Boa noite, Aquiles ✓

De sofianeglia

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" O olhar dava medo e eu quase perdi o sorriso o qual tentava seduzir ela do rosto. - Esquece, porque i... Mai multe

intro + sinopse
0. prólogo
1. ela procura
2. ele tem que sair
3. ela se nega
4. ele cozinha e convence
5. ela estabelece as regras
6. ele quebra uma das regras
7. ela não consegue dormir
9. ela conhece o resto do grupo
10. ele não quer ela no grupo - pt.1
10. ele não quer ela no grupo - pt.2
11. ela não consegue dormir de novo
12. ele quebra mais uma regra - pt.1
12. ele quebra mais uma regra - pt.2
13. ela tenta ser simpática - pt.1
13. ela tenta ser simpática - pt.2
14. ele conquista algo
15. ela vira gelo
16. ele é fogo
17. ela vê o que não quer
18. ele sente o que não queria
19. ela cozinha e chora (repostado)
20. ele fica
epílogo
epílogo olímpios
nota final
OLIMPIOS REESCRITO!!

8. ele chega de madrugada

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De sofianeglia

n o t a  d a  a u t o r a  1 : 

Até hoje eu não encontrei uma pessoa que fosse como o Aquiles da minha mente, mas então apareceu esse modelo, e nossa, ele é o mais próximo que eu consegui mas eu to bem ok com isso! Então, peguem esse bb na foto como inspiração pro nosso cafajeste mais apaixonante ever e se preparem para o capítulo. hehehhe (se tiverem alguém o qual acham que combine com Aquiles, deixem nos comentários!)

obs: capítulo não editado, erros podem ser encontrados.


8. ele chega de madrugada

     Me deixei levar pelos olhos de Vênus e o cheiro de cerveja.

     Não era pra ter sido como todos os outros finais de semana quando combinei de sair com ela e Luan, como também não era pra eu me sentir tão feliz em burlar a promessa que eu tinha feito para mim mesmo antes de dormir e depois de ter conversado direito, pela primeira vez, com Lívia.

     Era só uma ideia de que eu não ia beber durante três festas com eles, só para ter certeza de que pelo menos Luan gostava de mim como o seu amigo sóbrio tanto quanto o levemente alterado que eu era desde meses antes.

      Só que eu encontrei motivos para celebrar, como a volta da minha cunhada, as mensagens de agradecimento que eu recebi do meu irmão, o fato de que Iara estava esquisitamente feliz e não estava pegando no meu pé por ter, mais uma vez, ficado com uma das suas funcionárias entre as estantes de livros que ficavam na parte da livraria da Cafeteria dela e da Aimée. 

     Estava alegre com todas as pequenas coisas positivas que aconteceram e eu só concordei quando Vênus levantou a mão com um copo de plástico na minha direção. 

     — É só um... — Ela disse, percebendo minha hesitação. Parada na minha frente, uma das suas pernas estava no meio das minhas, o quadril seguindo a mesma direção, engatando nossos meios. Ela estava cheirando a sensualidade, o seu corpo brilhava contra as luzes fracas do bar, mas ao mesmo tempo ela me examinada com olhos supreendentemente inocentes. E eu só conseguia pensar que era um ato inocente. 

     Deixaria para a próxima saída a promessa. 

      Quando eu peguei o copo, tomei toda a cerveja e grandes goles, não querendo pensar na possibilidade de não beber, e quando terminei, abri automaticamente um sorriso. Luan já estava vindo com dois copos na mão, me oferecendo um e fazendo com que Vênus se afastasse do meu corpo. 

     — Saúde, meus queridos. — Falei, batendo o novo copo, agora com caipirinha, com os outros dois e tomando um gole, mas tão todo o conteúdo. 

     Olhando o nosso redor, pessoas começavam a inundar o Margot, algumas que sempre iam e outras que não eram regulares. 

     Focando nessas pessoas, sorri para todos os que sequer olhavam na minha direção, examinando e tentando entender os motivos de cada um. Ao contrário do que Vênus achava, as pessoas solteiras também iam pra dançar e não só pra caçar como nós, ou, talvez, como ela. 

     Tomando outro gole, escutei enquanto os outros dois entravam em uma discussão sobre a menina que Luan estava gostando. Ela não conseguia aguentar aquilo, e eu sabia que não era ciúmes, ou inveja. Ela não tinha isso dentro dela. 

      Balançando a cabeça a cada xingamento que Vênus fazia, não economizando no baixo calão, encarei uma das meninas que tinha acabado de deixar as amigas irem no banheiro e esperava encostada em uma das paredes da entrada da pista, exatamente na minha diagonal.

      Ela era quieta, com certeza. O jeito que seus olhos se perdiam por tudo com um pingo de medo confirmava minhas suspeitas. Usava um vestido de verão que acentuava sua cintura e não marcava as coxas que eram grossas, e com uma bota marrom clara ficava mais alta que a maioria, e por algum motivo acho que seria do tamanho de Lívia quando ela não usava salto. 

       Os cabelos castanhos caíam sobre um ombro só, o rosto era forte e sardento, e ela tinha o nariz reto e um pouco largo. Era diferente, mas chamou a minha atenção. Pegando o meu cartão comanda, estiquei meu braço na direção de Luan, fazendo eles finalmente pararem de discutirem. 

     — Pede outro pra ti. Fica por minha conta. — Disse, pegando da sua mão o copo que ele mal tinha tomado e indo em direção a garota. 

     Vênus levantou uma das suas mãos e me parou, tocando na minha barriga. — Onde que tu vai? — Perguntou, o tom de irritação da conversa dos dois ainda vazando através da sua voz. 

     — Conversar. — Respondi, sorrindo. Tínhamos dito que eu ia pra casa dela repetir o que tinha acontecido naquela semana, mas eu não sabia mais se queria aquilo, e ela entendeu quando deu de ombros e voltou a olhar Luan. 

       Indo na direção da menina, parei afastado mas no seu campo de visão. Levantando um lado da minha boca e uma sobrancelha, aguardei até que os seus olhos me achassem. Quando isso aconteceu, percebi que ela tinha olhos escuros, e o rosto com pouca maquiagem era realmente bem bonito. 

     Eu dei alguns passos devagar na sua direção. — Tu tá muito sozinha... — Comentei, levantando a bebida que tinha roubado de Luan na sua direção, dando uma leve risada. 

     A garota me olhou com um sorriso pequeno e desafiador, apontando para onde as portas dos banheiros ficavam. — Só estou esperando minhas amigas. 

     — Sim, sim... Eu vi. — Acenei com a cabeça. — E não de um jeito bizarro, tá? De um jeito bem normal e de alguém que sempre vem aqui mas nunca tinha te visto. 

       Eu ainda estava com o copo levantado, e com a minha fala ela acabou dando uma risada, olhando entre eu e o copo.

      — E tu me trouxe uma bebida? Como que eu vou saber que não está batizada? — Perguntou, suspeita, e cruzando os braços. A voz dela era ingênua, e eu balancei a cabeça ao lembrar de novo em Lívia e imaginando que ela iria detonar qualquer cara que levasse uma bebida pra ela, com a voz grossa, cínica e dramática, do mesmo jeito que ela tinha feito comigo todas as vezes que eu convidei ela pra jantar. 

      — Eu roubei a bebida do meu amigo e trouxe pra ti, sim. — Falei, dando uma risada. — E eu espero que tu não tenha nojo de germes e essas coisas. — Completei, dando dois goles do copo que eu estava oferecendo. — Não, ela não está batizada, e se tiver, eu vou ficar louco junto contigo...então não sei como que vai funcionar toda a ideia de tentar fazer tu me passar teu número.

      Com aquilo, ela soltou uma gargalhada, colocando uma mão em cima do seu peito e indo levemente pra frente. Eu sorri junto, mas foi estranho. 

     — Okay, tu me convenceu. — Ela respondeu, ainda sorrindo. Com uma mão, ela agarrou o copo da minha mão e tomou um leve gole, mostrando as unhas pintadas e perfeitas. 

      Tomando um gole junto dela, fiquei olhando sobre o copo a sua reação e a forma como ela ainda mantinha um sorriso e arrumou o cabelo. 

      — Então, moça prevenida e que ainda está esperando suas amigas, qual o teu nome? — Perguntei, indo até o seu lado e me encostando na parede. Quando eu fiz isso, ela se afastou e foi para a minha frente, trocando nossas posições e ficando de costas para os outros, exatamente do jeito que eu queria. Daquele jeito a sua atenção ficava só em mim, e era mais fácil conversar. 

      — Por que tu não me fala o teu primeiro? — Ela dobrou um braço na sua frente, usando de apoio para o cotovelo da mão que segurava o copo.

      — Aquiles, ao seu dispor. — Disse, fechando os olhos e abaixando levemente a cabeça. — Moço de família, estudante, e ultimamente cozinheiro nas horas vagas. 

     Ela acabou rindo do que eu falei, e eu sorri sem força. Queria falar que era trabalhador também, de um jeito que eu acreditasse que o que eu fazia na cafeteria era algo além de uma punição. 

     — Amanda. — Ela imitou meu gesto com a cabeça e arrumou de novo o seu cabelo. — É muito bom saber que tu vai estar ao meu dispor hoje, Aquiles. 

     — Mas é claro. — Dei de ombros. — Pelo menos até tuas amigas chegarem.

     — Ué, como assim? — Ela perguntou, quase ofendida, e eu dei uma risada. 

     — Eu não posso responder por elas, mas se elas não me aprovarem acho que não vai adiantar eu estar ao teu dispor ou não. — Dizendo aquilo, dei outros goles do meu copo, que estava quase terminando. 

      Amanda demorou para entender, mas balançou a cabeça com um sorriso e fez que ia tomar outro gole da caipirinha, mas não tomou.

     Atrás dela, Vênus e Luan estavam conversando com um grupo de outras pessoas, uma delas era a garota de Luan, e eu já conseguia ver nos olhos da nossa "amiga" os planos que se criavam para acabar com a vida da guria. 

     — Ei, o que foi? — Amanda perguntou, de sobrancelhas cerradas. 

     Sem perceber tinha deixado a pequena raiva começar dentro de mim, mas então me recuperei, terminando a minha bebida e tentando mudar o que estava pensando. Se fosse outra pessoa me perguntando, talvez eu pensasse em falar o que acabou passando pela minha mente e como eu estava começando a ficar confuso sobre tudo aquilo. Mas a pessoa que eu falaria não ia perguntar sobre isso, acreditei, então eu deixei passar. 

     — Fiquei pensando aqui que eu nem perguntei se tu gostava de caipirinha e nem ofereci pra gente dançar? 

       Perguntando aquilo, esperei quebrar um pouco o clima que eu tinha causado. Era como se, de repente, tinha desaprendido a conversar com alguém, mas eu continuava notando e sendo curioso, o que era ótimo. Assim eu percebia que ela não estava tomando direito o copo dela. 

     — Posso ser bem sincera? — Ela perguntou, e eu me senti bizarro de novo, querendo beber mais um pouco. 

      — Pode, óbvio. — Respondi, e era a verdade. Não entendia porque as pessoas não eram mais sinceras, mas me xinguei, porque eu também não era na maioria das vezes. 

      — Eu não gosto de caipirinha... — Disse, fazendo uma careta, e eu só conseguia achar que ela era normal. 

      Saindo da parede, me ajeitei e abri o braço em direção ao bar e a fila para pedir. — Amanda. — Falei o nome dela, esperando que ela seguisse em direção as pessoas. 

    Ela o fez, e passou reto pelos meus amigos. Quando eu fui atrás, Luan já estava me entregando o meu carão da comanda e eu olhei as suas mãos pra ver se ele estava com alguma bebida nova. Não tinha comprado, mas estava abraçado na guria de cabelos curtinhos. Vênus agarrada em um cara qualquer que tinha aparecido e quase comendo ele vivo. 

     Voltando para Amanda, ela já esperava na fila com o celular na mão, não prestando muita atenção em mim enquanto eu checava nos meus companheiros de noite. 

     Eu esperei alguns minutos, olhando pra ela enquanto ela olhava pra sua tela e conversava em um grupo, provavelmente com as amigas dela. Esperando que ela largasse o objeto, decidi que não ia chamar a sua atenção, e acabei pegando o meu do bolso pra ver se tinha alguma mensagem ou não.

      Sem nem pensar, acabei abrindo o aplicativo das mensagens, e cliquei na conversa que tinha tido com Lívia no dia da mudança, onde ela tinha dito apenas a hora que eu podia ir, confirmando que estaria concordando com tudo aquilo. 

     Com o teclado automaticamente aberto, comecei a digitar. 


     AQUILES: Ei, sei que tu sabe que eu não volto cedo, mas não esquece de comer... tem as marmitas no congelador. 


     Era estranho, de verdade, querer lembrar ela de comer. Sem nem saber se ela entendia que eu tinha feito as marmitas especialmente pra ela, pensar se ia comer ou não o que tinha deixado preparado pra ela. Mas eu guardei o celular e voltei para a mulher na minha frente, dessa vez chamando a sua atenção. 

     — Se for ficar no celular assim, nunca vou saber o que que tu quer beber. — Disse, colocando a mão no seu queixo e levantando o seu rosto.

     Ela deu um sorriso de lado, e eu esperei, não encontrando coisas pra falar e me sentindo de repente na necessidade de simplesmente sair dali. 

      — Uma Gin tônica? — Disse, sem certeza, e eu acenei com a cabeça antes de ela continuar. — Eu estava avisando minhas amigas que eu talvez não fosse embora com elas... 

      Eu sorri, mas de novo aquela sensação de simplesmente sair dali aconteceu, e dessa vez eu acabei escutando a minha vontade tão rápido quanto a personalidade dela. Coçando minha nuca, peguei o celular e olhei pra ver se Lívia tinha me respondido. Não tinha nenhuma notificação dela, mas de algumas outras garotas, e por mais que não fosse realmente responder aquelas, iriam servir o propósito. 

     — Bah... Então, pior que eu vou ter que ir embora agora. Mas ó, — peguei o celular e limpei as notificações, colocando no teclado dos números de telefone, — coloca aqui o teu número. Quem sabe a gente não combina algo essa semana... 

     Sorrindo, fingi realmente estar interessado em combinar algo. Era ridículo em fazer aquilo, e talvez estivesse mesmo honrando todas as coisas ruins que minha família dizia, mas não sabia que outro jeito poderia agir. 

     A garota sorriu, um tanto desapontada e já percebendo que nada ia acontecer. E eu estava realmente confuso sobre tudo o que estava acontecendo, querendo sair dali mas não para o que tinha pensado antes, e sim para um dos bares próximos do Margot e pela Cidade Baixa. 

      Pegando meu celular de volta e pedindo desculpas com um sorriso torto, andei de costas até meus amigos, avisando com um simples movimento da mão que ia dar uma volta pelo bairro. Nenhum dos dois pareceu se incomodar.

     Seguindo até a saída do lugar, paguei todo o pouco que tinha consumido, me preparando para o que viria depois. Antes que eu pudesse sair, Vênus apareceu do meu lado, balançando a cabeça. 

     — Ela era muito inocente pra ti. — Disse, indo pagar logo depois de mim, e eu acabei ficando para esperar ela sair comigo como a maioria das vezes. 

     Rindo, balancei a cabeça também. — Nada, só não to a fim de caçar hoje. Acho que vou ir ali na esquina comprar uma tequila. Quer beber na rua comigo? 

     Eu falei as palavras costumeiras, e a cada sílaba maior era a vontade de beber. Falar sobre comprar a bebida, pensar sobre ir no meio de um grupo de pessoas na rua e me perder entre elas enquanto minha garganta começa a queimar. 

      — Pensei que tu não ia convidar. Não aguentei muito aquela guria com o Luan, e o amigo dela beijava mal. Que ódio... — Comentou, revirando os olhos quando estávamos pisando pra fora do Margot. 



       O corredor parecia estar girando um pouco, e eu sorria, não completamente bêbado mas o suficiente para que Vênus fingisse que queria me ajudar a subir até o meu novo apartamento, que ela não conhecia e nem sabia que eu tinha me mudado. 

       Ela levantou a sobrancelha dela quando contei, como se não estivesse esperando que eu tivesse escondido isso dela. Ela podia enganar as pessoas, e eu podia fingir que ainda caía em algumas das suas tramóias, mas a verdade é que ela não me manipulava como antes. 

     Apoiando a mão na parede, fui caminhando, balançando a cabeça como se negasse algum pensamento, mas tentando aumentar um pouco a tontura e esquecer o quanto minha barriga estava roncando. 

      — Eu vou poder entrar? — Vênus perguntou, se colocando na minha frente e fazendo eu parar alguns passos da porta do meu atual apartamento. 

      Eu olhei para ela, como se realmente estivesse pensando em aceitar. Mas não queria, e antes de eu pensar de verdade o que dizer, inventei uma desculpa. 

     — Minha colega de apartamento não aceita visitas de estranhos. E ela nos mata se eu deixar tu entrar. 

     — Ah, vai. Eu to te acompanhando porque tu não tá conseguindo nem caminhar direito. 

     Eu estava caminhando normal.

     A voz dela ficou mais quieta e meiga, mas as suas mãos indo direto até o meu cabelo e sempre me tocando diziam outra coisa. 

     — Eu não valho a tua madrugada? Tu sabe que a gente se diverte... — Falou, sorrindo e mostrando todos os seus dentes. 

     Eu fiz que não com a cabeça, me apoiando em uma das paredes do corredor, tateando o meu bolso pra encontrar minha chave.

     — Vai por mim, — comecei, e já sabia antes de terminar que nenhuma daquelas palavras era verdade. — tu não vai querer conhecer ela...

    Dando de ombros, Vênus não insistiu e saiu sem falar mais nada, virando e caminhando sem nem me dar um tchau. Me perguntei se ela estaria percebendo o quanto eu não caía mais no seu papo, e se tinha percebido todas as coisas que eu estava sentindo naquela madrugada. 

     Olhando para onde ela tinha desaparecido, voltei pra porta, encarando de lado o que me separava da Lívia e tentando esquecer que até ali ela não tinha me respondido e provavelmente estaria deitada no sofá. 

     Suspirando, me segurei no batente, escolhendo a chave certa e abrindo a porta com cuidado. Como eu esperava, Lívia estava deitada de lado e abraçada em uma almofada, os olhos bem abertos e encarando sem nenhuma emoção a televisão. 

     Ela não disse nada quando eu entrei, mas eu vi os ombros se recolhendo para mais perto do corpo. 

     Dando um leve sorriso sem motivos, fechei a porta com cuidado também, e fui direto pra cozinha, abrindo a geladeira e pegando tudo o que eu ia precisar e tinha comprado pra fazer um sanduíche. 

      Montando dois, peguei um prato dos armários e guardei tudo no devido lugar, sempre olhando que a cada movimento e barulho Lívia se mexia no sofá, uma hora acabou se levantando e ficando meio apoiada no encosto do sofá vermelho. 

      Eu olhei para o seu cabelo pintado e agora desbotado, a cabeça caída e apoiada na mão. 

     Sem pensar, como a maioria das coisas que estava fazendo, caminhei devagar até ela, me sentando no chão e tentando não me desequilibrar tanto. Eu olhei, e ela sequer fez menção de virar o rosto pra mim.

     De lado, encarei ela e então a Tv, esperando que ela se irritasse com o som da minha mastigação, que falasse algo para começar uma conversa. Naquele meu estado, não sentindo direito a ponta dos meus dedos e piscando vezes demais pra que não viesse a ficar mesmo bêbado, queria que ela falasse para que eu pudesse responder sem pensar e saber que aquela primeira vez conversando, não ia ser a última. 

      Quando ela finalmente falou, eu quase engasguei com o sanduíche e a vontade de rir.

     — Dá pra tu parar com isso?

      Engolindo o que estava mastigando, respondi balançando a cabeça e provocando. — O que eu estou fazendo? 

     Lívia suspirou com raiva saindo pelas narinas, encolhendo mais suas pernas contra o seu peito, levantando mais ainda uma das suas sobrancelhas e ainda sem se quer olhar pra mim. 

    — Me atrapalhando enquanto eu vejo televisão. No meu dia, no meu direito de ter pelo menos um momento de paz e sossego.

     Pendendo minha cabeça para o lado e abrindo um sorriso largo, continuei olhando pra ela. Estava com uma camiseta de banda, algo que eu tinha percebido que ela tinha costume de usar, e uma calça cinza de moletom que tinha uma mancha circular perto do seu quadril. 

     — Sabe... agora que tu falou, — olhei para o relógio no meu pulso. — não é teu dia, não. 

     Ignorando os olhos que finalmente me encaravam de volta, largos e surpresos, alcancei o controle remoto que estava perto da sua barriga no sofá, me encostando contra o móvel e apontando o controle para a Tv, mudando o canal que ela estava vendo. 

     — Aquiles! — Ela chamou meu nome, me reprimindo.

     Dando uma pequena risada, levantei os ombros e continuei mudando os canais. — Já é sábado e quem criou as regras foi tu.

     Ela tinha se levantado mais um pouco, o corpo caindo para o meu lado, nos aproximando, mas logo se afastou e puxou mais ainda suas pernas para longe de mim. Queria estar deitado atrás dela, fazendo um carinho ao longo da lateral do seu corpo, tentando achar um jeito de tirar aquela tensão que ela tinha e relaxando ela o suficiente para que conseguisse dormir. 

     — Tinha que ter colocado todos os dias pra mim. — Falou, e eu conseguia sentir o seus olhos revirando. 

     Não voltando pra ela, continuei mudando os canais, tentando encontrar algum outro filme que não o que ela estava vendo e que eu não queria admitir gostar. Através de alguns canais, eu escutava ela prender a respiração, distraída e animada com algumas séries que apareciam. 

     Eu só parei quando encontrei uma série do meu grupo favorito de amigos e que eu já considerava um clássico. Logo nesse canal ela predeu a respiração, dessa vez não tão animada e distraída. 

      Virando o rosto pra ela, percebi o desprazer estampado no olhar, e antes que eu pudesse me aguentar comecei a falar de novo. 

      — Ah, não! — Disse, prolongando as consoantes e olhando pra cima, dando algumas gargalhadas. — Me diz, por favor, que tu não prefere aquela cópia mal feita e irritante...

     — Não sou de mentir, então não vou dizer nada. — Lívia respondeu, levantando um dos ombros e eu vi de relance um pequeno sorrio formando nos seus lábios. 

      Me senti em um lugar especial ao ver aquilo, mas culpei o cansaço que ela com certeza sentia e cheguei a conclusão de que eu estava bêbado de álcool e ela de sono.

     — Eu sabia que não tinha como tu ser tão perfeita. — Comentei, mexendo a cabeça e voltando a minha posição inicial de lado. 

      — Nunca disse que eu era, tu que consegue achar coisa onde não tem. E a outra é bem melhor, pelo menos faz mais sentido...

      Levantando meu braços, olhei pra ela com olhos pequenos e suspeitos. — Como que faz mais sentido? Olha toda aquela história de guarda-chuva amarelo. É muito querer. 

      Lívia acabou soltando, finalmente, um riso e eu acompanhei ela, largando o controle em cima da mesinha onde eu já tinha colocado o prato, comendo o último pedaço do meu sanduíche.

      Ela apontou pra televisão, ainda com uma leveza no rosto. Naquele meu estado só conseguia pensar como ela ficava linda com o brilho nos olhos, como de alguém que finalmente pode falar e saber que eu não ia ser julgada. Era o brilho nos olhos de quem brinca e implica e acha conforto naquilo. Era o que eu estava sentindo. 

      — Melhor do que isso aí: Um personagem que nunca se sabe no que trabalha, outra que é ridiculamente chata, uma doida, uma patricinha, um que tem a mentalidade de um garoto de 5 anos e, o pior de todos, o que só pensa em comida e não tem uma responsabilidade de verdade.

      Quando ela terminou, eu estava com a boca aberta.

     — Nossa, nossa, nossa, nossa....— Falei, coçando o ouvido e fingindo que não tinha escutado aquilo. Quanto mais eu exagerava, mas ela acabava rindo, e eu surpreso como eu estava sendo sortudo em ter aquela chance de ver ela se divertir. O sorriso que ela tinha me presenteado na outra noite nunca ia ser superado, mas era bom saber que realmente não ia ser o único que eu ia receber. — Tu não deve ter assistido tudo, só pelo jeito que tu tá falando. 

      — Não preciso assistir tudo. 

      — É óbvio que precisa. — Disse logo depois, mudando um pouco a minha posição e virando mais para encarar ela, que acabou me imitando. Com o rosto falhando um pouco na felicidade de vez em quando, só fez com que eu continuasse tentando animar ela.

      Saber que ela estava rindo e não chorando, em mais uma madrugada sem sono, me deixava um pouco mais feliz também. 

     — Tu dizer que o pior de todos é o que fala de comida é uma ofensa pessoal. Eu gosto de comida do mesmo jeito que ele. 

      Ela sorriu de lábios fechados, me olhando como se eu não tivesse entendido e eu realmente não tinha até ela me olhar daquele jeito. Eu não retribuí do modo que pensei que podia, dizendo que a personagem chata que ela tinha dito tinha suas semelhanças com uma certa garota de cabelos de mechas vermelhas, então ela estava se xingando ao xingar o programa.

      Balançando a cabeça, decidi permanecer sem insultos, apenas na implicação. 

      — Acho que é isso mesmo, nós não somos amigos. Somos nada um do outro. — Comecei e dei de ombros, exagerando na minha fala e fazendo com ela aumentasse o sorriso.

     — Pra quem tava falando que éramos um casal algumas noites atrás, tu com certeza muda rápido de ideia. 

      O comentário dela veio acompanhado de uma voz machucada, e notei entre os meus olhos levemente embriagados que ela continuava tendo relapsos a cada segundo na sua alegria. Colocando a mão no meu peito, continuei exagerado. 

      — Me senti ofendido. 

      Lívia riu devagar e fraca. Agora estava virada para o encosto do sofá vermelho, mostrando pra mim o outro lado do seu corpo, as pernas juntas do peito e os braços cruzados. Parecia pensar no que tínhamos conversado, parecia me analisar como eu estava fazendo com ela, e parecia estar calculando bem o que ia falar à partir dali. Eu não precisei de muito para saber que ela ia voltar aos insultos, um jeito fácil de me afastar.

      — Me ajuda então: o que mais eu posso falar pra te ofender? Meio que aprendi que te xingar é aquela coisa de entrar por um ouvido e sair pelo outro. — Ela perguntou, revirando os olhos e levantando ambas sobrancelhas. 

     Uma mãos saiu do esconderijo dos seus braços cruzados, tirando um fio de cabelo que tinha caído e estava incomodando seu olho, e não era só aquilo que incomodava. Não só a ela, inclusive. 

      — A maioria das coisas são assim comigo. — Respondi, forçando um sorriso e levantando um lado do lábio. 

     — Menos comida. — Falou, logo depois de eu terminar, e dessa vez abriu de novo um pequeno sorriso. 

     Eu era parecido com o personagem, levava a sério comida, e fiquei me perguntando se ela tinha mesmo jantado a hora que enviei a mensagem. Com a cozinha limpa e cristalina do jeito que estava sempre, não tinha como saber se tinha esquentado algo.

     Escolhendo deixar a impulsividade tomar conta, coloquei um cotovelo em cima do sofá e apoiei minha cabeça na minha mão. Meus olhos estavam pesando e tinha quase certeza de que dentro de poucas horas o sol estaria aparecendo de novo. Todo aquele cansaço era também de não ter dormido.

      — Menos comida e algumas ordens... Principalmente as em quatro paredes. — Disse, sabendo que ela detestava eu falar frases de duplo sentido. 

      — Ai, por favor... — Revirou os olhos de novo, abraçando o seu corpo. 

      Balançando a cabeça, olhei para o chão. — Tu que tá pensando coisa errada. Eu estava pensando na minha mãe gritando para eu limpar meu quarto quando eu era menor. 

       Ao dizer aquilo, lembrei de quando ela falava para eu arrumar minhas coisas. Nunca gritando realmente e também não pedindo que eu arrumasse com frequência. Minha vida era tão ao contrário que quando pequeno conseguia ser mais arrumado do que naquele momento, onde não sentia nem vontade de guardar minhas roupas em um apartamento que já estava fazendo parte da minha vida. 

      Lívia riu com um pequeno balanço nos ombros. — Não consigo te imaginar organizado, sabia? Só pelo jeito que tu arruma tua mochila. Tenho medo até de entrar no teu quarto. 

      — Bem, se eu não posso entrar no teu, tu não pode entrar no meu. — Respondi, imaginando se um dia eu ia realmente conseguir pisar dentro daquele quarto dela, abraçado ou não, ocupando o lugar de alguém que nem conhecia e nunca aparecia. 

     O namorado dela era um idiota.

     — Touché. — Ela falou, sorrindo de lábios fechados, fazendo eu perceber que tinha uma linha de expressão que mais parecia uma covinha em uma das bochechas. 

     Não consegui saber o que falar depois disso, e tentei o máximo ignorar a sede que começou a consumir minha garganta ao só conseguir imaginar ela comigo e aceitando meus toque e beijos. A imaginação tomava um rumo diferente a cada vez que eu interagia com ela ou via ela com um pijama improvisado de roupas antigas. Não era a mesma que eu tinha com qualquer outra guria, e que admitia ter tido com Amanda naquela mesma noite. Com Lívia parecia interessante ter mais carinho, e por algum motivo saberia que ela se doaria muito mais se tudo fosse com ternura. 

      Limpando minha garganta, acalmei minha garganta e deixei de novo as palavras voarem. 

     — Te lembra quando eu disse que ia acabar acreditando que tu não gostava de mim? — Perguntei, lembrando de mais um dia onde eu estava chapado demais pra guardar comentários pra mim.

      Lívia juntou o cenho e assistiu enquanto eu mudava de novo de posição, juntando os pés sem tênis que eu nem lembrava de ter tirado e massageando minhas canelas. Com um aceno, ela concordou, caminhando o olhar pelos meus braços e pela minha roupa. 

     — Acho que sim. — Falou, mas tinha certeza de que se lembrava. 

      — Do jeito que tu tá rindo comigo, acho que posso começar a pensar que tu não me odeia tanto assim. — Disse e subi os olhos até ela, mantendo a cabeça um pouco baixa, me sentindo tímido por falar aquilo e desejar tanto que fosse verdade. 

     Ela ficou em silêncio por alguns segundos, perdida e sem notar algo específico em todo aquele lugar. Foi do sofá, para meus braços, então para a televisão onde a voz baixinha de outros personagens conversavam. Não voltou até meu rosto. 

      Com uma fala baixinha e pensativa, Lívia ainda vestia um olhar confuso. — Eu nunca te odiei, mas eu detesto o teu comportamento.

     — E qual seria ele? — Perguntei, massageando minhas pernas agora. A dor de ficar em pé na rua finalmente vindo conforme o efeito das bebidas acabavam, querendo fazer eu voltar a beber. 

      Lívia balançou a cabeça, a garganta travando e a boca sem certeza se deveria conversar, mas continuou. — Não mostrar o quanto tu te importa com as coisas, se afogar na bebida a primeira chance que tu tem, como é fácil pra ti te perder em qualquer guria... e machucar elas também.

      Curioso, abri um sorriso para tudo aquilo. Era um jeito fácil de dizer como eu era, mas também não era completo, e com certeza fazia eu raciocinar longe demais daquela conversa.

      — Passou pela tua cabeça que eu ia te machucar? — Perguntei. Do jeito que ela falava, parecia que eu era incapaz de não machucar as pessoas, o que era uma baita mentira. Não machucava as pessoas se eram elas que imaginavam e pediam coisas que eu sempre deixei claro que não podia dar.

     —  Eu namoro, Aquiles. — Lívia falou, engrossando a voz e parecendo irritada com a própria fala.

     Eu ri, balançando minhas mãos no ar como se quisesse apagar aquela informação. — Não, não... Não em um relacionamento, mas num geral.

      Com a minha risada, pensei que ela ia me acompanhar mais uma vez naquela troca de risadas e implicações, mas então ela voltou a falar, o rosto sério e sem emoção. 

      — Tu faz isso sem perceber.

      Meu rosto caiu junto com o dela, e o momento único de leveza que estávamos tendo acabou se indo. Com os dois sentados e se olhando, minha mão agiu sozinha e foi atrás do seu pé, o mais próximo dela. Eu tentei alcançar a pele do seu calcanhar em um impulso de acariciar e confirmar que nunca tinha sido minha intenção.

      Queria dizer que não era por querer, queria tocar pela primeira vez na sua pele e viver aquele estado entre a bebida e vida monótona pra falar de novo tudo o que eu senti quando vi ela no pórtico da faculdade. Mas quando ela viu minha mão se movimentando, ela se levantou e começou a caminhar de costas até seu quarto. 

     Eu ri, fraco, e olhei o seu corpo indo. 

     — Eu vou dormir. — Ela disse rápido, subindo a ponte do seu nariz e franzindo o rosto, fugindo de mim. 

      Eu balancei a cabeça, ignorando aquelas coisas que pensei, e examinei ela entrando devagar no quarto. Esperei ela me dar um boa noite, mas aquele simples desejo não veio, e eu só fiquei com o desejo de conversar com ela de novo em alguma outra madrugada que eu chegasse. 

     Me levantando, desliguei as coisas e deixei meu prato na cozinha, indo pro meu quarto. Fechando a porta e pegando mais uma das minhas garrafas, induzindo mais o sono que eu estava sentindo, tentando me embriagar o suficiente até pensar em um momento certo para investir mais ainda em Lívia. 


n o t a  d a  a u t o r a 2: 

OIE! Eu sei que demorei pra atualizar, mas é que as funções da faculdade estão me matando. 

O que acharam do capítulo? As coisas estão mudando e vocês não fazem nem ideia do que está por vir. 

p e r g u n t a  d o  d i a: Até agora, qual a passagem preferida de vocês do livro?

Até o próximo capítulo!

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