Capítulo 40

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-Não deveríamos esperar meu irmão?

-Na verdade, Bella, eu gostaria de conversar primeiro com você. –Robert lança um olhar triste para ela, que fica se perguntando se deveria temer o que estava por vir- Além disso, temos apenas uma hora antes de recebermos uma visitinha que eu não gostaria que soubesse do que eu vou falar.

-É alguém conhecido? –Mirabela só conseguia pensar em Marcel, que tinha sumido aparentemente do nada, reaparecendo misteriosamente em alguns momentos de forma extremamente suspeita.

-Sim, mas não creio que você vá querer saber agora. Sugiro que espere até a pessoa chegar. –Ele faz uma pausa para tomar o café que havia sido quase esquecido na mesinha de centro e a menina aproveitou para fazer o mesmo- Também acho que você tenha perguntas muito mais relevantes para me fazer, não é? Prometo que tentarei sei o mais direto possível e também evitarei omitir qualquer coisa.

Ah respostas. Como ela esteve ansiosa por aquele momento. Aquela palavra nunca soara tão linda e doce, misteriosa e completa. Mirabela deu um leve beliscão em seu braço, apenas para ter certeza de que aquilo era real e não apenas fruto de sua imaginação. No fundo, ela já tinha desistido de que em algum momento fosse conseguir saciar suas dúvidas. Mas o momento chegou, permitindo que os pensamentos voltados para a noite anterior fossem totalmente preenchidos pelo desejo de saber.

-Ah, são tantas coisas que quero saber que é até difícil formular uma pergunta. –Ela da um sorriso nervoso para o pai e para Cassandra enquanto tenta juntar as inúmeras dúvidas em uma frase organizada e lógica. –Vou começar pelo que está mais fresco em minha mente: se a Cassandra –Mirabela aponta com a cabeça para a mulher sentada na poltrona ao seu lado- é a mesma que estava nos seus diários, como ela está viva e com você? E vocês estão juntos?

Robert contorce os lábios e toma mais um gole de café antes de responder:

-Em primeiro lugar: Não, não estamos juntos. E sim, esta é a mesma Cassandra dos diários. –Ele se volta para a mulher- Cass, poderia trazer a garrafa de café? Creio que essa história vá ser longa.

Mirabela ficou pensando se ele pedira para a mulher pegar a garrafa como uma desculpa para que Cassandra saísse da sala, pois a menina sentia que a mulher não gostaria de ouvir o que estava prestes a ser dito. 

-Bela, a primeira coisa que preciso que saiba, é que os diários eram falsos. –Mirabela tenta ao máximo controlar os músculos e segurar a xícara em sua mão, mas ela começa a tremer com a surpresa- Não totalmente falsos, mas escritos como forma de despistar.

-Então você quer dizer que tudo o que descobri não passa de mentiras?

-Não exatamente. Eu escrevi aqueles diários entrelaçando verdades e não verdades, pois eu sabia que uma hora ou outra cairia em mãos erradas. Tudo o que eu coloquei lá aconteceu, porém não daquela forma. Por isso que você está vendo Cassandra aqui bem e viva. 

-Então Willian não fez nada mais que o esperado, não é? –O pai balançou levemente a cabeça, como se não tivesse certeza de que fosse exatamente aquele o caso- Bem, mas e quanto à minha irmã? Na verdade, como Cassandra está viva? O que era mentira nos diários? O que...

-Mirabela, sugiro que se acalme. Sei que há inúmeras perguntas em sua cabeça e prometo, de dedinho –Ele oferece seu dedo mindinho para a garota, como costumavam fazer quando ela era criança- que responderei à todas elas, mas antes vou contar a história por completo e, se no fim você ainda tiver tantas perguntas quanto agora, poderá me questionar, OK? Creio que será mais fácil assim.

Mirabela respirou fundo para acalmar os nervos e diminuir a ansiedade antes de confirmar com a cabeça. Novamente, ela não conseguia acreditar que finalmente estava prestes a ouvir toda- ou quase toda- a verdade e, dessa vez, vinda diretamente da boca de seu pai. 

-Você deve se lembrar dos diários, sobre meus estudos e pesquisas e que eu tinha vontade de criar algo –Mirabela confirmou com a cabeça, recordando sobre a quimera que ele relatara ter criado e que então fora copiada por Diego- Bem, a parte em que a mentira entra é o que eu criei. Nos diários eu coloquei como sendo uma quimera viral, extremamente perigosa, não foi? Mas a realidade é que foi algo bem mais difícil de explicar, ou de se fazer acreditar e algo bem mais desejado do que um vírus fatal: eu criei um tipo de poção, capaz de lhe fornecer o que você deve conhecer dos seus filmes e livros como poderes.

Mirabela encarava o pai de forma incrédula. Ele achava mesmo que ela cairia nessa desculpinha esfarrapada que ele inventara de última hora para novamente não precisar contar a verdade? Ele realmente achava que ela era idiota a esse ponto? *

-Pai, se você não quer me dizer o que está acontecendo, fala na minha cara e me deixa de fora do que for, mas não tente me fazer de boba com histórias desse tipo. Nem os livros mais estúpidos que já li não tinham um enredo tão ruim. Sinceramente, sua historinha de vírus fatal e a loucura do Diego eram bem mais fáceis de engolir.

-Mirabela, você pode estar indignada por não estar entendendo, mas isso não lhe dá o direito de falar assim comigo. –Ele segutou com força o braço do sofá ao responder. A menina nunca tinha visto o homem tão irritado antes, como se a indignação dela o tivesse ferido profundamente. Robert inspirou antes de prosseguir mais calmamente- Agora, me deixe terminar e não interrompa mais, pois apenas no fim você poderá ter uma ideia e opiniões concretas sobre isso, ok?

Mirabela sentiu que ele falava a verdade, ou pelo menos que realmente acreditava no que falara e o que estava por falar. Talvez seu pai estivesse enlouquecendo aos poucos, mas esse era um pensamento que era melhor guardar para si, ao menos até que Robert terminasse seu relato –como ele mesmo pedira. Sendo assim, ela apenas afirmou com a cabeça e se ajeitou de modo mais confortável no sofá, tentando ignorar o silêncio que havia dominado toda a residência, como se Cassandra, Jonathan e até Sr. Gato tivessem simplesmente evaporado. 

Robert olhou para o relógio na parede branca antes de responder:

-Sinto que não conseguirei explicar tudo detalhadamente ante da nossa visita chegar, mas vou tentar falar o máximo que conseguir. –Ele toma o último gole de sua xícara de café e a larga em cima da mesinha de centro ao prosseguir com um meio sorriso no rosto cansado- Acredito que, se me olhar mais como um cientista maluco e menos como seu pai, seja mais fácil de acreditar em tudo. Porque, bem, era exatamente isso que eu eraquando tudo começou...



* Só para dizer que ao escrever esse parágrafo aquela musiquinha "I know you lie, your lips are moving, tell me do you think I am dumb" não saía da minha cabeça kkkkk 


(sobre)vivaWhere stories live. Discover now