• Atualmente
Deitado em sua cama — que agora ficava no sótão e não mais em uma suíte apenas sua —, Louis pensava em como a vida havia mudado nos últimos 10 anos. Como seu pai não deixou nenhum testamento, Kim tomou conta de todos os seus bens e controlava o restaurante que com tanto sacrifício, Mark fez tornar-se um dos melhores da região. Ela alterou o nome de "Tomlinson's" para "Kardashian's", cobriu as paredes com um papel de parede rosa bebe e verde água, alterou os bancos pra algo mais moderno e fez todos os funcionários de confiança de Mark usarem um uniforme brega que fazia com que todos ficassem esquisitos pra que ela parecesse maravilhosa. Fora isso, ela passava a maior parte de seu tempo pensando na próxima cirurgia plástica que iria fazer e nas horas livres perturbava a vida de Louis.
— LOUIS! - ele ouviu um grito ecoando pela casa e logo seu celular começa a tocar. Ele deu um longo suspiro e levantou-se, olhando pra revista em cima da escrivaninha velha e dando-lhe um beijo antes de rodopiar, sorrir e andar pelo quarto até chegar no banheiro, onde ele toma um banho rápido e veste uma jeans, uma camiseta larga, um tênis surrado e um boné pra ir à escola na parte da tarde. Ouviu novamente um grito escandaloso - LOUIS!
— Já vou, já vou - falou descendo as escadas correndo, chegando na cozinha e fazendo o café da manhã de sua madrasta, que era basicamente um salmão feito com salada. Não entendia a cabeça louca de Kim e nem queria.
Ao sair pra ir até a piscina, onde provavelmente Kim estaria tomando banho de sol, Louis lhe entregou o salmão e ficou observando as suas irmonstras fazendo aulas de ginástica artística na água. Segurou a risada ao vê-las fazendo movimentos estranhos e totalmente sem sincronia.
— Minhas filhas são extraordinariamente talentosas - Kim comentou para o treinador das garotas, que deu um sorriso falso e assentiu - esse é o salmão norueguês que eu pedi?
— Só do melhor - falou Louis, notando o livro de Dietas com salmão que Kim estava lendo. Por muito tempo o garoto achou que ela nem ao menos sabia ler, mas de repente ela apareceu com o livro e começou com a loucura dela comer salmão todo o tempo. Inclusive, era uma das mudanças que Kim havia feito no restaurante: agora tinha panqueca de salmão, empanado de salmão, salmão frito, cozido, assado, com ovos e vários outros tipos que nem mesmo ele, que trabalhava lá, lembrava.
— O que está fazendo parada aí? - Kim perguntou quase que incrédula - vá trabalhar!
— Kim eu nao posso trabalhar hoje - falou juntando as mãos como sempre fazia quando tentava explicar algo - eu tenho uma prova muito importante e eu preciso estudar.
— Que interessante Louis - falou ela sendo irônica - mas deixa eu te falar uma coisa. As pessoas vão pra escola procurando ficar espertas pra conseguirem um emprego. O engraçado é que você já tem um emprego - ela falou, fazendo Louis bufar por dentro, imaginando-se dando um pé na bunda siliconada daquela maluca - então querido, vá pro seu trabalho que o turno está começando.
Louis revirou os olhos e saiu de perto com os ombros caídos, pegando seus materiais e seu carro pra ir até o restaurante. Ele dirigia um Pontiac GTO de 1965, que hoje em dia já não se encontra em lugar algum. Apaixonado por carros antigos, ele não se importava com o que os outros pensavam ao vê-lo andando com o modelo por todo canto.
Ao chegar no restaurante que seu pai construiu, olhou pra placa e bufou, negando com a cabeça antes de pegar seu avental, patins e andar até a parte da frente, por onde ele entrou e já avistou o gerente do local. Paul Rudd era um homem responsável, determinado e muito talentoso. Provavelmente era uma das pessoas mais inteligentes que Louis já havia conhecido e se tornou um pai pra si na ausência de seu próprio. Sempre fazia questão de aconselha-lo sobre coisas como estudo, relacionamentos (mesmo que não existissem) e principalmente: Kim.
— O que esta fazendo aqui? - Paul perguntou - você me disse que ficaria em casa pra estudar.
— Kim não permitiu que eu ficasse - falou já sentando-se em um dos sofás estreitos pra colocar os patins que eram obrigatórios no uniforme.
— E dai se ela não permitiu? Você me disse que essa é uma prova importante.
— Paul, não começa - falou suspirando - por favor.
— Não, Louis presta atenção. Seu pai não iria querer que ficasse por aqui limpando mesas. Ele iria se preocupar com sua educação que é muito mais importante.
— Mas o que eu posso fazer? Paul, se a Kim parar de me ajudar eu não vou ter dinheiro o suficiente pra faculdade. Então nada de Oxford.
— Se você não passar nos seus exames, nada de Oxford também - falou Paul. Louis franziu o cenho e em seguida suspirou derrotado, sabendo que o homem tinha razão.
— Eu só não quero confusão. Ela fica agressiva se não faço o que ela pede.
— Quero que ela se dane - falou Paul com um olhar repreendedor - não vá embora tarde pra não se atrasar pra escola.
— Combinado - deu um sorriso e colocou o avental liso e cor de rosa.
Na realidade tudo naquele restaurante se tornou cor de rosa com vários tons e luzes em neon, completamente brega e de mau gosto. Pelo menos na opinião de Louis. Ele gostava de coisas mais simples, talvez alguns quadros e apenas uma simples pintura já fossem o suficiente. Mas não era ele quem herdara o restaurante.
Algumas horas depois e Paul olhou pra Louis com preocupação, olhando-o limpar algumas mesas e pegar talheres e pratos deixados pelos clientes.
— Louis o que ta fazendo aqui? Vai se atrasar pra escola!
—Eu sei, eu já to terminando - falou ele pegando mais um prato e mais um copo.
— Não, negativo - falou Paul. Ele não usava patins, se recusava a fazê-lo, então conseguiu alcançar Louis rapidamente e pegar dele os pratos que segurava - vai pegar suas coisas e vá já pra escola. Você não vai se atrasar.
— Mas Paul-
— Agora, Louis! O que seu pai diria se te visse aqui desse jeito? - o garoto suspirou derrotado e lhe entregou tudo o que tinha nos braços.
— Obrigado Paul.
— De nada, agora anda!
Louis sorriu e se apressou em pegar seu material, saindo do restaurante e correndo para seu carro.
Todos os dias ele buscava seu melhor amigo na casa do mesmo. Ezra Miller era do tipo de cara que gostava de atuar. Mas suas peças eram na vida real, então todos os dias ele praticamente se fantasiava pra ir à escola.
Assim que parou na frente da casa de Ezra, o pai do mesmo estava limpando seu carro. Johnathan Miller era um cara que tinha um Porsche 718 Boxster e o tratava melhor e com mais carinho do que o próprio filho. O carro sempre estava na oficina pra ver se estava tudo certo e também John o limpava pelo menos duas vezes na semana.
— Que beleza de carro hein senhor Miller! - Louis falou, buzinando pra que Ezra soubesse que ele estava esperando.
— O melhor amigo de um homem é seu Porsche, Louis.
— Vou tentar me lembrar disso - Louis falou com um grande sorriso no rosto. Então viu seu melhor amigo saindo de sua casa com um papel azul na mão. O garoto parecia um rapper, usava um boné aba reta pro lado, uma camiseta larga que ia até metade de suas coxas, uma bermuda até pouco abaixo do joelho, uma meia branca até a canela e um tênis também branco. O restante da roupa era inteiramente vermelha. Louis revirou os olhos e deu uma risada, ouvindo o amigo repetir um script.
— Tudo é possível se você acreditar - falou com convicção e logo depois alterou o tom - tudo é possível se você acreditar.
O pai de Ezra o olhava e negava com a cabeça, como quem pergunta "onde foi que eu errei?", enquanto Louis ficava observando e segurando a vontade de rir.
— A seleção é hoje? - John perguntou.
— Sim! As 18 horas pai - falou Ezra - avise a mamãe! Eu esqueci.
— Tudo bem - falou ele, voltando a atenção pra roda do carro - mostre a eles filho.
Assim que chegou próximo ao carro, olhou e virou-se pra olhar o pai.
— Oh pai! Não está vendo que eu tenho que ir pra escola assim? - apontou pro carro. Louis arqueou as sobrancelhas em surpresa - não é com você Lou, desculpa - falou e voltou-se para o pai novamente - mas é sério, não é de dar pena?
— Não - falou John, com um olhar quase incrédulo - eu tenho pena é dos três últimos carros que deram perda total - com isso, Ezra suspirou pesadamente e encolheu os ombros. Louis começou a rir baixo.
— É... Justo, tudo bem - falou ele, entrando no carro sem questionar mais nada - tem razão.
Ele entrou no carro e Louis ficou olhando pro óculos escuro que o garoto usava, também observou as largas correntes de aço em volta do seu pescoço e revirou os olhos, pigarreando pra chamar sua atenção.
— Ezra, o que esta vestindo?
— QUE? - Ezra se fez quase de ofendido - esse é o meu visual rapper.
— Olha... Eu definitivamente não vou te levar pra escola assim.
— Louis, eu sou um ator metódico. Essas coisas fazem parte do meu dia a dia - falou. Louis tirou o boné dele e logo embaixo tinha uma touca preta, que ele colocou no colo e suspirou.
— Que coisa é essa? - Ezra arfou, convencido.
— Ta bom, eu já volto - falou entredentes, saindo do carro e voltando pra dentro de casa.
•••
A escola onde Louis frequentava, era enorme e cheia de pessoas diferentes, cada uma com seu jeitinho em particular. Por exemplo, tinha a turma dos emos, que ficavam em um canto e usavam muita roupa preta. Tinha o grupo dos nerds onde a maioria passava os intervalos nas bibliotecas e as vezes no banheiro, fugindo de valentões. E bom, tinha Niall Horan, que era locutor da rádio escolar e atualmente tinha as pontas dos cabelos arrepiados pintadas de lilás, mesmo que achassem estranho. Ele não ligava, realmente.
— Bom dia sapos guerreiros - falou com sua voz doce e suave no microfone que era ligado à caixas de som distribuídas por toda a escola, inclusive em alguns lugares do pátio - uma ótima tarde pra vocês e apenas um lembrete. Economizem água, lembrem-se de que estamos em temporada de seca. Evitem tomar banhos longos e vamos todos ficar bem. O campeão da economia é o professor Coweel que não toma banho há semanas. E não se esqueçam também de que hoje é o último dia pra comprar seus ingressos pra noite do dia das bruxas dos ex-alunos. Vamos lá! Vocês podem se fantasiar do que mais desejam ser, inclusive coisas sem noção e- — nesse momento apareceu a vice-diretora Jhennifer e Niall alterou completamente seu discurso, começando a cantar o hino em homenagem à família real.
Enquanto isso, Louis e Ezra chegavam na escola e se preparavam pra pegar uma vaga bem na frente da escola, o que era bem raro visto que os populares viviam fazendo vista grossa naquelas vagas. Porém, assim que foram estacionar uma Mercedes passou bem na frente e estacionou na diagonal, pegando exatamente duas vagas. Louis bufou e Ezra arqueou as sobrancelhas, vendo que se tratava de Nadine Leopold, a queridinha da escola. E por queridinha quer dizer que era a popular.
— Vacilou? Perdeu - falou Nadine com um sorriso cinico.
Junto com mais três amigas — Gabby Westbrook, Danielle Campbell e Zoe Kravitz —, Nadine saiu do carro. Se isso fosse um filme, provavelmente elas sairiam em câmera lenta, os cabelos estariam ao vento e provavelmente o sol manteria o brilho no bronzeado falso de seus corpos.
— Nadine Leopold e suas damas de companhia - falou Ezra dando um quase suspiro apaixonado - ela e louquinha por mim - Louis olhou incrédulo pro amigo.
— Ezra, de onde você tirou tanta merda? Você nunca nem falou com ela - falou Louis, olhando ao redor pra ver se encontrava outra vaga.
— Falei sim! Na minha mente tá bom? E saiba que na minha mente ela é absolutamente louca por mim.
— Ezra você poderia ficar afim de meninas muito melhores do que a Nadine mesmo na sua mente - falou Louis, vendo a garota rir com as amigas.
— Uh... Olha! Tem outra vaga ali - falou ele, apontando pra um lugar que ficou livre.
— É eu vi - falou, já indo fazer a manobra. Porém bem na hora uma Land Rover quase passou por cima deles e entrou na vaga de ré. Louis bateu no volante, completamente incrédulo - Qual é?
Dois garotos — Tristan Evans e James Mcvey — saíram rindo do carro, gritando que haviam vacilado e perdido o lugar. Louis negou com a cabeça e ficou observando quando o líder daquele bando saiu do carro. Harry Styles era o tipo perfeito de modelo pra cap de revistas. O garoto era capitão do time de futebol americano, seu pai era dono de uma rede de lava jatos e garagens, ele possuía longos cabelos cacheados, olhos verdes, uma pele leitosa e usava apenas roupas de marca. Aquela pose de durão sem sorriso algum no rosto, era o que mais fazia Louis se questionar o porquê de Deus dar a ele tanta beleza se nem um sorriso ele conseguia dar.
— Oh meu Deus, Harry! - Nadine deu um grito estridente e Louis revirou os olhos.
— Eu juro que pessoas como Harry e Nadine são programadas geneticamente pra se encontrarem - falou Louis - como é que cabe tanto ego num relacionamento?
— Imagino o que eles falam de você - Louis suspirou e negou com a cabeça, olhando a cena de Nadine tocando o braço de Harry.
— Eles nem sabem que eu existo - porém o destino é realmente uma vadia que pega todo o dinheiro da sua carteira e vai embora deixando-o pra trás completamente nu em um motel. Naquele momento, Zoe olhou pra Nadine e apontou pra Louis e Ezra, que se encolheram. Na sequência, a loira pegou um mega fone que usava enquanto fazia acrobacias como líder de torcida.
— A área branca é só pra galera popular, vocês baratas podem dar meia volta e ficar na área amarela, obrigada - falou arqueando a sobrancelha e dando um sorriso cinico. Tristan olhou pra Louis e riu baixo.
— Garçom, pode me trazer um burrito pra viagem? - perguntou rindo - valeu.
— E você pensava que nem sabiam da sua existência - falou Ezra.
— Sei - suspirou e ligou o carro, voltando pra procurar uma vaga mais longe da entrada da escola.
•••
A escola realmente parece com uma selva onde os leões dominam. No caso, Nadine Leopold e suas damas de companhia eram as leoas principais e elas realmente estavam no comando. Faziam questão de andar pelo corredor sem nem ao menos virar o rosto pro lado, afim de não olhar para seus "súditos". Pelo menos na cabeça dela era assim. Kendall e Kylie as cumprimentaram e Nadine literalmente questionou o por quê de aguentarem aquela dupla.
— Porque elas te deram uma bolsa da Prada de presente - falou Gabby.
— Prada? Aquilo tava óbvio que era falso - falou Zoe. Danielle apenas continuou andando.
Louis olhou pra elas enquanto cruzava o corredor e torceu o nariz, perguntando-se até quando a escola iria se submeter à pessoas como aquelas. Ele e Ezra iam descendo a rampa pra ir até o pátio quando cruzaram com um garoto moreno, olhos perfeitamente castanhos e brilhantes, os cabelos negros iam até a nuca e ele usava um óculos que os lembrava de Matrix. Na camiseta preta estava escrito "The Matrix" e tinha também uns códigos em verde.
— Oh, olá rapazes - falou o garoto com um sorriso, segurando dois aparelhos estranhos que pareciam uns daqueles rádios de transmissão - Louis! Você está lindo como sempre.
— Obrigado Zayn - falou com doçura em sua voz, dando um sorriso. Ouviram um barulho esquisito.
— Oh, desculpa, eu tenho que voltar pra minha galáxia agora - falou e passou pelos dois - Terry? Tenente Zayn falando.
Louis e Ezra ficaram observando intrigados àquela cena. Tudo bem que sabiam que Zayn vivia no mundo da lua, mas naquele momento estava claro que ele literalmente vivia lá.
— Coitado - falou Ezra.
— Ah... Pelo menos ele é feliz.
— Feliz? Louis ele vive no mundo da lua.
— As vezes a fantasia é melhor do que a realidade - ouviram um toque de celular e Louis pegou o seu no bolso, dando um sorriso ao ver de quem se tratava.
— E por falar em fantasia... - falou e isso não conseguiu fazer Louis desanimar, ele deu um sorriso enorme e abriu a mensagem.
— Até depois.
— Ah é, um chamado do admirador secreto.
Louis foi até o banco que construíram em volta de uma árvore enorme e sentou-se, observando todo e cada aluno que estava ali próximo mexendo no celular. Deu um longo suspiro, pois conheceu esse rapaz em um chat da universidade de Oxford. Ele realmente era interessante e Louis gostava de trocar mensagens com aquela pessoa, não importava quem fosse.