Prólogo

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A fenda aberta no vestido vermelho chamava atenção. Ela começava no meu quadril e descia até o tornozelo, dando a bela visão da minha perna cintilando por conta de uma quantidade exuberante de hidrantes. Eu não usava uma calcinha, o vestido era justo, aquela fenda merecia um pequeno escândalo.Era o tipo de vestido que você tinha que saber usar, havia algo de mortal. Capaz de corromper o mais fiel dos homens.

Enquanto eu desfilava de braços dados com um homem rico o suficiente para me vestir assim, podia sentir os olhares sobre nós. Não, olhares sobre mim. Eu tinha toda a atenção que alguém usando um vestido vermelho gostaria. E ainda havia a cereja do bolo, meus seios ficavam firmes e bonitos naquele decote coração que, de quebra, ainda alongava meu pescoço.

As mulheres olhavam provavelmente pensando em como eu era sortuda por estar com aquele homem, já os homens, imaginavam como deveria ser divertido poder comer minha boceta quando bem entendesse. Homens, nunca confie muito neles.

Mas aparecer como uma estrela no céu escuro era ideia dele.

Ele queria que eu fosse o centro das atenções.

Evan Thompson, o herdeiro das indústrias Thompson e dono de boa parte da cidade de Nova Iorque, mantinha os braços másculos envoltos nos meus quadris. Suas mãos em mim sinalizavam para os outros que eu não estava disponível, que eu era dele.

Uma das mãos acariciava minhas costas nuas forçando-me a continuar sorrindo, seu toque não era dos piores, suas mãos eram macias mas ainda sim parecia algo íntimo demais para se fazer em público. Mas, naquele momento eu era uma atriz e estava representando a mulher mais confiante e feliz do mundo porque teoricamente eu pertencia a um bom homem como Evan.

— Você está muito bonita, Montgomery – sussurrou cordialmente ao pé do meu ouvido.

Era o sobrenome da noite. Alguns homens eram exigentes em relação a personalidade que queriam de mim, Evan tinha um roteiro perfeito na sua cabeça sobre como eu deveria ser: Gostosa, quieta, misteriosa e acima de tudo ser boa de cama sem demonstrar. Ele me colocava em uma coleira de diamantes, mas ainda sim era ele quem a puxava quando eu saia do personagem.

— Obrigado, Evan – devolvi no mesmo tom brando – Você é sempre muito gentil.

Não fora sarcasmo, definitivamente Evan era muito gentil. Ele não era só um CEO gostoso que tinha aquele ar de lorde inglês, Evan parecia ter sido criado como o filho preferido de uma mãe cuidadosa e ciumenta, ele sabia como tratar as pessoas e fazê-las se dobrarem ao seu desejo.

Estávamos em algum terraço no meio da Upper East Side, era apenas uma pequena reunião entre amigos, segundo Evan. Não sei quantas pessoas um rico considera amigo mas definitivamente ninguém conhece tanta gente assim. Deve ter cerca de cinquenta pessoas e irritantemente Evan faz questão de me apresentar como um troféu para os amigos.

Enquanto Evan inventava alguma qualidade minha para dizer aos amigos, deixei que meus olhos vagassem pelo salão absorvendo os detalhes da decoração luxuosa.

As luzes incandescentes estavam estiradas fazendo parecer que existia um teto, vagamente lembravam pequenas estrelas esbranquiçadas que refletiam nas taças. À direita existia um bar, onde eu podia ver o barman forçava um sorriso enquanto uma mulher com o dobro da sua idade o paquerava. Sofás de couro preto tentavam dar um ar despojado ao local, mas não funcionavam.

Tudo ali era artificial. Um episódio de Gossip Girl da vida real e eu fingia ser uma versão fajuta da Blair Waldorf.

O amontoado de pessoas chiques que riam sem motivo com champanhe entre os dedos, apenas reforçava que nada ali era natural. Era o que eles queriam passar, queriam ser artificiais. Afinal, pessoas artificiais não tem histórias que as comprometam. E pessoas sem histórias não precisam ser alguém porque o dinheiro já é por elas.

O cheiro de perfume caro, totalmente predominante, quase asfixiava minha respiração. Evan às vezes me dizia que ele próprio se sentia nauseado sentindo aquele cheiro, ele gostava do que fosse natural. Era um gostar estranho comparado a quantidade de dinheiro que ele tinha.

Quando seus amigos finalmente se afastam o ouço dizer ao pé do meu ouvido:

— O vestido ficou ainda mais bonito do que eu imaginava 一 sua voz soa grossa e estranhamente objetiva 一 Ashley tem mesmo um gosto incrivelmente peculiar, embora tenha que concordar que seu corpo ajuda qualquer roupa a ficar perfeita.

Ashley Thompson, a irmã mais nova de Evan, era um doce de garota. Ela não era mesmo uma Thompson, era adotada mas o irmão sempre a tratava de forma tão natural que o assunto só viera à tona porque Evan disse que seria bom que eu soubesse. Ela conseguia ser a criatura mais doce, tinha um ar de Alice Cullen com Cher Horowitz que fazia sentido.

— Eu não tenho dinh... – seu dedo indicador tocou meus lábios.

Iria dizer que não tinha dinheiro para pagar um Prada, no mínimo precisaria de muitas noites ao lado de Evan para que conseguisse pagar o vestido. Evan era um cliente completo, gostava de dizer como eu iria agir, o queria vestir, que cabelo usaria, o que deveria falar. Tudo era controlado por ele. Mas, geralmente a vestimenta era por conta da contratada e não do contratante, e eu tinha a plena certeza de que não pagaria um Prada.

— Não querida, por favor, sabe que eu vou cobrar de outro jeito – ele sorriu – Além do mais, hoje você é milionária e minha acompanhante 一 murmurou a última parte no meu ouvido.

Concordei cordialmente com a cabeça. Andamos até um novo grupo de amigos do qual fui obrigada a conversar. Evan era o único milionário que eu conhecia que realmente me trazia a esses lugares, a maioria dos homens preferia um quarto escuro. Formávamos um casal de presença, mesmo que não fossemos um.

Mesmo que a conversa fosse comigo também não conseguia me concentrar totalmente, aquele mundo ainda era coisa demais para processar em apenas uma noite. Apenas quando fui diretamente citada, senti meus olhos voltarem ao foco e prestarem atenção no homem que falava comigo.

— Sua namorada é muito bonita, se posso dizer Evan – disse o homem.

Dono de olhos incrivelmente verdes e cabelos destoantes negros como as plumas sedosas de um corvo, fizeram com que eu o encarasse por uma fração de segundos – que na minha cabeça pareceram ser mais que isso – ele sorriu para mim, e apenas devolvi o gesto.

Ao lado dele havia mais dois rapazes. Um deles também tinha os cabelos negros, porém seus olhos eram de mesma cor, tão escuros quanto carvão. O outro possuía cabelos sedosos queimados naturalmente com a cor bronze junto dos olhos verde esmeralda. Gente rica é sempre estranhamente bonita.

— Sim, ela é – concordou orgulhoso, afinal ele gostava de ter uma morena ao lado como troféu. Ele mesmo se referiu a mim daquela maneira várias vezes. Um troféu.

É por ela, só por ela, repetia a mim mesma mantendo o mantra de que nada daquilo era por mim. Nunca tinha sido por mim, era por ela.

Cada vez que alguém me fazia um elogio, eu apenas sorria. Era assim que pessoas seguras de si agiam. Certo?

— Ela é bem quietinha também – comentou o mais alto deles.

— Mara é um amor de pessoa, Enzo – sorriu Evan – Querida, esses são Andrew, James e Enzo Hastings nossos sócios. Devo ter falado deles algumas vezes.

Evan era dono da maior empresa de alguma coisa dos Estados Unidos, até onde tinha conhecimento os irmãos eram concorrentes dele. O peculiar de meus pensamentos era o fato de imaginar que a trindade de irmãos Hastings se tratava de homens velhos e acabados e não terrivelmente gostosos.

— É um prazer conhecê-los – sorrio de forma agradável – Sim, lembro de ouvir algumas vezes.

Ah, meu nome também não é Mara. A única coisa real naquela situação toda era eu ser uma prostituta de luxo. O resto era tudo parte de uma grande encenação. 

Rendição (COMPLETA) [EM PROCESSO DE REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora