Sinopse

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Talulah

  Isso não pode estar acontecendo. Eu me nego a acreditar. Não. Não. Não! Ontem planejávamos casar como desejávamos desde os 17 anos. Hoje, a única coisa que me resta é essa cena. Deplorável cena.

   Quando abri a porta de seu quarto, feliz para contar sobre as novidades, meu sorriso se desmanchou em um passe de mágica. Antony, o amor da minha vida, encontrava-se embaixo de Emily, minha melhor amiga desde o maternal. Inacreditável. O suor deles, os gemidos, o vai e vem, tudo denunciava algo que eu nunca pensei que aconteceria: uma traição.

   No momento o qual eles perceberam minha presença, olharam chocados. Eu estava estagnada, com os olhos arregalados, talvez branca como a neve, segurando a porta e apoiada na parede.

- Tulah, não é isso que você tá pensando. - Antony teve coragem de falar. O que eu estava pensando ia além do que estava vendo?

A única coisa a qual eu conseguia pensar era na confiança depositada em ambos. E, inegavelmente, em meu coração dilacerado. Cinco anos de namoro, seis anos de amizade com meu companheiro. Ou, agora, ex. Quinze anos de amizade com Emy. Nada disso foi capaz de fazê-los repensar nessa atitude?

Quando me dei conta, ele já havia a tirado de cima. Enquanto ela estava deitada na cama se cobrindo e me encarando com esse olhar de vitória, Tony se vestia rapidamente. Dando-me conta do tempo que eu estava ali parada, fechei a porta. Corri para a escada de sua casa. Corri para fora de sua casa, ignorando completamente os chamados dele.

Repito: isso não pode estar acontecendo!

Em lágrimas, corri. A decisão que tomei mais cedo de não vir para casa dele de carro foi a pior. Mas como eu poderia imaginar? Decidi isso com o pensamento de que ele me deixaria em casa depois de uma noite de carinhos e comemoração.

Aí. Meu. Deus! Eu vim para comemorar. Agora, lembro o motivo. Estou grávida. Grávida dele.

Por um segundo, pensei em parar de correr e deixar que ele me alcance. Talvez nosso filho supere esse acontecido. Talvez ainda tenhamos chance de recomeçar. De eu o perdoar. Continuar com essa marca. E, então, me dei conta. Que merda de pensamento é esse? Esse, com certeza, era o pensamento da minha mãe ao aceitar incansáveis vezes as traições de meu pai. E não que ele seja um cara mau, só não é o cara bom para ela. Lembrando do maior exemplo da minha vida, decidi rapidamente que meu filho não passará pelo mesmo. Corro com mais gás.

Em um instante, me distanciei o suficiente ao ponto de não ouvir mais seus gritos. Quando olho para trás rapidamente, vejo ele voltando para sua casa e ouço:

- Porra! Vou pegar minha moto, caralho!

E, bum. Eu me encontrava no chão.

- Cacete! - murmurei ao ver meu braço ralado.

Inútil. Por que olhei para trás? Não é óbvio que teria um buraco na calçada com potencial de me fazer cair? Burra, burra! Procuro o buraco em questão e não o acho. Olho para os lados.

Antony e eu morávamos a dois quarteirões de distância. Reconheço a porta em que eu havia caído. Era da irmã dele, Antonella. Ainda um pouco tonta por conta da queda, penso ter visto uma bolsa, provavelmente a razão do que me fez cair.

Me aproximei. Puta que pariu! Esse dia não poderia ficar pior. Não era uma bolsa, era um bebê conforto. Com um bebê dentro. Comecei a tremer. Ou já estava tremendo? Não pensei duas vezes, peguei a criança. Abandonei o bebê conforto surrado. Pedi um táxi, antes que Antony voltasse, eu precisava estar longe daquele bairro e chegar a minha casa não era o suficiente.

Para onde eu iria? Minha melhor amiga tinha parcela de culpa no acontecido. Não poderia ir à casa dela. Fui para o hospital e no caminho, liguei ao meu pai.

Ligação On

- Papai?

- Oi, Sweet. Por que estás com essa voz? 

- Antony, papai. Ele me traiu... - engoli a bola que estava na minha garganta. - Com a Emily.

- Onde você está, filha? - senti que tentava manter a calma, mas também percebi que estava pronto para pegar uma arma.

- Indo para o Hospital...

- ELE TE BATEU? EU VOU MATAR O DESGRAÇADO! - meu pai, gritando, me interrompeu, nitidamente nervoso.

- Não. Eu me recusei a ter contato com ele e Emily depois de ver. Papai, tu podes me encontrar no hospital? Vou precisar dos seus poderes de promotor.

- Claro, claro. Me manda sua localização.

- Tudo bem. Até logo, te amo.

- Eu amo você, Sweet.

Ligação Off

Desliguei a ligação e aproveitei para colocar o celular em modo avião. As ligações de Antony já estavam se acumulando. Tentei não pensar em como ele jogou seis anos ao ralo, em como ele decidiu fazer essa troca. Ou no porquê. Isso jamais poderia ter acontecido. Tentei não pensar em como Emily me traiu também. Emy era da família. Fiz mais viagens com ela do que com meus irmãos. Dormimos incontáveis vezes na casa uma da outra. Digo, a casa dela era minha e a minha era dela. Não éramos visitas. Éramos irmãs.

Quando percebi, eu já estava pensando no que queria evitar pensar.

Inacreditável Where stories live. Discover now