— Eu apenas não me lembro disso — sussurrei e notei a pena em seu olhar enquanto me levava para o chuveiro.

Depois que voltei para o quarto, com minha nova camisola de hospital, me perguntei onde estariam minhas coisas. E onde estaria minha família? Por que eles ainda não estavam ali?

— Por favor, será que você pode conseguir um telefone? — indaguei estranhando que não houvesse um no quarto. Mas aí me lembrei que estava em coma há duas semanas. Na certa concluíram que eu não precisava de um.

E sabe Deus onde estaria meu celular. Se é que eu tinha um.

— Claro que sim. Eu já volto.

Assim que a enfermeira saiu, ele entrou. O estranho.

Prendi a respiração ao vê-lo. Parecia mais bem recomposto do que no outro dia. Havia trocado de roupa e feito a barba.

— Olá. — Sorriu meio inseguro e me vi sorrindo de volta, da mesma forma insegura.

Era esquisito que, no intervalo de poucas horas, ele houvesse meio que se transformado no meu único porto seguro. Ao menos até alguém que eu realmente conhecesse aparecesse. Esse pensamento me fez ficar séria novamente.

— O que está fazendo aqui? — Não consegui evitar o tom meio afrontoso da minha voz.

Ele ficou sério também. De novo notei um lampejo de angústia em seu rosto e me senti culpada.

— Me desculpe. É que é tão... esquisito. Sei que me disse que nos conhecemos, mas... ainda preciso me adequar a isso tudo.

— Eu sei. Não quero que se preocupe.

Eu sorri sem humor.

— Impossível. Acordei de um coma achando que estou com dezoito anos quando na verdade sete anos se passaram. Sete anos dos quais eu não me recordo de nada!

— Você vai se lembrar.

Havia convicção em sua voz.

— Vou? — Não consegui conter a ironia. — O médico disse que há a possibilidade de eu nunca... — Me calei, respirando fundo. A dor que aquilo me causava era enorme.

— Ella...

Meu nome saiu de sua boca com pesar e tive a impressão que queria me tocar, mas se continha, é que isso era difícil para ele.

E o pior era me dar conta que havia uma parte minha, talvez aquela parte inconsciente dentro de mim, a parte que se lembrava, que também ansiava por isso. E de novo eu me perguntei quem era ele. Eu podia perguntar de novo. Podia exigir respostas. Mas tive medo. Medo do que eu iria ouvir. Medo de não gostar do que eu ia ouvir.

— É... Luke, não é?

— Sim — Ele riu.

E senti algo se mexendo dentro de mim com aquele riso.

— Certo... Luke. Eu queria saber... Eu preciso, na verdade. Falar com a minha família. Por que eles não estão aqui? — De repente um medo cego me tomou. — Está tudo bem com eles? Minha mãe? Meu pai? — Deus, tanta coisa acontecia em sete anos...

— Sim, estão bem.

Respirei aliviada.

— Então por que não estão aqui?

— Porque eles estão longe.

— Como assim? Estamos em Seattle? Não é tão longe assim.

— Ella, estamos em Nova York.

O que escolhemos esquecer - degustaçãoWhere stories live. Discover now