Teen Mermaids

Von _EuVitoria_

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Pertencente a dois mundos, Lydia, Rebeka e Luce precisam encontrar suas verdadeiras identidades. Seus c... Mehr

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Festa na praia
Pulando na água
Salva vidas
Uma nova sereia
Cardume
Uma dança
Sentimentos expostos
Doce chamado
Emboscada
Carta reveladora
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Doador anônimo
O plano
Executando o plano
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capitulo especial - Morgana
Enfrentando tubarões
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Von _EuVitoria_

Seus pensamentos estavam barulhentos, enquanto seus pés lhe conduziam em um ritmo constante. Estava em torno de meia hora atrasada, o que não podia ser visto de uma forma muito boa em seu primeiro dia de aula. Lydia simplesmente não queria estar ali, tendo de encarar uma turma nova de adolescentes provavelmente cruéis. Chegar atrasada também não lhe facilitaria muito as coisas, tinha a absoluta certeza de que chamaria a atenção de todos os novos colegas.

Parou quando identificou o número da sala que lhe fora passado, deu duas batidinhas leves na porta, inspirando profundamente para tomar coragem. Quem abriu, tinha uma expressão bem ranzinza e lhe lançou um olhar diabólico por ter interrompido sua aula. Era uma senhora de aparentemente uns quarenta e poucos anos, judiada pelo tempo.

- Pois não?

- Sou a aluna nova. - disse baixinho, pois sua timidez havia assumido as rédeas.

Nunca fora ousada demais, no entanto não fazia o tipo de garota que se calava e levava desaforo para casa, agia de igual para igual e não abaixava suas armaduras em hipótese alguma.

- Está atrasada, senhorita Paker. - falou em tom de repreensão, como se a garota não estivesse envergonhada o suficiente. - Não vá querer ter problemas comigo no seu primeiro dia.

- Desculpe. - pediu educadamente, mesmo sua vontade sendo falar poucas e boas para aquela mulher que não tinha nenhum pingo de gentileza. - Posso entrar?

- Somente dessa vez. - alertou, rude.

A professora escancarou a porta lhe dando passagem, atraindo ainda mais os olhares. Logo em seguida voltou para frente da lousa e deixou a garota sozinha, parada feito estátua enquanto era examinada dos pés a cabeça por diferentes alunos do segundo ano. Consciente de que era avaliada por todos, Lydia também olhou em volta, fitando cada rosto com a mesma intensidade que eles lhe fitavam e um sorriso contente se alargou em seus lábios finos ao reconhecer dois rostos: Luce e Rebeka. A sensação de paz que teve ao olhar para elas, fora imediata. Mas suas amigas não traziam faces serenas, estavam com expressões distantes e preocupadas, como se estivessem em um lugar bem distante daquela aula.

Com boa quantidade de gente lhe olhando, ela caminhou lentamente até a classe de trás da de Luce, sorrindo ao passar por ela, que lhe devolveu ao gesto um pouco sem vontade. Pareceu nervosa ao lhe ver.

Após se sentar, foi como se todo o peso do mundo tivesse sido retirado de cima de suas costas, pois os alunos tornaram a voltar suas atenções para a aula que lhes era dada.

Como um incrível presente dos deuses, as horas passaram voando e o sino soou indicando que os adolescentes estavam livres para o intervalo.

- Vamos comer juntas? - alguém surgiu do seu lado quando ela estava arrumando suas coisas para sair da sala, era Rebeka, que pela primeira vez no dia lançava para outra alguma palavra. - Eu e Luce, hum... Precisamos conversar com você.

- Tudo bem. - concordou e a garota não perdeu tempo, logo grudando seu braço aos das duas outras jovens e guiando-as em meio a muitos adolescentes agitados que transitavam pelo corredor, rumo a cantina. - O que querem falar?

- Aconteceu algo de estranho com você? - perguntou baixinho e Lydia notou a nota nervosa em sua voz, percebendo a estranheza daquele assunto. Ela negou com a cabeça, ainda sem entender muito bem ao que exatamente a pergunta se referia.

- Não acho uma boa ideia falarmos sobre isso agora, Beka. - Avisou Luce, em uma voz muito fraca e baixa. A garota parecia um pouco pálida.

- Tudo bem. - Lydia parou de andar e olhou com seriedade para as jovens que trocavam olhares cúmplices. - Qual das duas vai me explicar o que está acontecendo?

Luce e Rebeka olharam-se novamente, parecendo estarem em uma disputa se deveriam ou não falar, aumentando a curiosidade da outra os lábios delas se moviam lentamente sem emitir som algum, em uma conversa muda. Depois do que pareceu uma eternidade, Rebeka pousou a mão no ombro de Lydia, tranquilizando-a e perguntou:

- Pode nos encontrar na praia depois da última aula?

Ela fitou a garota nos olhos e percebeu como os mesmos estavam atônitos e até mesmo desesperados. Se elas estavam lhe dizendo que não era assunto para aquele momento, então confiaria e esperaria algumas horas para desvendar aquela segredo. Assim que concordou, as três marcaram um ponto de encontro e começaram a caminhar novamente, entrando na cantina dentro de alguns segundos.

O lugar estava um alvoroço, havia muitos grupos diferentes em mesas separadas. As conversas circulavam altas e agitadas pelo local aonde as refeições eram feitas. Lydia adentrou no recinto com uma amiga em cada lado, enquanto se conduzia para a fila aonde compraria seu lanche, olhou todos ao seu redor, tentando conhecer alguns dos rostos que veria diariamente. Nesse seu pequeno "tur" seu olhar se encontrou com duas pupilas azuis. E o dono daqueles olhos fascinantes também ficou lhe encarando com certa intensidade. Lydia paralisou, era o garoto no qual ela havia derramado bebida propositalmente.

Tudo pareceu girar em câmera lenta enquanto ela o observava, o garoto atraia muitos olhares juntamente com seu grupo de amigos populares que vestiam casacos colegiais idênticos, os particularizando como os jogadores do time de Lacrosse.

Por mais que odiasse, Lydia teve que admitir de que ele era incrivelmente bonito. Sorrindo espontaneamente o garoto afundou a mão em seus cabelos, os bagunçando um pouco. Ele a encarou de volta e um brilho de reconhecimento passou pelos olhos do rapaz, fazendo um sorriso torto abrir-se em seus lábios avermelhados. Provavelmente deveria estar achando que ela era mais uma daquelas estudantes emocionadas com o seu charme. Esse pensamento fez com que a jovem desviasse rapidamente seu olhar, irritada consigo mesma por tê-lo encarado por tanto tempo.

- Vou querer uma torta de chocolate com morango, por favor. - pediu gentilmente para a funcionária, na sua vez de fazer o pedido.

A mulher assentiu, preparando seu pedido enquanto ela própria pegava o dinheiro em sua mochila. Enquanto pegava e pagava pela torta, sentia o olhar do garoto gato em suas costas, mas não ousou tornar a encara-lo.

Quando Luce e Rebeka também foram atendidas, as três sentaram-se e comeram conversando aleatoriamente. Ambas as duas faziam perguntas para a novata de como era sua antiga vida em outra cidade, as quais ela respondia com nostalgia. Estavam bem entretidas quando ouviram o som alto de algo caindo no chão e se quebrando, chamando por completo suas atenções para o centro da cantina, aonde dois jovens nerds estavam sendo intimidados pelos garotos populares, entre eles, lá estava os olhos azuis.

Os garotos tremiam amedrontados, seus pratos haviam caído com o esbarrão que levaram e o chão estava coberto de comida. Enquanto isso os valentões gargalhavam e se divertiam as custas deles dois, como muitos dos outros alunos. O sangue de Lydia ferveu com a falta de humanidade daqueles garotos e de todos que os idolatravam. Rebeka de fato tinha a mesma opinião do que a sua, pois ergueu-se furiosamente, empurrando a cadeira para trás.

- Você deveria se envergonhar, James. - ela falou para o líder do grupo e Lydia finalmente descobriu como ele se chamava. - Deixe eles em paz.

- Como quiser, amor. - James continuou rindo com seus amigos, inabalável. - Bom rapazes, ouviram a moça, vamos nessa.

Como em um jogo de "siga o mestre" todos os garotos populares seguiram James para fora da cantina, por onde eles passavam, cabeças se viravam para admira-los. O restante dos alunos não ficaram ali por muito mais tempo, foram todos saindo com seus amigos, comentando sobre o ocorrido como se fosse a melhor coisa dos seus dia a dia.

Quando o local ficou praticamente vazio, Lydia, Luce e Rebeka foram ajudar os pobres coitados que haviam sido humilhados. Os garotos e as meninas limparam toda a bagunça, terminando rapidamente. E então os nerd agradeceram timidamente, e sumiram de vista, provavelmente querendo sumir da escola também.

As meninas por suas vezes, abandonaram a cantina discutindo o quanto James Alves era um babaca. Lydia lhes contou o ocorrido da festa, quando o mesmo havia lhe virado bebida e ela havia devolvido ao favor. Aquilo só fez com que a raiva que as amigas sentiam por ele, multiplicasse.

As meninas lhe apresentaram a escola. Próxima da quadra aonde tinha alguns garotos jogando futebol, a jovem jogou seu cabelo para o lado e no segundo seguinte recebeu um baque forte que levou seu corpo ao chão. Tudo ficou embaçado enquanto com a mão na cabeça latejante ela via surgir uma sombra correndo em sua direção. Ouvia as vozes preocupadas de Rebeka e Luce, mas fora uma mão masculina que se estendeu em sua frente e logo a figura desconhecida foi tomando foco. Ela levantou o olhar para ver quem era o dono da mão e encontrou ninguém mais ninguém menos do que o garoto mais bonito da escola.

- Desculpe. - pediu James com uma expressão real de preocupação, era impressionante como ele era bonito de todos os ângulos. - Você está bem?

Irritada por ouvir as risadas dos amigos dele ao fundo, Lydia se esforçou para ser capaz de se erguer sozinha e não ferir o seu orgulho. Um pouco tonta conseguiu se manter em pé sem a ajuda do garoto, mas logo em seguida teve que se apoiar em Luce para não cair.

- Está se sentindo bem? - sua amiga perguntou, lhe dando apoio e olhando para ela atentamente, procurando algum sinal que denunciasse o contrário.

- Estou bem. - mentiu, lançando para James um olhar de puro ódio. Em sua cabeça havia sido proposital e ela só não reagia ao "ataque" porque na verdade, tudo estava rodando e saindo de foco sem parar.

- Não acha que deveríamos levá-la a enfermaria? - Rebeka perguntou para Luce, ignorando a opinião de Lydia como se a mesma fosse uma criança que não soubesse cuidar de si própria.

- Eu já disse que estou bem. - retrucou a outra, soando mais grosseira do que pretendia. Com isso ninguém teve tempo de argumentar, pois o sinal tocou mandando os alunos se recolherem para suas respectivas aulas. Logo o agito de falaria e mil corpos tentando passar pelo mesmo lugar, ao mesmo tempo, retornou.

Sem nenhuma paciência Lydia se enfiou no meio da multidão, querendo fugir de suas amigas preocupadas e não ir até a enfermaria. Mesmo sabendo que provavelmente precisava, já que havia ficado tonta desde a hora que levantou e sentirá também uma dor infernal na cabeça. Enquanto ela percorria por entre os outros adolescentes, nenhum deles parecerá perceber que a mesma não estava em condições de andar sozinha. Ela teve de parar e se encostar em uma parede pois sentiu seu mundo rodar e sua visão começou a ficar turva. Arrependida, tentou reconhecer algum rosto, mas ninguém ali lhe parecia familiar, porém sua visão embaçada podia estar lhe confundindo.

Quando percebeu que estava ficando para trás e que o corredor estava se esvaziando, tentou seguir andando mas foi pega de surpresa quando tudo ficou ainda mais escuro e ela tonteou ainda mais. Sabia que ia desmaiar, mas só o fez após sentir mãos masculinas pegando sua cintura e tirando seus pés do chão.

Seus olhos tornaram a se abrir algum tempo depois, Lydia se encontrou deitada sobre uma maca e ao se ver em um lugar inteiramente branco deduziu que só poderia estar no hospital local. Com a mão na cabeça que doía, ela tentou se levantar, mas uma pessoa que nem sequer percebeu estar presente, correu e lhe fez deitar-se novamente.

- Acho melhor não fazer muitos esforços até o remédio fazer efeito, querida, não vai querer despertar dor alguma.

A garota suspirou fundo sentindo sua cabeça latejar quando tornou a deitar. A enfermeira vestia um jaleco todo branco e havia se sentado em uma cadeira de rodinhas, bem próxima da maca na qual a jovem havia sido posta.

- Aqui. - a enfermeira aparentemente gentil, se esticou e estendeu para a menina um pequeno saco de gelo. - Coloque aonde dói.

Lydia fez o que lhe fora pedido, fazendo uma careta quando a pele entrou em contato com o gelo, a cada leve movimento, uma dor desconfortável lhe atingia.

- Vou avisar o seu namorado que você já acordou. - Janaína, era esse o nome que trazia em seu crachá, um sorriso emoldurava seus lábios.

- Eu não tenho um namorado. - contou-lhe, confusa, seu cenho enrugado.

- Oh, me perdoe. - pediu, sorrindo sem graça por seu erro. - Mas qualquer um que os vissem como eu os vi, diriam que são um casal. - brincou e abandonou o quarto com uma piscadela. Poucos segundos depois a porta se abriu novamente e quem passou por ela foi a pessoa que Lydia menos esperava ver.

- O que faz aqui? - perguntou rude, tornando a se sentar, tentando disfarçar a dor que se apoderou de sua cabeça.

- Eu trouxe você. - confessou James, se aproximando mais da maca, a garota viu algo brilhar em seus olhos verdes, talvez culpa. - Como está se sentindo?

- Não finja que se importa! - rosnou o mais irritada possível. - Acha que eu não sei que fez de propósito?

O garoto encarou seus sapatos, com as mãos enfiadas pela metade no bolso, parecia refletir sobre algo e quando ergueu sua cabeça novamente, disse calmo:

- Não foi por querer. Acredite, se eu quisesse machucar você, seria bem menos piedoso. - seus olhos pousaram-se na mão dela que ainda segurava o gelo. - Quer ajuda? - indicou ao que se referia com a cabeça.

- Eu quero que saia daqui. - falou com a raiva queimando em seu peito. Quem aquele playboizinho pensava que era para falar com ela daquele jeito?

- Eu. Já. Disse. Que. Não. Foi. Por. Querer. - repetiu palavra por palavra pausadamente, seu tom já se assumia irritado.

- Sai daqui imediatamente ou eu vou jogar isso em você. - ameaçou a garota com seu rosto já vermelho de raiva, a mão erguida apontando o saco de gelo em sua direção.

James cruzou seus braços e abriu seus lábios em um enorme sorriso. Um sorriso lindo de dentes incrivelmente brancos e alinhados, tão perfeito que deixou a garota um pouco desconcertada.

- Você não seria tão maluca a esse ponto. - desafiou, olhando para ela com divertimento.

Lydia mordeu seu lábio inferior para conter um riso, se ele achava que ela não era maluca estava muito enganado, pois se tinha uma coisa que Lydia Paker era, essa coisa era maluca, surtada, extremamente impulsiva. Cumprindo sua promessa a garota jogou o que trazia em suas mãos na direção dele, tomou o cuidado de mirar errado pois sua intenção não era feri-lo, apenas convence-lo de que ela o faria se fosse preciso.

- Você é maluca! - gritou James com os olhos um pouco arregalados após ver o gelo que havia batido na parede e caído no chão.

- Jura? - questionou fazendo beicinho com a mão pousada sobre o peito, isso irritou o popular ao extremo. O mesmo lhe fuzilou e saiu do quarto batendo a porta. A moça encarou a porta por segundos e então um sorriso se encurvou em seus lábios.

Luce não havia digerido muito bem aquela história. Para ela, sereias eram mitos ou conto de fadas. Somente a lembrança da cauda que havia surgido durante seu banho, lhe apavorou. A praia estava silenciosa, no havia muitas pessoas por ali já que ventava um pouco. A jovem avistou as rochas presas na areia e se encaminhou para lá. Ela e suas novas amigas haviam marcado o ponto de encontro ali, já que era a parte menos frequentada.

Seus sapatos estavam presos em sua mão e o vento balanceava seus cabelos para os lados. Luce suspirou encarando o mar agitado, se perguntando o que diabos havia acontecido naquela noite de lua cheia, era para ter sido apenas uma festa mas ela havia ganho uma cauda de brinde.

Como era possível em um dia você ser apenas um a humana e no outro ver a si mesma como uma sereia? Haviam muitas perguntas das quais ela ansiava impaciente pelas respostas. Inclusive o fato de Lydia entre todas ser a que mais tarde revelou a cauda, ou até mesmo o questionamento se ela possuía uma...

Tentou deixar o seu medo de lado, pois precisava saber o que havia de errado com o seu corpo. Determinada se sentou na areia, encostando suas costas em uma das rochas e esperando pelas outras meninas. Lydia iria assim que saísse do hospital, Rebeka havia ido busca-la para se certificar de que ninguém desconfiaria de nada.

Luce encarou as ondas, sempre gostará de vê-las. Aquele lugar lhe trazia paz e ela sempre se sentirá de alguma forma conectada com o mar, mas naquele momento ao olhar para ele, sentia preocupação. Tudo estava lhe provocando muitas emoções diferentes. Era uma sereia e não sabia como lidar ou acreditar naquilo, só podia seguir em frente e achar uma explicação para a magia existente em seu corpo.

- O que Rebeka disse é verdade? - ouviu a voz de Lydia e se virou imediatamente, encarando a expressão de pavor no rosto da outra. - Por favor, me diga que ela é louca.

- Eu também queria que fosse. - soltou um riso baixo e sem vontade, deixando que aquelas simples palavras falassem por si só, mesmo que os olhos de sua amiga suplicassem para ela não dizer o que estava dizendo.

Lydia fitou-a por segundos, como se a garota também estivesse maluca. Não acreditaria em suas palavras, então decidiu comprovar ela própria. Correu em direção ao mar com seus cabelos crespos voando a suas costas. A água que tocou sua pele era fria, gelada, quase cortante. Encarou suas pernas e as enxergou apenas por mais alguns breves segundos, pois logo as viu serem rodeadas por uma luz branca, que trouxe consigo a tão temida cauda alaranjada. A jovem perdeu o controle de seu corpo e tombou para a frente, afundado sua face na água. Por sorte estava na superfície e seu corpo não fora completamente engolido.

Lydia arregalou seus olhos, ainda mais apavorada do que antes. Suas mãos começaram a tatear a cauda, aquilo tudo era simplesmente mágico e ela mal podia acreditar. Seu coração estava batendo tão rápido que ela podia jurar que ele ia explodir. Nervosa se arrastou até a beira da praia, aonde suas amigas lhe esperavam com diversas emoções registradas em suas faces. O primeiro pensamento que percorreu sua imaginação fora de que estava completamente maluca, mas como poderiam as três verem a mesma coisa? Não tinha outra explicação, realmente haviam ganhado caudas.

Todas estavam em silêncio, nitidamente confusas e amedrontadas. Aquilo estava ficando ainda mais embaraçoso, como se estivessem sendo sugadas para dentro de uma areia movediça.

- Co-como isso aconteceu? - Lydia foi a primeira a ousar falar, sua voz saiu trêmula. E ela tentava responder pelo menos uma das muitas perguntas que vagavam por sua cabeça.

- Não sabemos. - Luce deu de ombros, parecia pacífica mas as outras sabiam que estava tão apavorada quanto elas. - Achamos que tem algo a ver com a luz que nos cercou. Você se lembra?

Havia se esquecido da luz. De início havia pensado estar vendo coisas, embora não tivesse bebido uma mísera gota de álcool, mas havia passado por tantas coisas durante aquela noite que aquele ocorrido se perdeu em sua mente. Porém quando Luce tocou no assunto, não foi tão difícil lembrar.

- Sim. - respondeu tão baixo que sua voz saiu quase inaudível.

- O que faremos? - A voz de Rebeka soou demonstrando nervosismo e desespero. - Temos que descobrir alguma coisa.

Lydia ouviu Luce respirar profundamente e supôs que a garota fazia isso para acalmar seus nervos, a mesma voltou seus olhos para a cauda da amiga e disse de prontidão:

- Temos que manter isso em segredo. Até termos certeza do que aconteceu conosco e do como faremos para voltar ao normal.

Lydia ainda observava seu próprio corpo com dificuldades para manter a sanidade, por alguma razão indecifrável se sentia completa com aquela cauda, como se sempre a tivesse possuído.

- Deveríamos testa-las. - falou Rebeka abruptamente, um pouco mais  eufórica do que o normal. - Saber como funciona.

Entendendo o que a garota queria dizer, Luce assentiu e inspirando fundo adentrou no mar, juntamente com a outra. Segundos depois de terem estado em contato com a água, suas pernas logo foram substituídas por caudas e as garotas tombaram como Lydia havia feito anteriormente.

Quando ergueram suas cabeças, as três se olharam e apesar da estranheza do momento, gargalharam instantaneamente, encantadas com a magia que as envolvia. Quando suas risadas foram murchando, as meninas se encararam e compartilharam da mesma vontade. Com certa dificuldade nadaram uma para perto da outra, parando lado a lado e só então afundando seus corpos meio humanos na água gelada, querendo conhecer mais e mais de suas novas habilidades.

Era como se tivessem algum tipo de ligação com o mar, pois assim que abandonaram a superfície, suas caudas ficaram leves e facilmente manipuláveis, elas tinham total controle da situação e nadavam como se fizessem aquilo a anos. Enquanto desfrutavam do momento, davam uma observada nas profundezas das águas de sua praia local, era límpida e bem convidativa.

Luce olhava por sobre seus ombros o mover de sua cauda alaranjada, fascinada com a beleza dela. Movia-a calmamente, testando seus limites. Rebeka por sua vez, fora muito mais além, nadando em alta velocidade e voltando para junto das amigas em um piscar de olhos. Estava agitada e empolgada, entre todas era a que mais parecia atraída pela ideia de realmente ser um ser místico. Lydia também parecia observar a si própria, quando ela viu que sua amiga lhe encarava. Ergueu as duas mãos em frente ao peito e as balançou em um cumprimento, sorrindo. Seus cabelos flutuavam ao redor de seu corpo, indo para frente e para trás de acordo com seus movimentos.

Todas as três nadaram para perto uma da outra novamente, parando a alguns palmos de se tocarem. Luce ergueu seus olhos olhando para a superfície, dando lhes o recado de que deveriam voltar para cima. No momento em que seus rostos cortaram a água, o sol banhou suas peles molhadas e Rebeka olhou para Luce, dizendo com um riso prendido:

- Você sabe que sereias podem falar de baixo da água, né?

- Eu sei. - ela revirou levemente seus olhos. - Mas isso nos mitos e lendas, Rebeka. Não sabemos ao certo como as coisas são na... Realidade.

"Realidade" era estranho usar aquela palavra para descrever a situação na qual se encontravam, já que tudo parecia ser fantasia. Elas formavam um pequeno ciclo e suas caudas estranhamente adquiridas, se estendiam com graça a suas costas.

- Acho que devemos ir. - Luce sugeriu, ela era a garota mais responsável e inteligente entre as três, desde o ocorrido, estava ditando as regras. - Até obtermos respostas, temos que ser discretas.

A um aceno de concordância das demais, elas viraram seus corpos e partiram para a beirada da praia, aonde haviam abandonado seus sapatos e a mochila que Rebeka havia trazido, contendo três toalhas. Arrastaram suas caudas molhadas para cima da areia, Rebeka como estava mais na ponta, fez um esforço se esticando e pegando seus pertences.

- Droga! - resmungou assim que encarou o interior da mochila. - Eu só trouxe duas toalhas. Teremos que revezar.

Ela lançou uma para Lydia, deixando Luce na fila de espera. Enquanto as amigas secavam suas caudas molhadas, a garota percebeu o quanto tudo aquilo era bizarro e somente ali teve o tão esperado choque de realidade. Atingida em cheio com mil emoções diferentes, encarou sua cauda com certo medo, aflita por não ter explicações ou saber como prosseguir com aquilo tudo. Um pavor muito previsível lhe preencheu o peito enquanto seus olhos eram enchidos por lágrimas. Estava apavorada, o que aquela cauda dizia sobre ela? O que a tornava? Provavelmente uma aberração anormal.

Ainda se secando, Lydia ergueu seus olhos e observou a outra, percebeu de imediato que algo estava errado e não se tardou a perguntar:

- Você está bem?

- É óbvio que não! - explodiu de uma só vez, não era nada pessoal, parecia na verdade, estar em seu inferno particular. - Eu tenho uma cauda, UMA CAUDA! Você percebeu o quanto tudo isso é apavorante?

Ela seguiu disparando frases rápidas demais, tentando acompanhar seus pensamentos que estavam em total desordem. Gritou palavras que soaram embaraçosas em meio ao seu ataque histérico. Suas amigas ouviram tudo, compreendendo perfeitamente sua reação, mas em certo ponto daquele desabafo, trocaram olhares significativos uma com a outra. Quando ia perguntar qual era o problema delas, sentiu algo queimar sua pele e soltou um gemido de dor, calando imediatamente seus gritos afobados. Suas pernas humanas estavam de volta, Luce viu quando as últimas gotas ferveram até secarem por completo. Suas mãos estavam apoiadas sobre suas cochas e ela teve certeza absoluta de que foram as mesmas que lhe trouxeram de volta ao normal, sem a ajuda da toalha. Boquiaberta ergueu seu olhar novamente, se deparando com as mesmas expressão nas faces das outras garotas, provavelmente pensando a mesma coisa que ela.

- Temos poderes! - disseram em uníssono.

Mais uma bizarrice para acrescentar a sua lista que não parava de crescer, Luce ergueu suas palmas e avaliou a mesma como se examinasse algo de grande valor. Apesar de seu cérebro estar quase completamente frito com todas as novas informações, uma ideia brotou na cabeça da garota, ela se ergueu e caminhou até as outras sereias que ainda tinham certa dificuldade para secar seus corpos. Caminhou lentamente até Lydia, suas pernas ainda trêmulas. Suas mãos seguiam o mesmo ritmo... Nervosa, se ajoelhou próxima da amiga e fechou seus olhos, suas palmas foram estendidas a poucos centímetros acima da cauda da outra.

Ignorando todas as emoções e duvidas que se formavam cada vez mais em seu coração, Luce fechou seus olhos e se concentrou profundamente. Vislumbrando exatamente o que queria. Sentiu quando seus novos dons evaporaram com a água presente na cauda da garota, era óbvio que ela não seria apenas uma sereia, também tinha que possuir os poderes de uma... Santo Deus, aquilo estava se complicando cada vez mais, tornando-se ainda mais difícil de digerir.

- Isso é... - Rebeka iniciou uma fala, sua voz carregada de animação.

- Inacreditável. - Lydia completou murmurando. 

- Eu ia dizer impressionante, mas inacreditável também serve. - brincou a outra, rindo. Luce por sua vez, se concentrou em contar até dez, inspirar e expirar, era a única forma de não surtar com sua nova realidade.

- Será que você poderia... - Rebeka atrapalhou sua terapia e encarou sua própria cauda, sugestivamente.

Ela olhou para a garota impaciente por ter tido seu pequeno surto interrompido. Percebendo que não teria outra escolha se não lidar com tudo aquilo, ergueu-se e foi até a única que ainda possuía a forma de uma sereia, fazendo a mesma sequência que desaparecerá com a cauda de Lydia. Todas finalmente estavam de volta, ambas encantadas com a demonstração de poder que seus corpos possuíam. Rebeka com a ajuda de Luce ficou em pé, seus olhos brilhavam. Elas estavam em um misto de choque e encantamento.

- Precisamos manter tudo isso...- Luce apontou de uma para a outra, deixando claro ao que se referia. - Entre nós. - engoliu em seco, engolindo seus próprios desesperos. - E seja o que aconteceu naquela noite... - sua mão caiu para a frente, no centro de seus corpos. - Iremos descobrir, juntas.

Lydia e Rebeka se olharam e depois voltaram a encarar a terceira moça, com sorrisos abertos.

- Juntas. - desceram suas mãos sobre a dela e disseram em uníssono enquanto as erguiam novamente. E ali, debaixo de um sol radiante, três adolescentes humanas registraram o início de uma busca avassaladora por suas verdadeiras identidades.

Um pouco mais tarde no mesmo dia, Luce estava para atravessar a rua, rumo a sua casa bonita e acolhedora. Fazia o máximo de esforço para agir normalmente depois de tantos acontecimentos mágicos, mas sua ficha de que algo sobrenatural havia acontecido naquela noite, havia caído e tudo o que lhe importava era descobrir a verdade sobre si mesma e de seu lado sereia.

Quando colocou seus pés no asfalto quente, um grupo de motoqueiros sem limites passou feito foguete. Um deles venho bem em sua direção, o rapaz tentou parar sua moto, mas não foi rápido o suficiente, tudo o que conseguiu, fora reduzir sua velocidade.

O seu grupo não se importou, estavam eufóricos demais para pararem por um "simples" obstáculo. A garota por sua vez, tombou ao chão com a batida, logo sentindo uma fisgada de dor. Que o cara sobre a moto estava dirigindo de forma imprudente e irresponsável, era um fato. Aliás, ele estava claramente apostando uma corrida com seus companheiros. Ciente dessa realidade, Luce elaborou um discurso mental para expressar sua raiva por ter sido atropelada por uma moto, porém quando o capacete se ergueu em câmera lenta, ela logo reconheceu os olhos castanhos do garoto por quem sempre fora apaixonada. Luca Drummond. Já estava corada quando o rapaz mais que depressa desceu da moto, fazendo a volta e parando ajoelhado em seu lado, os olhos arregalados de preocupação. Sua mão ergueu a cabeça dela pela nuca, seus olhos brilharam em reconhecimento ao pousar em seu rosto.

- Você está bem? - sua face trazia culpa e a jovem se chocou com o fato de que ele era ainda mais bonito olhando de perto. Seus cabelos negros caíam sobre seus olhos, seus lábios rosados estavam espremidos, demonstrando o quanto estava tenso.

- Es... - Ia dizer que estava, mas foi interrompida por uma careta no exato momento em que sentiu uma dor desconfortável em seu tornozelo direito. - Estou. - completou, sorrindo forçado.

- Vamos ao médico. - ele falou decidido, nada convencido por sua resposta. Seu tom de voz era atencioso e o mesmo fez menção de pegá-la no colo.

- Não, não... - se contraiu, afastando-se dos braços do rapaz. - Não precisa, eu estou bem. - tornou a sorrir, constrangida com toda atenção que pela primeira vez, ele lhe dedicava. - Mesmo.

- Você precisa ver se não se machucou. - lhe disse com uma voz firme, indo claramente erguer seu corpo que parecia tão pequeno diante de seu físico forte.

Sua mão ainda mantinha o corpo dela meio erguido, pela nuca. E a outra tocou sua pele procurando por ferimentos, seu toque quente despertou arrepios em Luce e por um momento ela fechou seus olhos e se deixou desfrutar daquela sensação. Quando tornou a abrir suas pálpebras, encontrou os olhos castanhos mais lindo lhe encarando. Corou violentamente, se perguntando se ele havia se dado conta do quanto seu toque havia lhe sido prazeroso.

- Eu estou bem. - disse novamente, seus lábios mal se moveram.

Luca lhe encarava como se não fosse parar de olha-la nunca mais. Ficaram congelados, centrados apenas em examinar um a face do outro. Em uma posição bem... Intrigante.

- Luca? - uma voz feminina surgiu, interrompendo o momento clichê.

Ambos olharam para a garota loura que vestia uma blusa cigana rosa, e uma calça jeans branca, um salto baixo que combinava com a parte de cima e uma bolsa provavelmente muito cara, que seguia a mesma ordem da moda combinando. Sua expressão não era nada amigável, a forma que encarou a jovem caída era feroz, um olhar assassino quando perguntou para seu namorado: - O que estão fazendo?

Luce engoliu em seco e desviou o olhar, enquanto o rapaz se explicava:

- Eu bati com a moto nela. Vou levá-la ao hospital para checar se está tudo bem.

- Não precisa. Eu estou bem. - garantiu baixinho, não querendo criar problemas.

- Não, não está. - Luca tornou a lhe olhar e ela tornou a corar, ele parecia tão carinhoso e atencioso, não era possível que namorasse a garota mais fútil da escola.

Betty acompanhava os movimentos do namorado com fúria no olhar, odiando o fato do mesmo estar sendo tão gentil com aquela "esquisita."

- Ela disse que está bem, Luca. - fez questão de se intrometer, querendo desesperadamente quebrar a notória conexão que parecia surgir entre aqueles dois.

- Eu não vou deixa-la aqui sozinha, Betty. - o tom calmo sumiu da voz do rapaz, quando o mesmo se virou para sua namorada. - Fui eu quem fez isso, é minha responsabilidade.

A loura suspirou, fazendo seus curtos cabelos balançarem um pouco. Seus braços finos se cruzam em uma birra irritante.

- A culpa não foi sua, amor, essa garota aí que não olha antes de atravessar a rua.

Impaciente e de saco cheio com as atitudes da patricinha, Luca iniciou uma pequena discussão. Desconfortável em se ver no meio daquela situação, Luce aproveitou que o mesmo havia se distraído para se erguer de fininho. Assim que se ergueu sem ser notada, arriscou dar dois passos curtos e seu tornozelo protestou, mas teimosa e orgulhosa como era, não voltaria atrás nem que lhe pagassem. Toda vez que tocava o pé no chão, tinha a sensação de pisar em vidros, por tanto caminhou mancando, com o pé levemente erguido. A suas costas, a discussão de casal se estendia por um período indeterminado.

- Vá embora, Betty, conversamos depois. - ouviu a voz de Luca dispensar a garota. A testa do mesmo estava franzida com intolerância e sua mão enrugava boa parte da mesma

Manhosa ela saiu pisando duro, a quilômetros de distância alguém ouviria suas reclamações. Pois a mesma disparava "isso não vai ficar assim, Luca" ou "Você só me magoa" enquanto se afastava, parecia uma criança tendo um desejo negado.

- Luce... - ele chamou por seu nome, não precisando correr muito para alcançar seus curtos passos. Seu nome soava como uma melodia nos lábios do rapaz, era pronunciado de forma doce e aquilo alimentou a esperança que a jovem nutria desde o ensino fundamental.

Antes que a garota pudesse se afastar, ele envolveu sua cintura com seu braço forte de incontáveis músculos muito bem trabalhados. Sustentando-o corpo dela e lhe dando apoio. A jovem negou sua ajuda e tentou se afastar, porém além de mais alto, Luca também era mais forte.

Todo o sangue de seu corpo parecia ter ido parar em suas bochechas, de tão vermelhas que as mesmas haviam ficado enquanto Luce se deixava ser guiada por seu amor platônico, rumo a sua casa.

- Tem certeza que não quer ir ao hospital? - seu tom ainda soava muito atencioso enquanto uma de suas mãos cercava a cintura da menina e a outra segurava levemente seus dedos, mandando ondas elétricas por todo seu corpo.

Luce negou com a cabeça e quando teve certeza de que não colocaria muita emoção em sua voz, disse educadamente:

- Tenho certeza, eu estou bem.

Por conta de seu tornozelo deslocado, eles levaram quase uma meia hora para atravessar a rua e finalmente chegar a casa de Luce, que bateu levemente na mesma, querendo chamar a atenção de sua amada mãe. Quando Agatha surgiu na porta, possuía um olhar assassino, porém quando se deparou com o estado da filha, sua postura tornou-se a de uma mãe muito preocupada.

- O que aconteceu com você? - perguntou apavorada, nem se dando ao trabalho de cumprimentar o rapaz.

- Eu bati com a moto nela. - Luca contou, todo sem graça, lançando um olhar de "eu sinto muito" para ela.

- VOCÊ O QUE? - a mulher gritou, não se importando com a timidez do outro ou os olhares envergonhados de apelo que sua filha lhe mandava, implorando por cautela.

- Foi um acidente, mãe. Luca não teve culpa. - a voz de sua filha finalmente deixou os lábios da mesma fazendo-a olhar imediatamente para a garota. Agatha lhe faz uma careta de incredulidade e espanto, mas gritos que provavelmente estavam deixando Luca em uma situação bem embaraçosa continuaram.

- Como ele não teve culpa? Se não sabe ter controle de uma moto, que não suba em cima de uma! - ela falava para sua menina, mas a indireta era bem direta para o motoqueiro.

- Senhora, se quiser eu posso levá-la ao hospital... - mais uma vez o rapaz se ofereceu, não parecendo ofendido com os surtos e as acusações da mulher, soando muito culpado e educado.

- Senhora está lá no céu, meu filho. - rosnou ficando ainda mais irritada, não era uma mulher de formalidades, sempre muito moderna. Sua mãos afastaram os corpos adolescentes, com uma ela puxava Luce para dentro e com a outra enxotava Luca. - Não vai levar minha filha a lugar nenhum. Vá, vá. De o fora daqui.

- Mãe! - a jovem repreendeu, louca de vergonha enquanto era puxada porta a dentro.

Luca permaneceu parado com cara de tacho, a menina lhe olhava com constrangimento e ele pode apenas sorrir para ela que devolveu ao sorriso, segundos antes da porta se fechar. Uma vez que estavam sozinhas, a garota fuzilou sua mãe com o olhar e pela primeira vez soou como qualquer adolescente fazendo uma rebeldia.

- Eu não acredito que fez isso! - gritou e saiu mancando rumo ao seu quarto, botando a cabeça na porta e tornando a gritar: - Você me fez passar a maior vergonha! - e então fechou a abertura com um baque.

☀️

- Está pensando em Riley? - Rebeka surgiu do nada no jardim, parando ao lado de sua prima que quase deu um pulo ao ser surpreendida por sua voz.

- Claro que não. - respondeu se recuperando do susto, sorriu de forma triste, como se estivesse perdida em pensamentos dolorosos.

- Achei que as coisas estavam "legais" entre vocês dois. - comentou, percebendo a negatividade que cercava a outra.

- Não existe nós dois, Beka. - ela preencheu  um pequeno silêncio com um suspiro frustrado. - Acha mesmo que Riley se interessaria por uma garota como eu? Todo mundo sabe que ele merece mais.

- Acho que ele não merece você, e não o contrário. - esclareceu com sinceridade, centrando seus olhos sérios em sua prima por breves segundos. - Mas se realmente gosta dele, esqueça os rótulos e apenas arrisque. Não vai saber se não tentar.

Clark encarou sua prima, de sobrancelhas franzidas. Surpresa com o conselho amoroso que a mesma havia lhe dado, já que ela era cem por cento curtição e zero romance.

Alguns segundos depois um um volvo prata encostou no meio fio de sua casa, era exatamente quem as jovens esperavam. O vidro da janela desceu, revelando o rosto muito bonito de Ana, a mãe fotógrafa e muito bem sucedida de Rebeka. Quando sua filha lhe ligou naquela manhã, dizendo que precisava de um celular novo pois o seu estava "danificado", ela não fez perguntas ou surtou, apenas disse com tranquilidade que poderiam ir comprar outro ainda naquela tarde, pois tinha um espaço aberto em sua agenda.

A mulher tinha uma beleza elegante, era um pouco rígida e distante de sua filha. Seu trabalho lhe exigia muito e ela escolherá focar em sua carreira, deixando que Rebeka morasse com seus tios para que ela tivesse uma vida estabelecida, coisa que com suas viagens de trabalho, ela própria não poderia oferecer.

Ana ergueu os óculos de sol que caiam sobre seus olhos e sorriu ao ver as meninas, nitidamente feliz. Rebeka respirou fundo e mordeu o interior de suas bochechas. Seu relacionamento com sua mãe era complicado, não aceitava que a mesma não tivesse tempo para ela e ainda lhe cobrasse sobre seu futuro, princípios e ideais. A fotógrafa lhe dava tudo do bom e do melhor mas faltava algo crucial: amor, carinho, compreensão e presença. Se Ana pelo menos fosse um pouquinho mais presente...

- Oi, mãe. - cumprimentou entrando no carro e batendo a porta logo em seguida. Sem muito ânimo na voz.

- Que mau humor é esse, filhinha? - questionou a mulher olhando para a outra com falsos olhos arregalados, se divertindo.

- Eu já estou acostumada, tia. - Clark brincou assim que entrou no veículo. Debruçando-se sobre os bancos para deixar um beijo estalado na bochecha da motorista.

- Coisa que não teria como você está, já que não costuma aparecer muito. Né, mamãe? - Rebeka falou cortando as brincadeiras e fazendo sua mãe lhe olhar. A menina trazia um sorriso sem humor nos lábios e um olhar provocativo, juntamente com uma de suas sobrancelhas arqueada. O clima pesou, no banco do carona Clark percebeu que era um assunto frágil e particular, se acomodando melhor em seu lugar, deixando que ambas tivessem um pouco mais de privacidade. Mesmo não sendo possível.

- Não seja indelicada, filha. - Ana a repreendeu severamente, seu olhar completamente centrado na estrada. - Vamos apenas ter uma tarde agradável, tudo bem? Você pode fazer isso?

- Como você quiser. - Rebeka resmungou encostando sua cabeça na janela, seu desgosto era evidente.

Algumas horas depois, encontravam-se em uma lanchonete. Aguardando o garçom voltar com seu pedidos. O novo aparelho de Rebeka havia sido comprado e ela estava satisfeita com a escolha que fizera.

Com os braços apoiados sobre a mesa, Ana olhava de forma curiosa para as garotas como se esperasse algo delas. Ela se ajeitou melhor, fazendo uma posição de alguém interessado em algo, limpou sua garganta e iniciou uma conversa:

- Então... Como está a escola?

- Difícil. - Clark riu, falando a verdade que muitos adolescentes queriam poder sair gritando aos quatros cantos. O ensino médio destruía muitos psicológicos.

- Isso que ela é uma das mais inteligentes da escola. - provocou Rebeka, arrancando uma gargalhada de sua mãe e uma revirada de olhos modesta da outra jovem.

Um garoto bonito se aproximou, carregando uma bandeja em suas mãos. Ele trazia um sorriso simpático para os clientes e foi somente nisso que Rebeka reparou antes de ter um copo inteiro de água com gás derramado sobre seu corpo e roupas.

- Meu Deus, moça. Me desculpe... - o garçom dizia sem parar, enquanto ela mais do que imediatamente erguia seu corpo, arrastando a cadeira para trás.

- Tudo bem. Está tudo bem. - gritou sobre os ombros, já saindo aos tropeços para fora do estabelecimento aberto, procurando esconder sua nova natureza dos olhos humanos. Com o coração a mil por hora e a adrenalina ativada com sucesso, ela avistou a porta do banheiro feminino. Tentou o mais apressadamente jogar seu corpo para dentro da mesma, implorando para que o local estivesse vazio.

Fechou a porta rapidamente e isso fora a deixa para que suas pernas brilhassem e sumissem. Deixando no lugar uma cauda laranja e incrivelmente grande.

- Aí está você. - murmurou para aquilo que lhe classificava como uma sereia, logo em seguida suspirando e se perguntando como sairia daquela situação. Ainda não conseguia acreditar que havia virado um "peixe".

- Ei, você está bem? - a voz do garçom surgiu do outro lado da porta, enquanto ele dava batidas sutis na mesma. - Eu sinto muito.

Ao ouvi-lo, Rebeka deu um pulo e disse em estado de alerta:

- Não se preocupe. Estou bem. - arrastou a cauda peso pesado com certa dificuldade, colocando ela para impedir que a porta fosse empurrada. - Só não entre, por favor.

- Tudo bem. Se precisar, me chame. - concordou o rapaz, com uma voz paciente. E só então Rebeka teve o alívio de ouvir os passos dele se afastando. Voltando a prestar sua atenção desesperada no problema no qual se encontrava.

Suas mãos suavam frio enquanto ela rodeava seus olhos pelo ambiente, procurando qualquer pano que pudesse lhe ajudar a voltar ao normal, as gotas que haviam sido derramadas sobre seu corpo, haviam feito um "estrago" e tanto. Quando não encontrou nada eficiente, uma lembrança salvadora brilhou em sua mente, ela quase podia imaginar a lâmpada de ideias flutuando sobre sua cabeça.

Sem escolhas, fechou seus olhos e ergueu suas mãos, lembrando dos movimentos que Luce usará quando descobriram que tinham poderes e que podiam facilmente secarem suas caudas, simplesmente fervendo a água que nelas continha. Tentou da melhor forma, porém na prática não parecia ser tão fácil quanto vendo outra pessoa fazer.

Já estava perdendo a paciência. Sua mão continuava erguida a mais de minutos e nenhum resultado tranquilizador surgia. Logo alguma de suas familiares viria checar se ela estava bem, e aí, as coisas realmente se complicariam.

Depois do que se pareceu uma eternidade, algo parecia mudar, sentia a mudança em seu corpo. Por tanto, satisfeita abriu seus olhos, já esboçando um sorriso.

- Fala sério! - esbravejou chocada, quando se deparou com sua cauda congelada, completamente tomada pelo gelo e dura feito pedra.

Deu um pulo quando se assustou por batidas na porta e a voz de sua mãe pronunciando seu nome com certa impaciência. O desespero lhe envolveu como um cobertor, não que seu corpo estivesse aquecido pois ele estava literalmente congelado.

  - O-Oi, mãe. - gaguejou tentando soar normal, porém era evidente que não havia nada de normal na situação.

   - O que você está fazendo? Está a meia hora aí dentro, nem tocou no seu lanche ainda. - sua voz soava impaciente, em poucos segundos provavelmente ela tentaria entrar no cômodo.

   - Só mais três minutinhos, mãe. -  pediu, respirando fundo para não gritar de desespero.

     - Não temos três minutos, Rebeka! Surgiu um imprevisto, precisamos ir agora. - sua voz aumentou um pouco, tornando-se autoritária, típica da dona Ana...

    A sereia estava assustada, a adrenalina do momento correndo em suas veias, mas mesmo com isso ela conseguiu sentir raiva da mãe. E o motivo era o mesmo de sempre:

   - Imprevisto? Você não tirou nem três horas do seu tempo para passar comigo! Nunca fica por muito tempo, aparece uma vez no mês e quando vem tem que ir correndo? Pois vá! Eu não me importo.

   Sua cabeça estava explodindo, e quando Rebeka voltou sua atenção para a cauda, percebeu que a mesma não estava mais lá. Com sua raiva, ela conseguiu controlar a água e a ferveu. Sorriu.

   Encolheu suas pernas trêmulas e impulsionou seu corpo para ficar em pé. Logo em seguida respirou fundo, aliviada por ter finalmente tomado o controle da situação.  Respirou fundo para tentar controlar seus nervos e não deixar suspeitas do que realmente havia acontecido dentro daquele banheiro. Após isso, abriu a porta com determinação e passou brava por sua mãe, nem sequer olhando na cara da mesma. Podia ouvir o barulho dos pés da mulher se movendo a suas costas. Não pretendia espera-la, mas alguém adentrou em seu caminho, lhe fazendo parar imediatamente.

   - Ei... - o garçom que havia lhe causado problemas parou com um sorriso sem graça nos lábios, o pano de prato jogado sobre seus ombros e um bandeja pendente em suas mãos. - Me desculpe por aquele... Incidente.

  Ela sorriu e pensou em uma boa resposta, pois se falasse o que desfilava por sua mente, seria algo indelicado do tipo: com essa carinha aí, pode derrubar o mundo sobre mim. O cara realmente havia chamado sua atenção, não era lindo de morrer nem nada parecido, mas tinha uma beleza única, rara.

    - Tudo bem. - garantiu segundos depois, o vendo também lhe avaliar com certa curiosidade. - Esse tipo de coisas acontecem.

  Ele riu, e balançou a cabeça, mordendo o lábio inferior. Ambos se encaram por mais alguns segundos, em silêncio. Até que alguém finalmente interrompeu:

   - Precisamos ir, Rebeka. - Era Ana, com sua tão habitual voz rígida.

   - Tá. - a garota murmurou, sem virar seu rosto para a mãe. Ainda o encarando como se estivesse hipnotizada.

   - Então vamos. - sentiu seu braço ser apertado por dedos impacientes.

   - Tchau. - murmurou para o rapaz, seus olhos fixos nos dele enquanto era arrastada para fora do estabelecimento

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