primeira e última vez. Aspen... A minha filha... —— Eu estava em prantos, o ar não entrava em meus pulmões, o som não entrava em meus ouvidos e a dor.... Essa maldita e tortuosa dor de perder a minha menina, a minha Esperança.

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