SCRIPTA

由 GabGarrido_

2.9K 211 323

Cristina, uma jovem imaginativa e introspectiva, está acostumada com sua rotina pacata, dividida entre a flor... 更多

s c r i p t a
I N T R O
01.
02.
03.
05.
Agradecimentos
Scripta disponível na AMAZON!

04.

100 28 36
由 GabGarrido_

Não há muito a falar sobre o que aconteceu em mim, mas é engraçado pensar sobre o quão poderoso pode ser um livro, ainda mais se ele for semelhante àquele de capa avermelhada e for somado à obscuridade da imaginação humana. Destaco que, mesmo soando ilógico, a princípio tal poder de manipulação passou despercebido por minha mente inquieta. Ainda assim, o mistério grená começou a agir em minhas entranhas desde quando fomos apresentados um ao outro.

Mas, você sabe, a loucura, em seu estágio inicial, não se mostra tão poderosa quanto realmente é.

De qualquer forma, totalmente alheia ao porvir, durante a primeira semana após receber a brochura avermelhada, eu me encontrava absorta em minhas teorias sobre quem me dera tal presente. Risquei Eduardo de minha lista mental, e me restara somente uma única opção: Iolanda – já que, como se pode perceber, minha lista de contatos não era lá grande coisa.

Com o livro em mãos, dirigi-me ao caixa da floricultura, onde minha tia organizava o ganho de mais um dia de trabalho enquanto assistia um antigo sitcom dos anos 80. Joguei-o em cima do balcão e sorri, deliciando-me por matar uma charada tão ridícula:

— Foi você — sibilei, vendo-a me encarar desentendida. — Por que tanto mistério?

Ela olhou o livro e passou a fitar-me com o semblante confuso. Eu prossegui:

— Você esqueceu sua carteira aqui, e fechou a floricultura mais cedo para que eu o encontrasse, não foi?

Algo em seu olhar – eu ainda não sabia o quê, exatamente – dizia-me que toda minha teoria conspiratória era extremamente errônea. Ela apanhou o livro e o examinou com atenção, passando os dedos em sua escrita prateada. Abriu-o e leu as duas misteriosas frases iniciais – que, a esta altura, eu sabia de cor – e pude ver seus lábios se contorcerem em um sorriso provocante.

— Não tenho a menor dúvida de que foi Eduardo quem lhe deu isto. Desde quando você disse sobre hoje à noite.

Agitei a cabeça na negativa.

— Não, não foi ele. Eu tenho certeza disso, porque...

Suas mãos pousaram, delicadas, em minhas bochechas, a fim de levantar meu olhar para os dela e, assim, calar minha imensa confusão de ideias. Seus gestos, às vezes tão maternais, sempre me deixaram sem palavras.

— Agora, a única coisa com que você deveria se preocupar é como vai se encontrar com ele. Ou você vai com esse avental todo sujo de terra?

Abaixei o olhar, pensativa, e pude ver meus argumentos contra Iolanda desvanecerem-se inexoravelmente, ao mesmo tempo em que contemplava um estranho receio de sair com Eduardo fulminando-me, sem sentido algum.

Iolanda voltou a atenção à televisão e eu a acompanhei. Na cena, um rapaz loiro e atraente galanteava uma das mocinhas da trama com uma trivialidade quase corriqueira. Os cabelos engomados e as roupas asseadas lhe davam um ar antiquado, mas a mocinha não parecia se importar. Como, de fato, eu deveria estar fazendo – ao invés de deixar a porcaria de um livro mofado consumir-me as ideias.

Vida monótona, não?, pensei, sentindo-me idiota.

E eu ainda tinha a atenção totalmente voltada ao sitcom, no momento em que notei os olhos de Iolanda me fitarem, de soslaio. Quando voltei a encará-la, vi suas expressões se tornarem serenas.

— Querida, eu vou ser franca e não quero que fique brava — Socorro, pensei. —Mas não cometa o mesmo erro que cometi.

Ciente do sermão a caminho, suspirei. Ela, por sua vez, revirou os olhos, resignada:

— Olhe para mim, Cristina. Eu estou só! Cinquenta anos nas costas e completamente isolada do mundo — ela riu, com seu costumeiro humor sobre si mesma.

— Que exagero.

— Por acaso me vê por aí, namorando todo mundo?

— E desde quando ser reservada é ruim? — Retruquei.

— Não foi o que eu disse — ela semicerrou os olhos escuros, tão parecidos com os meus. — Até porque foi eu quem optei por ficar só. Mas, às vezes, me pego pensando como seria se tudo tivesse sido diferente.

Sem palavras, peguei-me pensando como a conversa teria tomado aquele rumo. Ignorando este fato, ela afagou minhas bochechas e sorriu:

— Mas você não precisa fazer o que eu fiz.

Abaixei a cabeça ao sentir seus olhos amorosos pesarem sobre os meus. Ela continuou:

— Dê uma chance para si mesma. Sei que odeia quando eu digo isso, mas Eduardo sempre foi perfeito pra você. Vocês se entendem como ninguém e, ainda que diferentes, são muito iguais — ela deu de ombros, colocando uma mecha escura atrás das orelhas. — E não é todo dia que o destino é tão bondoso conosco.

Destino.

O Destino escreveu suas curvilíneas linhas do passado à pura tinta negra.

A lembrança rapidamente tomou meus pensamentos. Durante aquela semana, tudo parecia convergir para aquele livro. Inquietei-me, mas consegui impedir que essa questão dominasse outra vez meus vulneráveis pensamentos.

— Linda. Simplesmente linda.

De forma exagerada, Iolanda comentou um pouco atrás de uma mulher que o espelho insistia em dizer ser eu. De salto e de vestido rendado negro – justo demais para ser confortável –, meu reflexo me encarava com feições pasmas, perguntando-me internamente onde é que ela foi encontrar uma roupa daquelas para mim. No espelho, notei o ruivo de meus cabelos parecer mais intenso, e dei os créditos aos truques de maquiagem caseira, nada treinados desde a formatura do colégio.

Ligeiramente nervosa, encarei o relógio. De fato, Iolanda conseguiu me inquietar ainda mais com aquele papo de "chance do Destino". Peguei minha bolsa e andei em direção à garagem, sem antes ter o olhar atraído para a publicação de letras prateadas, que já se tornara uma grande e velha amiga de minhas paranoias infundadas.

Obriguei-me a ignorar as letras prateadas e entrei em meu carro, observando minha casa tornar-se pequena em meio ao amplo horizonte mostrado pelo retrovisor. E em questão de vinte minutos eu já estava no local combinado.

O ambiente possuía um ar moderno, jovem, e estava infestado de casais que curtiam, em meio a conversas e risadas extravagantes, as músicas tocadas ao vivo por uma banda nada convincente. Um leve incômodo murmurava dentro de minhas entranhas, como se me dissesse que eu não pertencia àquela badalação toda. Suspirei pesado – de qualquer forma, eu já estava lá, de pé, na entrada daquele barzinho repulsivo, à procura de Eduardo e resistindo ao impulso quase irrefreável de correr para o conforto de minha escrivaninha.

Esperei por mais algum tempo, enquanto tentava me esquivar dos olhares indiscretos que eu recebia de um grupo de rapazes. O vestido que Iolanda me arrumou estava muito curto? Só poderia ser isso. Virei meu rosto para a entrada do local, e a imagem de todas aquelas garotas com saltos maiores que os meus e com roupas muito mais curtas e apertadas que as minhas quase conseguiu me apaziguar – se não fosse por minhas vãs filosofias, poderia ter dado certo. Aquele lugar aparentava ser uma grande vitrine de egos, de carne e de luxúria. Eu pertencia mesmo a tudo isso?

Respirei fundo e me obriguei a agir com naturalidade, ao menos por uma noite – afinal, não seria tão ruim assim. Seria?

— Cristina!

Ouvi meu nome sair do interior daquela zona, e vislumbrei seu real dono vir em minha direção com um sorriso indecifrável no rosto.

— Nossa... — ele riu, talvez sem graça. — Você está linda.

Meu sorriso saiu nervoso, e Eduardo continuou a falar:

— Vem, separei uma mesa pra gente.

Assenti, nervosa, e o segui por entre as pessoas que lotavam a pista de dança. Meus pensamentos acelerados jogavam-me imagens da provável surpresa, que admito serem ridículas, ao ponto de me irritarem e obrigá-las a irem para o lugar mais fundo e obscuro de minha mente insana.

E eu ainda me retorcia com aquelas tolas ideias quando o vi parar perto de uma mesa e se virar em minha direção. Ele sorria:

— Cristina, esta é Lorena... Minha namorada.

Sentada de frente para mim, uma loira bela e dona de um olhar felino me cumprimentou com a cabeça, forçando um sorriso que era para parecer amigável. Retribuí o sorriso, a sentir-me um tanto zonza.

Eduardo sentou-se ao lado dela e eu o imitei, ficando de frente para os dois. Pude sentir minhas expectativas, antes tão ávidas e coloridas, tornarem-se frustradas – certo, a palavra "frustradas" soa leve demais para chegar perto do real.

Na verdade, elas foram estraçalhadas, esmigalhadas e estripadas.

— Amor, essa é a amiga de quem eu lhe falei — seus olhos de avelã se cruzaram com os meus, e sabe-se lá em que estado estes se encontravam. — Ela é como uma irmã para mim.

Ela é como uma irmã para mim.

Irmã.

Senti meu cenho franzir involuntariamente.

— É um prazer conhecê-la — disse-me Lorena. Eu não senti um milésimo de sinceridade em sua voz. 

🔸🔸🔸

A vida, e os bailes que ela nos dá...

Vamos ao cap. 05! E não esqueça de deixar sua estrelinha de amor! ⭐️

继续阅读

You'll Also Like

13.6M 1M 72
Sinopse Elise Cortez por não conseguir ficar em nenhum emprego por falta da sua coordenação motora e azar, ela se vê sem saída ao aceitar sua...
494K 22.2K 115
𝙨𝙚 𝙘𝙝𝙚𝙜𝙤𝙪 𝙗𝙖𝙜𝙪𝙣ç𝙖𝙣𝙙𝙤 𝙖 𝙢𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙩𝙤𝙙𝙖 𝙚𝙪 𝙣𝙖𝙤 𝙘𝙤𝙣𝙨𝙞𝙜𝙤 𝙢𝙖𝙞𝙨 𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖𝙧 𝙤𝙪𝙩𝙧𝙖, 𝙖 𝙜𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙨𝙚 𝙥𝙖𝙧𝙚...
9.8M 612K 88
Um homem insuportável de um jeito irresistível que faz um sexo que deixa todas de pernas bamba, Tem todas as mulheres que deseja aos seus pés mas te...
133K 14.7K 35
[Este livro não retrata a realidade nua e crua das favelas, é apenas uma história fictícia com o intuito de entreter] Após passar 72 horas como refém...