Eu te amo. Uma coisa tão forte de se dizer. Emma esperou o momento certo para falar isso para Melinda. Obviamente ela não conseguiu falar assim que Melinda lhe disse, mas só foi questão de dias parar ela falar pela primeira vez em sua vida o "Eu te amo" que ela nunca tinha dito para ninguém antes. Não de forma romântica.
Emma tinha medo do amor. Tinha medo que depois de declarado, as coisas desandassem, a fase do mar de rosas passasse e tudo fosse por água abaixo. Um final feliz era muito para se pedir para qualquer pessoa, quanto mais para ela?
Em seus vinte e um anos de idade Emma nunca tinha testemunhado um amor recíproco que durasse uma vida, nunca tinha visto um casal tendo o seu feliz para sempre, mas em alguns momentos ela realmente achava que tinha uma chance ali. Que ela e Melinda poderiam conseguir ter esse final impossível de conto de fadas, que por algum acaso ou por alguma obra do destino elas seriam felizes para sempre. Ela estava sendo idiota e ingênua? Talvez. Mas naquele momento ela tinha esperanças do melhor.
Os dias estavam fáceis de se viver, apesar da correria dos estudos. Emma e Melinda estavam em sua melhor fase. A troca de carinhos, atenção, conversas e "eu te amos" era constante e Emma se viu em uma situação que ela nunca se imaginou estando com Melinda. Ou com qualquer pessoa.
Emma podia dizer que estava tendo um dia perfeito. Estava deitada no sofá com Melinda, elas estavam abraçadas ouvindo uma música calma e Emma estava recebendo um delicioso cafuné. Um momento de paz que antes era tão raro, mas agora ela podia dizer que era frequente.
- Alguém bateu na porta? – Melinda perguntou com voz preguiçosa.
- Acho que não... – Emma realmente esperava que não fosse ninguém.
Mas agora as batidas foram ouvidas mais nitidamente.
- Quem será? – Melinda disse em sussurro enquanto levantava, como se devesse algo a alguém. O que chegou a ser engraçado.
- Jacob?
Ao ouvir aquele nome, Emma se levantou subitamente e o fuzilou com o olhar.
- O que porra você está fazendo aqui? – Emma se viu perguntando.
- Ei... Desculpa passar aqui sem avisar, mas eu não acho que vocês me atenderiam se eu ligasse. Só passei pra pedir desculpas a vocês por tudo que aconteceu naquele dia. Eu fiquei fora de mim e não foi nada bom pra nenhum de nós três. – Jacob intercalava o olhar entre Emma e Melinda. – Eu não espero que vocês me perdoem, eu acho que nem deveriam, na verdade, mas eu não poderia ir embora sem vim aqui e falar isso pra vocês.
Houve uma pausa e Melinda olhou para Emma, parecendo não acreditar no que estava vendo e ouvindo. Jacob voltou a falar.
- Então... É isto. Eu estou me mudando para Los Angeles, surgiu uma oportunidade no meu trabalho que eu não tinha motivo pra negar, então... Mel, foi maravilhoso conhecer você, você é uma garota incrível. Emma, me desculpa, irmão, você sabe que eu amo você, né? Eu vou sentir falta de vocês. E eu... eu espero que vocês estejam bem. De verdade.
Mais uma pausa e o inesperado aconteceu. Melinda abraçou Jacob. Que merda era aquela? Emma via aquela cena, incrédula, sua respiração ofegava e seu coração batia forte. Aquele olhar de quem iria assassinar alguém tinha voltado e só ficou pior.
- Eu espero que você seja feliz. – Emma pôde ouvir Melinda falar enquanto o abraçava. – Eu não sou de guardar rancor. Espero que dê tudo certo para você e que você seja muito, muito feliz, você merece. E... Me perdoa por tudo ter acontecido daquela forma. Eu espero que você me perdoe também. Você foi e é muito especial para mim.
Melinda finalmente soltou o abraço e Jacob olhou para Emma. Ela não precisou falar nada para ele entender o recado. Jacob apenas acenou com a mão e foi embora. Quando Melinda fechou a porta ela olhou para Emma que estava naquele estado nada agradável.
- Emma... O que você queria que eu falasse? Ele pediu perdão e está praticamente saindo de nossas vidas, eu não podia tratar ele mal, eu não sou assim. Você deveria perdoar ele também, ele é praticamente um irmão pra você. Aquele dia foi um acontecimento ruim, você não deveria condenar ele por causa de um dia que ele se sentiu traído. Que ele foi traído...
Emma respirou fundo para não responder nada que fosse se arrepender e quando viu que isso não seria possível, ela apenas disse:
- Eu preciso respirar.
Emma foi para o quarto e começou a trocar de roupa o mais rápido que podia. Ela precisava sair e tomar um ar. Se ficasse ali acabaria tendo uma discussão com Melinda e não queria isso. Melinda foi atrás dela e Emma teve a sensação de que evitar uma discussão não estava nos planos de Melinda como estava nos dela.
- Pra onde você vai?!
- Vou falar com o Tony e me encontrar com ele. – Emma disse enquanto calçava seus coturnos.
- Emma, o que eu fiz de errado?
- Nada. Eu não disse nada.
- Não precisou, só de olhar pra você eu sei que você está com raiva de mim.
- Não estou com raiva de você. – Emma finalmente terminou de se trocar e pegou seu celular.
Ela deu um beijo rápido em Melinda e se direcionou a porta.
- Emma! Espera aí.
- O que? – Emma parou na porta de saída que já estava aberta.
- Você vai para a festa da Serena hoje?
- Sim, a gente se ver lá?
- Pensei que a gente ainda estava decidindo se iria.
- Você não quer ir?
Melinda cruzou os braços.
- Eu não sei.
- Eu prometi a ela que iria. – Emma falou, aguardando uma confirmação enquanto segurava a porta.
- Uhum. – Melinda confirmou, embora desanimada. - Tudo bem.
- Então a gente se ver lá.
Emma finalmente saiu. Felizmente quando chegou lá em baixo Jacob já não estava mais por perto. Ela se encontrou com Tony no bar em que ele trabalhava, agora que tinha saído da loja de roupas, e ficava perto de tudo, inclusive de seu apartamento, o que era um bônus.
Emma bebeu enquanto Tony trabalhava. Bebeu com ele quando ele terminou seu turno. E continuaram bebendo no caminho para a festa de Serena.
Ao chegar lá, ela obviamente estava bêbada. A festa já havia começando há algumas horas e havia muita gente ali. Emma tentou procurar Melinda com Tony, mas não estava a encontrando. Verificando seu celular ela viu várias chamadas perdidas e algumas mensagens de Melinda que ela não havia visto. Droga... Ela devia estar uma fera. Emma ligou de volta e no momento em que Melinda atendeu, ela foi surpreendida por um abraço caloroso de Serena que quase a derrubou no chão.
- Você veio! Que saudade! Que saudade! Que saudade!
Emma riu e devolveu o abraço.
- Mas é claro que eu vim. Eu não perderia.
- Vamos começar um joguinho agora na área da piscina, vou ao banheiro e te encontro lá. – Serena não deu chances para Emma responder e foi.
- Joguinho? Essa eu não perco por nada, vamos! – Tony puxou Emma que quando percebeu já estava no meio da roda formada por meia dúzia de pessoas sentadas em cadeiras e poltronas aleatórias.
Merda. Melinda. Voltando a verificar seu celular, a chamada já tinha sido encerrada. Emma tentou retornar a ligação, mas Melinda não atendeu. Ela tentou duas, três vezes e nada.
Serena chegou na roda e o jogo começou. No centro da roda alguém girou uma garrafa. Tudo acontecia tão rápido que Emma não tinha tempo de raciocinar. Alguém estava beijando outro alguém e a garrafa voltou a girar.
- Verdade ou desafio? – alguém que Emma não conhecia perguntou.
- Desafio, claro. – Serena respondeu animada.
- Escolha alguém e faça um Lap Dance.
Uma algazarra foi ouvida, umas pessoas aplaudiam, outras riam, outras assoviavam.
O coração de Emma saltou quando Serena olhou diretamente para ela, com aquele maldito olhar malicioso. Serena se levantou de sua cadeira e foi em direção a Emma, que ficou sem fôlego e ainda estava com o raciocínio lento.
- Serena... Não...
Serena sentou em seu colo de forma intimista e começou a se mover, rebolando seu quadril, deixando Emma tensa enquanto as pessoas comemoravam.
- Eu e a Melinda... - Emma falou baixinho.
- Sério? - ela perguntou com um pequeno sorriso e um olhar surpreso. - Vocês estão namorando?
- Praticamente. - Emma estava nervosa com tudo aquilo, quem não ficaria?
Quando Emma segurou em sua cintura para afastá-la, Serena deu um beijinho em seu rosto e se levantou rapidamente, voltando para seu assento e deixando Emma completamente desnorteada naquela cadeira. Emma olhou para Tony que estava em seu lado tentando com todas as forças não rir. Merda. Ela precisava sair dali. Ela precisava ver Melinda.
Emma se levantou rapidamente e foi em direção a saída da casa, meio bêbada e meio desnorteada ela pensou ter visto Melinda e... Era ela! Melinda estava andando com passos apressados.
- Melinda! – Emma correu em direção a ela.
Melinda fingiu não ter ouvido e apressou ainda mais seus passos. Ela havia chegado em uma parte da rua que não havia ninguém por perto, o que fez Emma se sentir à vontade para gritar ainda mais alto.
- Melinda, espera! – Emma ofegava, mas continuou correndo e logo a alcançou, segurando seu braço para ela parar de andar.
- Me solta! – Melinda gritou.
E só aí Emma percebeu que ela estava aos prantos.
- Não toque em mim!
- Melinda, por favor... Só... me escuta. – Emma tentava controlar sua respiração que ainda ofegava pela pequena corrida.
- Você está brincando comigo, Emma? Acha que eu sou idiota? Eu vi sua AMIGA rebolando em cima de você.
- Aquilo foi uma brincadeira, foi um desafio, aconteceu muito rápido. Eu não...
- Ah, por favor, é a desculpa mais idiota que eu já ouvi na minha vida. – Melinda se virou e voltou a andar com pressa, verificando seu celular.
Emma correu e parou em sua frente, fazendo Melinda parar de andar.
- Melinda... Eu... Por favor, me desculpa. Eu amo você!
Melinda não a olhou em nenhum momento enquanto Emma falava, e se desviou de seu toque quando ela tentou.
- Eu nunca, nunca faria algo que te machucasse. Não de propósito. - Emma continuou.
- Eu não sei se confio mais em você. – dessa vez Melinda a olhou nos olhos, e Emma sentiu uma pontada em seu coração que a fez suspirar.
- Melinda... – Emma limpou as lágrimas que escorriam em seu rosto e só nesse momento percebeu que estava chorando. – Por favor. Eu te amo. Me desculpa por isso. Eu nunca...
- Cala a boca! – Melinda gritou apesar de estar com a voz trêmula pelo choro. Ela hesitou por um longo momento e negou com a cabeça. – Eu te amo, Emma. Mas... isso tudo é tão difícil pra mim. - Melinda a olhava com aqueles doces olhos sofridos.
Emma suspirou, seu coração doendo e seus olhos queimando pelas lágrimas que não paravam de sair. Aquilo não era uma coisa fácil de se ouvir, apesar da declaração de amor.
- Eu sei... Me desculpa...
- Eu sou uma pessoa muito insegura, não houve um relacionamento em que eu estive que eu não fui traída e isso acabou comigo... E ver aquilo... - Melinda soluçou enquanto voltava a encarar o chão.
- Melinda, eu jamais faria isso com você... Eu te amo tanto. Você é tudo que eu quero.
Em meio aos prantos, Melinda soluçou mais uma vez e encostou a testa no peito de Emma, se encolhendo. Emma imediatamente a acolheu, a abraçando e beijando o topo de sua cabeça. Deus... Ela realmente amava aquela garota.
- Quero ir pra casa. – Melinda disse com a voz abafada. - Não quero discutir na rua.
- Ok... – Emma suspirou quando um misto de sensações se instalava em seu corpo. – Vamos pra casa, está frio.