─ Todo dia, ele me fala a mesma coisa, que sou maravilhoso.
─ Ele, com toda a certeza, está mentindo.
─ Lara? Vai comer não? ─ Léo me grita.
─ Tô sem fome ─ digo pro mesmo quando aparece na sala.
─ E tu lanchou na escola? ─ pergunta e nego. ─ Se quiser comer tem lasanha no forno. Peter já está vindo, então come logo porque ele tem um buraco negro no lugar do estômago.
Dou um sorriso e assinto, ele pisca e volta a se arrumar pro serviço.
─ Não comeu por quê? ─ dessa vez Bruno pergunta, rolo os olhos, inconveniente.
─ Deve ser porque não quis.
─ Quer sumir é, garota? Se tu cair eu te enterro.
─ Obrigada.
Ele se levanta, pega o controle e muda a programação colocando no documentário que passava, e depois, esconde o controle.
Idiota!
Vou pra cozinha, vejo Léo já vestido na roupa preta e branca do restaurante dele, ele vem e me dá um selinho.
─ Come viu, vou fazer o que mais gosto ─ ele diz pegando as suas chaves, estava mais que cheiroso. ─ Ah, eu fiz gostoso...
Olho pra ele e dou um sorriso.
─ A lasanha ─ completa, manda beijo no ar e vai embora pro serviço.
Bebo só uma água e volto pra sala, só eu e aquele idiota no apartamento. Ele estava atento ao documentário e eu morrendo de sono, então só me aconcheguei no sofá e adormeço em imediato.
***
Acordo com um barulho alto, dou um pulo do sofá e vejo Bruno ouvindo aquela merda de rock no último volume e lendo um livro, ele estava de óculos e confesso que seu óculos lhe caia muito bem, mas isso não era hora pra reparar nele...
Vou até o mesmo e tomo o controle da sua mão, desligo a televisão e taco o controle com tudo nele. Ele me olha e cerra os olhos.
─ Nem vi você ali, priminha ─ diz com ironia e bufo.
Quando lhe dou as costas ele coloca aquela merda de música alta de novo e me viro o fuzilando. Se eu pudesse matar ele... iria o torturar de todas as formas, esse bastardo maldito!
Vou pro quarto, lavo o rosto e escovo os dentes, olho no celular e já são três da tarde. Ainda tinha atividade de física e química pra fazer e disposição estava lá em cima.
Olho pro quarto e procuro algo pra fazer. Logo me lembro das roupas, iria começar a separar elas pra doar, e faria isso agora. Fui atrás de algumas sacolas grandes e voltei. Joguei todo meu guarda-roupa no chão e na cama.
Ser filha de donos de uma empresa de roupa se resultava nisso, todo dia, era lei, mamãe tinha que comprar uma peça de roupa pra mim e como eu também desfilava com as roupas da empresa, eu ganhava toda a coleção. Muita das vezes nem usava as roupas.
Olhei pra toda aquela multidão de roupa e pensei comigo: mãos à obra!
Comecei a separar as roupas que iriam pra doação e as que eu deixaria. Foi quase meu guarda-roupa todo pra sacola, e quando terminei, estava suando mesmo com o ar ligado, e já tinha três sacolas grandes cheias. Fui ver as horas no relógio e eram cinco e meia.
─ Brunooooo! ─ gritei aquele idiota tentando puxar as sacolas pro meio do quarto, mas elas estavam lotadas, quase explodindo.
Ele chegou no quarto dentro de um ou dois minutos e parou na porta me olhando. Ele cruzou os braços na altura dos peitos e analisei aquele corpo dele sarado, ele vestia uma calça moletom que estava meia caída revelando sua cueca preta da CK, estava sem camisa, e contei cada gominho que enfeitava sua barriga seguindo as entradas da pélvis que eram bem marcadas.
─ Tá babando ─ ele disse e riu.
O sorriso branco, as covinhas, e o óculos no rosto que lhe deixava com um ar mais autoritário do que já tinha.
─ Me ajuda com essas sacolas... acha que essas roupas estão boas? ─ ele descruza os braços e caminha até mim, suspende as duas sacolas no ar e leva pra fora do quarto.
Não deixo de notar as veias em seus braços que eram bem visíveis.
─ Estão ótimas, priminha ─ colocou as sacolas em um canto e foi pegar a última. ─ Vai deixar as adolescentes felizes.
─ Muitas estão novas, nunca usei até ─ digo e ele assente.
─ O que foi isso? ─ tocou meu braço, bem onde o hematoma feito por Ruan estava, é, por conta da minha pele alva qualquer aperto já ficava o hematoma.
─ Nada ─ me jogo na cama e ele vem atrás e se senta na cama de Arthur.
─ Andou caindo por aí? ─ riu após falar.
─ Não te interessa.
─ Priminha vai comer, já está até caindo por aí de fraqueza, depois morre e ninguém sabe o porquê ─ ele diz mexendo nas minhas coisas e taco uma pelúcia minha nele.
─ Para de mexer aí ─ vi que ele pegou meu diário antigo. ─ Bruno!
Fiquei pulando e tentando alcançar ele, mas ele era um muro, bem mais alto que eu.
─ Querido diário... hoje eu brinquei com minhas barbies ─ nada sarcástico.
Chutei o joelho dele e o mesmo jogou meu diário no chão, peguei ele mas assim que o tive nas mãos ele me agarrou pela cintura e me jogou nas costas.
─ Vamos comer, priminha ─ foi me levando pra cozinha.
Eu tentava sair dos braços dele e esmurrava as costas dele, mas nada, ele nem me colocar no chão colocava, eu já estava tonta.
─ Me coloca no chão, Bruno ─ grito e ele ri divertido.
Mas até que essa visão não era ruim... olha essa bundinha dele.
Continuo batendo nas costas dele e ele me coloca no chão e me senta na mesa, vai pegar a lasanha e refrigerante e me serve.
─ Não tô com fome ─ bufo.
─ Claro que tá, não come nada desde de manhã, agora quero vê você comendo tudinho se não quiser que seu primo saiba de algumas coisas suas ─ me ameaça, cretino.
Ele coloca um pedaço gigante de lasanha e enche o copo com refri, rolo os olhos, e pego o talher comendo, ele me observa sério.
Como tudo, duas fatias, quando termino olho pra cara dele e levanto a sobrancelha.
─ Satisfeito? ─ ele assente.
─ Obrigado ─ diz e se levanta. ─ Agora lava a louça, empregada.
Ele vai pro sofá e bota aquelas músicas horríveis pra tocar, já estava morrendo de dor de cabeça, que gosto musical era aquele? Coitado.
Lavo as louças, guardo tudo e vou pegar meu caderno pra estudar, amanhã tinha que entregar meu caderno, ou seja, tinha que esforçar, não queria por nada repetir de ano.
Foda é que eu não entendia muito bem aquele assunto de espaço, tempo e velocidade de física, nunca havia entrado na cabeça.
─ Bruno? ─ o chamei, ele assistia seus documentários estranhos.
─ O que é?
─ Como saber a velocidade de algo? Como saber qual a velocidade de um ônibus pra uma pessoa na rua? ─ pergunto quase arrancando meus cabelos.
─ Física? ─ assinto. ─ Credo, terceiro ano e vocês ainda dão S.T.V? ─ nega com a cabeça.
Ele levanta e vem se sentar do meu lado. Sinto aquele perfume dele, aquele seu cheiro másculo que me inebriava.
─ Na física isso é relativo, digamos que temos um ônibus à 60km/h e um Arthur colado na traseira do ônibus. Pra Arthur, o ônibus não tem toda essa velocidade, ele está parado, mas se uma pessoa na rua ver ele esse ônibus ele estará à 60km/h. Entendeu?
Nego.
─ Num ônibus, existe um passageiro...
─ Só um? Por que não três? Pra não ficar solitário...
─ Cala a boca, tu não sabe resolver nem isso e quer dar palpite... deixe o professor aqui explicar.
─ Tá, professor Bruno.
─ Então, esse passageiro está andando no interior de um ônibus, ele está andando até o motorista, digamos que ele ande cerca de 1m/s, então a velocidade dele será 0,01km/h, mas se alguém visse da rua, seria de 60,01km/h... entende agora? ─ estava começando a clarear.
─ Mas por quê 60,01km/h? ─ pergunto e ele rola os olhos.
─ Se conta com a velocidade do passageiro, burra.
Ele continuou me explicando e explicou bem melhor que minha professora de 60 anos que tinha uma verruga na testa. Ele era bem inteligente e pelo visto, amava física, só podia ser retardado.
Ele me ajudou em química também e quando terminei fechei o caderno e balancei a cabeça doidinha da silva.
─ De nada ─ ele diz se levantando.
─ Fez mais que sua obrigação.
─ Já sabe que faculdade fazer? ─ ele pergunta e me agacho pegando meu lápis no chão, quando me viro vejo Bruno de olho na minha bunda. ─ Bonita calcinha de ursinhos.
Meu rosto se cora, sinto ele arder de vergonha, meu Jesus, ele havia visto minha calcinha. Sou muito desastrada!
─ Bem... eu... eu vou fazer administração... eu acho... moda? ─ digo rindo de vergonha.
─ E eu vou tomar banho, tchau ─ ele sai dali em passos rápidos e eu abro um sorriso tímido.
Imbecil, idiota!
Me abano também e vou guardar meu caderno. Mas então, me surge uma ideia de me pertubar Bruno e continuar com nossa brincadeira, ou melhor, nosso jogo de provocação. Mas não provocação no sentido bom, e sim no bem ruim.
Primeiro foram os pneus e agora... que tal uma comida com um pouco de laxante?!