Prólogo

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Millie Burns entrou no escritório do seu irmão mais velho ponderando o que de tão importante ele tinha para lhe dizer. Ela não era muito fã de notícias contadas pela metade e sentia-se ansiosa desde que um dos funcionários da fazenda Burns apareceu para chamá-la em seu quarto.

— Pensei que não chegaria nunca. — Disse Sebastian Burns. Aos vinte e seis anos, aparentava ser muito mais velho do que realmente era, talvez até na casa dos trinta e cinco. Ele costumava pegar todas as preocupações do mundo para si e era exatamente isso o que mais pesava em suas costas.

Sebastian foi obrigado a amadurecer muito cedo, afinal quando seus pais faleceram em um acidente trágico durante férias radicais nas montanhas do Alasca, ele tinha apenas dezenove anos e Millie, na época, não tinha mais do que treze. Por isso, Sebastian não teve outra opção além de dividir seu tempo entre assumir o controle da fazenda e educar sua irmã mais nova.

Apesar de todas as tarefas, das dificuldades e inseguranças, Sebastian nunca reclamou nem uma vez sequer. Ele adorava cuidar de Millie. Aos olhos dele, ela era seu maior tesouro.

— Eu estava lendo um livro. Um romance, como você deve imaginar. — Ela jogou o exemplar em cima da mesa dele e sorriu. — Acabei de terminar. Você pode ler se quiser.

Sebastian certamente leria. Ele realmente gostava de conversar com Millie sobre livros e autores. Às vezes passavam horas sentados na sala de estar, divagando sobre as histórias que recém haviam terminado de ler.

Eles tinham uma boa relação, costumavam se apoiar em quase tudo. Tornaram-se inseparáveis desde o dia em que precisaram observar seus pais sendo enterrados após o acidente terrível.

A única vez que Millie se sentiu abandonada por seu irmão foi quando ele anunciou que se casaria com uma moça chamada Orla. No início, a notícia chegou como um verdadeiro furacão aos pensamentos dela, afinal se Sebastian planejasse deixá-la desamparada, ela obviamente não teria mais ninguém a quem recorrer.

Mas ele era um homem honrado e amava sua irmã, e ao contrário do que ela havia imaginado, as coisas ficaram ainda melhores depois do casamento, pois Orla era uma mulher extremamente gentil e divertida. Desde então, Millie encontrou uma nova amiga e os dias na fazenda pareciam um pouco menos solitários.

— Depois podemos falar sobre livros, mas agora tenho algo mais importante a dizer. Uma ideia que tive. — Sebastian tinha os cabelos em tons bastante exóticos que ficavam entre o loiro e o cinza. Seus olhos, verdes, eram intensos e cansados. — Pensei que seria uma boa experiência para você.

Millie se sentou diante do irmão e se inclinou na direção dele, curiosa. Seus cabelos, também loiros, tinham um estilo de corte extremamente curto, pois ela não gostava de ter trabalho com cuidados capilares.

Na verdade, ela não era uma mulher considerada exatamente padronizada. Vestia roupas largas e nunca usou maquiagem na vida. Às vezes chegavam a confundi-la com um garoto, detalhe que a irritava profundamente.

Ter cabelo curto não fazia de Millie um menino, mas algumas pessoas não pareciam entender algo tão simples.

— Qual experiência exatamente? — Ela estava começando a ficar ansiosa com o suspense dele. — Pare de fazer mistério, estou ficando irritada. Poderia dizer de uma vez?

— Você é sempre tão doce e paciente! Amo você, minha irmãzinha. — Sebastian se aproximou, debochado, passando uma das mãos em seus cabelos curtos. — Você se lembra de Leon Nichols?

Ao ouvir tal nome, Millie sentiu suas costas tencionarem. Óbvio que ela se lembrava, afinal Leon fora sua paixonite secreta durante toda a adolescência. Por ser cinco anos mais velho, claro que ele nunca sequer lhe deu atenção de nenhum tipo.

As memórias que tinha daquela época não eram muito agradáveis. Millie literalmente corria atrás dele exatamente como um cachorrinho, tentando chamar sua atenção sem sucesso.

Leon sempre lhe pareceu descolado, superior. O tipo de homem que nunca se interessaria por uma mulher como ela, que vez ou outra era confundida com um garoto magricela.

— O seu melhor amigo durante a adolescência? Claro que eu me lembro. — Ela deu de ombros, tentando fingir que o assunto não a incomodava. — Ele foi embora quatro anos atrás com o intuito de recomeçar a vida em Houston.

— A sua memória é ótima. — Ele ironizou. — Leon está de volta. O pai dele faleceu há alguns dias e agora ele precisará administrar o rancho da família, que está muito danificado.

— Sinto muito. — O que mais ela poderia dizer? Não fazia ideia.

— Quero que você passe uns dias no rancho, com ele. — Sebastian falou de maneira séria, como se aquilo fosse o pedido mais simples do mundo. — Você tem experiência com animais e com tudo o que envolve o campo. Eu não posso ajudá-lo, afinal já tenho tarefas demais na fazenda, mas você pode.

— Você enlouqueceu? — ela se levantou com um pulo. — Eu não posso deixar as minhas tarefas aqui.

Ela costumava cuidar dos cavalos nos estábulos e controlar a plantação de grãos.

— Garanto que tudo continuará bem por aqui. Você só precisa ajudá-lo por alguns dias. Um mês, talvez? — ele fez aquela expressão de cachorro pidão irresistível e Millie simplesmente amoleceu, incapaz de negar qualquer coisa ao irmão mais velho. — Leon sempre foi o meu melhor amigo e agora ele precisa de ajuda. Caso contrário, o rancho irá falir totalmente.

— Se eu for, não quero ninguém questionando as minhas decisões. — Ela cruzou os braços. — Não quero ninguém me dando ordens. Vou para ajudar e não para ser controlada.

— Diga isso a ele. — Sebastian sorriu. — Você fica tempo demais sozinha nas terras da fazenda. Também será bom conhecer gente nova.

— Eu já conheço Leon. Ele não pode ser considerado gente nova. — Ela estalou a língua. — E eu tampouco faria questão de conhecê-lo.

Mentirosa, disse para si mesma. Ela foi obcecada por Leon em segredo até não muito tempo atrás e agora se ressentia apenas porque ele nunca lhe deu um pingo de afabilidade sequer.

— Apenas me faça esse favor, Millie. — Ele soltou um longo suspiro cansado. — Eu não posso ajudar todo mundo.

— Quando devo ir?

— Amanhã.

Ela apenas concordou com a cabeça e em seguida deixou o escritório, irritada.

Um acordo com o cowboy indecente - APENAS DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora