Peter estava inquieto em seu sofá, balançando suas pernas bem rápido como se uma corrente elétrica passasse por ele, estava nervoso. Sua namorada, uma das suas pessoas preferidas no mundo, passaria o Natal com ele, em sua casa, pela primeira vez. Ele não sabia muito bem como agir, mas além de assustado, também estava bem animado.
— Peter? — Uma voz feminina e familiar ecoa da cozinha o chamando. — Meu bem? — Ela entra na sala preocupada. — Te chamei umas três vezes e você não me responde! Você está bem?
Peter sai de seu transe e dá atenção a ela:
— Sim... Sim, desculpe May — Ele se levanta rapidamente e dá um grande suspiro. — E-eu só quero que dê tudo certo…
May dá um sorriso acolhedor e se aproxima dele devagar, para em sua frente e coloca as suas mãos no rosto do moreno e olha em seus olhos, de modo que ele não possa desviar os mesmos:
— Meu querido, por que tanta preocupação? Só vamos passar o Natal juntos, está tudo bem, vai dar tudo certo. Sei que está assim por causa do nervosismo e pelo quanto você a ama, eu também, mas é só confiar…
— Nos seus instintos — Peter completa e sorri.
May também era uma das suas pessoas preferidas no mundo, ela sempre esteve ao seu lado e o ensinou quase tudo o que sabe, ele a amava muito, ela era a melhor tia do mundo.
De repente a campainha toca.
Peter olha rapidamente para o lado em direção a porta de forma assustada e apreensiva. Era ela, o amor de sua vida. May olha para ele, sorri e afirma com a cabeça, ele faz o mesmo, respira fundo e se dirige até a porta, enquanto May vai para a cozinha terminar os preparativos.
Peter encara a maçaneta por uns segundos e engole em seco, e então a abre. E lá estava ela, de cabelos encaracolados e um sorriso tímido no rosto, mas claramente feliz em ver sua outra metade. Seu coração se aquece em segundos, ele poderia admirar aquele belo rosto para sempre.
— Oi Pete — Ela sorri.
Peter dá um sorriso bobo e acena.
— Oi MJ — Ele parece totalmente hipnotizado até que ela quebra o transe.
— Então? — Peter olha para ela com cara de desentendido. — Não vai me deixar entrar?
— Ah! — Peter sai do caminho desajeitadamente, que idiota esquece de deixar a visita entrar? Mesmo que ela seja uma bela e maravilhosa visita… Peter idiota, ele pensa.
— Então, o plano era me deixar congelar lá fora? — Ela fala em um tom sarcástico, esse que o rapaz já está mais que acostumado e não nega que adora esse jeito dela.
— A culpa é toda sua com essa beleza que me fez ficar hipnotizado na porta — Ela olha para ele com um olhar desconfiado.
— Hum… tá dizendo isso só por que quer um beijo meu?
— N-Não! Q-quer dizer, não que eu não queria mas não foi essa a…
— Tô brincando com você seu bobo! — Ela se aproxima de um jeito brincalhão e um sorriso vitorioso, coloca seus braços em volta dos ombros dele e aproxima seu rosto ao de Peter — Obrigada bobinho, você também está lindo! — Ela dá um selinho rápido e sorri, ele sorri de volta. Não podia acreditar que era sortudo o bastante para poder beijar essa boca maravilhosa sempre que quisesse.
Ela se afasta dele e olha o lugar, MJ já esteve na casa do Peter muitas vezes, mas não nessa ocasião, o Natal. Era um apartamento pequeno, mas aconchegante, e estava totalmente decorado com luzes e enfeites de natal, e claro, uma bela e enorme árvore natalina tornando tudo mais… mágico. Era brega, mas um brega lindo, estava tudo perfeito!
— O que achou? Eu e a May decoramos tudo antes de você chegar e estávamos organizando tudo muito antes, desde semana passada. Eu queria mesmo que tudo ficasse perfeito e no seu devido lugar, então eu…
Ela se vira para ele rapidamente e com um sorriso largo, o interrompendo:
— Está perfeito tudo muito perfeito, mesmo!
Peter tinha essa mania de falar muito quando estava nervoso, e ele sempre foi tão cuidadoso e preocupado... Ela mal acreditava que ele se preocupou tanto em fazer tudo isso com a May apenas para recebe-la, apenas porque ela disse um dia quando eles estavam caminhando na praça de mãos dadas, que sua família não comemorava mais o Natal a um tempo. A partir daí Peter entrou de cabeça em um plano maluco para fazer um Natal especial só para ela. Muitos podem pensar que é apenas uma noite boba, mas significava muito para a morena.
— Olha quem chegou, minha nora preferida! — May entra na sala com um sorriso largo no rosto.
— Oi May! — May se aproxima dela e a abraça bem forte.
— Puxa vida ainda bem que chegou, o Peter não parava quieto, estava louco para você chegar e mais cedo não parava de falar em você, eu que lute para aguentar isso!
— Ah jura?! — MJ responde de forma brincalhona caçoando dele.
— Ok, ok. Vocês duas vão ficar zoando com a minha cara sendo que eu estou bem aqui do lado? — Peter interrompe em questionamento.
—Sim! — MJ diz.
— É nosso trabalho! — May completa e ambas olham para ele com um olhar de "você que lute".
Peter respira fundo e levanta seus braços em forma de rendição, ele não tinha chance contra elas, aliás ele amava o quanto elas se tornaram próximas e o quanto a May tratava a MJ como alguém da família. Elas se amavam, e claro, amavam zoar com ele também, mas isso o deixava tão feliz…
Um cheiro estranho paira no ar… Algo queimado.
—OS BISCOITOS! — May sai em disparada para a cozinha totalmente desesperada. — Droga, droga eu me esqueci!
Peter e MJ se entreolham e não conseguem segurar o riso, já estavam acostumados com as atrapalhadas da May na cozinha, ela era uma boa cozinheira… Bem... ela tentava.
Ambos correm até ela para ver a situação e encontram uma May totalmente derrotada olhando para seus biscoitos queimados e pretos com tristeza, eles tossem com a fumaça saindo do forno.
— É, pois é galera... Vamos ter que sobreviver de peru e salgadinhos, não parece tão ruim, não é? — Ela olha para eles e sorri, claramente uma guerreira que não se deixa abater por uma derrota culinária. Mais uma.
Ela joga os biscoitos no lixo e Peter e MJ a ajudam a preparar a cozinha para o banquete, colocam as coisas na mesa e se servem com as bebidas, riem muito e conversam sobre tudo, e claro, zoam muito o Peter. MJ adorava estar com eles, ela sempre se sentia parte da família, era uma sensação tão gostosa!
Eles assistiram alguns filmes depois, como Clube dos Cinco, De Volta Para o Futuro e Meninas Malvadas. MJ estava no sofá nos braços de Peter e ao lado de May, e era a melhor sensação do mundo. Mesmo que ela preferia estar assistindo documentários sobre serial killers ou até mesmo Donnie Darko.
De repente May se levanta em um pulo e exclama:
— Vamos cantar um karaokê! — MJ olha assustada para Peter procurando algum sinal de que ele saiba de algo sobre isso, mas Peter parece tão surpreso quanto.
— May...? Um karaokê? — Peter questiona.
— Claro! O que seria do Natal sem o espírito da canção e familiaridade? — Ambos olham para ela com olhar de desaprovação mas a mais velha não desiste.
— Ora, vamos! — Ela puxa Peter do sofá e logo sincroniza sua TV ao youtube e procura uma música.
— May, eu não vou cantar. Eu não sei cantar!
— E acha que eu sei? Não se preocupe, é só para diversão. Você é o primeiro, e sem choro! Quer escolher uma música? Tipo aquelas daquele cantor que você gosta... Como é mesmo... Henry Stills…
— Harry Styles — Ele corrige querendo enfiar sua cabeça em um buraco e sumir.
— Isso! Coloque aquela que você estava cantando e dançando semana passada quando estava arrumando a casa, se lembra?
— Sim... — Peter diz quase se encolhendo, se dependesse de May, Peter teria morrido de vergonha a séculos, parece que toda a oportunidade que ela vê de revelar uma coisa embaraçosa sobre ele, ela faz. Ainda mais na presença da MJ. Mas não é intencional, pelo menos na maioria das vezes não.
— Então ele canta e dança Harry Styles enquanto arruma a casa? — MJ fala em um ar debochado, esse com certeza seria o material perfeito para zoar ele por uma semana, um mês... Ótimo! Peter pensa.
— Como é a música? Angel alguma coisa… — May pergunta.
— Only Angel! — MJ responde rapidamente fazendo ambos olharem para ela surpresos — O que foi? Não é como se eu escutasse muito! Só um pouco... Tá! Talvez eu goste, e daí?!
Peter e May se olham e dão de ombros, afinal a música era boa mesmo, e o cantor nem se fala.
May continua a procurar a música e coloca para tocar, ela dá o controle para Peter e se senta.
— O que? Você não vai cantar também?
— Não, primeiro você! — Ela sorri de forma maliciosa como uma vilã que acabara de colocar seu plano maligno em prática e Peter se arrepende amargamente de dizer a ela que essa música o fazia lembrar da MJ. Porcaria!
— Vamos, Pete, canta! — MJ implora com uma carinha de coitada que ele odiava porque ela raramente a fazia. Ele é quem usava essa arma contra ela, mas não era tão legal quando o feitiço ia contra o feiticeiro.
A música começa e ele não tem muita escolha, faria por ela.
Ele começa a se empolgar um pouco na canção. Realmente não era um bom cantor mas a MJ adorava todas as vezes que ele pronunciava "She's an angel, my only angel" olhando para ela com um olhar totalmente apaixonado que a fazia querer abraça-lo e nunca mais soltar, ele é a coisa mais fofa do mundo, ela jurava!
E então, ele pega ela pela mão e puxa para perto dele, a garota olhava para seus olhos castanhos e seu cabelo meio bagunçado que ela adorava, e seu jeito desajeitado... Como ela amava esse idiota.
Ele aponta o microfone, - que era o controle remoto, no caso, - para ela esperando que a namorada pegue a deixa, mas ela apenas se afasta. Peter a puxa de volta e insiste, então ela só aceita, e os dois começam a cantar juntos, e dançar e pular.
May se junta aos dois e quando menos percebem já estão pulando no sofá e caindo no chão rindo e rindo sem parar. Que sensação boa que ela não sentia a muito tempo, sensação de fazer parte de uma família.
Depois de muitos comes e bebes, brincadeiras, cantorias e zoação, chegou a hora de abrir os presentes.
— MJ, temos uma supresa para você — Peter diz e MJ olha para ele com ar de curiosidade.
— Que surpresa? — Ela pergunta.
May se aproxima por trás de Peter e coloca as mãos dela nos ombros do menino:
— Um presente, minha querida!
— Estão falando sério? Não precisava disso, mesmo!
— Precisava sim! Você faz parte da família, se lembra? — May diz e aponta para a árvore de Natal, com uma caixa de presente embaixo embalada em um papel decorado e vermelho. MJ não consegue segurar um suspiro e se aproxima dele, ela olha para trás e vê Peter e May sorrindo para ela e balançando a cabeça em afirmação, ela pega o presente e nele tem um bilhete, ela conhecia a letra, era de Peter.
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"MJ, eu sei o que vai dizer; que não era necessário esse presente, nem tudo isso. Mas era, meu coração se partiu em pedaços quando você me disse que não sentia mais o espírito natalino em muito tempo. Que não fazia mais sentido isso para você, que era bobagem. Eu precisava provar o contrário e eu pensei muito em como fazer isso, pois eu sempre amei essa festa pelo espírito familiar que há nele, e então eu percebi que você havia perdido o espírito natalino pelo mesmo motivo, ou quase. A falta de familiaridade em sua vida, a falta de se sentir amada e acolhida... Quero que você saiba que sempre terá um espaço nessa casa, comigo e May, sempre que quiser dormir aqui, sempre que tiver desentendimentos com seus pais. Sei que não é muito feliz lá, sei de todos os choros e suspiros no quarto, quando você chora baixinho a noite para não acordar ninguém pensando na situação da sua família, isso me dói. Você merece mais, e eu farei mais por você, farei tudo por você, tudo para te ver sorrir de novo, para reacender essa esperança no seu coração. Você faz parte da nossa família e não é muito grande, mas ela é sua e vai muito além de sangue biológico; é amor. É isso o que uma família é. Eu amo você! Feliz Natal :)"
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MJ se encontrava em lágrimas e suspiros pesados, ela sempre tentava se manter firme e durona, tentava suprimir seus sentimentos, aguentar tudo sozinha, mas nesse momento, não tinha como.
Ela se vira para eles, olha diretamente para os olhos de Peter, corre até ele e o abraça como nunca, como quem teria medo dele se escorrer pelos seus dedos. Peter retribui e passa sua mão pelas costas dela de forma aconchegante.
MJ se afasta um pouco e olha para ele, o garoto idiota que ela amava desde o primeiro ano, que nunca achou que fosse a notar, mas notou, e fez um plano idiota pra conquistar ela, e conquistou, que quebra todas as barreiras e muralhas que ela constrói pra se afastar apenas com um sorriso nesse rosto idiota, e isso não é tão ruim, é bom. É um alívio, ela não tem que se esconder mais, não tem que fingir mais, ela sabe... ela sabe… Ela ama tanto esse idota que mal pode respirar.
Ela beija ele de uma forma totalmente apaixonada, e ambos desejam morar naquele beijo para sempre, eles se afastam totalmente ofegantes e MJ não acredita no quão sortuda é por tê-lo.
Deposita vários e vários beijos em seu rosto, Peter sorri como um bobo e se sente como se fosse leve como uma nuvem, a morena para e encosta sua testa na dele.
— Eu te amo seu idota, obrigada por tudo! — Ela diz com uma voz ofegante e fraca de choro.
— Não precisa agradecer, isso é tudo o que você merece, feliz natal MJ! — Peter responde enxugando as lágrimas do rosto dela com delicadeza.
May se aproxima deles e os abraça, formando um enorme abraço triplo.
MJ nunca se sentiu tão acolhida. Então isso era ter uma família ela pensou, o verdadeiro presente não era esse livro de suspense super bem elaborado cheio de plot twists e uma narrativa cativante sobre assassinatos em série que ela queria a meses e vivia falando dele para Peter, mas sim, eram eles. Ela reconhece que eles são um presente em sua vida; pessoas
incríveis e extraordinárias e ela só desejava que cada um no mundo tivesse alguém assim também, uma família de verdade. E MJ nunca mais queria perder isso, nunca mais.