≈Amanda•
Antônio passa a manhã fazendo exames e monitoramentos, verifico os resultados com Fernando e conseguimos enviar ele para o quarto na hora do almoço. Falo com a mãe dele algumas vezes para tranquiliza-la mas só desço depois da hora do almoço quando a visita é liberada. Encontro dona Wilma aflita caminhando em círculos pela recepção.
— Dona Wilma? - chamo me aproximando.
Ela sorri fraco ao me ver e se aproxima apertando as mãos.
— Amanda...
— Ele dormiu boa parte da manhã e até agora a pouco por causa dos medicamentos. O enviamos para o quarto, mas ele terá que ficar aqui por no mínimo 7 dias, que é o período do remédio. A febre foi alta demais, a infecção está agressiva por causa da baixa imunidade dele.
Ela concorda me olhando.
— Mas ele estava tão bem, não entendo... como isso tudo aconteceu em apenas algumas horas?
— Infelizmente é assim mesmo. Talvez ele já estivesse com a infecção mas o corpo tentou reagir, como os glóbulos brancos dele estão frágeis, quando decaiu, foi rápido demais. Vou levar a senhora até ele.
Caminhamos até o quarto em silêncio e ela se emociona ao entrar e encontrar ele conectado aos aparelhos.
— Filho!
— Mãe, me desculpa pelo susto.
— Ai, filho. - vejo dona Wilma se emocionar e dou privacidade aos dois.
Caminho até a UTI para verificar o plantão, ainda faltavam 2 horas para eu assumir. Quando entro vejo todos correndo e levo alguns segundos para entender que Michelle está tendo uma nova parada cardiorrespiratória.
Corro para auxiliar Alice na massagem cardíaca, trabalhamos por minutos que pareceram horas mas não conseguimos reverter.
— Hora da morte, 16h22.
Encaro a médica por alguns minutos e depois a paciente desacordada.
— De madrugada, próximo da manhã, ela teve episódios de terror noturno, se debateu algumas vezes murmurando algo que parecia o nome "Antônio" "desculpa". Demos um calmante mas mesmo assim ela não parou, quase conseguiu arrancar o acesso. Ela devia estar tendo alguns pesadelos.
Sinto meu corpo balançar e minha pressão cair.
— Amanda? Você está bem? - Alice me segura e me leva até o quarto de descanso médico. - o que houve?
Sinto minhas mãos tremerem levemente.
— Eu ainda não comi, acho que minha pressão caiu. - respiro fundo e sinto Alice me olhar com carinho.
— Quem é a Michelle, Amanda? - Alice me questiona com razão.
— Michelle é a ex do cara com quem eu tô saindo.
— Ele é o Antônio?
Balanço a cabeça e vejo Alice levar a mão a boca.
— Agora entendi o motivo de você querer trocar.
— Não achei certo cuidar dela nessa situação, ela foi extremamente abusiva com ele e eu sei de algumas situações que, por mais que eu tentasse ser extremamente profissional, poderiam impactar no meu julgamento de alguma forma.
Alice balança a cabeça e aperta a minha mão.
— Você fez o certo, foi extremamente ética.
Sorrio de leve.
— Essa tontura aconteceu outras vezes?
Puxo a memória e lembro de dois episódios na vinícola durante a viagem que eu julguei ser pelo calor.
— Durante as minhas férias mas foi pelo calor.
— Ah sim, entendo.
A enfermeira entra no quarto.
— Doutora? Os pais da paciente estão aqui.
— Obrigada, já estou indo.
— Procura algo para comer, você não pode assumir o plantão assim.
Concordo e fico alguns segundos pensando em como contar tudo isso para Antônio. Volto para o quarto depois de alguns momentos e encontro dona Wilma no corredor falando ao telefone, espero ela desligar.
— Oi - ela sorri me olhando - tudo bem?! - ela questiona ao ver meu rosto.
— Na verdade não - ela leva uma mão ao peito - não é nada com o Antônio... a Michelle acabou de falecer.
A senhora leva a mão a boca em um choque momentâneo.
— Meu Deus, então a situação dela era grave mesmo.
— Era sim, dona Wilma.
— Deus me perdoe, eu desejei tanto que ela morresse de uma vez e agora estou aqui com meu filho nessa situação. - os olhos dela parecem assustados e ela começa a chorar.
Abraço ela de uma forma acalentadora e espero ela se acalmar para podermos entrar e dar a notícia ao Antônio.
Quando atravessamos a porta encontro Antônio de olhos fechados em um cochilo tranquilo, como se pudesse ler meus pensamentos ele acorda e olha diretamente pra mim.
— Oi - o sorriso fraco parece cansado.
— Oi... - sorrio de volta me aproximando dele - como você está se sentindo?
— Como se tivesse sido atropelado por um caminhão.
Dou uma risada baixinha e ele me encara.
— Aconteceu alguma coisa, sua cara não está boa.
— Aconteceu, mas não é nada com você.
Dona Wilma volta a chorar e vejo Antônio arrumar a postura.
— Michelle acabou de falecer, Antônio.
Vejo ele se chocar e levar a mão a boca, lágrimas se acumulam nos olhos dele e o puxo para um abraço.
— Meu Deus! - ele suspira - os pais dela?
— Alice está falando com eles.
— Avise eles que eu estou aqui, por favor?
— Claro, aviso sim.
— Obrigado.
Me despeço e procuro os pais dela, encontro Paulo agachado no corredor aos prantos e me aproximo com cuidado.
— Senhor Paulo?
Ele me olha confuso e vejo ele levar alguns segundos para me reconhecer.
— Amanda, né?
Concordo.
— Eu sinto muito pela sua perda.
Ele me encara e concorda.
— Obrigado.
— Senhor Paulo o Antônio está internado aqui, acabei de dar a notícia a ele. Ele gostaria de ver o senhor, se o senhor puder.
— Internado? O que houve?
— Ele passou mal na madrugada e tivemos que interna-lo. O senhor vai entender quando vê-lo.
O homem concorda e pede um segundo para avisar a esposa.
— Ela não quer ir, disse que precisa de um tempo com a Michelle.
Concordo em silêncio e levo o homem até o quarto.
— Antônio! - Paulo exclama ao ver Antônio na cama. - o que? Meu Deus.
— Paulo! - Antônio chama.
Saímos deixando eles dois a sós e vejo pela janela eles se abraçarem e chorarem.
— Você acha que Deus pode me punir levando meu filho porque eu pedi para ele levar a filha do Paulo? - dona Wilma pergunta apreensiva.
— Acho que Deus não trabalha com punições, dona Wilma. Cada pessoa recebe exatamente o fardo que merece.
Ela suspira frustrada e aperto a mão dela. Sinto a tontura me atingir novamente e em segundos perco a consciência.
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Vocês me pedem um monte de capítulos, pois então tome 😂🤍