Nas Mãos do Diabo [1] O Maest...

Von atimewritting

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[CONCLUÍDA, Jikook] Livro 1 da Saga Nas Mãos do Diabo. Há algo errado ocorrendo no Inferno. As gárgulas não r... Mehr

Aviso Infernal
Aviso de Sobrevivência Infernal
Prólogo: o Limbo.
|01| Saia da fila do Inferno
|02| Saiba Como Morreu
|03| Conheça o Diabo
|04| Seja Mal Pela Primeira Vez
|05| Tente negociar com a ira
|06| Receba a ajuda de quem não quer
|07| Estranhe o Diabo
|08| Dance com ele
|09| Fuja do Circo Infernal
[10] Não morra em silêncio
[11] Deixe que ele o toque
|12| Vá para o Hotel Mortal
|13| Divida o quarto com Jungkook
|14| Sobreviva ao Hotel Mortal
|15| Descubra o erro da redenção
|666| A última pista: O X E L F E R
|16| Não olhe para os reflexos
Interlúdio: O Jogo.
|01| Veja através de outros olhos
|02| Comece a mentir de verdade
|04| Corra
[05] Dê prazer para ele
|06| Veja seu pior pesadelo
|07| Conte sua história: Horácio
|08| Conheça o Diabo: Adiv
|09| Deseje o Diabo: Devon
|10| Não chore por ele: Eliel
|11| Roube a memória dele e fuja: Samandriel
|12| Veja ele trocá-lo lentamente
|13| Faça-o olhar somente para você
|14| Entre na Sala Proibida
|15| As revelações: Eles
|15| As revelações: O veneno
|15| As revelações: Nêmesis
|16| O Apocalipse: Tânatos
|16| O Apocalipse: Khaos
|16| O Apocalipse: O Espelho
Epílogo - Nem tudo foi o que pareceu ser
ESPECIAL DE NATAL - !leoN iapaP o etaM
NAS MÃOS DO DIABO: ¿2?
O LIVRO FÍSICO DE NAS MÃOS DO DIABO
ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO - Como poderia ter sido: Parte 1.
ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO - Uma longa escada: Parte 2.
ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO - Um Hotel inusitado: Parte 3.
ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO - Fim: Parte 4.
NAS MÃOS DO DIABO [3]: APOCALIPSE
O Maestro está no Kindle e, temporariamente, DE GRAÇA!

[03] Pule de um precipício

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Von atimewritting

— Senhor Jimin?

Pisquei lentamente, resmungando ao ouvir meu nome.

— Senhor Jimin...? — a voz fininha voltou a falar.

Abri um olho rapidamente, desconfiado, e prendi a respiração ao ver o rosto de Rubel bem próximo ao meu.

— Arg! — arfei afastando-me subitamente com o susto.

— Finalmente você acordou — ele sorriu voando ao meu redor.

Vestia um terninho verde, sapatos lustrosos amarelos e uma peruca vermelha, contudo, o mais impressionante em seu visual eram seus olhos que não estavam mais pretos e horripilantes, mas sim azulados e escurecidos. Parecia que estava usando lentes de contato, o que era quase impossível de se obter em local como o Inferno.

— E aí? Gostou do meu look? — piscou os olhos rapidamente com um sorriso pomposo nos lábios, orgulhoso de seu visual horrível. — Acho que deve ter percebido que meus olhos... — e então aproximou-se mais uma vez para ter certeza de que, sim, eu estava vendo seus grandes olhos azulados. —... Comprei na loja do Cosmo, aquele troglodita.

Quantas lojas Cosmo tem, afinal?

Forcei um sorriso concordante e sentei em seguida, bocejando um suspiro sonolento antes de levantar e olhar ao redor, finalmente percebendo que Jungkook não estava em lugar algum do quarto. Antes que eu abrisse a boca para perguntar, Rubel estalou os dedos em uma tentativa de chamar minha atenção e só começou a explicar quando murmurei um "prossiga" baixinho em sua direção.

— Jungkook solicita sua presença no Salão de café-da-manhã — bradou com um grito de anunciante de convidados de festas da realeza, com a mão no peito e os olhinhos brilhantes. — Além disso, preciso de sua assinatura nesse convite deselegante para a Feirinha de Infernovera que ocorrerá hoje à tarde no Cemitério dos Perdidos, por favor — explicou, mostrando sua pequena prancheta onde o convite estava escrito com letras garranchadas.

Parecia que uma criança de cinco anos havia o confeccionado com giz de cera e... Barro.

— Fui eu mesmo quem o fez — sorriu mostrando os dentinhos afiados.

Hesitante, peguei sua prancheta e li "Convite Deselegante para Monstros e Demoniozinhos Deselegantes para a Feirinha de Infernovera patrocinado por Cosmo, o interesseiro que todos odeiam, e pelo Senhor Mino, que na verdade não está contribuindo com nada além de sua incrível e espetacular presença, e sua grande boca, no evento. Teremos como prato principal todos os monstros que não sobreviveram ao surto mais recente do Senhor Lorde Mino Buttowski, além das guloseimas de Ruda e dos salgadinhos de dedos de Rubel, nosso querido, lindo e mais inteligente auxiliar de filas infernais já existente".

— Mas que convite grande... — comentei com as sobrancelhas arqueadas e os lábios frisados em aperreio.

— Isso é porque você ainda não olhou o verso — respondeu animado, tirando um pequeno pente do bolso para começar a pentear sua peruca claramente falsa.

Confuso, virei a folha e arregalei os olhos ao ver um texto extenso e quase ilegível, tanto pela caligrafia, quanto pelo tamanho minúsculo das palavras. Bem no final da folha havia "e tudo isso graças à Jungkook, nosso querido e mais belo Rei do Inferno, dono de uma beleza extraordinária e atraente, o mais poderoso diabo, o todo poderoso, o Lorde, o aclamado pela mídia infernal, o...."

— Tudo bem, acho que já li o suficiente — murmurei revirando os olhos, aceitei sua caneta feita de ossos e assinei o documento com pressa.

— Tenha pressa em se arrumar, humano. Estou com fome — fez uma careta, massageando sua barriga saliente contida por um cinto de couro de Dragão.

— Eu terei — respondi calmamente, seguindo em direção ao banheiro. — Eu só preciso me olhar no espelho antes.

Assim que fechei a porta do banheiro, suspirei e caminhei em direção ao pequeno espelho grudado na parede velha de tijolos escuros. O cômodo estava iluminado parcialmente por velas estratégicas, mas ainda sim consegui ver meus cabelos tomando o antigo tom de preto lentamente, assim como meus olhos ficando acinzentados com apenas duas singelas piscadas.

Era difícil manter minha forma "Jimin angelical" por bastante tempo, ainda mais enquanto Jungkook fazia-me dormir todos os dias em seu quarto.

— Como você pôde se assustar com uma gárgula tão idiota quanto Rubel? — indaguei ao meu reflexo, furioso. — Como vai conseguir provar que não é mais aquele Demoniozinho patético que Jungkook resgatou no Primeiro Circulo Infernal?

Enfiei a mão no bolso de meu pijama e peguei meu baralho de cartas, dispondo-as todas em cima de uma pequena prateleira ao lado da pia. Havia demorado bastante tempo para consegui-las e eram a coisa mais importante de minha vida miserável.

— Você tem um plano, Jimin... — murmurei para meu reflexo, enxugando uma pequena lágrima travessa de sangue que começava a escorrer por minha bochecha. — ...Você só precisa se concentrar... — forcei um sorriso, observando meus cabelos voltarem ao tom de loiro monótono, assim como meus olhos voltando a ficar castanhos. —... E roubar o máximo de memórias possíveis.

Sufoquei um soluço e fechei os olhos com força, coçando meu pescoço em uma tentativa de aliviar toda a minha frustração. Oh, ficar parcialmente adormecido não havia me feito bem algum.

— Esse é o seu poder — sussurrei abrindo os olhos novamente e vendo meu reflexo sorrindo para mim. — Roubar memórias e torná-las suas.

Então olhei para minhas cartas, pressionando o dedo na que continha o desenho de um homem ajoelhado diante de uma porta, de mão juntas em súplica enquanto chorava a alma para fora. A carta de Jungkook... A carta que o fez esquecer-se de mim.

Torcia para que Morfus não tivesse falhado com a outra missão que o havia incumbido.

[...]

Assim que Rubel abriu as grandes portas do Salão de Café-da-Manhã, fui surpreendido por duas gárgulas-mordomo retirando meu sobretudo sem aviso prévio, mais duas oferecendo-me chá de olhos de Hidra — o que recusei sem hesitar — e mais duas oferecendo-me auxilio para chegar até minha cadeira que, concidentemente, era ao lado da de Jungkook.

— Tudo bem, posso chegar até lá sozinho — cortei incisivo, observando-as afastarem-se cabisbaixas.

A mesa estava cheia e todos olhavam para mim. Havia Dragões sentados nas primeiras cadeiras, vestidos nos ternos mais espalhafatosos possíveis, seguidos por Íncubos e Hidras malvestidos do mesmo modo colorido e imbecil. Suspirei assim que vi Morfus sentado duas cadeiras antes da minha, ele bebia seu chá calmamente e me fitava de longe. Eu sabia que estava animado ao me ver, eu era seu mestre.

— Jimin! — a voz de Jungkook retumbou pelo salão como um eco de animação.

Ao olhar mais para frente, vi-o levantar-se calmamente batendo sua bengala em minha direção. Vestia um terno vermelho de veludo, o que combinava com seus olhos, e sapatos roxos brilhantes, o que realçava seus cabelos. Seu par de chifres estava escondido no topete que havia feito, mas ainda era possível ver as pontinhas sobressaindo.

— Mas que presença desagradável — comentou sorrindo e mostrando suas presas salientes. — Quase que você chega no final de nosso descafé-da-manhã.

— Eu tentei apressá-lo, mas o humano passou um tempão no banheiro, não foi nada deselegante, mestre! — Rubel estufou o peito, já com uma xícara de chá em mãos e um pãozinho estranho no canto da boca.

Prendi a respiração quando Jungkook agarrou minha mão e puxou-me para perto dele, abraçando-me com avidez. Enfiou o rosto na curva de meu pescoço e fungou baixinho, soltando um suspiro antes de comentar:

— Você está cheiroso.

Suspirei ao ouvir sua voz rouca soando gostosa em meu ouvido, quase sucumbindo a uma onda gelada que percorreu minha espinha assim que percebi a facilidade que tinha para me ter daquele jeito.

Entregue.

— Eu usei seu shampoo de morango — revelei baixinho, incapaz de não fechar os olhos e aproveitar o calor exalante de seu corpo, então também o elogiei: — Você também está cheiroso.

Ainda hesitante, envolvi seu corpo em um abraço e fiquei na ponta dos pés para apoiar meu queixo em seu ombro e olhar alarmado para Morfus, que fez um sinal de "legal" e moveu a os lábios em um "prossiga" silencioso.

— Ganhei um sabonete de baba de Gárgula hoje pela manhã e decidi usar — afastou-se e deu de ombros com um sorriso convencido nos lábios. — Está com fome?

Como se você se preocupasse comigo.

— Estou — concordei baixinho, deixando-o guiar-me pela mão até a cadeira ao lado da sua.

— Por que pararam? — perguntou para todos os monstros que ainda nos olhavam quando sentamos. — Continuem a comilança!

— Achei que ele não fosse falar isso nunca! — um Dragão comentou terminando de lamber uma tigela de mingau que, de acordo com os comentários de Rubel quando estávamos à caminho do salão, era feito da farinha torrada das unhas dos lagartos do Segundo Círculo Infernal.

Segundo ele, elas eram raras e deliciosas. Eu lembrava do gosto daquele mingau como se estivesse na ponta de minha língua. Havia passado muito tempo, mas ainda sim conseguia lembrar dos tempos de adolescência em que vivia me arrastando pelas ruas banhadas de lava no Primeiro Círculo, implorando por qualquer alimento.

Baixei o rosto momentaneamente ao relembrar de todos os "nãos" que recebi e de toda a fome que senti. Não eram boas lembranças.

— Também achei, agora só vive cheirando esse humano... — um Íncubo concordou levemente, olhando-me desconfiado.

Jungkook inclinou-se em meu ouvido e sussurrou:

— Eles gostam de você.

— Estou percebendo — concordei mexendo em meu mingau com descontentamento. Um Dragão espetou um pedaço de pão enquanto fitava-me intensamente com um rosnado e uma careta raivosa. — Gostam demais...

Assim que o Café-da-Manhã de Adoração teve fim, todos os monstros levantaram de uma vez só e começaram a tagarelar bem alto sobre o quanto estavam empolgados para a Feirinha de Infernovera. Alguns aproximaram-se de jungkook e começaram a elogiá-lo como idiotas, distraindo-o o suficiente para eu me afastar sorrateiro em direção a Morfus que me aguardava bem próximo às grandes portas do salão.

— Trouxe o que te pedi naquele tempo?

Estava referindo-me ao veneno da Serpente de Mil cabeças que havia ordenado que conseguisse. Uma única gota era letal até para o demônio mais forte do mundo, o que por coincidência era justamente o caso, mas havia um pequeno porém: tal serpente só era encontrada nos confins do Primeiro Circulo infernal, já muito próximo dos grandes portões da Divisória Entre Mundos e conseguir um pouco de seu veneno era quase uma missão suicida.

Para minha desfelicidade, tinha Morfus comendo na palma de minhas mãos.

— Claro — murmurou entregando-me um pequeno frasquinho sutilmente. — Mas eu não sei se irá fun...

— Ótimo! — rosnei animado, mal podendo esperar para utilizá-lo.

— Mas senhor...

— Cale-se, Morfus! — ordenei entredentes. — Me encontre na Feirinha e tente não estragar tudo, seu imprestável!

Observei com deleite quando seus olhos brilharam em admiração.

— Estarei lá.

— É bom que esteja.

Por sorte, voltei para perto de Jungkook assim que os monstros que o cercavam começaram a dispersar, sorrindo meu sorriso mais cínico disfarçado pela animação que seria vê-lo engasgar diante de sua própria morte.

Ah, como eu estava animado!

[...]

— Como eu odeio esse túnel! — Kai exclamou flutuando com uma expressão de desgosto ao lado de Jungkook. — Sério.

Carregava Dong Han dormindo em seus braços.

— Nós já sabemos disso — Zen comentou enquanto caminhava na nossa frente apenas na ponta dos saltos fininhos. — Você faz questão de afirmar isso todas as vezes que escolhemos esse trajeto.

— Mas é porque ele é muito escuro e fedorento... — Kai fez uma careta, resmungando uma exclamação enojada.

— Ei, não reclame da minha escolha de decoração! — Mino gritou.

Havia retornado para sua forma demoníaca e estava sentado na cabeça de Wonho, segurando duas mechas de seu cabelo como apoio.

— Não sei por que deixei ele decorar logo essa parte de meu Castelo... — Jungkook negou baixinho, cobrindo o rosto com uma das mãos num desapontamento fingido enquanto a outra continuou enfiada no bolso esquerdo de seu sobretudo. — Ah, lembrei... — descobriu o rosto e revirou os olhos.

— Eu quero, eu consigo — Mino gargalhou, batendo os pezinhos animadamente.

— Ei, para com essa porra aí em cima! — Wonho deu um soco na parede enlodada do túnel e quase fez um buraco com o tanto de força que usou. — Ai! — soltou um muxoxo assim que Mino puxou seu cabelo e comemorou ao arrancar alguns fios.

— Vai mais rápido, seu maldito! Temos que ser os primeiros a chegar no fim da colina!

Fim da colina?

Aquilo tudo era novo para mim. Nunca havia visto aquele túnel em toda minha existência... e aquilo já estava me deixando irritado. Arg! Era tão frustrante não saber o que estava acontecendo, muito menos onde.

Antes de desaparecer, nunca havia participado de uma Feira de Infernovera, muito menos caminhado por um túnel escuro em direção da pequena porta de madeira preta que já podia enxergar na distância em que estávamos. Por segundos, perguntei-me com frustração o que mais não conhecia naquele lugar.

— Não se preocupe, quando chegar a hora de pularmos, te colocarei em meus braços.

— Pularmos? — perguntei engolindo em seco, fitando seu sorriso de canto com os olhos arregalados.

Pular?... Para onde?

— Você não sabia, bobinho? — Jennie questionou mais afrente, sendo a primeira a alcançar a porta. — Para chegar no Cemitério dos Perdidos...

Abriu a porta, revelando o céu vermelho, as nuvens sangrentas e.... mais nada. Havíamos chegado no final da colina, o que acabou revelando o pico de um grande precipício tão, mas tão alto, que era quase impossível de se olhar seu final. Tudo mais parecia um breu onde o chão, as pedras e as árvores haviam sido engolidas por toda a imensidão avermelhada do Inferno.

—.... É preciso morrer — completou com um sorrisinho travesso.

— Literalmente, claro — Kai explicou.

— O quê? — indaguei num fio de voz, olhando assustado para Jungkook.

— Como você achava que chegaríamos no Cemitério? — Zen questionou debochada. — De trem?

— Bem... — engoli em seco, sentindo minhas bochechas esquentando de vergonha. — Sim...?

Durante certo tempo, todos ficaram em silêncio, apenas olhando-me com as sobrancelhas erguidas, contudo, logo caíram em uma onda estrondosa de risadas espalhafatosas. Mino quase caiu da cabeça de Wonho quando arqueou as costas e jogou o peso de sua grande barriguinha para cima de si mesmo, porém seu amante foi mais rápido e o apanhou com ambas as mãos antes que tal desastre acontecesse.

Infelizmente.

Olhei para Jungkook – que limpava uma lágrima de sangue no canto do olho e tentava conter sua risada, mas falhava miseravelmente – e fiz uma careta de indignação. Ele parou de rir quase imediatamente.

— Pessoal, pessoal... — tossiu tentando disfarçar seu risinho. — Vamos parar... Vamos parar agora!

— Você é tão burrinho, Jimin! — Mino gargalhou, batendo palminhas já no ombro de Wonho. — O Trem Intrainfernal só oferece transporte para os círculos, não para locais dentro deles. Não é um bonde maldito, por exemplo.

— E por que não vamos de bondinho? — perguntei rápido, encarando-o.

— Porque demoraria séculos e ainda precisaríamos morrer, de qualquer forma — Kai respondeu.

— Está na cara, você não percebe? — Wonho deu um soco na porta, quebrando-a ao meio.

— Para de bater nas coisas! — Mino beliscou sua orelha.

— Ai! Mino, eu juro para você que...

Wonho tentou capturá-lo com as mãos, porém ele foi mais esperto e adentrou nas roupas de seu amante antes que conseguisse alcançá-lo. Wonho arregalou os olhos e observou o montinho locomovendo-se rapidamente por baixo de sua blusa e soltou um grito raivoso, dando socos em si mesmo para tentar acertar pelo menos um em seu parceiro endiabrado. Os outros pecados começaram a gritar e aplaudir, já apostando quem desistiria e começaria a chorar primeiro dos dois.

Enquanto toda a confusão acontecia, Jungkook puxou-me para perto dele e sussurrou contra meu ouvido:

— Essa é a melhor maneira — então explicou: — Só há um modo de entrarmos no Cemitério dos Perdidos, meu Jimin.

— Eu não vou pular ali — gaguejei baixando a cabeça, estava nervoso e indignado.

Eu não queria morrer!

— Vamos juntos, que tal? — perguntou baixinho, justando nossos dedos em um aperto firme. — Basta fechar os olhos e...

Agarrou minha mão e juntou nossos corpos com um puxão brusco, então sorriu um sorriso sacana, envolveu minha cintura com ambos os braços e me suspendeu do chão. No começo, não percebi a verdadeira intenção por trás de seus atos e daquele olhar brilhante em minha direção, mas assim que começou a caminhar, atravessando os pecados observadores, até a porta, comecei a tentar me desvencilhar de seu aperto.

— Não, não, não... — minha voz começou a elevar. — O que você está fazendo?

Ele riu, parando apenas no limite entre a porta e o mais imenso nada do precipício.

— Não consegue fechar os olhos? — arqueou uma sobrancelha, desafiador.

Fiz uma careta.

— Consigo, mas...

— Então feche-os agora.

E pulou.

Comecei a gritar a plenos pulmões, envolvendo seu pescoço com meus braços e seu quadril com minhas pernas. O vento ricocheteava em meu corpo e produzia ruídos em meus ouvidos, transformando meus gritos desesperados em meros assobios.

— Jimin...? Jimin, o que está fazendo? — questionou alto quando comecei a escalar por seu corpo até estar sentado em seus ombros, quase enforcando-o entre minhas pernas cruzadas. — Jimin!

— Você é loooooouco! — gritei e agarrei seu par de chifres em uma busca descontrolada por apoio.

Naquele momento, quem começou a se debater foi ele, gritando para que eu descesse e agarrasse sua mão, mas eu não faria aquilo nem à pau!

— Foi você quem pediu por isso! — avisei-o entredentes.

Olhei para trás e assustei-me ao ver que os demais pecados estavam seguindo-nos com animação. Jennie dava piruetas ao lado de Zen, que apenas rodava seu vestido vermelho pelo ar, Dong Han havia acordado e caía bocejando nos braços de Kai, que tinha um sorriso enorme e maravilhado nos olhos. Quase não percebi quando Wonho ultrapassou-nos com Mino rebolando o quadril em seu ombro e cantando uma musiquinha endiabrada em alto e bom tom.

A FEIRINHA DE INFERNOVERA MUITO VAI DESAGRADAR, SÃO DOCES QUE GRITAM E SALGADINHOS QUE DOR DE BARRIGA IRÃO DE DAR!

O atrito com o vento fez com que o cinto de meu sobretudo cedesse e quase voasse para longe — carregando meu precioso veneno de serpente! —, contudo agarrei-o com minha mão livre e tentei concentrar-me em não enlouquecer com toda aquela mistura de sensações queimando em meu âmago. Eu me sentia aterrorizado, surpreso, furioso e..., no fundo, completamente animado, pois aquele vento gelado e gostoso colidindo contra minha pele era uma das melhores coisas que já havia sentido. Não pude deixar de lembrar do Circo Infernal, quando Jungkook me jogou no lustre e senti que estava voando. O que estava acontecendo naquele exato momento era mil vezes melhor, porque eu não estava caindo sozinho e, pela primeira vez, estava quase confortável com a sensação.

— Eu estou voando? — indaguei baixinho, olhando ao redor e ainda tentando assimilar tudo o que estava acontecendo.

— Você está voando! — Jungkook gritou animado.

Estava tão maravilhado que somente percebi que já estava novamente em seus braços quando ele mordeu meu queixo e sorriu para mim. Como ele havia feito aquilo? Segurei seu rosto em minhas mãos e, mesmo a contragosto, retribui seu sorriso.

Eu estou voando! — comemorei.

Puxou-me para perto e rodou-nos no ar. Por segundos, tudo o que consegui ver foi seu rosto brilhante de contemplação. Seus olhos estavam tingidos no vermelho mais vívido que já havia visto. O vento jogava seus cabeços para cima, cobrindo seu par de chifres por completo, mas não foi nada disso que chamou minha atenção e fez com que meu corpo tencionasse quase que imediatamente.

Foi seu sorriso.

Engoli em seco, tremendo, puxei-o para mais perto e beijei-o com força, agarrando-o pelos cabelos com fúria. Queria beijá-lo até parar de tremer, até sentir que nossas línguas juntas estivessem assassinando todo aquele sentimento nostálgico em minhas veias, mas quando suas mãos envolveram minha cintura e seu gemido reverberou por meus ouvidos, tudo o que fui capaz de fazer foi fechar os olhos e sucumbir por completo àquela sensação.

Oh, essa não era minha intenção!

NA FEIRINHA TEM GÁRGULASZINHAS SERVIDAS EM BANDEJAS DE METAL! — e Mino continuava a cantar distante, mas seus gritos estavam tão altos que dava para escutar de longe. — TEM DEDINHOS DE LAGARTINHO E SUCO DE PAVOR! BASTA MORRER BEM RAPIDINHO, OLHE SÓ, QUE DESAMOR!

Nos afastamos lentamente. Jungkook ainda capturou meu lábio inferior entre seus dentes e depois sorriu fraquinho em minha direção. Foi quando percebi que já estávamos caindo há um bom tempo e olhei para o vão vermelho abaixo de nós com temor.

— ISSO NÃO TEM FIM? — perguntei gritando.

— Espere um pouco... — ele pediu.

Apontou para Wonho que já estava bem distante com Mino requebrando em seu ombro, bradando sua musiquinha que naquele momento parecia apenas um fino assobio longínquo.

A FEIRIIIIIIINHA DE INFERNOVERA É TÃO DESELEGAAAAAANTE, VOCÊ VAI SE APAVORAR...

E então, para toda a minha surpresa, foram engolidos pela imensidão vermelha.

— O quê? — indaguei com espanto.

— Feche os olhos.

— Mas...

— Shhh... — sussurrou cobrindo minha visão com a mão.

Pensei que iríamos morrer de verdade, mas a única coisa que senti foram leves cócegas em minha barriga ao atravessarmos uma espécie de manto extremamente macio. Quando voltei a abrir os olhos, não estávamos mais em queda-livre..., estávamos indo para cima como se estivéssemos acabado de saltar de um trampolim em um mundo invertido.

Em câmera lenta, observei tudo ao redor, desde o céu vermelho-claro até as árvores imensas que cercavam um terreno vasto e plano de terra morta e sem cor cheio de lápides de cimento enlodado com.... tendinhas coloridas e estranhas com placas de "venha comer dedinhos azedos!" ou "venha provar do ponche da Ruda, a gárgula-assistente mais charmosamente lenta do Inferno!". Estavam espalhadas por todos os lados. O cemitério era cercado por uma cerca de ossos com um grande portão metálico central onde o pequeno letreiro que formava "Cemitério dos Perdidos" estava pendurado bem no topo. A letra "P" estava pendurada pela ponta e parecia estar prestes a despencar há um bom tempo.

Naquele lugar, o céu avermelhado repleto de nuvens amareladas mesclava cores com as árvores cinzentas e o chão negro, criando um contraste incrível de se admirar. As tendinhas haviam sido armadas uma ao lado da outra e seguiam um padrão de cores que logo percebi ser uma espécie de homenagem a Jungkook: umas eram brancas, outras vermelhas e outras roxas. Observei as mesas de madeira envernizada brilhantes à distância, algumas já estavam sendo ocupadas pelos monstros súditos de Lúcifer, mas a maior delas ainda estava vazia.

Então paramos de subir... e começamos a cair para valer.

— Oh, não! — neguei balançando a cabeça. — Não, não, não, não, não!

Comecei a me debater no ar como uma avestruz desesperada gritando por socorro, como um idiota medroso. Pensava que iria cair, entretanto, quase há poucos centímetros do chão, Jungkook agarrou a ponta de meu sobretudo e puxou-me em sua direção, colocou-me em seus braços e riu baixinho ao cair plenamente na terra sequinha.

— Eu disse para você se segurar em mim — avisou colocando-me no chão ao seu lado.

Não havia percebido que, durante a travessia, havia a largado.

— Desculpa — resfoleguei pondo a mão no peito, tentando recuperar minha respiração que parecia ter ficado pendurada na maçaneta da portinha do túnel. — Eu acabei me desesperando...

Ele fez uma careta, talvez por eu ainda não ter me livrado de meu hábito de pedir desculpas sempre que necessário. Oh, dormir por tanto tempo realmente havia me causado sérios danos.

— Como sempre, não é mesmo? — indagou arrumando seu sobretudo vermelho.

— Sai de baixooo!

De repente, Kai surgiu do chão gritando. Arqueei as sobrancelhas, porque Dong Han já não estava mais em seus braços.

— Ah!

Então escutei um gritinho desanimado vindo do solo, era Dong Han se arrastando.

— Ai, eu caí! — choramingou. — Quase que volto para o Plano do Castelo novamente.

— Plano do Castelo? — indaguei observando Zen e Jennie caírem graciosas no chão, então fitei Jungkook com uma expressão confusa.

— O Cemitério dos Perdidos não fica no mesmo plano que meu castelo e os demais círculos..., digamos que seja... outro mundo — sorriu estendendo os braços ao redor.

Encarei-o admirado, sentindo a corrente de vento gelado carregando o cheiro gostoso das guloseimas que estavam sendo ofertadas monstruosamente. O cheiro era delicioso!

Nós sooooooomos.... — olhei espantado em direção às estrondosas vozes que começaram a cantar em coro.

Mino estava bem no centro, em cima da cabeça de uma criatura peluda que se equilibrava em pernas de pau e que tinha um longo par de chifres de cervo afiados. Logo atrás deles havia muitos outros com a mesma aparência.

— ...Os monstros da feirinha e vamos tudo devorar! Olhos de Dragão...

Que delícia! — uma gárgula bradou, juntando-se à turma.

Costelas de porquinho...

Só se for agora! — Kai também se juntou a eles, flutuando por cima da cerca.

Então começaram a dançar em sincronia, levantando uma perna de cada vez, depois rebolando os quadris do jeitinho que Mino instruía eufórico. Em suas mãozinhas, segurava um potinho cheio de olhos de Dragão e vez ou outra jogava um dentro da boca.

Nós soooooooomos os monstros da feirinha...

— O que está acontecendo? — perguntei baixinho no ouvido de Jungkook, escutando seu risinho entretido.

— São as boas-vindas que os corveiros prepararam para nós.

No começo pensei que os seres que havia mencionado eram aquelas criaturas estranhas e peludas, mas assim que vi humanoides com bicos no lugar da boca e penas negras cobrindo a pele vestidos em ternos negros com gravatas borboletas, surgindo com pás em mãos, logo percebi que não podia estar mais errado.

Enquanto o show continuava, um deles abriu o grande portão e pediu deslicença para guiar-nos para nossa mesa amaldiçoada. As mesas estavam dispostas ao lado de cada lápide que guardava o nome dos convidados que deveriam ocupá-la escrito em sangue.

— Sejam mal-vindos! — fez uma reverencia, grasnando antes de dar-nos as costas e afastar-se.

Entretido, quase bati palmas quando Mino deu uma pirueta tripla e caiu de pernas abertas dentro da mão de Wonho, ofegante. Sua falta de fôlego pareceu não o atrapalhar em seus planos de continuar a animar a festa, pois logo deu um mortal para o chão e começou a dançar novamente, ordenando para que todos seguissem seus passos engraçados.

— Ei! — Rubel gritou acenando, estava em sua barraquinha roxa, que mais parecia um grande chifre tortinho, de salgadinhos de dedos. — Não sentem ainda, venham provar desses dedinhos suculentos!

Fitei Jungkook com dúvida.

— Vamos? — ele estendeu a mão.

Pensei por segundos. Tudo aquilo era novo, havia criaturas que eu nunca nem sequer havia imaginado a existência, além de festas que nunca havia ouvido falar.... Com pesar, percebi que tudo estava diferente e mesmo com uma indignação crescente mesclando-se a minha euforia latente, forcei um sorriso e concordei aceitando sua mão com delicadeza.

Assim que chegamos na barraca, Rubel recebeu-nos com dois potinhos fumegantes de polegares de Gárgulas.

— Eu tentei uma receita apimentada dessa vez — sussurrou como uma espécie de segredo, piscando seus grandes olhos azulados.

— Estão espantosos, Rubel! — Jungkook elogiou após provar o primeiro. — Experimente, Jimin!

— Eu... hm... — aqueles dedos pareciam realmente gostosos.

Por que eu estava tão hesitante?

— Aqui... — arregalei os olhos quando ele catou um de seu potinho. — Abra a boca.

Obedeci-o com o cenho franzido.

— Bom garoto — sorriu e colocou o salgadinho bem na ponta de minha língua. — Agora mastigue, isso...

Tinha gosto de carneiro!

— Viu como os olhos dele brilharam quando provou? — Rubel comemorou com uma dancinha estranha. — Isso é sinal de que vocês precisam de maaaais!

— É... — Jungkook segurou meu queixo entre o indicador e o polegar e examinou-me com um sorrisinho quase bobo nos lábios. — ...Ele tem esse brilho no olhar mesmo.

Inflei as bochechas e cerrei os olhos com indignação.

— Eu não tenho brilho nenhum nos olhos! — cruzei os braços.

Rubel começou a assobiar a canção que os demais monstros ainda cantavam à distância.

— Tem sim — riu, deslizando a ponta do polegar por meu lábio inferior antes de lamber rapidamente o próprio, então aproximou-se e sussurrou sorrateiramente em meu ouvido: — Quando estou te comendo, principalmente.

Corei imediatamente, mordendo o lábio com a memória súbita de seu corpo suado sobre o meu. Arrepiei-me ao lembrar que seus olhos estavam sempre fixos em mim, que suas mãos sempre se concentravam em dar-me prazer. Senti minhas pernas bambas com a lembrança de nossos beijos deliciosos e babados.

Oh! Seus tapas em minha bunda...

Foque-se em seu plano, Jimin!

Tossi nervosamente, desviando o olhar para a barraquinha novamente.

— Acho que vocês precisam de um pouco do Ponche da Ruda, olha lá ela! — Rubel comentou assim que nos entregou mais dois potinhos cheios de dedos, apontando para a barraca da gárgula-assistente onde Wonho estava acabando de receber seus ponches com Mino gritando em cima de sua cabeça.

Não havia percebido que a música havia acabado e que o coral já havia dispersado para as mesas e barracas. Todos, menos as criaturas peludas de pernas de pau. Talvez ainda estivesse um pouco zonzo pelas palavras quentes que Jungkook havia sussurrado roucamente em meu ouvido.

— O que são aquelas coisas? — perguntei apontando para uma delas enquanto caminhávamos em direção a barraquinha branca em formado de chapéu de Ruda.

Não podia mentir ao dizer que não estava intrigado com elas.

— São os guardiões da Floresta do Cemitério — Jungkook respondeu, calmamente jogando mais um salgadinho na boca. — São eles que cuidam de todo esse lugar.

— Mas... e os corveiros?

— Cuidam das covas e dos mortos — deu de ombros.

Concordei, silenciosamente levando uma de minhas mãos ao bolso de meu sobretudo, notando a ausência de algo muito importante. Arregalei os olhos e engoli em seco, tateando meu bolso desesperado.

Então lembrei de vários momentos onde poderia tê-lo perdido: durante a queda no precipício, quando meu sobretudo quase voou para longe e quando estava escalando o corpo de Jungkook; depois quando atravessamos o manto e quase não percebi que havia largado Jungkook; então durante a última queda, quando não caí graças a seu puxão brusco para trazer-me para perto.

Comecei a suar frio, sentindo o suor escorrendo por entre meus dedos e olhei ao redor disfarçadamente. Não queria entregar que estava furioso e desesperado por ter perdido meu valioso veneno. Queria sair em sua busca, queria encontrá-lo de qualquer forma... Queria arrancar meus próprios cabelos com indignação. Como consegui ser tão burro à ponto de deixá-lo escapar?

Oh, não... Onde ele estava?

— Eles estão ali! — Dong Han gritou apontando em nossa direção.

Ele caminhou lentamente até Jungkook e deu um soco em seu estômago e quando ele abriu a boca para xingá-lo, o outro enfiou uma bolinha branca em sua boca e comemorou ao vê-lo engoli-la de uma vez só com a surpresa.

— Esses olhos de Dragão estão uma delícia! — comentou.

— Eu vou... Hmm... — Jungkook começou gritando, mas assim que Dong enfiou mais um olho em sua boca e ele finalmente mastigou direito, sua expressão inteira amoleceu e até seus olhos ficaram mais brilhantes. — Deliciosos! Eu quero mais! — pediu voltando a abrir a boca.

— Esses olhos podem até estar desgostosos, mas nada é melhor que meu Ponche Vilanesco! — Ruda exclamou dando piruetas em sua barraquinha. — Aquele Rubel vai ver só, dessa vez eu irei ganhar a Medalha das Desgraças!

— Medalha das Desgraças? — indaguei num sussurro para Jungkook, vendo Ruda distribuir copinhos avermelhados para todos os monstros e monstrinhos que pisavam perto de sua barraca.

— É meio que uma chave — ele começou a explicar, roubando um dedinho apimentado de meu potinho. — Com ela, você tem direito a ter sua foto num quadro ao lado dos Sete Pecados Mortais, nós, claro, — sorriu pomposo. — E ainda tem acesso a vários outros lugares.

Cerrei os punhos em antecipação.

— Até as salinhas proibidas?

Com a medalha, eu teria acesso ao quarto em que fiquei antes de todo aquele desastre acontecer...

— Por uma semana — concordou roubando meu potinho todo de uma vez.

Parei para olhar ao redor e respirar fundo. Com a mão no bolso, pensava em recuperar o frasco de veneno o mais rápido possível, contudo, ele já não me parecia a melhor ideia no momento. Naquela hora tudo o que vinha em minha mente era a imagem de uma grande medalha pendurada em meu pescoço dando-me acesso a todos os lugares que eu desejasse. Eu a queria... E ter Jungkook morto naquele momento não me traria benefícios.

Por enquanto.

Cerrei os olhos ao fitar mais uma vez aquelas criaturas estranhas sobre pernas de pau. Na verdade, em uma em específico, pois era a menor de todas e não parecia tão monstruosa quanto as outras. Então ela levou a mão ao rosto peludo e afastou os pelos, revelando rapidamente o rosto que estava procurando há tempos.

Morfus.

— Eu quero participar — comentei baixinho ainda de olho em meu lacaio disfarçado.

Perguntava-me o motivo de tal disfarce.

— É uma competição sangrenta demais, você não vai — respondeu resoluto, negando rapidamente já com seu copo de ponche em mãos. — Eles iriam te estraçalhar... sem ofensas!

Sorri debochado, sentindo meu corpo inteiro fervilhar em fúria. Como ele ousava pensar tão pouco assim de mim?

— Eu quero participar! — murmurei entredentes, finalmente virando-me para olhá-lo. No mesmo segundo que o fitei, minha expressão tornou-se amistosa e quase pidona, exatamente como o Jimin que ele tanto conhecia faria. — Por favor!

— Mas... — crispou os lábios.

Agarrei a gola de seu sobretudo e puxei-o para mais perto de mim, olhando-o no fundo dos olhos.

— Por favor! Eu quero me divertir depois de tanto sofrimento... — inflei as bochechas. — Você não quer que eu me divirta?

Observei a confusão nublar seus olhos vermelhos com deleite e quando toquei em seus ombros, notei-os rígidos em dúvida. Puxei-o contra meu corpo e funguei em seu pescoço, sentindo seu cheiro gostoso arrepiar minha pele.

— Por favor, meu Lúcifer...

Tremi por inteiro ao ouvir seu gemido contido e quando me afastei singelamente, prendi a respiração ao ver seus olhos escurecidos me analisando.

— Você pode se machucar... — sussurrou.

Seus lábios avermelhados atraíram minha atenção quase que imediatamente e quando percebi, já estava beijando-o lentamente, provando do gosto docinho do ponche que há pouco havia bebido. Sorri quando tentei nos afastar e ele rosnou, capturando meu lábio inferior entre seus dentes.

— Você pode cuidar de mim depois... — arqueei as sobrancelhas. — Do jeito que quiser.

Sorri ao ver sua boca entreabrir, talvez surpreso por minhas palavras e olhares sugestivos. Depois levou o indicador ao queixo e fingiu pensar por um bom tempo.

— Do jeito que eu quiser?

Mordi o lábio e concordei.

— Do jeito que você quiser.

Ele lambeu os lábios e acariciou meu rosto com uma mão, então agarrou meu queixo em seguida e obrigou-me a olhá-lo no fundo de seus olhos escuros de luxúria. Suas bochechas estavam rosadas e eu sabia que não era apenas pelo ar gelado do cemitério.

Então indagou calmamente:

— Você já pensou em ser fodido de cabeça para baixo?

Arregalei os olhos.

— Jungkook!

— Porque é o que irei fazer — murmurou envolvendo minha cintura com ambos os braços, colando nossos corpos para esfregar sua ereção em mim. Oh! — E eu juro que se você se machucar, não terei pena — rosnou. — Eu vou te comer de cabeça para baixo, Jimin. Depois irei te fazer engasgar no meu pau até gozar na sua cara. Estamos entendidos?

Soltei um risinho envergonhado, mas engoli em seco.

— Es... — tossi. — Estamos.

Me largou, sério.

— Jimin irá participar também — avisou para Mino, que encarou-me com um largo sorriso nos lábios.

— Que lindo dia para apreciar desastres! — exclamou abrindo os braços. — Wonho, você escutou? O humano também vai...

— Eu escutei, nanico — Wonho o cortou, raivoso. — Agora dá para parar de puxar meus cabelos?

— Não! — e gargalhou.

Jungkook voltou a me olhar.

— Vamos para nossa mesa.

Prendi a respiração ao sentir sua mão em minhas costas guiando-nos calmamente, mas sua expressão continuava fechada e imparcial. Eu quem havia causado tal mudança tão drástica?

Enquanto a Feirinha continuava barulhenta e animada com monstros cantantes e dançantes por todos os lados, tentei concentrar-me em analisar tudo e a todos, principalmente Jungkook. Vez ou outra, desviava o olhar em sua direção e via seu maxilar retesado e suas írises escurecidas. Não havia dúvida de que estava irritado com algo..., comigo, e todas as vezes em que retribuía o olhar, logo desviava e bufava audivelmente.

Mordi o lábio, pensativo...

Vê-lo daquela forma estava dando um gosto azedo em minha língua, desconfortante, estranho. Oh, masque sensação era aquela? Confuso, balancei a cabeça e bufei tão irritado quanto antes. Aquele não era meu objetivo! Fechei os olhos com força e tratei de lembrar de tudo o que realmente importava... então sorri. Eu teria aquela Medalha das Desgraças e não me importava nem um pouco com quem teria que matar para consegui-la.

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