O Porquinho no Espelho

Medo de olhar no espelho

Dias seguidos ele ficou sem olhar para o espelho. Entrava no banheiro, fazia tudo muito depressa e depois saía correndo.

Porém, numa tarde de domingo, quando seus avôs, tios e primos foram a casa dele assistir a uma partida de futebol, ele entrou no banheiro.

Como era seu time que estava vencendo, ele assobiava feliz da vida, a ponto de ter se esquecido do porquinho. Então, apressado, lavou somente as pontas dos dedos em vez de lavar as mãos. Olhou distraidamente para o espelho. A imagem do porquinho foi se formando e olhando para ele.

Bion sentiu um arrepio no corpo, de imediato. Um tremor descabido. Um medo repentino. Todavia, decidiu não gritar, e enfrentar o invasor indelicado que o atormentava o tempo todo. Então, ele se refez depressa do susto e corajosamente perguntou ao intruso:

― Quem é você?

― Sou sua consciência ― respondeu-lhe o porquinho.

― Mentira! Minha consciência não existe, ouviu? Você é só minha imaginação.

― É mesmo? Quem disse isso?

― A Dra. Miriam.

― Verdade?! Quem é a Dra. Miriam?

― A psicóloga da escola.

― Ah, é? Então você tem uma psicóloga? Que lindo!

― Tenho sim, e ela falou assim que você não existe. Por isso, vou fazer você desaparecer daí!

Bion passou a mão molhada no espelho. O porquinho não desapareceu.

Esfregou uma toalha. O porquinho continuava lá.

― Ué! Não vai chamar sua mãe nem seu pai como fez da outra vez? ― perguntou-lhe o porquinho como se zombasse dele. - Não está com medo de mim?

― Não estou, porque você não existe.

― Existo sim. Por isso estou aqui.

― Se é assim, então sai do espelho e fica aqui perto de mim. Quero ver.

Claro que o porquinho não sairia nunca. Claro também que Bion ficou com um pé na porta e outro levantado para poder pular caso o porquinho saísse. Assim, simplesmente voaria dali.

― Viu como você não saiu? E se não saiu é porque não existe. Você não consegue sair daaaííí ― cantarolou Bion, encolhendo os ombros com desdém. Agora era ele quem zombava do porquinho.

― Você tem razão ― disse o porquinho meio desconsolado. ― Sou só sua imaginação. Mas bem que gostaria de sair daqui. Aí ia dar um susto daqueles bem grandes em você.