A semana seguinte correu de pressa.
Parecia que todos os professores tinham combinado dar provas e extensos trabalhos naquela pequena semana que antecedia o feriado. Passei a maior parte do tempo com Zac na minha casa estudando as matérias que ele achava que eu precisava de reforço.
Suan e Bruce já tinha brigado mais vezes do que eu conseguia contar e Josh estava me evitando a todo custo.
Ele havia me perguntado sobre Zac no dia seguinte a que fomos no observatório e fui bastante franca dizendo que gostava dele mais do que sabia explicar. A verdade é que estava cansada dos jogos que ele fazia, assim como de seus inúmeros segredos.
Na semana que se seguiu me deixei levar pela leveza de Zac e acreditar na filosofia de vida dele, as coisas ruins só aconteceriam se acreditássemos nelas.
A partir do momento que parei de me preocupar com o significado dos meus sonhos, com as lembranças de Josh e principalmente com o controle do meu dom as coisas fluíram simplesmente.
Se eu queria ser o uma garota normal precisava ser como elas.
Meu desempenho melhorou muito na escola, o que seria quase um milagre sem o meu dom. No trabalho passei a dar mais atenção aos clientes sem invadir suas privacidades.
Nunca tinha me sentindo também em toda a minha vida. Como se uma leveza tivesse me absorvido.
Parei de procurar o significado de todas as coisas, me obriguei a ver o que todo mundo via e por mais engraçado que pareça eu gostei muito daquilo.
Até meu relacionamento com a minha mãe melhorou muito e dormir todas as noites já não era um problema. Louise estava convencida mais do que nunca que Zac fazia muito bem para mim.
-Olha para você.- disse Louise me cutucando.- Não te vi usando preto nenhum dia da semana.
Olhei para as minhas roupas, que até uma semana atrás estavam guardadas no fundo do armário ainda etiquetadas.
-Eu gosto dessas roupas.
-Eu também gosto, você fica bonita usando roupas mais claras.
Louise estava deitada na minha cama, abraçada em um travesseiro, exatamente como Suan faria em qualquer dia normal.
-E como vão as coisas com Zac?- quis saber ela.
Suspirei lentamente e me sentei no meu banco junto a janela, observando as crianças brincando na rua em frente à minha casa.
-Eu gosto dele. Ele me faz sentir normal.
-Não sei se isso é uma coisa boa de se dizer. Parece meio chato.
Olhei para ela e depois revirei os olhos enquanto ela ria.
-Claro que vendo isso de um ponto totalmente igual o seu parece a coisa mais maravilhosa do mundo.- ela se levantou e veio para o meu lado, empurrando meu traseiro com o seu para que pudesse sentar junto comigo.- Sabe eu sei que fazer o que a gente faz nem sempre é bom, mas faz parte de quem nós somos. Você não deve querer reprimir isso e ainda tornar o relacionamento seu do Zac a causa disso. Eu sei que o início da sua mediunidade não foi a coisa mais fácil do mundo, mas pensa, agora que você controla sua mente é muito bacana poder fazer o que você faz. Assim como eu acho legal fazer o que eu faço. Depois que me aceitei como eu sou as coisas ficaram muito melhores.
-Você tem razão.- olhei para ela.- Mas quando digo que com o Zac me sinto normal não é quanto a mediunidade que estou falando. Na verdade tenho usado bastante dela para impressioná-lo.- sorri sem mostrar os dentes.
-Sei bem, achei muito estranho aquele seu lance de dizer que sabia cozinhar super bem. Nunca tive nenhuma visão sua cozinhando.
-A nem vem, ninguém faz batata frita congelada melhor do que eu.- disse soqueando ela de brincadeira no ombro.
Ela gargalhou.
-O Mcdonalds faz.
-Com toda certeza faz.- nós duas rimos.
Não foi difícil explicar o tipo de normalidade que Zac me transmitia. Não era o fato de poder ler a mente de alguém que me incomodava, como a própria Louise tinha dito, eu adorava fazer o que fazia depois que aprendi a controlar aquilo. Mas o que causava meus dias estressantes na maioria das vezes eram minhas inúmeras preocupações com o futuro. Meus sonhos eram os problemas, as coisas que eu via e sentia quando estava dormindo só me deixavam mais preocupada. E a única pessoal com quem havia me aberto tinha me plantando ainda mais dúvidas. Claro que era eternamente grata por tudo que Josh havia me ajudado a desenvolver, era simplesmente fascinante poder sentir o que as pessoas sentiam. Mas todo aquele mistério que envolvia ele e eu parecia nunca ter fim, e a angustia que me causava estar sempre esperando por algo que eu não sabia definir bem o quê, só piorava as coisas.
Josh e eu éramos pessoas muito diferentes, e mesmo que eu não conseguisse tirá-lo da cabeça cem por cento, me sentia bem mais confiante para fazê-lo enquanto estava com Zac.
Não era usar um para esquecer o outro, era simplesmente saber fazer a escolha certa.
Ouvimos dois toques na porta antes dela se abrir.
-O Zac está ai.- disse meu irmão cheio de deboches, mas parando assim que percebeu que Louise estava comigo.- Vou mandar ele subir.
-Tudo bem.
Louise se levantou prontamente indo direto para minha cama se juntar ás almofadas aos suspiros.
-Quer parar de ser mulherzinha?!- disse jogando nela um lápis que estava no porta canetas a minha frente.
-Eu não consigo evitar. Quando olho pra ele lembro de tudo que vamos viver.- ela piscava freneticamente.
-Que coisa mais estranha de se dizer.
-Não mais do que ele me faz sentir normal.- ela dizia tentando imitar minha voz.
Toquei outro lápis nela.
Zac entrou no quarto vindo direto na minha direção e depois de pressionar levemente os lábios nos meus cumprimentou Louise com um olá cantando. Era o jeito de Zac sempre fazer graça com as coisas, ele já não se sentia tímido quando estava perto das pessoas que conhecia, o que permitia que ele se tornasse mais ele mesmo.
Ele sentou do meu lado e colocou minhas pernas no seu colo, ficando de costas para a janela só para poder acariciar meus pés enquanto conversava com a Louise. Os dois falavam sobre programas de Tv, enquanto eu só observava eles competindo por quem sabia mais de MTV que o outro. Era engraçado observar como Zac sempre fazia tudo para agradar a todos, sempre querendo fazer parte do grupo.
Enquanto eu olhava para ele me dei conta que era aquilo que eu sempre quisera em um garoto, alguém que fizesse parte do mundo e me levasse com ele. Que soubesse admirar as qualidades das pessoas e aceitar os defeitos delas. Que não debochasse daquilo que não entendia, mesmo que fizesse piada do mesmo. Mas que ao fim de tudo me fizesse perder a noção da hora só com a sua presença.
-O que você tem que está tão calada?- perguntou ele.
Apenas balancei a cabeça e entrei no assunto. Me deixando envolver pela harmonia que ele causava. Bruce se juntou a nós assim que ouviu nossa risada. Claro que meu irmão não podia ficar longe das gargalhadas que dávamos. Ele se sentou no enorme tapete em frente a cama e se junto a Zac nas suas inúmeras histórias.
Até nisso Zac me surpreendia, tudo bem que meu irmão era a pessoa mais sociável do mundo, mas foram raras as ocasiões que ele se abriu tão rapidamente com alguém. A impressão das pessoas de fora era que Zac já fazia parte do grupo há muito tempo, assim como era meu namorado.
Até a própria Suan, que estava a cada dia mais distante e exigente, se obrigou a dizer que ele me fazia muito bem.
-Nossa perdi a noção do tempo. Preciso ir para casa.- disse Louise se levantando rapidamente.
Meu irmão olhou para ela sem fazer nenhum esforço para esconder sua frustação.
-O que você tem de tão importante?
Balancei a cabeça em negativa para o meu irmão, ele podia ao menos ser discreto na frente das pessoas.
-Vou buscara a minha mãe no aeroporto com a Scarlet. Faz semanas que não vejo ela.- disse ela calçando os sapatos e enfiando o cachecol em volta do pescoço.- Bom fim de noite pra vocês pessoal.
Bruce levou ela até a porta e depois foi direto para a casa dos Mcfild, dando a mim e a Zac privacidade. Nem quis saber o que ele havia dito para ela na porta antes de cruzar o gramado, mas já imaginava o tormento que meu irmão estava vivendo. O que eu não imaginava era que ele se abriria sobre o assunto com Zac.
-O Bruce é um cara legal, não sei o que faria no lugar dele.
-Como assim?- arqueei uma sobrancelha bastante surpresa.
-Ele veio me contar sobre o lance da Suan e da Louise. Me disse que gosta muito da Suan e que não quer magoar ela, mas que não consegue pensar em outra coisa que não seja na Louise dia e noite.
Suspirei entendendo completamente o que ele queria dizer.
-Sei exatamente como ele se sente, Suan é minha amiga desde sempre, mas não tenho como negar que Louise e eu andamos muito próximas, e quando Bruce tomar uma decisão eu vou acabar ficando no meio disso. Não quero perder a amizade delas, mas acho que isso vai ser inevitável.
Ele me abraçou dando todo o apoio que eu precisava, depois sorriu me incentivando.
-Você não tem nada a ver com isso, e se Suan for sua amiga de verdade vai entender completamente. Posso estar enganado a respeito das duas, mas tenho quase certeza absoluta que elas te amam acima de qualquer gostoso. Mesmo que seja o seu irmão.
Revirei os olhos pra ele e dei um tapa no seu peito enquanto ele me puxava para perto de si. Era aquilo a que eu me referia a Louise, Zac me fazia rir nos momentos mais inesperados. E sempre fazia com que eu me sentisse bem, quando tinha todos os motivos para sentir o contrário.
-Por falar nisso, foi por isso que eu vim aqui.- começou ele me largando.
Olhei para ele com os olhos cerrados, tentando entender o que estava por vir sem ter que apelar.
-Não me diz que está apaixonado pelo meu irmão também?!- cobri a boca com a mão.
Ele imitou uma menina dizendo inúmeras promessas de amor que faria a Bruce, me arrancando as mesmas risadas de sempre. Depois me encheu de pequenos beijos e elogiou a forma como eu ria.
-Tudo bem, o que você queria falar?- perguntei.
Ele se afastou um pouco de mim e me olhou um pouco mais sério do que de costume.
-Assim como o Bruce me contou sobre o lance dele, me contou sobre o lance do Josh.- no mesmo instante desviei do olhar dele, odiando ser o centro das atenções em um assunto tão constrangedor.- Seu irmão me falou que perguntou a ele sobre o feriado e ele disse que não perderia por nada.- uma ruga surgiu entre as sobrancelhas dele.- Olha eu sei que vocês são amigos a muito tempo, mas não vou fingir que gosto do jeito que ele olha pra você e nem as brincadeirinhas que ele faz. Eu apenas tolero por sua causa, mas preciso saber o que se passa na sua cabecinha- ele cutucou minha cabeça gentilmente com os dedos- a respeito desse assunto.
Continuei olhando para baixo pensando na melhor coisa a falar. Eu sabia que não poderia adiar para sempre a indiferença deles, mas falar sobre o assunto com Zac era ainda pior do que imaginar ele. Respirei lentamente uma vez enquanto organizava todo o discurso que já tinha planejado na minha cabeça na tarde em que o peguei pensando sobre o assunto.
-Eu te entendo completamente e amo você aturar ele por minha causa, porque ele é importante pra mim.- senti que seus ombros cederam um pouco então não tive alternativa senão olhar em seus olhos.- Mas o que eu quero que você saiba, é que não existe nada entre nós, e que boa parte do que ele faz é só pra te provocar.
-E ele consegue isso.- ele parecia frustrado.
-Mas ele só faz isso porque sabe que eu gosto muito de você.- no mesmo instante ele voltou a me olhar com aquele carinho de sempre.- Nunca Zac me senti tão bem como ando me sentindo. Eu adoro estar com você e esse feriado promete ser o melhor que já tive, e não só porque todos os meus amigos vão estar lá, mas porque você vai estar lá, comigo.- pressionei meus lábios suavemente nos dele e depois olhei profundamente em seus olhos me deixando dizer exatamente aquilo que eu sentia.- E eu adoro você.
Pronto, naquele segundo não havia mais discussões sobre o feriado. Ele estava feliz demais com tudo que eu tinha dito e eu ainda mais por perceber o quanto tudo aquilo era verdade. Estava preparada para encarar quatro dias em uma casa e dois em um carro com Josh e Zac, porque não importava o que Josh fizesse, Zac estaria lá, e era somente daquilo que eu precisava.
Mas mal sabia eu que tudo que era bom durava pouco.
Comentários... comentários!!!
E chama geral para ler, estou amando compartilhar meu livro com vocês :B
Música tema: The Only Exception (Paramore)