oii!! Fiquem atentos que nesse capítulo terá narração do Gabi e da Lu.
GABRIEL FEZ ISSO MESMO?
Puta merda. Eu não consigo acreditar.
Ele contou pra todo mundo. Todo mundo!! Ele contou pra Deus e o mundo uma coisa que ele descobriu hoje de manhã.
Eu não fiz exames. Eu não fiz nada. Nem sei como anda a minha saúde ou a desse bebê. Eu não sei porra nenhuma. É tudo muito recente, caralho.
Mas não. Gabriel fez o favor de contar mesmo assim. E olha que eu pedi segredo.
Nem consigo explicar a confusão que anda na minha cabeça.
Nem consigo processar a desculpa que eu vou ter que dar pra minha família. Mas né? O que eu posso dizer a não ser: então, família, 'tô grávida! Surpresa.
Pelo menos eles tiveram o semancol de esperar chegarmos no hotel, subirmos todos juntos e unidos e felizes até o meu quarto para só, então, o velho abrir a boca pra falar:
— Grávida, Luanna? — Meu pai está com os olhos extremamente arregalados em choque. — Isso é verdade mesmo? Tipo, não tem nenhuma possibilidade de ser mentira?
Respiro fundo e me sento na cama.
Eles me cercam, Sarah é a única que respeita meu espaço, sentando-se na poltrona mais distante e ficando em silêncio.
— Então é verdade, Lu?? — Lucas pergunta tão empolgado que um sorriso ameaça surgir em meus lábios. Mas a situação é tão horrível no geral que não consigo esbanjar qualquer reação positiva. — Eu vou ter um sobrinho!!
— Cara, cala a boca um pouco — Gustavo pede, a cara séria e nervosa.
— Ah, cala a boca você! — Lucas rebate, irritado. — A gente vai ter um sobrinho, seu imbecil. Para de estragar um momento feliz só porque você tem rivalidade com o Gabi.
— Isso aqui não tem nada a ver com rivalidade!
— Ah não? — Lucas cruza os braços e faz uma careta ao olhar para nosso irmão. — Então é o que, parça? Amor fraternal?
— Não enche a porra do meu saco, Lucas! — Gustavo está sério do nível de quando perde um jogo do Palmeiras. — A questão é sobre quem o Gabigol é.
— Você se escuta!? — Lucas está quase gritando, os dois agora estão de frente um para o outro, se peitando. Gustavo é mais velho, mas é tão magro que se não fosse pela barba eu diria que ele tem 16 anos que nem Lucas. — Nossa irmã está grávida, caralho! E você pensando no que o Gabigol é ou deixa de ser.
— O Gabigol é o pai da criança, ou você se esqueceu???
— E o foda-se? — Lucas faz uma careta.
Vejo Gustavo cerrar os punhos. Ainda bem que eu o conheço e sei que não vai partir pra cima. Não de Lucas e nem de ninguém. Gustavo não é do tipo que bate nos outros.
— Bom, nem tão foda-se assim, né? — Lucas volta atrás com sua fala, olhando pra cima. — É o Gabi. Mas a questão aqui é a Luanna, porra. A nossa irmã precisa da gente e não dos seus questionamentos imbecis.
— Você é um...
— Dá pra parar! — Minha mãe diz aos dois, se colocando no meio para separá-los. — Ou eu vou ter que sentar a mão em vocês?
— Filha — meu pai atrai minha atenção de novo, ele mantém o mesmo olhar assustado. — Você tem certeza absoluta que está... está grá-grávida? — Ele nem consegue falar.
— Eu... — Porra, minha cabeça está um caos. Não consigo organizar os pensamentos e consequentemente não consigo formular frases coerentes. — Eu...
— Ela descobriu hoje, seu Zezo — informa Sarah por mim ao perceber que eu não conseguiria. Sua voz é firme, mas seu olhar está cansado e sua mão descansa sobre a barriga redonda. — Ainda é muito recente. Precisa passar num médico primeiro.
Meu pai balança a cabeça, entra num estado de negação profunda e se senta ao meu lado, mas sem falar comigo, apenas ouvindo o seu próprio mundinho interno e mantendo a boca fechada.
— Caralho, aquele cara gritou pro mundo todo que a Luanna está grávida e ela nem teve a chance de ir num médico.
— Aquele cara se chama Gabriel. — Lucas corrige Gustavo. — Acho melhor você ir se acostumando porque é seu mais novo cunhado.
A palavra cunhado embrulha meu estômago e eu sou obrigada a desviar o olhar dos dois ou eu iria entrar em pânico.
— Luanna não precisa namorar com ele só porque está grávida.
— Claro, né? — Lucas revira os olhos e até peitaria Gustavo se minha mãe não estivesse bem no meio dos dois. — Ela vai namorar com ele porque está apaixonada.
— O que não é verdade.
— Você não pode dizer isso por ela, Gustavo! — Sarah repreende seu marido, completamente desacreditada que essa conversa está mesmo acontecendo. — Para de ser intrometido, que coisa feia.
— Feio vai ser o chifre que ela vai levar, uma coisa que eu não vou permitir!
— Ah, cala essa sua boca, vai! — bufa Lucas, revirando os olhos de novo.
— Vem calar!
— Parem já com isso! — Minha mãe bufa, decepcionada. — Parecem duas crianças. Luanna vai fazer o que é melhor pra si mesma. E agora o que é melhor pro bebê. Se namoro for o mais ideal, é o que vai acontecer e pronto.
— Namoro vai ser até melhor pra que a mídia não caia matando em cima dela — avisa Lucas, falando uma coisa bem sábia.
— Nisso eu vou ter que concordar — diz Sarah.
— Não queremos que ela tenha a imagem manchada por causa de uma gravidez, né? — Minha mãe olha de mim pra Sarah. — Um namoro é mais aceitável. Eles podem falar que já namoravam a meses, mas não tinham dito ao público para preservar a imagem de ambos.
— Ótima ideia, Dona Rita.
— Qual a parte que vocês não entenderam que esse namoro que vocês estão criando não pode existir!? — Gustavo eleva o tom de voz, obrigando todo mundo a encará-lo. — Porra. Aquele cara não assumiu a Luanna até agora e vocês querem que ele assuma só por causa de uma gravidez? Mas nem fodendo.
— Olha a língua.
— Mãe, Luanna não precisa do Gabigol! — Gustavo diz a minha mãe. — Ela tem a gente. Vamos ajudá-la a criar esse bebê. Vamos amá-lo e fazer o que a gente faz de melhor. Agora obrigar a Luanna a assumir um relacionamento com o cara que nunca esteve disposto a realmente assumi-la, isso eu não posso concordar. Sinto muito. Gravidez não segura homem e não vai ser diferente agora.
— Falou, falou e não falou nada — debocha Lucas. — Afinal não é uma decisão sua e está longe de ser.
— Então 'cê concorda com essa palhaçada? Que ela namore alguém que não a ame?
— E como você pode ter tanta certeza que ele não a ama? — Dessa vez é minha mãe que pergunta, confusa.
— Se ele a amasse, já teria a assumido como namorada faz tempo. Ele nunca nem sequer se preocupou com isso. Luanna foi uma diversão pra ele. Sabe o que assumir uma diversão gera? — Ninguém responde. — Chifre.
— Gabigol tem sentimentos por ela.
— Ele te contou? — Gustavo olha pra Lucas com raiva.
— É meio óbvio, porra. Assim como é óbvio que a Luanna gosta dele.
— Ela não gosta dele.
— Claro que gosta! — Lucas se vira pra mim. — Luanna, fala pra ele o que você sente pelo Gabi.
— Luanna, você não pode estar apaixonada por esse cara, mano! — Gustavo bufa antes que eu pudesse processar uma resposta. — Pelo cara que nunca sequer cogitou de verdade namorar com você.
— Para de colocar coisa na cabeça dela!
— Não 'tô colocando nada, é só a...
— Pelo amor de Deus! — Minha mãe bufa, empurrando Gustavo e Lucas pra longe de mim. — Deixem a menina respirar. Vocês estão sufocando ela com essa falação desnecessária.
Minha mãe se ajoelha de frente pra mim e pega em minhas mãos, olhando em meus olhos daquele jeito que eu sei que está tentando me oferecer qualquer conforto necessário para esse momento.
— O que você acha melhor, minha filha? — É uma pergunta respeitosa. — Vamos fazer o que for melhor pra você. Se quiser que nunca mais toquemos no nome do Gabigol, a gente vai fazer.
— E com todo o prazer! — Gustavo diz de fundo e basta um olhar da minha mãe para ele voltar a se calar.
— Sabemos que é tudo muito recente — ela continua falando ao voltar a me encarar. — Mas o que aquele menino fez hoje pode ter acabado com qualquer privacidade que você tinha, querida. Então... decisões que deviam — sinto sua carícia em minha mão e o gesto está me deixando cada vez mais a vontade, mesmo que meus olhos estejam se enchendo de água — levar mais tempo, serão antecipadas.
Assinto ao que ela diz, entendendo cada palavra. Abaixo a cabeça por um momento, processando tudo que ouvi e depois volto a encará-la. Quando finalmente consigo dizer alguma coisa o que sai é tudo que eu não devia dizer agora:
— Eu não planejei esse bebê.
Minha mãe pressiona os lábios, seu aperto fica mais firme e por fim ela assente, compreendendo. Mas não é sua reação que me surpreende, é a da pessoa que tinha se mantido em silêncio ao meu lado até então mas que agora está de pé.
— O Gabigol engravidou a minha menininha — diz meu pai, cerrando os punhos e olhando para a porta do quarto. — Eu vou matar aquele filho da puta!
— Pai!!
Gustavo e Lucas agarram os braços do meu pai e o colocam de volta na cama, muito bem sentado e quieto.
— O senhor não vai fazer nada, pai! — bufa Lucas, mantendo sua mão no ombro do velho, garantindo que ele se não levante.
— Infelizmente agressão não vai resolver nada — Gustavo avisa, mostrando paz. Bom, a paz que ele pode demonstrar.
— Meu médico me recomendou sempre extravasar meus sentimentos. Não posso guardar o que eu sinto. E agora eu 'tô sentindo muita raiva. Então... — meu pai ergue a cabeça para encarar seu filho mais velho como se estivesse convencendo alguém com esse papo sem noção — vou matar aquele cara.
— Zezo, por favor! — Minha mãe bufa, se colocando em pé. — Será que vocês não pensam? Gabigol é da família agora.
— Ah não! — Gustavo bate na própria testa e olha pro além, se afastando da gente.
— Eu prefiro que metam uma tora no meu cu — meu pai avisa se jogando na cama como se fosse uma criança e ficando deitado.
Lucas é obrigado a tapar a própria boca ou iria acabar caindo na gargalhada o que pioraria a situação inteira.
— Que família difícil — minha mãe passa a mão pelo cabelo grisalho, balançando a cabeça em negação pela reação do marido e filho. — Olha, a única opinião que importa agora é da Luanna, ok?
Eles a observam, mas não dizem uma só palavra.
— Ok? — Ela insiste e só, então, que eles assentem. — Não quero ouvir mais ninguém além dela.
Todos obedecem.
— Filha — minha mãe suspira e me olha, se sentando ao meu lado dessa vez —, a gente vai cuidar de você, 'tá bom? De você e desse bebê. Não se preocupa. Vamos pensar só em vocês no momento. O resto a gente resolve depois. 'Tá?
— 'Tá — digo com a voz fraca.
Sarah fica em pé e me oferece um sorriso fraco.
— O que você quer agora, Lu? — minha cunhada pergunta, preocupada comigo. — A gente pode passar num médico se quiser e fazer os exames antes mesmo de retornamos ao Brasil. O que acha?
Nego com a cabeça, tendo que limpar a garganta antes de falar:
— Eu só quero... — respiro fundo e seco a lágrima a lágrima que havia acabado de escorrer — voltar pra casa e fingir que tudo isso não aconteceu, mesmo que eu não possa fugir pra sempre.
GABRIEL
SAIO DO ÔNIBUS e entro correndo no hotel, pegando o celular do bolso e fazendo uma ligação. Mas nem chama. Luanna deve estar com o celular desligado ou ela me bloqueou de vez.
Também, depois do que eu fiz, eu não duvido que ela me mate.
Eu não devia ter feito aquilo, eu sei.
Mas porra... eu fiz o gol da vitória. Eu virei o jogo e trouxe o hexa, eu precisava comemorar gritando ao mundo que eu vou ser pai. Porque isso também me causa felicidade. Na hora eu senti diversas emoções. Todas felizes.
Cometi um vacilo? Sim, porque a Luanna me pediu segredo.
Só que agora já foi. Vou ter que lidar com as consequências.
E elas brotam com pressa na minha frente.
— Como assim você engravidou a menina? — Meu pai pergunta em choque.
— Por que não me contou? — Dhio se sente ofendida por saber disso junto com todo mundo.
— Filho, você tem noção da bagunça que gerou? — Minha mãe toca em meu braço, querendo explicações.
— Cadê a Luanna? — É o que consigo perguntar. — Tenho que achar ela agora.
— Não, cara! — Fabinho, que eu nem tinha reparado que estava ali do lado e que veio ontem pra cá, segura meu ombro. — A gente tem que bolar um plano primeiro.
— Que porra de plano, Fabio!? Eu só quero ver a Luanna, ela deve 'tá puta.
— E com toda a razão! — Minha mãe diz. — Você contou pra todo mundo que ela 'tá grávida e ela nem é sua namorada.
— É disso que vamos ter que cuidar agora — avisa Fabio, atraindo totalmente minha atenção e me fazendo parar de querer fugir deles.
— Cuidar? Como assim, mano?
— Cara, seu nome 'tá no topo das fofocas. Todo mundo quer saber da sua vida. Da vida da mãe do seu filho. Eles pensam que vocês são namorados e, bom — ele coça a sobrancelha meio perdido —, é melhor que vocês sejam para preservar a imagem dela. Principalmente depois...
— Depois do que? — Estou começando a me preocupar com as caras e bocas do Fabinho, ele sabe de alguma coisa que não quer me contar. — Conta de uma vez.
— 'Tão falando da Luanna e do Veiga.
— O que aquele cara tem a ver com isso? — Dhio pergunta, confusa.
— 'Pera aí! — Meu pai pede, erguendo uma mão em sinal de pare. — O Raphael Veiga do Palmeiras?
— O que 'tão falando dele, Fabinho? — pergunto, sentindo meu peito apertar com a suspeita que eu não gostaria de ter agora. — Luanna não tem nada com ele.
— Ele já teve? — Minha mãe pergunta, elevando o tom de voz.
— Porra! — Meu pai bufa, indignado. — As coisas só pioram.
— Calma. Me escutem bem — pede Fabinho, obrigando todos a ficarem em silêncio para que ele possa falar. — A gente pode resolver essa situação de uma forma bem simples e prática. Com um namoro!
— Perfeito! — Dhio reage por mim. — Era o que o Gabriel queria, mas foi preciso uma gravidez para que finalmente acontecesse.
— Então ótimo — minha mãe concorda. — Se encontra com essa menina e a peça em namoro logo, meu filho.
Estou tão perdido que mal consigo compreender essa conversa direito. Eu só vejo uma pessoa passando por nós. Um homem. Sozinho. Aquele cabelo meio grande e ondulado. A barba falhada. O cara me vê, faz uma careta e vai embora.
Deixo minha família pra trás sem nem pensar assim que eu o reconheço.
— Scarpa! — Me aproximo dele as pressas antes que ele fuja de mim. O meu "cunhado" olha pra mim com cara de bunda e cruza os braços. — Cadê a Luanna?
— Deixa a minha irmã em paz.
— Olha, você deve 'tá puto e eu te entendo — digo, mantendo minha voz calma. — Mas eu preciso falar com sua irmã. Toda essa confusão não era pra... porra, eu me emocionei.
— Não quero saber. Só quero que 'cê fique longe dela. Já deu problemas demais.
— Scarpa, cara. Vamos conversar.
— Conversar? — Ele franze o cenho, balançando a cabeça. — A Luanna 'tá confusa e você ainda conta pra todo mundo. Porra, aí não dá né?
— Ela te falou isso? — Scarpa não me responde. — Você conversou com ela? O que ela te falou?
— 'Tá tudo um caos! Meu pai surtou. Eu surtei e... Luanna decidiu voltar pra casa, relaxar.
— Eu preciso falar com ela, Scarpa — estou quase implorando, porra. Será que vou ter que ficar de joelhos? — Por favor, cara. Só me deixa falar com ela. A gente pode dar um jeito nessa situação.
— Ela precisa de sossego. Você já bagunçou demais contando pra todo mundo.
— Só me deixa falar com ela.
— Porra, pra que você quer tanto falar com ela? Já não fez alvoroço demais, não?
— Ela é a mãe do meu filho, caralho! — Scarpa ergue ainda mais a cabeça diante do meu tom. Ainda bem que eu sei que ele não vai me bater. Luanna me garantiu que ele não é do tipo que sai na mão. — Eu preciso falar com ela. Não quero que fique confusa...
— Ela já 'tá confusa. E... cara, fala a verdade, você nem se importa de verdade. Minha irmã só foi uma diversão pra você...
— Eu gosto da Luanna, porra!
Scarpa arregala os olhos, chocado.
— Eu sei que você não gosta de mim. Que pensa que eu sou um mulherengo do caralho. Mas eu não posso mentir sobre os meus sentimentos pela Luanna. Eu gosto dela, de verdade e quero ter esse filho com ela. Então, por favor — respiro fundo, sentindo meu peito doer e contenho meu nervosismo —, não me afasta dela.
Eu penso que vou levar um soco, que chegou minha hora de morrer. Que Scarpa pode até ser um cara "antibrigas", mas que depois do que eu disse, ele não vai me perdoar e vai dar uma voadora na minha cabeça.
Mas ao invés disso, o desgraçado sorri, ergue a mão e dá umas batidinhas no meu peito.
— Pelo visto você não é tão filho da puta assim.
— Porra, cara — suspiro, meio aliviado. — Pensei que você ia me matar.
— Talvez isso aconteça ainda. Não se acostuma.
— 'Tá. 'Tá. Agora me deixa falar com a Luanna.
— Puts — Scarpa faz uma careta. — Agora só em casa, mano, porque a Luanna vai descansar e já estamos indo pro aeroporto.
— Aí que merda!
Desculpem a demora, me enrolei com as coisas aqui, mas descem o dedo aí que tem mais um capítulo. Um bônus fresquinho de fofocas.