ADRIANA
São oito da manhã...hoje será o grande dia para meus queridos amigos! Já preparei o café, porém Louise me diz que pensa que ninguém irá levantar antes das nove. Resolvemos sentar nós três e tomar nosso café.
- Bom dia meninas!- entra Bruno, dando um beijo no rosto de cada uma de nós.
- Caiu da cama?
- Tirou as palavras de minha boca Louise!- digo estranhando ele na cozinha aquela hora.
- Tô tão ansioso, que mal consegui dormir essa noite, a Clarinha fica o tempo todo me perguntando o por que de eu estar assim tão tenso...
- Quer um pouco de café? Tá fresquinho, acabei de passar- pergunto já colocando o café na xícara. E entrego em sua mão.
- Nossa tô uma pilha de nervos... pensei que com tantos anos juntos, isso seria algo natural e que eu não ficaria desse jeito.
- E a Clara, desconfia de algo?- desta vez a curiosidade foi da Jéssica.
- Aparentemente não... ela tá dormindo. Daqui a pouco tenho que subir, fazer um teatrinho, fingir que dormir além da conta...
- O que tem seu pai de não mentir, sendo um advogado... tem você que parece um ator quando quer mentir... mente muito bem- afirma Louise- Esse menino me deu trabalho, quando estava manhoso então... - todos rimos.
- Deveria então ter feito dramaturgia ou direto como seu pai- diz Jéssica.
- Quer dizer que você é um mentiroso de marca maior? Olha só eu conhecendo o seu outro lado amigo...- dou um leve tapa em seu ombro.
- Também não exagera... Meu pai sempre me disse que não se deve mentir, e que a verdade sempre vem à tona- diz ele sorrindo- Só que eu não gosto de mentir pra Clarinha...
- Você já mentiu pra ela antes? - procuro saber.
- Uma vez...
- Ah depois você vai me contar isso...
Bruno volta para o quarto após solver seu café. E eu começo a olhar o cardápio que preparei para o jantar de hoje à noite.
"Acho que vou adiantar algumas coisas... limpar os camarões por exemplo."
Às oito e quarenta e cinco vejo Louise e Jéssica entrarem na cozinha buscando o café mais fresco e levando a jarra de suco para a sala. Acho que o pessoal acordou. Louise vai servir a todos, enquanto Jéssica aproveita para ir limpar os quartos.
Fico sozinha na cozinha, eu e os camarões...tamanho GG. Aquilo quase parece uma lagosta! A sorte de se estudar gastronomia é que se prova de muita coisa que normalmente você não poderia comprar... você que eu digo, sou eu mesma.
Do nada vem em meu pensamento a noite anterior... a proximidade do lobo... o seu cheiro... seu corpo suado. " Como eu pude pensar que aquele homem gostoso, pudesse ser gay"?
- Idiota mesmo!- falo pra mim mesma.
- Quem é idiota?
Me viro rapidamente com um camarão na mão.
- Clara você ainda vai chorar muito e se arrepender por fazer essas coisas - digo olhando pra ela.
- Fazer o quê doida?
- Me matar! Tu sempre anda como um gatinho... fica testando meu coração, fica...uma hora ele pifa e você vai chorar minha morte- viro minhas costas pra ela, voltando a focar no serviço.
- Dramática você! Mas quem era que você estava chamando de idiota?
- Eu mesma.
- Por que?- ela senta na cadeira na mesa atrás de mim.
- Aconteceu uma coisa...
Louise entra trazendo as xícaras de café vazias. Ela olha pra gente, percebe que pode ter interrompido algo.
- Desculpem meninas é que estou retirando a mesa do café da manhã.
- Nada Louise - Clara olha pra mim e continua- Depois que você acabar aí, vai lá no quarto do Bruno Dri...pra você me ajudar a escolher o look do jantar de hoje.
- Ok.
Termino de limpar todo o camarão. Reservo e lavo minhas mãos com limão, pra tentar tirar o cheiro. Quando termino, aviso a Louise que vou subir pra ajudar Clara.
Bato na porta e ouço a autorização para entrar.
- Tu nem pergunta quem é?- digo adentrando.
- Eu sabia que era você sua doida. O Bruno saiu com o pai, foram fazer não sei o que na cidade. Louise está na sala limpando a louça que será usada hoje à noite. A propósito, você viu aquela louça, que linda... e os talheres de prata? Esses tais empresários devem ser muito importante mesmo- diz ela colocando dois vestidos sobre a cama- O que acha? Lembre-se que não posso fazer meu sogro e o Bruno passarem vergonha... tem que ser algo discreto, mas algo que eles digam..."Olha a nora do Dr.Eduardo que linda e elegante"- ela faz uma entonação como se fosse um homem falando e ambas sorrimos.
- Acho que você deveria usar esse rosa claro!
- Será?
- É como você disse, discreto, porém marcante com essas alças em strass...
- Tem razão! Agora escolho uma lingerie, bonita...
- Que lingerie? A parte de cima do vestido não permite sutiã... e dependendo da calcinha pode marcar no vestido...
- TÁ DOIDA ADRIANA!? Como vou pra um jantar, que meu sogro tá oferecendo pra uns empresários estrangeiros, sem calcinha?
- Uai, o vestido é longo e um pouco sereia... não vai subir com o vento... e ninguém vai perceber que você está sem... E vai ajudar bastante o Bruno depois do jantar- começo a rir e ela me joga um travesseiro.
- Maluca mesmo você... Mas me conta, o que aconteceu, que você ia me contar hoje mais cedo na cozinha?
- Ontem à noite...- dou uma pausa e faço a correção- Hoje de madrugada... eu sai pra correr...
- Sério isso Adriana?- ela sempre me chama de Adriana quando quer chamar minha atenção- Você saiu sozinha de madrugada, num local estranho, pra correr?
- Calma, tá tudo bem- fico de pé e giro nos calcanhares- viu?
- Já falei contigo milhares de vezes...
- Eu sei, mas posso terminar?
- Fala. Não vai me dizer que alguém te assaltou?
- Claro que não!
- Então o que aconteceu?
- Como eu dizia... eu saí pra correr, quando voltei, ouvi gritos, mais parecidos com gemidos. Achei que pudesse ser você e o Bruno transando... mas fiquei preocupada, porque também poderia ser alguém amordaçado pedindo socorro...
- Que imaginação... sai pra correr de madrugada num local desconhecido sem medo algum... e acha que pode ter alguém amordaçado aqui... - diz ela sorrindo e olhando seus brincos pra escolher um pra usar com o vestido.
- Era o Eduardo.. - ela se vira pra mim.
- Como?
- Ele tava treinando boxe, kick boxing ou muay thai, não sei... só sei que ele tava lá socando um saco de areia...
- O Bruno disse que ele treina Boxe- diz ela ainda concentrada nos brincos.
- Todo suado... a camiseta grudada naquele corpo maravilhoso...
- Resumindo... você ficou tarando meu sogro.
- Não.
- Então foi só isso?
- Sim. Melhor eu descer pra preparar o almoço- dou uma desculpa antes dela querer me arrancar algo eu saio. Mudei de ideia sobre contar pra Clara que quase rolou um beijo...
Assim que termino o almoço vou ao banheiro, estou super apertada e preciso fazer xixi antes de servir a todos. Vou passando pela porta do escritório...
- Adriana!
Dou dois passos atrás e volto minha atenção para dentro do escritório. Eduardo esta sentado em frente ao computador.
-Oi? Você me chamou?
- Sim - ele faz um gesto com a mão me pedindo para entrar- sente-se por favor.
Sento-me e fico observando ele, enquanto digita algo na tela.
- Eu gostaria de falar com você sobre esse fim de semana...- seu telefone toca. Ele faz um gesto com o dedo me pedindo pra aguardar um pouco.
Minha bexiga reclama. Resolvo cruzar as pernas pra ver se consigo aguentar mais um pouco... Ele levanta da cadeira e vem até mim, apanha um pequeno pedaço de papel na mesa e uma caneta. Pede para a pessoa aguardar um minuto, retira o telefone do ouvido e encosta contra o peito.
- Pode por favor anotar os dados da sua conta bancária por gentileza?- fala ele me entregando o papel e a caneta- Sim Jacob...- ele volta para a ligação.
Fico com a caneta na mão, não entendendo direito por que ele quer meus dados bancários. Ele está falando ao telefone e olhando pela janela do escritório para a piscina.
- Tudo bem Jacob, resolvemos tudo isso num jantar semana que vem...okay, um abraço- ele desliga o celular e volta para a cadeira- e então?- estende a mão pedindo o papel.
Porém eu não anotei nada. Ele vê o papel em branco e junta as sobrancelhas como se me perguntasse onde estava o que havia me pedido.
- Você tem conta bancária não tem?
- Sim. Mas pra que você quer meus dados bancários?
- Para fazer seu pagamento - ele responde vendo minha preocupação boba. Afinal ele é rico não iria me roubar o pouco que tenho na conta.
- Achei que só me pagaria na segunda ou terça...
- Quanto antes melhor...
Ele volta sua atenção para o computador quando percebe que eu estou anotando.
Eu faço o mais rápido que posso, preciso sair daqui e ir ao banheiro o quanto antes. Afinal não quero fazer xixi nas calças e dentro do escritório dele... O que ele pensaria?
Entrego o papel, levanto rapidamente e vou correndo para o banheiro. "Nossa, foi por pouco. Já imaginou...ele já pensa que sou uma criança, se faço xixi nas calças pioraria ainda mais".
Lavo minhas mãos e seco. Quando estou voltando para a cozinha ouço um pigarro quando passo pela porta do escritório...
- Você esqueceu de colocar seu nome...- ele esta encostado na porta me devolvendo o papel - existem muitas Adrianas no mundo, e não quero fazer o pagamento pra Adriana errada...
Pego novamente o papel e passo por ele na porta, apanho uma caneta sobre a mesa e anoto, devolvendo o papel pra ele e voltando para a saída. Ele olha o papel.
- Farei a transferência o mais rápido possível.
- Não tenho pressa- minto. Afinal, claro que tenho pressa, esse dinheiro é pra minha formatura.
À tarde, Clara e Bruno vão para a praia, ele resolve tirar ela de casa, pois os pais dela estão chegando pra conversar com o Eduardo. Eu passo boa parte da tarde preparando tudo para o jantar.
- Ei mocinha- ouço uma voz familiar e olho na direção.
- Dona Carmen!- ela vem me abraçar, mas só ofereço o rosto para uns beijinhos. Mostro minhas mãos sujas.
- Adriana você está cada dia mais linda! Como estão seus pais?
- Todos bem, graças a Deus. E seu Jorge?- os pais da Clara são uns amores.
- Ele tá conversando com o Eduardo. Finalmente minha Clarinha vai casar... não que eu queira me livrar de minha filha, não é isso, mas ela vai casar com o homem que a ama... isso é tão reconfortante pra mim. Desde que ela mudou pra cá por conta da faculdade, quase não a vimos e rezava pra ela achar alguém bom de coração e que a fizesse feliz.
Fomos visitar seus pais pouquíssimas vezes desde que fui morar com a Clara.
- Ela nem sonha com o pedido. Vocês vão ficar aqui também?
- Não. Estamos num hotel, viremos na hora do jantar. Assim ela vai ser realmente pega de surpresa.
- E o Carlinhos?
- Perguntando por mim meu amor?- Carlos adentra a cozinha exibindo charme pra mim e Jéssica que separa as taças.
Ele se aproxima de mim e faço como fiz com sua mãe e mostro que minhas mãos estão sujas, ele não se intimida. Me abraça por trás e deposita um beijo em meu pescoço.
- Saudade do seu cheirinho doce minha flor- diz ele me soltando.
Jéssica sorri e dona Carmen pede para ele se comportar. Ele olha pra Jéssica e estende a mão.
- Prazer, Carlos!
- Prazer Carlos, sou Jéssica!
Com dez minutos que a família da Clara sai, chegam ela e Bruno. Já são dezoito horas, começo realmente a fazer o jantar. Clara sobe para tomar banho, Bruno me avisa que vai usar o meu banheiro pra tomar banho e Clara não entende... afinal poderiam tomar banho juntos.
Sete e vinte sete, deixei tudo pronto e vou para o quarto tomar o meu banho. Faço tudo o mais rápido que posso e desço. A mesa está posta todos em seus lugares...
- Senhor Eduardo, será que esses empresários vão demorar a chegar?- pergunta Clara visivelmente ansiosa.
"Minha amiga está tao maravilhosa. Será que algum dia alguém vai me amar como o Bruno ama a Clara?"
- Creio que não...- responde ele e a campainha toca.
Olho para Clara para ver se ela está ou não usando calcinha...sorrio pensando que ela possa não estar. Os pais dela e o irmão chegam e ela se assusta.
- Papai, mamãe... que fazem aqui?
- Eu encontrei o Eduardo na cidade mais cedo e ele nos convidou pra um jantar. Estamos passeando esse fim de semana, não achei nada demais aceitar- responde seu pai.
Ela então vai cumprimentar os pais e o irmão.
Eduardo manda servir o jantar... Todos começam a comer enquanto eu dou os últimos toques na sobremesa.
- O Bruno mandou te chamar, vai ser agora- Jéssica vem me chamar.
Largo tudo e vou para a sala de jantar... todos estão terminando o jantar e eu me junto a eles na mesa. Estou vestindo um vestido leve verde, todo solto,com um cinto fino marcando a cintura. Quando me aproximo da mesa, Carlinhos faz questão de puxar a cadeira ao seu lado.
- É uma pena que esses empresários não puderam vir. Perderam as delícias que você fez Dri- diz Bruno olhando pra mim - Aproveitando todos aqui, vamos fazer um brinde- ele levanta sua taça e vejo seu nervosismo- E antes de brindarmos desejo dizer uma ótima razão para esse brinde.
Todos pegamos nossas taças.
- Amor, apesar de o jantar não sair como seu pai planejou, foi tudo ótimo - diz Clara.
- Um brinde ao amor... - ele vira-se para Clara- Ao grande amor de minha vida. Clara, esse jantar foi só um pretexto...- ele segura sua mão e coloca um dos joelhos no chão - Amor da minha vida, você quer deixar de ser minha namorada e passar a ser minha esposa? Quer casar comigo Clara Couto? - ele retira um anel de uma caixinha que retirou do bolso e aguarda a resposta de Clara.
- Oh meu Deus! É sério isso?
- Sim.
Ela começa a chorar...
" Meu Deus Clara responde o garoto". Penso ansiosa...
- Sim meu amor, claro que sim!- ele coloca o anel em seu dedo e levanta-se para beijá-la.
- Ufa, achei que ia deixar o cara com dor no joelho- comenta Carlos e eu dou um pequeno empurrão nele.
Meus olhos estão marejados. Brindamos e largo a taça, dou a volta na mesa para felicitar os agora, noivos.
Abraço fortemente a Clara e logo em seguida o Bruno. Estou muito feliz pelos dois e muito emocionada.
" Será que um dia isso acontecerá comigo?"